Capítulo 3

ANA

Confirmo o número do prédio e entro, na recepção minha entrada é liberada com facilidade. Quando o elevador chega ao décimo andar me apresso em sair, para minha surpresa me deparo com várias pessoas falando ao mesmo tempo, umas em suas mesas com mais de uma pessoa a sua volta e outras circulando pelo amplo espaço. As mesas não são organizadas em baias, nem em salas. Elas ficam dispostas no centro, uma ao lado da outra, formando dois corredores, permitindo a circulação em volta delas. Uma mulher que aparenta ter uns trinta e cinco anos, com um vestido de linho cinza-claro, justo, vem em minha direção.

⸻ Ana, sou Suzana, ele estica sua mão em comprimento, em seguida entrego os ternos. Me acompanhe por favor, sorrio e sigo seus passos. Por todo caminho vejo imagens de muitas propagandas que já vi nas redes sociais e na tv. Fico maravilhada. No final do amplo espaço tem uma sala toda de vidro, ela é pequena, porém, bem moderna. Suzana abre a porta, na sala pega o terno que está sobre a poltrona e me entrega. Confiro se o nome que está em seu bolso é da Store, confirmado a agradeço e caminho de volta. Suzana me acompanha.

⸻ É sempre assim? Pergunto mostrando os funcionários. Ela rir.

⸻ Às vezes pior. Essa é a forma de criação deles, vai entender. Sorrio e me despeço. As portas do elevador se abrem, e um homem negro, alto, musculoso e bem-vestido está dentro dele, quando seus olhos se deparam com os meus abaixo minha cabeça, essa minha reação é completamente inesperada. Não digo que senti vergonha ou que fiquei constrangida com sua presença, apenas precisava fazer isso. 

Alguns segundos se passam até que ele passa por mim, seu perfume invade minhas narinas, inspiro. O elevador fecha as portas, minha inércia fez com que eu o perdesse. Me atrevo a olhar para trás e vejo Suzana ao seu lado, o acompanha até que eles entram na sala que estive a poucos minutos. Me recomponho e aperto o botão do elevador, em segundos ele abre, entro e olho para a sala, apesar da distância, vejo que ele está olhando em minha direção, mais uma vez abaixo minha cabeça. A porta do elevador se fecha e eu solto o ar que estava preso em meu peito. Me pergunto, o que aconteceu?

Os dias passam e é sempre a mesma coisa, do trabalho para casa e vice-versa. Depois de quase um mês sem sair socialmente, uns amigos do trabalho do Bruno nos chamaram para irmos a um barzinho onde tem música ao vivo. Amei a ideia, estou cansada de ficar em casa. Por mais que goste do nosso cantinho, sair de vez enquanto faz bem.

Felizmente, hoje não está quente, o clima está fresco. Decido colocar uma calça, jeans clara, com uma camisa de seda branca e um scarpin vermelho. Capricho na maquiagem, uso um batom bem vermelho, hoje quero dar trabalho para o Bruno, esquentar um pouco nossa relação. As conversas do grupo feminino que participo estão me deixando muito assanhadinha. 

Quando chegamos no barzinho, João e Fernando nos cumprimentam, ambos trabalham com o Bruno. À mesa tem três mulheres que não conheço. Bruno me apresenta dizendo que elas também são funcionárias da empresa, trabalham no RH. Acho estranho, a conta não bate, se eu não estivesse aqui os casais estariam formados. As meninas conversam entre elas, uma delas, a ruiva que nem lembro mais o nome, peguei me olhando algumas vezes. Bruno esquece que estou presente e engata uma conversa animada com os amigos, pede uma cerveja, nos serve e continua em seu assunto interessante. Começo a pensar que não foi boa ideia sair de casa.

Algumas pessoas estão dançando, levanto-me e vou para a pista, nem aviso ao Bruno, é capaz dele nem sentir minha falta. Movimento meus quadris ao som de Lulu Santos, amo demais suas músicas. Percebo alguns olhares, mas finjo não ver, para eu seria interessante se meu namorido sentisse minha falta e visse que outros homens me desejam. Colasse seu corpo no meu marcando terreno. Só isso que eu queria, penso que não é pedir muito.

Volto para mesa, João e Fernando não estão e nem às duas mulheres, somente Bruno e a ruiva. Não gosto nada disso, mas não digo nada.

⸻ Oi! Amor, recebo um beijo na testa, isso mesmo, na testa? Sorrio amarelo.

A ruiva puxa um assunto relacionado ao trabalho, observo a interação dos dois, ainda não vi maldade da parte do Bruno, em relação à ruiva, não posso dizer a mesma coisa. Aos poucos os demais vão retornando e fico de fora da interação deles. Me distraio observando uma mesa que está ao lado direito da nossa. Nela há um casal que me dá a impressão que esse lugar não pertence a eles dois. Consigo sentir a intensidade na troca de olhar deles, parece que estão em um mundo à parte. Muitas vezes meus pais se comportavam assim, como se eu não estivesse presente.

Os lábios dela não se move, o dele move-se poucas vezes, ambos conversam praticamente em silêncio. Não consigo parar de olhá-los, de repente sinto inveja daquela bela mulher de pele escura. Por mais que eu passe o dia inteiro no sol, nunca consegui chegar a esse tom, sou negra do tom mais claro. Eles se levantam, os acompanho com os olhos. Param na pista, me levanto e caminho para o mais próximo possível e os observo. Ela começa a se mover timidamente, ele a olha com admiração e desejo. Alguns homens olham o movimento sexy do seu corpo, mas ela não vê, seus olhos são para ele, todo seu balançar pertence ao seu homem.

Ele observa ao redor e o sorriso some dos seus lábios, seu corpo claro e grande cola no da sua amada, ele a protege, marca terreno, diz a todos que ela é dele. Sua boca envolve a dela, é nítido o desejo, a entrega. Passo a língua pelos meus lábios, fico excitada com essa cena, que sei que nunca acontecerá comigo, o homem que amo não é dominante como esse. Sinto vontade de me tocar quando suas mãos grandes deslizam pelo corpo dela e estaciona em sua bunda. Ele desfaz o beijo e diz algo em seu ouvido, imagino diversas coisas, ela consente com a cabeça, e responde algo em uma frase curta.

Eles saem da pista, voltam a mesa, ele paga a conta e vão embora. Minha vontade é de ir atrás deles, de ver eles se entregando a luxúria. Com meu sexo latejante, sento-me à mesa, Bruno segura minha mão, pergunta se está tudo bem, maneio a cabeça e sorrio, ele volta a conversar com seus amigos. Peço uma cerveja e bebo tudo de uma vez. Digo que quero ir embora, Bruno diz para ficarmos mais um pouco, argumenta que saímos poucas vezes e devemos aproveitar. Ele só esquece de mencionar que a culpa não é minha, ele nunca quer sair comigo. Para não discutir, digo-o que fique. Nunca tivemos problemas em relação a isso, ele insiste em ir, mas depois do que aconteceu, prefiro ficar sozinha. Ele me dá a chave do carro e diz que já bebeu muito, voltará de Uber.

Me despeço só dos rapazes, as meninas fingiram a noite toda que eu não existia. Bruno me acompanha até o carro, entro e dou partida sem dizer nada.

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