Capítulo 5

HECTOR

⸻ Te dou o até o final do mês para que você resolva isso, nem um dia a mais. Irritado desligo o telefone e o bato no gancho. Faz dois meses que solicitei ao corretor um lugar descente para empresa, é impossível que em um centro comercial enorme como esse não tenha dois andares disponíveis para mim. Desde que o andar onde funcionava a agência pegou fogo, ele conseguiu esse espaço que é um caos, me iludiu ao dizer que era ‘provisório’.

⸻ Suzana, providência por favor outra imobiliária, vê se eles conseguem para ontem um lugar descente para nós. Nesse espaço improvisado estão misturados todos os setores. Apesar de o trabalho estar fluindo, não é o ideal. Preciso que os setores sejam divididos, um para o departamento do atendimento, outro para o planejamento, para criação, tráfego, redação publicitária, redação jornalística, marketing de conteúdo, social media e análise de dados.

Como dono da agência me envolvo em todas as frentes, mas o departamento do atendimento é o que atuo diretamente, pois, o considero o mais importante por ser o primeiro contato com o cliente, é onde Sérgio e eu produzimos os briefings das demandas que são repassados aos setores internos da empresa. Fazemos o que for possível para manter o cliente feliz e satisfeito com as entregas e assim conseguir novas contratações.

⸻ Vou precisar do terno para hoje à noite, digo a minha secretária, pego meu celular, chave e carteira. Vou almoçar. Passo pela bagunça organizada que se tornou minha empresa e entro no elevador. No restaurante a garçonete me atende toda sorridente, ela é bem bonita, mas não serve para um homem como eu. Em menos de dois minutos após a minha chegada, Ivan se senta na minha frente.

⸻ Desculpe o atraso.

⸻ Acabei de chegar, digo.

⸻ Animado para a festa do Fortunato?

⸻ Sinceramente não, só vou por causa da minha condição de dono do clube, por ele ser meu amigo e por ter sido uns dos escolhidos para fazer uma demonstração, apesar de ele saber que não gosto de manifestações públicas.

⸻ Bons motivos, você não acha? Fico sério. ⸻ O que está acontecendo contigo Hector? Você ia ao clube duas vezes por semana, passou a ir uma, e agora mal aparece. Nem lembro qual foi a última vez que te vi lá. Tem alguma coisa a ver com a Nanda?

⸻ Não. A Nanda foi uma boa submissa, apesar de ela ser switch, mas é passado. O clube que não me atraí mais como antes.

⸻ Não vai me dizer que se tornou baunilha? Isso não tem nada a ver com você.

⸻ Longe de mim. Bato três vezes sobre a mesa de madeira, ele rir. ⸻ Mesmo gostando de fazê-lo de vez enquanto, não posso mudar o que sou. Cheguei aos trinta, amigo, não quero mais dominar aleatoriamente, sem uma conexão permanente, necessito de uma escrava que me conheça de verdade, não superficialmente, e eu a ela.

⸻ Entendo, às vezes penso nisso, mas para muitos em nosso meio, pode parecer um pensamento, baunilha.

⸻ Verdade. Você e a Carla, como estão?

⸻ Ela me disse que sentia falta de ser dominada por outros Dons, então a liberei. Confesso gostava dela, o importante que ela foi sincera comigo.

⸻ Por isso que não quero bottom do clube, muitas que não possuem Dom passaram pelas mãos de muitos de nós. Não quero uma mulher experiente, e sim, uma que eu possa moldar do meu jeito, se for possível, que não tenha sido dominada por ninguém.

⸻ Não é fácil como você pensa, conseguir uma submissa por aí. A maioria das mulheres são baunilhas, quando se deparam com homens como nós, fogem.

⸻ Sei que não é fácil, mas existem mulheres que tem a natureza submissa, tem necessidade de se submeter, não desenvolveram isso porque não encontraram o parceiro ideal. São poucos os homens que sabem dominar uma mulher, muitos julgam que dominação é proibir de sair, decidir qual roupa ela deve usar, a deixar presa em casa, e outras atitudes parecidas com essas. Nós dois sabemos que não é isso. Ser um dominador faz parte de nós, quem somos. O que acontece entre um Dom e uma sub, é consensual, prazeroso para ambos. Para o que domina e para o que se deixa dominar. Nossa conexão é profunda, onde se tem total confiança. Quem está de fora vê somente a questão sexual e a aparente agressão física, não fazem ideia que se trata de uma entrega total do corpo e da alma.

⸻ Boa sorte na busca pela sub dos seus sonhos, espero também encontrar a minha.

⸻ Não preciso procurar, vamos nos encontrar, se tiver uma mulher para ser minha, minha submissa, seremos atraídos um pelo, o outro. Pode não ser hoje, amanhã ou daqui a um ano, mas sei que vai acontecer.

Após ao almoço retorno para empresa, quando o elevador para no meu andar, vejo uma linda mulher ao lado da minha secretária, em seus braços dois ternos. Quando me vê ela abaixa a cabeça e permanece no lugar, seguro o elevador por uns segundos, como ela não se movimenta saio e passo por ela, seu doce e feminino cheiro invade minha narina. Não sei quem ela é, mas o fato dela ter me reconhecido como dominador que sou, mexeu comigo. Entro em minha sala, de pé atrás da minha mesa, observo a linda mulher. Seus cabelos castanhos escuros, ondulados cobrem a gola da sua camisa amarela, sua saia, lápis cinza envolve seu bumbum redondo.

A bela negra entra no elevador, mesmo de longe ela percebe que a observo. Antes do elevador se fechar, ela abaixa outra vez a cabeça. Porra!

⸻ Suzana quem era aquela mulher? Apesar da forma que ela estava vestida, ela não passa de uma menina, uma linda menina negra no tom mais claro da nossa cor, onde muitos chamariam de morena.

Suzana se espanta com a minha pergunta e me olha constrangida. Observo seu rosto, sei que ela está ponderando o que dizer. Cruzo meus braços e aguardo com curiosidade.

⸻ Por um erro da lavanderia, ela diz bem devagar, como estivesse explicando a uma criança, ⸻ e nosso, os ternos foram trocados, a atendente entregou o seu para Ana. Hum! Ana é o nome dela. ⸻ E o dela para mim. Como eu não podia sair a pedi que trouxesse.

⸻ Não consigo entender como você descobriu que meu terno estava com ela.

⸻ Em vez deles colocarem nomes das pessoas, eles colocam o nome da empresa.

⸻ Hum! Onde ela trabalha?

⸻ Store Market.

⸻ Bom saber, digo para mim.

⸻ O senhor disse alguma coisa?

⸻ Não. Pode ir. Obrigado.

A festa de aniversário do César Fortunato, dono do clube de BDSM ao qual também sou dono, está sendo realizada em sua mansão. César e eu temos quase a mesma idade, ele é apenas dois anos mais, velho do que eu. O conheci no clube, onde frequento desde meus dezoito anos. Ele herdou do seu pai o clube, que faleceu há cinco anos, desde então, me tornei seu sócio nos negócios e tenho o ajudado a manter a filosofia intacta. Por causa de um filme que não retratou nem dez por cento do que é o BDSM, muitos se denominaram Dominadores, surgiram várias mulheres querendo ser submissa pensando que se tornariam a protagonista do filme.

Essa festa em especial foi aberta a não sócios, muitas pessoas da alta sociedade e alguns políticos que não frequentam ao clube estão presentes. Fortunado está querendo ampliar os negócios e nada melhor do que pessoas como essas que zelam pelo anonimato em relação a sua vida íntima. Sua intenção é abrir um clube para aqueles que não são adeptos a filosofia do BDSM e conquistar mais sócios para nossa filosofia, é claro. Fortunato me pediu que eu fizesse uma demonstração, vai ser algo bem simples para não chocar as madames, palavras do César, e, porque não temos masmorras.

Comprimento algumas pessoas, uma grande porcentagem é de minha familiaridade, frequentam ao clube há anos. César me apresenta alguns deputados e celebridades. Caminho pelo espaço, algumas submissas se oferecem para a apresentação, mas nenhuma me interessa, escolherei na hora.

No meio do salão foi colocado uma barra de ferro, parecida com aquelas barras que encontramos em praças para fazer exercícios, a diferença é que em suas laterais possuem barras, como formasse uma escada. César anuncia a apresentação, seus convidados se amontoam ao meu redor. Tiro meu terno, afrouxo minha gravata. Olho ao redor para escolher a escrava ideal, meus olhos se deparam com os da Nanda, ela sorrir, mas não quero usá-la. Nanda sabe dos meus gostos, mas é uma submissa experiente, ela sempre está acima do limite e o intuito não é esse.

Uma mulher com um vestido preto justo me olha com excitação. Seu cabelo preto curto, expõe sua nuca, seus olhos negros não desviam nem um segundo dos meus. Seu corpo é magro e sua pele clara, já imagino as marcas vermelhas que deixarei nela. Me aproximo dela e sussurro em seu ouvido.

⸻ Aceita ser minha submissa essa noite?

⸻ Nunca fiz isso, ela diz timidamente.

⸻ Prometo que será bom para nós dois, mas se você não se sentir confortável com qualquer coisa que eu faça, é só dizer sua palavra de segurança que interrompo imediatamente. Escolha uma.

Ela me olha de cima a baixo, passa a língua nos lábios.

⸻ Pretinho.

Arqueio minha sobrancelha e ela sorri. Estendo minha mão, ela segura, a levo até a barra. Antes de prendê-la informo que é sua primeira vez, e sobre a palavra de segurança, menciono a que ela escolheu. Explicações feitas começo a apresentação.

Breinfing ⸻ descrição do trabalho a ser realizado / Top ⸻ dominador / Bottom ⸻ submissa / switch ⸻ que varia entre dominar e submeter.

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