Las Vegas, 2 anos antes

            Estou empolgada. Mais uma hora e eu estarei em Las Vegas. Infelizmente, meu irmão, Jake, tem uma reunião e não pode ir me buscar no aeroporto, mas a parte boa disso é que ele disse que enviaria Ethan, o chefe da sua segurança, lindo de morrer. Desde que Ethan veio trabalhar para Jake eu me encantei por sua beleza.  Seus belos olhos verdes penetrantes harmonizam-se perfeitamente com seus cabelos castanho-claros. Mas, mais do que isso, a sua firmeza e virilidade é o que mais me encanta. Seu excesso de proteção, embora eu saiba que tem mais a ver com seu trabalho do que com qualquer outra coisa, é sexy demais.

Contra mim há o fato dele trabalhar para o meu irmão, o que faz cair por terra qualquer ilusão que eu possa alimentar sobre nós dois. Mas, para a minha felicidade, o meu amado e poderoso bilionário irmão Jake ainda não tem o poder de mandar nos meus sonhos. Então, eu me permito sonhar com Ethan.

Uma hora mais tarde, eu desembarco no Aeroporto de Las Vegas e, como era esperado, Ethan está de pé, em frente ao portão de desembarque me esperando. Logo que me vê ele caminha em minha direção – Bem-vinda de volta, Senhorita Grenn. Deixe-me ajudá-la com as bagagens.

─ Obrigada, Ethan. É bom ver você novamente.

─ É um prazer vê-la também, Senhorita. – Ele fala timidamente e me guia em direção ao carro, abrindo a porta de trás do carro pra mim, como ele sempre fez. Em seguida ele dá a volta para acomodar-se no banco do motorista.

─ Vamos para a casa do seu pai ou hotel?

─ Depende. Jake estará livre quando eu chegar ao hotel?

Ele olha para o relógio – Sua reunião termina em meia-hora.

─ Então podemos ir para o hotel.

─ Como quiser, Senhorita.

Eu respiro profundamente – Ethan, por favor, você pode me chamar de Kate. – Ele não responde e dirige em direção ao hotel. O Grenn Hotel fica na principal Avenida de Las Vegas, a Strip Las Vegas. É imenso e muito luxuoso. Meu irmão possui uma rede de hotéis espalhada pelo mundo. Ele tem alguns outros negócios, como restaurantes, cassinos, boates, algo na área de tecnologia. A cada ano ele consegue diversificar sua área de atuação.

Ao chegarmos ao hotel, eu vou direto para o escritório de Jake e me sento na sala de espera até que Jake tenha terminado a sua reunião. Ethan senta-se em uma poltrona do outro lado da sala e fica o tempo todo mexendo em seu iphone como se eu não estivesse aqui. Eu faço o mesmo, mas aproveito para espiar sempre que eu sei que ele não está olhando.

Quando estava mais do que evidente que ele não estava prestando a menor atenção em mim, eu decido me concentrar nas minhas mensagens. Há uma série de mensagens que eu preciso responder, mas principalmente as de Charles, meu melhor amigo da faculdade. Eu aproveito para lhe avisar que cheguei em segurança e que em breve entrarei em contato. Eu estava distraída quando uma série de executivos começa a sair da sala de Jake. Eu me ponho de pé ansiosa para ver o meu irmão, o que ocorre alguns instantes depois. Ele finalmente surge à porta e eu, literalmente, corro em sua direção – Jake!!!

Kate, aí está você. – Ele me abraça. – Senti sua falta.

─ Eu também senti a sua.

─ Eu pensei que você iria direto para casa. Não que eu esteja reclamando da sua vinda pra cá. Eu confesso que eu me sinto lisonjeado.

Ele me puxa para entrar em sua sala – Eu queria vê-lo antes. Tive medo de que alguma reunião de emergência te levasse de Vegas sem que eu pusesse os olhos em você antes.

─ Eu não sairia daqui sem vê-la. Você está com fome?

─ Estou faminta. – Eu digo. Sentando-me no sofá do seu escritório.

Jake caminha até a sua mesa e disca dois números do ramal do restaurante – Vou pedir algo para comermos. O que você quer?

─ Hambúrguer.

─ Sério? – ele pergunta surpreso e eu balanço a cabeça concordando. Ele pede hambúrgueres e fritas e nós conversamos bastantes sobre as novidades de Nova York, onde ele passa a maior parte do tempo agora, e Las Vegas. Ele também me pergunta sobre a faculdade. Ele quer que eu vá trabalhar com ele na GE quando eu me formar. Duas horas se passam e, por mais que eu queira ficar o resto do dia em companhia de Jake, eu tenho que ir ver o meu pai.

─ Eu tenho que ir agora ver o papai. Você tem falado com ele? – eu pergunto a Jake e ele nega com a cabeça – Jake, você tem que parar com isso. Ele é o seu pai.

─ Eu sei. Mas é que ele às vezes me tira do sério com essa mania de querer saber de tudo.

─ É só isso mesmo ou será que é por que você ainda não o perdoou pelo que houve com a nossa mãe? – ele não responde – Seja o que for, já faz muitos anos e a vida continuou e o nosso pai está aqui conosco, sempre esteve.

─ Se ele não tivesse impedido talvez ela também estivesse aqui conosco agora.

Eu suspiro e ergo os braços em rendição – tudo bem. Não vamos falar sobre isso de novo. Eu só quero que vocês se deem bem – Eu fico de pé para ir embora – Eu marquei com algumas amigas aqui no cassino à noite para uma festinha de boas-vindas.

─ Que bom, mas antes você vai jantar comigo. Em seguida eu vou pro meu quarto aqui mesmo no hotel, pois eu tenho alguns documentos para examinar, mas Ethan pode ficar com você.

─ Eu não preciso de babá, Jake. Já sou crescida.

─ Eu sei disso, mas você não pode andar aqui como você anda em Londres. Você sabe que eu tenho muito dinheiro e... enfim, nós já tivemos essa conversa um milhão de vezes. Eu não quero que nada aconteça com você. Eu já consegui convencer o nosso pai a andar com seguranças, então não me dê mais trabalho do que ele já me deu.

Eu me rendo e me despeço dele. Ethan me acompanha pelo hotel até chegarmos à entrada principal onde o manobrista nos aguarda com o carro. Ele abre a porta de trás para mim e se acomoda em seu lugar nos levando para a casa do meu pai. Quando entramos na nossa propriedade, meu pai já me aguardava na porta. – Você avisou ao meu pai que eu estava a caminho?

─ Sim, Senhorita. Ele ligou várias vezes perguntando e eu expliquei que você estava no hotel e que eu a levaria para casa. Que horas devo vir buscá-la?

─ Eu vou jantar com Jake as oito e depois vou encontrar com umas amigas.

─ Devo buscá-la às sete e meia?

─ Sim, por favor. – Quando ele para finalmente em frente à entrada principal de casa, meu pai abre a porta do carro e eu me jogo nos seus braços. – Pai, que saudades.

─ Minha filha, que bom que você está aqui. Eu estava prestes a ir buscá-la naquele hotel se você demorasse mais um pouco.

─ Eu sinto muito, pai. É que eu tive medo de que Jake precisasse viajar de última hora e eu não conseguisse vê-lo.

– Eu entendo. Mas eu tenho você o resto do dia pra mim.

─ Sim, você tem. Exceto à noite, pois marquei com algumas amigas de sair. Mas serei sua o resto do mês.

─ Isso parece bom. – Ele diz.

 O segurança do meu pai se aproxima de Ethan e pega a minha bagagem. Ethan se dirige ao meu pai – Senhor Grenn, como tem passado?

─ Eu estou bem, Ethan. E você?

─ Eu estou bem, Senhor. Há algo mais que eu possa fazer por vocês?

─ Não, Ethan, obrigada – eu digo – Até à noite.

─ Até à noite, Senhorita.

Ele entra no carro e nós entramos em casa – Como vai o seu irmão? – Papai pergunta quando estamos sozinhos.

─ Bem.

─ Ele perguntou por mim?

─ Como poderia, pai? Eu não lhe vejo há mais tempo que ele.

Ele muda de assunto – Como está a faculdade... – Nós passamos o resto do dia conversando. À noite ele marca com uns amigos algumas partidas de pôquer, já que eu não ficarei em casa e eu vou me arrumar para esperar Ethan. Eu envio mensagens para minhas amigas da época do colégio para confirmar nosso encontro na boate do hotel às dez horas. Às sete e meia em ponto Ethan estaciona o Bentley no pátio principal da nossa casa.

Ele se apressa para abrir a porta do carro para mim, mas eu ignoro e abro a porta da frente e entro. Eu olho pelo retrovisor enquanto ele hesita um pouco, mas em seguida fecha a porta novamente e dá a volta para sentar-se atrás do volante. Ele pigarreia um pouco e eu sei que ele está tentando encontrar uma maneira de me convencer a me sentar na parte de trás do carro. – Senhorita Grenn, você não acha melhor se sentar na parte de trás do carro? É mais seguro.

─ Você dirige tão mal assim Ethan?

─ Não é o caso Senhorita, mas seu irmão pode não gostar.

─ Ethan. – Eu digo calmamente, mas enfaticamente – Meu irmão não é meu pai e nem meu chefe.

Ele põe o carro em movimento reconhecendo a sua derrota, mas ele não finaliza o assunto ainda. – Mas é o meu chefe.

─ Eu entendo. Mas ele manda em você, não em mim. Além disso, Jake não implicaria por causa de uma bobagem dessas, mas se por acaso ele implicar. Basta você dizer que eu me recusei a vir atrás.

─ Como quiser, Senhorita.

Isso vai ser mais difícil do que eu imaginava. Ethan e sua resistência a mim me faz sentir a última das mulheres. Será que ele me acha tão sem sal? Eu me produzi toda pensando em provocá-lo. É divertido ver o quanto ele fica desconcertado com as minhas brincadeiras e investidas. Agora mesmo a cara dele está ótima com o fato de eu estar sentada ao seu lado no carro – Ethan, eu achei que havia pedido para me chamar apenas de Kate hoje cedo.

─ Eu sinto muito, Senhorita, mas creio que não seja conveniente.

Eu resolvo não insistir, se ele quer me chamar assim, que me chame. Durante todo o percurso até o hotel, eu dirigi minha atenção para as luzes da cidade. Las Vegas à noite é uma cidade muito colorida. As pessoas lotam as calçadas com suas roupas elegantes. Em Vegas você encontra uma variedade de estrangeiros e Jake fez uma bela fortuna com o turismo.

Quando Ethan para o carro no pátio do hotel, ele se apressa em abrir a porta do carro para mim e entrega as chaves ao manobrista. Eu passo as mãos pelo meu vestido vermelho curto e olho para Ethan que está parado esperando que eu me mexa – Como estou, Ethan?

Ele pigarreia e toma uma respiração profunda. Seus olhos passeiam pelo meu corpo. – Creio que elegante, Senhorita.  

─ Só elegante? – Minha voz soa decepcionada, e eu estou.

─ Muito elegante, Senhorita.

─ Eu não estou sexy, desejável, bonita ou algo assim.

Ele se move impaciente – Creio que eu não seja a pessoa apropriada para emitir uma opinião nesse sentido, Senhorita.

Eu ergo meu queixo desafiadoramente e arqueio minhas sobrancelhas para ele – Eu entendo Ethan, eu estou começando a achar que você tem razão. Talvez daqui para o fim da noite eu encontre alguém que esteja mais apto a emitir uma opinião. De preferência que não trabalhe para o meu irmão – Eu entro apressadamente no hotel sem lhe dispensar outro olhar. Jake está me esperando no bar do hotel.

─ Aí está você – ele diz – Você está linda.

─ Obrigada, Jake. Que bom que alguém aqui pode me dizer que eu estou linda. Eu perguntei a Ethan, mas, segundo ele mesmo, ele não está apto a emitir uma opinião. – Eu falo um pouco mais alto do que o normal para que ele me escute.

Jake olha divertido para Ethan – Você e essa sua implicância com Ethan.

─ Não é implicância. É que ele não parece humano às vezes.

─ Ele está apenas fazendo seu trabalho que é cuidar de você. Ethan é um profissional muito competente e estimado por mim. Deixe-o em paz. Nossa mesa já está pronta, vamos.

Eu encolho os ombros e o sigo em direção a sala privada que foi reservada para Jake. O jantar foi muito divertido. Eu pude matar um pouco da saudade que senti dele durante esses meses que não o vejo. Como a minha faculdade fica em Londres, eu moro lá com a minha avó e quase não vejo Jake e o meu pai. Exceto em feriados prolongados e férias. Ou ainda quando Jake está de passagem por Londres, então marcamos um jantar ou um almoço. Embora esteja curtindo a faculdade, eu não vejo a hora de terminá-la para voltar e ficar mais perto deles. Minha avó provavelmente virá de vez pra cá quando eu me formar. Eu e Jake temos uma ligação muito forte. Eu acho que boa parte disso se deve ao fato da minha mãe ter nos deixado enquanto éramos crianças e ele não ter feito nada para impedir, como ligar para o meu pai assim que ele a viu ir embora, por exemplo. Desde então ele cuidou de mim, me protegeu, me amou e me apoiou incondicionalmente em tudo que eu quis fazer. Desde que, é claro, essa tal coisa não me pusesse em nenhum tipo de risco. Eu amo o meu irmão e quero que ela seja feliz. Ele trabalha demais e isso tem dado frutos, não é à toa que ele se tornou um bilionário em tão pouco tempo, sendo ainda tão jovem. Mas o que me preocupa sobre isso é que Jake não tem dedicado muito tempo a sua vida pessoal. Claro que ele tem mulheres à sua disposição. Mas eu estou falando de amor, de construir uma família. Eu tenho medo de que a experiência com a nossa mãe tenha, de alguma forma, o fechado para isso.

No final da noite Jake me acompanha até a boate do Hotel onde as minhas amigas estavam me esperando. Uma delas é July, ex-namorada de Jake. Ela sempre foi mais amiga dele, mas nós tivemos alguns bons momentos juntos. Então, sempre que venho à Vegas, eu a incluo na minha lista de amigas para a noite de reencontros e sempre é maravilhoso. As meninas ficam todas animadas com a presença de Jake, afinal, ele é nada mais, nada menos do que o solteiro mais cobiçado do momento. Mas July monopoliza a atenção dele e o aluga por cerca de meia hora. Então finalmente Jake se despede – Kate, eu estou indo para o meu quarto. Ethan vai ficar aqui com você. Não ouse sair daqui sem ele, entendeu?

─ Jake, pelo amor de Deus. Se eu conhecer alguém aqui eu vou ter que sair com ele e com Ethan do lado?

─ Você não está aqui para conhecer alguém. Você está aqui para confraternizar com as suas amigas.  – Ele me dá um beijo no rosto e caminha em direção a Ethan. Ele fala alguma coisa e em seguida vai embora. Ethan se aproxima e fica ao lado do nosso grupo.

Eu respiro fundo e me volto para encarar July, Meggy, Josephine e Layla – Vamos lá meninas, vamos matar a saudade e encher a cara. ─ July, claro, não parece mais tão animada como ela estava quando Jake ainda se fazia presente na boate, mas as meninas dão um grito coletivo e eu sei que elas estão comigo nessa. Nós nos reunimos em volta da mesa e chamamos uma das garçonetes para uma rodada dupla de shots de tequila. Nós tomamos tudo de uma vez e pedimos uma rodada de champanhe para todas. – Meggy, onde está Adam? – eu pergunto já pretendendo iniciar minhas rodadas de atualizações.

─ Terminamos a semana passada. Eu ainda estou mal por isso, então, acho que essa é a minha noite de encher a cara. É que eu ainda não tive oportunidade.

─ Entendo – Eu digo – Eu também tenho isso em mente. Ah, e eu também pretendo sair acompanhada daqui hoje e não é com vocês. – Elas riem.

─ Qual é o problema? – Layla entra na conversa.

─ O problema é que aquele cara ali, o segurança do meu irmão, é o cara mais sexy que eu conheço e ele simplesmente finge que eu não existo.

─ Não é possível – Layla protesta – Ei, cara, qual é o seu problema? – Ela grita para Ethan que mantém um rosto impassível como se não a estivesse vendo ali, bem diante dele.

─ Viu? ─ Eu disse – Não adianta. Se ele não consegue enxergar você só porque ele está de serviço, imagina a mim que sou a irmã do chefe. O pior nisso tudo é que quanto mais ele se faz de difícil, mais eu o quero.

Josephine incentiva – Eu aposto que você consegue pelo menos um beijo dele querida, talvez você não esteja se esforçando o suficiente, você tem toda a noite para conseguir essa façanha e nós estamos na torcida por você. – Segue-se mais uma rodada de palmas e ovações e nós pedimos outros shots de tequila e mais taças de champanhe. Cerca de meia hora mais tarde, quando fomos para a pista de dança, a bebida já estava começando a fazer efeito. Ethan se mantém ao lado da pista de dança enquanto nós sensualizamos chamando atenção de vários rapazes ao redor. Eu aviso as meninas que preciso ir ao banheiro e saio seguida de perto por Ethan. A fila está imensa, então ele pega minha mão, sem dizer uma só palavra, e me leva por alguns corredores até chegarmos à área administrativa. Esse simples contato causa uma eletricidade que percorre todo o meu corpo – Você pode usar esse banheiro aqui que é privativo – eu agradeço e entro fechando a porta atrás de mim. Minutos depois eu saio do banheiro e encontro Ethan encostado na parede em frente à porta. Ele ajeita sua postura – Você está pronta? – Ele pergunta.

Eu, no auge dos meus 20 anos de pura ousadia e com a ajuda de alguns shots, decido que esse é um bom momento para provocá-lo – Pra quê?

─ Para voltar pra boate, ou pra casa se preferir.

Eu me aproximo dele e coloco as minhas mãos espalmadas sobre seu terno preto feito sob medida – Ethan, qual é o seu problema. Não é possível que você não goste de mim nenhum pouquinho. Eu sou feia?

Por um momento eu vejo algo diferente da habitual impessoalidade – Não, você é linda.

─ Uau, isso é inesperado. Bem, se a minha aparência não é o problema, o que pode te impedir. Estamos apenas nós dois aqui. Você com essa sua resistência só faz com que eu queira isso ainda mais. Apenas um beijo e eu vou te deixar em paz.

Eu vejo sua mandíbula se contrair, mas ele recua logo em seguida – Acho melhor voltarmos lá pra baixo, Senhorita.

─ Mas que Porra!!! Você é gay ou o quê?

Em um segundo eu estava encostada na parede com Ethan pressionando seu quadril contra o meu. Sua mão estava em cada lado do meu rosto e sua boca estava há poucos centímetros da minha. Eu podia sentir seu hálito mentolado e eu tenho certeza de que ele podia sentir o cheiro de álcool da minha boca. Dizer que ele me beijou seria um eufemismo. Ele me possuiu através desse beijo. Sua língua se apossa da minha boca e toda a agressividade que eu emanava há poucos instantes evapora diante da sua dominação. Eu me sinto desmanchar em seus braços enquanto ele parece um homem faminto diante de um banquete. Se eu imaginei alguma vez um beijo de Ethan com certeza eu não estava preparada para a realidade. Eu passo por diversos estágios nesse beijo: de pleno choque, para total excitação em poucos segundos. E quando finalmente eu consigo fazer algo eu elevo minhas mãos, até então inertes, e envolvo meus dedos por entre os seus cabelos puxando-o ainda mais para mim. Eu me delicio com a sensação do seu toque, do seu corpo pressionado contra o meu, do seu cheiro, todos os meus sentidos estão aguçados, eu não quero que o tempo passe, eu não quero que isso acabe. Mas acabou.

Ele se afasta de mim e passa as mãos pelos cabelos em um gesto nervoso. Eu ainda estou encostada na parede sem conseguir articular nenhuma palavra. Meu peito sobe e desce numa tentativa de regular minha respiração e, apesar do barulho que vem da boate, eu tenho certeza de que as batidas do meu coração podem ser ouvidas. Parece uma eternidade o tempo em que ficamos nos encarando, como se tivéssemos medo de dizer algo que quebre a magia desse momento. Mas, cedo demais ele fala – Eu sinto muito. Eu... eu não devia ter feito isso. – Eu quero dizer a ele que está tudo bem, que eu gostei, que eu não estou reclamando, mas não sai nada.

─ Droga! – ele esbraveja. Em seguida se recompõe – Senhorita, eu vou levá-la de volta para junto das suas amigas. ─ Toda aquela provocação e valentia que eu tenho demonstrado para com Ethan nos últimos dois anos me abandonam e eu apenas assinto e o sigo. Essa sua resistência sempre me deixou louca e ao mesmo tempo em que eu queria apenas tirá-lo do sério e conseguir alguma reação dele, eu também o desejava. Mas o fato é que nada me preparou para esse beijo. Nada me preparou para a avalanche de sensações que se formou quando sua boca tomou a minha.

Se eu queria me embriagar, depois disso, ficar embriagada tornou-se uma missão e foi o que eu fiz. Ou melhor, foi o que fizemos. Com exceção de July que havia sumido quando eu retornei para a pista de dança. Em algum momento da noite Ethan envolve a mão na minha cintura e me leva até o saguão do hotel. Ele pede uma chave para mim e me leva até um dos quartos – Acho melhor você dormir aqui para que o seu pai não veja você nesse estado. Eu vou enviar uma mensagem para o seu pai do seu celular avisado que você vai dormir no hotel.

            Ele abre a porta do quarto e me pega em seus braços me levando até a cama e me fazendo deitar nela. – Você vai dormir comigo? – Eu pergunto. Tenho uma ligeira impressão de parecer esperançosa, mas eu me consolo dizendo que é o álcool que está me dando essa impressão.

            ─ Não. Eu apenas vou me certificar de que você esteja bem e a deixarei dormindo. Eu vou ter que dizer ao seu irmão que você está aqui.

            ─ Droga, ele vai me encher o saco com sermões.

─ Eu sinto muito Senhorita, mas ele...

─ ... é seu chefe, eu sei. Você é lindo, mas você é um chato. Sabe... você é o único cara que eu conheço que deixa o chefe empatar a sua foda. – Ele não responde e eu mesmo bêbada chego à conclusão que Ethan é um caso perdido ─ Tudo bem. Faça como quiser. Entregue-me ao seu chefe – Ele retira os meus sapatos e joias. Eu faço um esforço absurdo para conseguir mudar da posição deitada para sentada e eu vejo Ethan suprimir um sorriso por conta do meu esforço – Tudo bem, pode rir se quiser. Só assim eu vou ver o seu sorriso, mesmo que seja às minhas custas – Ele me ajudar a sentar. Nossos rostos estão bem próximos novamente. Ele me olha fixamente, sem dizer nada e, por um instante eu não o sinto mais tão indiferente a mim como eu costumava sentir. Ele acaricia meu rosto com as costas das mãos e eu me dou conta do quanto eu quero esse contato, então inclino meu rosto ainda mais para o seu toque. Delicadamente ele me empurra de volta para a cama, me deitando e me cobre com o lençol macio. O cansaço da viagem, o sono e a embriaguez se unem contra mim e eu adormeço, mas não antes de ouvi-lo dizer: “Kate, o que você faz comigo?”