Sentados em roda de uma fogueira que aquecia o entardecer naquele gelado lugar, Kalí esfregava as mãos no intuito de se aquecer. Ela não estava sozinha, depois de cinco anos, o número de pessoas com ela e Zadack cresceu, tendo eles agora um grupo de sete pessoas.
Uma dessas pessoas era uma jovem menininha loira, que olhava atentamente o fogo que queimava aqueles gravetos.Kalí a observava enquanto fazia isso, se lembrando do momento em que Zadack a trouxe consigo naquela noite memorável em que fugiram do reino.Até que a pequena menina levantou seu olhar até Kalí, sorrindo. E ela, sorriu de volta.Kalí nunca conseguiria sentir raiva da menina, acabou desde cedo pegando carinho pela pequena princesa que agora criava como se fosse sua própria filha.— O que as duas estão se olhando, em? — Zadack perguntou indo se sentar ao lado delas.— Como é que o fogo faz os gravetos ficarem pretos desse jeito? — A pequenina perguntou.Zadack sorriu pelas perguntas que crianças fazem, voltando seu olhar para Kalí, somente.— Eu e Tery trouxemos comida, caçamos um belo jantar para essa noite.— Que bom...— O que foi, por que está tão tristonha?— Não é nada...— Ih, aí tem... O que foi em?— Eu só... Queria poder voltar pra casa.Durante esses anos, Kalí e Zadack conseguiam se estabelecer em um povoado distante, mas tiveram que largar tudo e fugir quando a fama do homem chegou por lá. Agora eles estavam em um lugar deserto até que encontrassem outro lugar para se estabelecer.— Eu sei... Vamos precisar de mais dinheiro pra... Os próximos meses... Mas eu vou dar um jeito nisso.Ouvindo aquilo, Kalí logo pensou que poderia estar pensando em usar a princesa como isca para tirar muito ouro dos soberanos de Óligun, e por isso logo o contrariou.— Alguma hora eu vou ter que usar a Heven pra alguma coisa... — Ele sussurrou irritado para ela.O fato era que Zadack só não tinha usado a princesa, que agora não se chamava mais Aurora e sim Heven, por causa de Kalí que acabou se afeiçoando a menina. Mas ele sabia que ele também estava começando a amar sua filha.— Podemos conseguir de outra forma...— Hum... — Zadack olhou para Heven, que ainda estava curiosa sobre o fogo. — Acho que sei o que fazer...[...]Em ABAD, os anos também se passaram para a pequena Adelly que também tinha cinco anos de idade.Ela era uma menina alegre, adorava brincar em volta de sua casa com seus bonecos de pano, enquanto era observada por sua mãe.Adiná via como os pais das outras crianças olhavam para sua filha, com aquela mecha branca. Adelly era muito nova para perceber, mas Adiná sabia o que se passava na cabeça deles.Cada dia que se passava, Adiná se sentia um pouco pior, e isso a preocupava muito. Ela ainda conseguia trabalhar para gerar o sustento dela e da menina, mas sabia que isso não duraria para sempre.Adiná se perguntava o que aconteceria no futuro, quando ela não estivesse mais neste mundo. Do jeito que as pessoas olhavam para a pequena Adelly, ela temia muito sobre o futuro da filha.Mas a verdade é que o futuro seria muito pior do que ela imaginava agora.Alguns meses se passaram e a rainha de ABAD deu à luz outro menino lindo e saudável, desta vez, ruivo como sua mãe e com olhos verdes como os de seu pai. Seu nome seria Atter, que combinava perfeitamente com suas feições. Atter era um pouco menor que Abnorú quando nasceu, pois o mais velho sempre foi robusto, e desta vez, Atter era mais magro. Os reis se alegraram em poder pegar no colo mais um saudável filho, o príncipe de ABAD, e desta vez sentiam que as coisas seriam diferentes. Os irmãos cresciam juntos no castelo, sendo observados por seus pais e por todos os habitantes do reino, que notavam a forte diferença entre ambos. Atter se mostrava ser um rapaz atencioso, bondoso e humilde, muito diferente de seu irmão Abnorú, no qual transpirava soberba e crueldade. Durante os anos que se passaram cada vez mais os irmãos se afastavam por serem tão diferentes. O príncipe mais novo desejava ter mais participação na vida de seu irmão, mas por vontade única de Abnorú, queria ver seu irmão bem longe de sua vida. Mesmo sabendo dos maus comportamentos de seu filho, a rainha preferia colocar vendas nos olhos e não enxergar as maldades que ele cometia mesmo as mais cruéis possíveis. Seu marido várias vezes a pegava chorando sozinha, e ao vê-la assim, seu coração se partia em mil pedaços nos quais ambos tentavam reconstruir com palavras de encorajamento. Era difícil saber que Abnorú havia se tornado um rapaz de má índole, e eles sinceramente não sabiam mais o que fazer.Quando a mocidade chegou a Adelly, a menina percebeu que era diferente para os outros, e isso a incomodou por alguns anos. Ela viveu reclusa por algum tempo, e acabou se dedicando a algo que ouviu de sua mãe sobre plantas medicinais.Adiná contava a filha que sua tia lidava com plantas medicinais e fornecia remédios e unguentos para muitos reinos, mas não fazia isso com ABAD.Não se sabia o motivo do maior reino das quatro regiões ser tão assustado com o avanço dos medicamentos que ela fazia. Mas Adiná tinha quase certeza que achavam que era algo relacionado a feitiçaria.É claro que Adiná tentou negar várias vezes aos reis a favor de sua irmã, mas o fato é que tanto sua irmã quanto sua sobrinha, que tinha a mesma idade de Adelly, foram expulsas do reino.O povo de ABAD dificilmente ficava doente, por conta da imunidade alta que tinham, mas haviam ferimentos mesmo em tempos de paz, então a pergunta que ficava era, o que eles faziam para se curarem?Adelly aprendeu tudo o que sua mãe sabia sobre as plantas medicinais até o momento em que sua mãe realmente piorou. E foi aí que as coisas começaram a ficarem ruins.— Você precisa ir morar com sua tia. Só lá você vai conseguir viver bem e em paz, minha filha... — Adiná dizia a sua mãe, que estava deitada na cama.— Não, mãe! Eu não vou deixar a senhora!— Como você vai se manter sem mim? Você sabe que ainda não conseguiu trabalho por causa do seu cabelo...— Não importa, eu ainda vou procurar alguma coisa... Mas eu não vou sair daqui...— Meu amor... — Adiná disse passando sua mão pelo rosto bonito de Adelly. — Então... Vá para a casa da sua tia e... Peça um remédio para mim... Se ela não tiver... Aprenda a fazer...Adiná disse isso apenas para fazer com que Adelly fosse embora. Ela não queria que sua filha visse ela morrer... E além disso, não existia cura para a doença dela. Talvez a irmã de Adiná poderia a convencer de ficar lá.E conseguindo o que queria, Adelly concordou, arrumando suas coisas para partir... Foi doloroso dizer adeus a filha, mas era preciso... O que ela não imaginava era que essa não seria a última vez que iria vê-la.[...]— Tudo bem, abaixe um pouco o seu cotovelo. Você precisa estar com a coluna alinhada e com os olhos atentos ao seu alvo. — Zadack instruía Heven, que segurava um arco na mão.— Assim? — Ela perguntou, olhando bem para o lugar que iria atirar.— Isso... Muito bem... Quando estiver pronta.Heven respirou fundo e soltou sua flecha, acertando milímetros distante de seu alvo, o que já era uma ótima pontaria.— É, você errou.— Ah, qual é? Pai! Eu fui super bem, você não viu? — Ela brigou com Zadack que saiu da área pegando um copo para tomar água.— Não ligue para o seu pai, Heven. Você foi incrível! Tem melhorado muito, sabia?— Ah, você só diz isso porque é minha mãe e não entende nada de arco e flecha. — Ela brincou.— Ah é? Tudo bem, não a elogio mais. — Kalí cruzou os braços.Heven sorriu e foi até sua mãe pulando nela para lhe dar um abraço. Mesmo já não sendo uma criança e sim uma moça, ela continuava travessa e aventureira. Pelo menos isso continuava igual, pois sua aparência mudou muito.Seus cabelos loiros haviam escurecido e agora eram castanhos, e estavam curtos, acima dos ombros, muito mais confortável, de acordo com ela própria.Seu estilo de roupas era muito diferente, também. Ela não suportava usar vestidos, ela gostava de usar calças como seu pai, e por isso pediu para Kalí fazer uma para ela.Imagine, uma ladra profissional roubando de vestido? Um absurdo.Ela se sentia muito melhor usando calças. Além disso, ela se via muito mais bonita assim.— Se você não melhorar na pontaria, não vai comer hoje. — Zadack brincou, largando seu copo na mesa.— Como é que é? Fui eu quem roubei esse bolo!Zadack riu de sua filha, enquanto ela voltava a mirar o alvo, com outra flecha na mão pronta para fazer melhor do que antes.E de repente, Zadack ouviu uma voz masculina atrás de seu ouvido.— Você se apegou demais nessa princesinha... O combinado não era esse...— Eu não fiz nenhum combinado com você, Nér. Além do mais, eu decido o que acontece e o que deixa de acontecer. Eu sou o chefe. — Zadack se virou para ele, e o encarou nos olhos terminando — Se não está satisfeito com isso, está livre pra sumir daqui.Nér o encarou enraivecido, saindo da frente de Zadack indo para outro lugar. E com isso, Zadack suspirou incomodado.— Não importa o que os outros achem... Heven é a nossa filha... E isso não vai mudar...Adelly ficou por alguns meses na casa de sua tia que só conseguiu isso prometendo que enviaria algum servo seu para ficar de olho em sua mãe enquanto ela ficava ali.Com isso, Adelly aproveitou para aprender todo o possível com sua tia e sua prima Abina, para conseguir algum remédio que curasse sua mãe.Mas a vida de Adelly não poderia ser tão fácil.Abina, sua prima, fazia questão de fazer sua vida um tormento, porque viu Abnorú, o príncipe na qual ela era apaixonada e que inclusive já tinha um caso, olhando diferente para ela em uma ocasião em que Abina estava no reino.Ela não gostou daquilo, e sabendo o quanto Adelly era bonita, não queria de jeito nenhum que ele se aproximasse dela.E de repente, um dia qualquer se tornou em um marco incrível para Adelly que, depois de ver o resultado de seus testes, sabia que agora poderia voltar para casa e possívelmente curar sua mãe.A felicidade era tanta que ela corria pela casa pegando suas coisas, querendo partir logo antes que fosse tard
Alguns dias se passaram até que Heven enfim chegasse aos portões de Tórus. Parecia um reino muito bonito e grande, como ela nunca viu. Nem se lembrava se um dia viu algo tão grandioso como aquilo, e deslumbrada, ela olhava para cada canto da cidade.Voltando a si, ela observou a rua do comércio, andando por ali para ver o que tinha.Quando avistou as jóias sendo vendidas mais a diante, abriu um sorriso animado, andando até lá.Tudo o que ela precisava era andar naturalmente observando outras coisas até chegar na barraca de jóias. E quando enfim chegou lá, cumprimentou o vendedor e começou a olhar as jóias como se tivesse dinheiro para pagar.Ali, exercendo seus truques enquanto pegava algumas peças sem ser vista, ela conversava com o homem, experimentando alguns colares e pulseiras.Mas, o que ela achava que estava funcionando, foi rapidamente avisado por alguém que gritou apontando para ela.— Sua ladrazinha! Ela está pegando as suas jóias! Veja a sacola dela!E sendo pega no flagra,
Zack era o príncipe mais novo do reino Tórus. Klaus era o herdeiro do trono e tudo parecia estar ótimo para os dois com isso, até que uma moça mudou tudo.Anelise era uma jovem da nobreza, que acabou se apaixonando pelo príncipe herdeiro e ele por ela, como em uma linda história de romance, mas o que parecia bem demais começou a gerar um problema quando o príncipe Zack percebeu que também estava apaixonado pela noiva do irmão.Alguns anos se passaram até que Klaus pediu a mão da moça em casamento, e agora eles estavam noivos, para o desespero de Zack.Mas quando ele viu aquela moça que esbarrou nele, vendo que era bonita e que estando nas mãos dele ele poderia usá-la, ele não iria deixar essa chance escapar.— Tudo bem, vamos dizer que você é filha da irmã de Celena, uma das nossas servas, e que estava precisando de emprego e, eu ofereci no palácio.— Espera aí, — Heven o interrompeu. — Vamos começar do começo. Muito prazer, o meu nome é Heven. — A moça estendeu sua mão para cumprimen
O raiar do dia dizia que seria um belo dia quente desde cedo, e Heven logo de manhã já estava ao lado da porta do quarto do príncipe esperando para arrumar tudo lá dentro. Se perguntava se ela conseguiria fugir do palácio sem problemas naquele instante sem ser procurada depois. Mas logo seus pensamentos foram interrompidos quando a porta se abriu e Heven viu os olhos surpresos do príncipe Zack a sua frente.— Achei que estaria na cozinha.— Bom dia, vossa majestade. — Ela se curvou com ironia. — Celena me mandou vir limpar o seu quarto. Deve estar claro na minha expressão o quanto eu estou amando estar aqui.Zack sorriu dando passagem a garota, que entrou no quarto. Os olhos dele logo foram para as vestimentas da nova serva, que agora tinha de usar um vestido longo comum das servas.— Gostei do vestido. — Ele brincou.— Ah, e tem isso também! — Heven se virou para ele, exaltada. — Eu vou ter que usar vestido agora?— Eu prometo a você que as coisas vão melhorar, mas você vai ter que p
Quando chegou o momento de ir se encontrar com o príncipe Zack para irem ao tal passeio, Heven aproveitou que estava sozinha no quarto do príncipe e que ele não iria voltar tão cedo, para tomar um banho em sua banheira. Ele não iria se importar, e também se resolvesse se incomodar ela não iria dar a mínima para isso. Viu alguns perfumes e cremes da rainha Dalise quando estava limpando seu quarto mais cedo e os pegou justamente para este momento. Heven estava animada para tomar um banho delicioso depois de todo o trabalho, ainda mais sabendo que os empregados não tinham direito ao banho tão frequente. Que audácia. Depois de pronta e vestida novamente com um vestido que era verde musgo e com um avental branco amarrado, Heven saiu do quarto do príncipe e foi até as escadas as descendo para ir até a carruagem que a esperava. O príncipe Zack havia chegado a pouco tempo e então ambos entraram na carruagem praticamente juntos. Sentando um ao lado do outro, tudo parecia pronto para essa p
A noite finalmente havia chegado, e todos estavam em seus aposentos dormindo, menos a rainha que olhava firme para o teto enquanto sua mente estava em outra realidade, onde Abnorú era um rapaz querido, como era quando bebê, governando sabiamente ABAD. Quando sentiu uma lágrima escorrer por seu rosto, sua mente a trouxe para o mundo real, onde seu filho era um monstro, que matava por diversão. A mulher não era a única a perder o sono naquela noite, seu marido também estava acordado deitado de lado pensando seriamente nas palavras que ouviu mais cedo. Ao se virar para ver se sua esposa estava acordada, ele tomou coragem e resolveu contar a solução que achou para que as coisas se ajeitassem. – Minha querida... Você já pensou em... Não coroar nosso filho Abnorú? – O quê? Por que está dizendo isso agora? – Bem... Sinto que estaríamos cometendo um grande erro ao fazer isso. Eu sei que ele é o nosso filho e que eu prometi que faríamos isso ju
O raiar do dia dizia que seria um belo dia quente desde cedo, e Heven logo de manhã já estava ao lado da porta do quarto do príncipe esperando para arrumar tudo lá dentro. Se perguntava se ela conseguiria fugir do palácio sem problemas naquele instante sem ser procurada depois. Mas logo seus pensamentos foram interrompidos quando a porta se abriu e Heven viu os olhos surpresos do príncipe Zack a sua frente. — Achei que estaria na cozinha. — Bom dia, vossa majestade. — Ela se curvou com ironia. — Celena me mandou vir limpar o seu quarto. Deve estar claro na minha expressão o quanto eu estou amando estar aqui. Zack sorriu dando passagem a garota, que entrou no quarto. Os olhos dele logo foram para as vestimentas da nova serva, que agora tinha de usar um vestido longo comum das servas. — Gostei do vestido. — Ele brincou. — Ah, e tem isso também! — Heven se virou para ele, exaltada. — Eu vou ter que usar vestido agora? — Eu prometo a você que as coisas vão melhorar, mas você vai ter
O dia tão aguardado havia chegado em um dia ensolarado e quente. As nuvens eram poucas no céu e não havia sinais de chuva, um dia perfeito para Alice que mesmo cedo já estava sendo preparada para o casamento.Dalise e suas amigas estavam em seu quarto com ela, além de, é claro, sua mãe a rainha.O costureiro dava os retoques finais no vestido enquanto Alice se olhava no espelho. Era o vestido mais lindo que já usou. Era brilhoso, com muitas pedrarias magníficas e seu tom de branco era tão bonito que ela podia ficar admirando para sempre.O decote era em formato reto, e os ombros eram levemente bufantes. O corpete era apertado na medida certa e o vestido se abria generosamente um pouco antes de seu umbigo, para disfarçar a barriguinha, que na verdade nem aparentava. Afinal, ninguém podia saber que ela estava grávida de outro homem que não era o que a esperava no altar.Seu colar era fino e valoroso, e seu véu preso em seus encaracolados cabelos loiros era tão comprido quanto a calda de