Capítulo 03

E como um sopro, o tempo se passou totalizando dois anos. A princesa Alice ainda estava aprendendo a como ser uma boa mãe, e mesmo que fosse desafiador, ela estava gostando muito.

Jaze se sentia extasiado ainda, a menina era sua completa alegria! Por onde quer que ele fosse, Aurora iria com ele, os dois não se desgrudavam e era notório o quanto gostavam um do outro.

A pequena Aurora ainda não conseguia falar direitinho, e até tinha algumas palavras próprias arrancando várias risadas de seus pais.

Ela havia mesmo saído parecida com a mãe, com cabelos encaracolados e loiros, olhos claros e o formato da boca muito parecido. Mas o comportamento, até então, era de Jaze mesmo que não fosse filha legítima dele.

O príncipe estava com Aurora no jardim real, fazendo um piquenique com a menina. Ele trouxe alguns brinquedos para entretê-la também, enquanto ajeitava tudo.

Mais cedo tinha pedido para prepararem seu bolo favorito, bolo de banana. Jaze não gostava muito, mas já que ela gostava, pediu por isso.

Eles estavam comendo e fazendo a maior bagunça juntos, até que a menina se cansou, deitando sua cabeça no colo do pai.

Jaze sentiu seu coração balançar quando viu a aproximação tão boa de Aurora. Ela era a filha que ele sempre sonhou em ter, e estava feliz de tê-la.

O príncipe fez carinho em seus cabelos loiros, falando baixinho:

— Você, minha pequena Aurora, foi o melhor presente que eu já ganhei... Bom, na verdade quando eu era criança eu ganhei um brinquedo de cavalo que eu adorei! Eu brincava todos os dias cavalgando por todos os lados! Mas você é muito melhor, com certeza.

Depois de ouvir a si mesmo, Jaze sorriu bobo voltando a fazer carinho nos cabelos da menininha.

A essa hora, a princesa Alice procurava pelos dois, sabendo que os encontraria juntos. Depois de andar por praticamente todo o palácio, os avistou sentados na grama do jardim real. E sorrindo, foi até lá silenciosamente ouvindo parte do que Jaze disse.

— Sabe... Quando conheci sua mãe, éramos apenas crianças um pouco maiores que você. Éramos muito encrenqueiros! Sim! Vivíamos fazendo confusões! Era divertido... Espero que você se divirta também, mas não seja fujona do palácio como éramos nós dois.

— Nem diga uma coisa dessas! — Alice disse indo se sentar perto dos dois. — Não quero pagar meus pecados tendo uma mini Alice.

Esse comentário fez rir o príncipe de Tórus, que abaixou o rosto vendo Aurora se levantar e engatinhar até sua mãe.

A princesa pegou sua filha no colo brincando com ela, ouvindo as gargalhadas gostosas da bebê, que era contagiante!

Jaze observando com todo o amor e carinho do mundo por elas duas, de repente as puxou para um abraço as fazendo cair em cima dele na gargalhada.

— Eu amo vocês... — Ele disse, dando um beijinho na testa das duas.

— Nós também te amamos, meu amor... — Alice respondeu fazendo carinho no rosto de seu marido.

Parecia uma cena de peças felizes onde tudo acabava bem, mas não seria assim, não mais...

E sentindo um calafrio, Alice passou suas mãos pelos braços pensando que não era nada demais, mas a verdade é que alguém estava voltando, alguém que ela nunca deveria ter se envolvido.

[...]

Chegando enfim de volta a Óligun, Zadack pretendia pôr seu plano em ação, mas antes precisava se encontrar com Kalí e contar tudo a ela.

Esperou a noite chegar, já que era o único momento em que podia se encontrar com ela, e se dirigiu até a estalagem de Gerúndio.

O velho ficou animado em vê-lo, pois sabia que ele o pagava bem, mas nem imaginava o que iria acontecer naquela mesma noite.

— Ora ora, quem é vivo sempre aparece, não é?

Zadack seguiu caminhando até o balcão, pedindo uma taça de vinho. Se sentando na cadeira, procurava com os olhos a mulher que sonhou durante praticamente todas as noites quando esteve fora. Dois anos haviam se passado, ele estava preocupado de ela ter ido embora, mesmo sabendo que era praticamente impossível.

— Está procurando por Kalí? — O velho perguntou entregando a taça.

Zadack concordou com a cabeça, ficando nervoso com aquela pergunta.

— Está se trocando. Hoje irá dançar para nós.

E como um alívio, Zadack voltou a respirar tomando um gole de seu vinho.

— Vai ficar com ela hoje?

— Que dúvida. Aquela mulher é minha, ouviu? — Zadack disse sem se preocupar que Gerúndio fosse entender o que ele realmente quis dizer.

O velho ficou mais é animado com aquela afirmação, porque acreditava que dali vinha muito dinheiro, mas essa noite seria exatamente o contrário.

Quando Kalí apareceu, os músicos começaram a tocar enquanto ela mostrava suas habilidades com o corpo na frente de todos, prendendo olhares por onde passava.

E como da primeira vez, seus olhos se encontraram com os de Zadack, mas dessa vez ela tomou um leve susto, paralisando sua dança no mesmo instante. Revê-lo depois de dois anos fora foi assustador para ela que não sabia o que fazer quando isso aconteceu.

Zadack, por sua vez, sentado naquele balcão olhando firmemente para ela, apenas mostrou seu sorriso quando percebeu que ela o viu. Ele estava contente em ainda causar alguma reação a ela, significava que ela ainda sentia algo por ele. E dessa vez ele não iria decepciona-la.

— Kalí! O que está fazendo mulher? Vamos, volte a dançar! — Gerúndio reclamou, gritando com a mulher que se desligou do transe.

Mas Zadack largou a taça em cima do balcão e se levantou andando até ela, enquanto falava:

— Nada disso! Ela não vai mais dançar pra ninguém. — Chegando perto dela, a puxou pela cintura, continuando. — Essa mulher é exclusividade minha, lamento por todos vocês, rapazes.

— Deixa ela dançar!

— É! Sai fora!

Os homens gritavam.

— Eu já reservei ela para mim, não há nada que vocês possam fazer. Ninguém. — Zadack falava com firmeza aquelas palavras que tinham um significado maior do que eles entendiam.

Enquanto falava, Kalí permanecia quieta, mas com a cabeça fervilhando no motivo de aquilo estar acontecendo.

Por que ele voltou? E por que está agindo como se nada tivesse acontecido entre eles?

Essas respostas teriam de vir, mas diferente do que ela estava pensando, a faria sorrir.

Trancando a porta, Zadack se virou vendo Kalí de braços cruzados virada para a janela que permitia trazer a claridade da lua para dentro do quarto.

Ela parecia inquieta, nervosa e com certeza cheia de dúvidas, mas Zadack estava confiante que ela entenderia tudo.

Se aproximando com cuidado, a chamou:

— Kalí... Eu...

— O que pretende fazer? — Ela se virou para ele. — As coisas vão voltar como antes? Como se nada tivesse acontecido?

— Meu amor... Nós precisamos conversar... Por favor, senta aqui comigo, e me escuta.

— Tudo bem. O que eu mais quero são explicações suas.

Dito isso, a mulher se sentou esperando ouvir alguma coisa que valesse a pena.

Zadack se sentou e começou a falar, demonstrando um sorriso animado.

— A partir de hoje, Kalí, você será livre.

[...]

Depois de dois anos em que Adiná deu a luz naquele dia tão difícil, a mulher se sentia agraciada por ter sua filhinha perto agora. Adiná se lembrava do momento em que Adelly nasceu, recordando de suas palavras sobre o quanto ela seria forte e importante, mas não podia imaginar o que poderia acontecer depois disso.

Quando nasceu, Adelly não tinha quase nada de cabelos, mas ao longo de dois anos, seus lindos cabelos castanhos começaram a crescer, e com eles, algo que assustou a mãe da menina.

Fios de cabelos brancos... Que se tornaram muito visíveis e, logo depois uma parte de seu cabelo ficou desta cor.

Uma mecha de cabelos brancos tirava o sono de Adiná, que não entendia o motivo de sua filha de dois anos ter tal mecha.

Adiná sabia que tinha uma doença, mas o reino tinha poucos médicos, pois eles utilizavam plantas medicinais e os antigos reis pais dos que agora governavam, isto é, o rei Akír e a esposa Amelina, acreditavam que essas coisas eram fruto de magia, deuses ou poderes sobrenaturais da natureza.

As coisas não mudaram muito quando Akír subiu ao trono, talvez as coisas em ABAD corressem lentamente...

Então Adiná não sabia exatamente o que tinha, mas poderia ter passado para sua filha e ela tenha apresentado este sinal.

Agora ela se sentia preocupada com a saúde da menina, mas não só com isso na verdade, também sentia preocupação por conta do que as pessoas poderiam pensar sobre Adelly quando a vissem.

E sua preocupação estava certa, pois seu futuro iria ser totalmente decidido por conta disso.

[...]

— O quê? — Kalí perguntou quando ouviu aquelas palavras de Zadack.

— Eu tenho um plano para tirar você daqui.

— O que você está falando? Não venha me iludir, Zadack. — Kalí se levantou sentindo seu coração acelerar, com medo de se permitir ficar feliz com aquilo.

Zadack sabia que precisava de calma para contar tudo, e também da confiança dela, por isso precisava ser mais cuidadoso.

— Olha... Eu sei que... Eu fui embora sem mais nem menos... Mas eu precisei fazer isso. Os soldados ainda estavam atrás de mim e eu não posso ser pego, por isso fugi...

Kalí o olhou nos olhos, compreendendo que fazia sentido o que ele dizia. Ela mesma viu e ouviu homens passarem perto dali falando sobre ele.

— Durante o tempo que estive fora, eu consegui muitos sacos de ouro, jóias, pedrarias, nós temos como começar a nossa vida bem longe daqui!

— E a princesa? — Kalí perguntou curiosa sobre o que ele diria sobre isso. Afinal, eles tiveram um caso antes.

— Eu quero tirar o que puder daquela mulher. Porém eu acredito que ela ainda gosta de mim, então eu vou enviar uma carta secreta para ela pedindo para nos encontrarmos em seu quarto, e lá eu irei obriga-la a me mostrar todos os pertences preciosos que ela tem em seu quarto para eu levar comigo.

— Acontece que Alice não está mais apaixonada por você. — Kalí respondeu firme.

— É claro que está. Eu fui o primeiro homem a se deitar com ela, e além do mais eu...

— Ela está casada. — Kalí o interrompeu. — E já tem uma filha.

O susto fez os olhos do homem se abrirem e suas sobrancelhas se encontrarem. Ele nem soube direito o que dizer diante daquelas informações, e a única coisa que conseguiu de imediato foi soltar uma pequena risada desacreditada.

— Não. Não, não pode ser! Alice nem queria se casar! Como que...

— Ela estava noiva antes mesmo de conhecer você.

Zadack engoliu em seco tentando assimilar toda essa história. Se Alice estivesse mesmo casada, significava que seu plano iria por água abaixo totalmente.

— Além disso, como eu disse, Alice tem uma filha. A princesa Aurora. Que além do mais nasceu dois meses antes do tempo.

Dois meses... Uma filha... A cabeça de Zadack estava fervilhando com aquelas afirmações. Como essas coisas aconteceram tão rápido?

Dois meses antes... Esse tempo se encaixa com...

Zadack começou a entender e levantar uma hipótese que fazia muito sentido para ele, que além de o assustar, poderia ajudá-lo, e muito.

— Kalí...

A mulher o olhava atenta, vendo seus olhos arregalados para o canto. O que viria de sua boca agora?

— Aurora é minha filha.

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