Três anos depoisÀ beira da Lagoa de B, havia uma pequena pousada que não chamava muita atenção. Pode-se dizer que era uma pousada, mas na verdade era apenas uma pequena mansão de três andares, bem pequena se comparada com outras pousadas ao redor.Apesar de estar perto da Lagoa de B, a localização não era tão boa assim. A pousada mais próxima estava a centenas de metros de distância.Uma mulher vestida com largas roupas de linho e algodão, comuns na região, estava deitada sob a varanda do primeiro andar, numa velha cadeira de bambu, balançando para frente e para trás. Ao lado dela, numa pequena mesa quadrada, havia uma chaleira de café e uma xícara pela metade. De vez em quando, algumas aves aquáticas planavam sobre a superfície da Lagoa de B, buscando os pequenos camarões endêmicos da região.O céu azul parecia tão perto que ela sentia que poderia tocar as nuvens brancas e macias se esticasse a mão. Uma árvore caída à beira do lago havia sido parcialmente submersa depois que o nível
Cecília imediatamente se levantou do banquinho quadrado, pegou uma xícara de café, colocou em um pires e a entregou à mulher. Ao se levantar, os cabelos da mulher eram surpreendentemente longos, chegando à cintura. Presos de forma frouxa com um elástico de cabelo, ela estendeu a mão para pegar a xícara que Cecília lhe oferecia, levantou a tampa e deu um gole.- Cecília, pegue o contrato e me siga. - disse a mulher, levantando-se e caminhando em direção ao interior da casa com passos extremamente lentos.- Chefe, aqui está.Como um vendaval, Cecília correu até o balcão, pegou um envelope de papel pardo, correu até a mulher e a seguiu a passos ritmados. A mulher caminhava muito devagar, então Cecília a seguia no mesmo ritmo, passando pelo alpendre e subindo até o segundo andar. Um trajeto que levaria dois a três minutos para os outros, para elas levou mais que o dobro do tempo. A mulher andava devagar e Cecília não a apressava.Chegando ao segundo andar, já se podia ouvir uma discussão a
O choque em Bruno era indescritível. Ouvia as palavras perdidas e incoerentes de seu bom amigo:- Se não fosse o celular caindo na mesinha de cabeceira, se eu não tivesse movido a mesa enquanto pegava o celular...Bruno compreendia, o seu amigo descobrira um segredo escondido por anos enquanto pegava o celular caído.- Teria sido melhor se o celular não tivesse caído, se eu não tivesse ido buscá-lo...Bruno apertou os punhos, ouvindo as palavras desanimadas do amigo, a repetição constante de "se", deixava qualquer um inquieto. Rafael parecia um homem de meia-idade desolado, como se tivesse perdido tudo - a esposa, o emprego, o filho. Bruno queria socá-lo, queria lhe dar uma lição, mas não conseguia.- Se... Se eu tivesse descoberto antes, teria sido melhor! O homem, que sempre fugiu com medo e tristeza, finalmente verbalizou o arrependimento mais profundo em seu coração.- Se eu tivesse descoberto mais cedo, a conclusão seria diferente, não é? A pessoa que amo estaria ao meu lado, com
Um jipe se movia pela estrada da montanha, não havia necessidade de ar condicionado dentro do carro, bastava abrir as janelas e o vento traria o ar fresco.- É aqui?O carro parou lentamente, um homem vestindo roupas casuais no banco de trás, com uma expressão bonita no rosto, franziu levemente a testa e examinou os arredores, murmurando para si mesmo, "Isso não é muito remoto?"Lagoa de B era grande, e as pousadas construídas ao longo de Lagoa de B eram incontáveis. No entanto, a maioria das pessoas preferiria se hospedar em uma das pequenas cidades ao redor de Lagoa de B, mesmo que não quisessem ficar em uma cidade cheia de gente.Aquele lugar era um pouco isolado.No entanto, por causa do isolamento, as pousadas ali não possuíam a aura comercial daquelas nas cidades pequenas e pareciam mais puras.- Chefe, está correto, é aqui.Havia também um assistente de cabelos curtos que veio junto com o homem casual.- É aquela pousada.- Vá até lá.- Certo, chefe.O carro começou novamente, d
O belo homem tinha um lampejo estranho no fundo dos olhos, sorriu sutilmente, acenando com a cabeça.- Há quartos disponíveis?- Sim, temos!Cecília, como uma funcionária de hotel, já tinha visto muitos hóspedes. No entanto, nunca tinha visto um homem tão belo e com uma aura tão especial como o que estava à sua frente.O homem seguiu Cecília para o lobby. Ao entrar, a limpeza e a clareza eram notáveis. Em pé no balcão, podia-se ver a vista do pátio através das portas de vidro dobráveis, até mesmo o lago Lagoa de B ao longe. O olhar do homem parou repentinamente na cadeira de praia de bambu no corredor do pátio. Um brilho passou rapidamente por seus olhos.- Senhor, nosso hotel tem um acordo de check-in, você pode dar uma olhada e ver se concorda?Cecília entregou-lhe o contrato. Ela não sabia porque o dono do hotel tinha estabelecido tal contrato peculiar, mas desde que começou a trabalhar lá, nunca houve exceções. Todos os hóspedes que se hospedam deviam concordar com o contrato ante
Os olhos de Nuno não deixaram a mulher à sua frente.Claramente, naqueles olhos brilhantes e claros, ele viu uma confusão evidente. Ele riu silenciosamente em seu coração, "Como essa mulher poderia se lembrar dele?"Sua existência era realmente constrangedora.Para a poderosa família Gomes, ele era um filho ilegítimo que não poderia ser exposto. Esse título não era algo para se orgulhar.Portanto, estava destinado que sua existência seria constrangedora e contraditória.Quem gostaria de ser o filho ilegítimo de uma família rica?A linhagem da família Gomes, que todos desejavam, era algo que ele desejava que pudesse fluir fora de seu corpo algum dia!A mulher não sabia de sua existência, em sua memória, ele não existia, ou se existia, era apenas o Nuno notório que todos falavam.No entanto, em sua memória, havia a figura dessa mulher.Quando era pequeno, não entendia por que não tinha pai. Depois, sua mãe o levou para ficar em frente a uma mansão muito grande e, escondido atrás de uma á
- Desculpe.O homem colocou a taça que segurava de volta à mesa graciosamente.A mulher de pé ao lado, olhou-o com uma expressão de espanto. Aquela era a taça dela, ela nunca tinha visto alguém assim, uma taça não é um objeto qualquer, é um item de privacidade extrema, agora é possível ser usado reciprocamente entre estranhos?Ela estava um pouco irritada:- O senhor é Nuno, certo? Pode usar a cadeira de praia, mas uma taça, um item pessoal, o Senhor Nuno toma sem pedir, parece inadequado. Ou o Senhor Nuno tem o hábito de beber água na taça de estranhos?- Não fique brava.Nuno levantou as mãos com um sorriso leve, olhando-a tranquilamente:- Eu estava com sede, não sabia que a taça era sua. De qualquer forma, teria pedido a sua opinião. Se isso te deixou desconfortável, peço desculpas, não foi intencional.Em primeiro instante, as palavras pareciam sinceras, mas ao ouvi-las com atenção, dava para perceber que este homem chamado Nuno, não tinha nenhuma intenção de se desculpar.O que s
O conteúdo de dentro do pen drive foi copiado para o laptop ao seu lado. Bruno estava prestes a abrir o arquivo, quando uma mão cobriu a dele: - Eu te aviso, é melhor você estar preparado psicologicamente.Bruno ficou perplexo, mas a expressão de Tiago era excepcionalmente séria... Poderia ser tão horrível assim? Com um pouco de incredulidade, Bruno iniciou o vídeo.No começo, nada parecia fora do normal, mas de repente, Bruno arregalou os olhos e exclamou:- O que é isso?! - ele apontou para o vídeo em reprodução.- Isso é só o começo. - disse Tiago com indiferença.No início, ele também tinha desconsiderado, assim como Bruno. E, claro, ele terminou do mesmo jeito que Bruno, com incredulidade.Bruno fechou a boca, na sala silenciosa, dois homens, não se sabe com que sentimentos assistiram a todo o vídeo, claramente editado e com muitas cenas cortadas.Finalmente, a tela do computador ficou escura. O coração de Bruno batia aceleradamente. De repente, um cigarro foi oferecido ao lado: