Sexta-feira, 09 de agosto de 2013
Dois anos mais tarde
Não importa quantas vezes Ethan vá me buscar em algum lugar, a sensação é exatamente a mesma. Minha respiração está ofegante e meu coração b**e tão descompassado que, como sempre, eu posso jurar que as pessoas a minha volta podem ouvir. Tem sido assim desde aquela vez em Vegas.
Antes, a minha perseguição a Ethan era mais uma birra do que qualquer outra coisa. Eu era uma garota jovem, ainda na faculdade, com carta branca para fazer bobagens que não tolerava o fato de ser ignorada por um cara bonitão como Ethan. Pra ser honesta, de um modo geral, as coisas não mudaram tanto assim: ainda sou uma jovem, que pode cometer erros, recém-saída da faculdade, que ainda não tolera facilmente o fato de ser ignorada por um bonitão com Ethan, mas na essência eu nunca mais fui a mesma.
Há dois anos, quando acordei sozinha naquele quarto do hotel do meu irmão, eu sabia que eu não me contentaria mais com alguém que não conseguisse me fazer sentir do jeito que eu me senti nos braços de Ethan por alguns instantes àquela noite. Mas eu também sabia, a julgar pela indiferença que ele dispensou a mim na manhã seguinte, que ele jamais seria meu. Eu ainda não podia dizer com certeza se eu não voltaria a tentar. É impossível ter experimentado o toque daqueles lábios e não querer bis, mas se eu for mesmo esperta, eu não vou querer repetir a dose, pois se o fizer, será minha perdição. Todo o esforço que eu tenho feito para me manter distante ao longo desses dois anos será perdido. “Ethan está fora de cogitação” eu repito mentalmente pra mim durante todo esse tempo e, sobretudo nas últimas horas nesse voo de Vegas para Nova York. Mas quando a cena de Ethan me esperando no portão de embarque se repete, eu não encontro em mim nem um pouco de razoabilidade. Meu corpo é só sensação.
─ Seja bem-vinda, Senhorita Grenn.
─ Obrigada, Ethan. É bom vê-lo.
─ É bom vê-la também, Senhorita.
Ele pega a minha bagagem e leva em direção ao carro ─ Onde está meu irmão?
─ No hotel. Ele pediu que a levasse até ele – Ele abre a porta do carro e eu entro. Acomodando-me no banco de trás do carro. Eu não volto a falar durante toda a viagem e ele tão pouco. Nas vezes em que nos encontramos nos últimos dois anos tem sido assim: Cumprimentamo-nos e só. Sem mais conversas, nem insinuações da minha parte. Chegamos ao hotel e eu saio do carro sem esperar que ele abra a porta pra mim. Vou direto para o escritório de Jake.
─ Olá, Angelina.
─ Olá, Senhorita Grenn. O senhor Grenn está a sua espera. Pode entrar.
─ Obrigada. – Eu me apresso em direção a sua sala. Ele está sentado digitando algo em seu computador – Posso atrapalhar?
─ Você não atrapalha – Ele se levanta e vem ao meu encontro. Eu dou-lhe um abraço caloroso – Fez boa viagem?
─ Sim. Onde está Sam? – Samanta é a nova namorada do meu irmão. Nós nos conhecemos há umas duas semanas e nos identificamos no ato. Foi um choque para todos nós o fato dele ter uma namorada fixa, coisa que nunca aconteceu, ele sempre manteve seus casos rápidos e longe da família. Mas o choque maior foi o fato dela ser brasileira. Nossa mãe é brasileira e nos abandonou quando eu tinha apenas um ano de idade. Jake nunca se recuperou dessa perda e, namorar uma estrangeira, ainda mais brasileira como a nossa mãe, sabendo do risco de ela não aguentar ficar e ir embora, é um avanço para Jake. Nosso pai não reagiu muito bem à notícia. Pois é outro que não se recuperou do ocorrido, mas é impossível não ver o quanto esses dois são apaixonados um pelo outro. Ela me prometeu uma noite das meninas quando eu viesse para Nova York e eu vou cobrar.
─ Sam está no trabalho. Nós vamos buscá-la daqui há pouco. Ela ainda não sabe que você está aqui.
─ Ótimo. Não diga a ela. Será uma surpresa. Você ainda tem muito trabalho?
Ele me leva para o sofá – Não. Eu já acabei por aqui. Estou apenas esperando Sam. Você quer beber alguma coisa?
─ Um refrigerante.
Ele caminha até o frigobar e retira uma lata de refrigerante e um copo – Isso ainda vai te matar, você sabe, né? – Ele enche o copo e me entrega. Eu dou um longo gole.
─ Isso é bom. Além disso, você adorava refrigerantes.
─ Eu ainda tomo de vez em quando, mas você precisa moderar.
─ Eu estou moderando. Em Londres eu não tomava tanto assim. Vivia de suco e água a maior parte do tempo.
Ele me olha desconfiado. – Eu fico feliz por você. É bom que você esteja falando a verdade para o seu próprio bem.
Eu mudo de assunto – Por falar em ficar feliz por mim... eu quero dizer que eu estou feliz por você. Basta um breve olhar pra você pra ver que você está feliz. Eu não notei isso agora. Desde aquele nosso encontro, há umas duas semanas em Vegas, que eu vi quanto Samanta faz bem a você. E, se eu já não tivesse gostado dela pelo que ela é, eu gostaria agora pela felicidade que ela te causa.
Ele se senta ao meu lado e envolve o braço nos meus ombros me puxando para um abraço atravessado – Que coisa bonita de se dizer... eu estou feliz realmente. Eu gosto dela.
─ E onde isso vai dar?
─ Eu a quero na minha vida em definitivo. Mas, as coisas já foram rápidas demais comigo. Então, eu não quero assustá-la. Vamos um passo de cada vez. Mas, uma coisa é certa: Eu não vou deixá-la ir.
─ Que bom. Eu quero ser dama de honra ou madrinha – Eu provoco e ele ri.
─ Por favor, não ouse assustá-la com um assunto desses. – Ficamos abraçados por alguns minutos. Calados. Apenas curtindo a companhia um do outro.
─ Eu não me lembro da mamãe. Você acha que elas se parecem em alguma coisa?
─ Algumas. O idioma, claro, a alegria que ela irradia, a paixão pela música... Mas na essência há muitas diferenças e no contexto também. Sam é determinada, forte. Nós conversamos muito, o que eu acho que não deveria acontecer muito com os nossos pais. Nós somos sinceros um com o outro. Eu acho que isso ajuda muito. Mas, ela me disse, desde o primeiro momento, que ela não veio pra cá em definitivo. Pelo menos inicialmente. E por mais que ela diga que isso foi relativizado pelo fato de estarmos juntos, eu confesso que eu temo que ela vá embora em algum momento.
─ Eu entendo. Mas eu acho que você tem que confiar. Basta que vocês dois estejam felizes e que você não tente cerceá-la. Acho que no final tudo vai ficar bem.
─ Eu espero. – Ele começa a rir e eu olho para ele inquisitivamente – Eu não acredito que eu estou falando sobre relacionamentos com você.
─ Ah, não começa. Eu sou uma mulher crescida.
Ele fica sério por um momento – Eu sei. Você se tornou uma linda mulher e eu vou fazer picadinho do cara que ousar magoar você.
─ Idiota.
─ Pirralha.
Nós ficamos conversando e brincando assim ainda por uma meia-hora. Em seguida saímos para buscar Sam no seu emprego.
Ela trabalha num prédio imponente não muito longe do hotel de Jake. Ethan estaciona em frente ao prédio e Jake telefona para Sam.─ Oi baby, você vai demorar muito? ... Estou no carro esperando. Tenho uma surpresa pra você – É impossível não notar o sorriso bobo que ele dá quando fala com ela ou sobre ela. Enquanto ele conversa com Sam eu olho pra Ethan e percebo-o me olhando pelo retrovisor. Assim que nota meu olhar ele desvia o seu. – Ela está descendo. – Jake chama minha atenção. Ethan sai do carro para esperar Sam. Eu troco de lugar com Jake para ficar logo de cara quando Ethan abrir a porta. Quando Sam atravessa as portas de vidro da Foster e Ethan abre a porta do Bentley eu grito – SURPRESA!!!Sam me abraça calorosamente – Oh! meu Deus, Kate. Que surpresa maravilhosa.─ Estou aqui para cobrar a noite das meninas que você me prometeu. E vai ser essa noite.─ Claro, eu adoraria. Vou mandar mensagens para as meninas combinando tudo.Jake faz cara de desprezado. Ele está agora parad
A garçonete traz taças de champanhe para todas, conforme foi pedido. Depois de tomarmos nossas bebidas vamos para a pista de dança. Faz um longo tempo que eu não me divirto tanto assim. As meninas são simplesmente maravilhosas. Carol é a melhor amiga de Sam e também é brasileira. Abby, Carol e Samanta moram juntas no mesmo apartamento, embora Sam esteja passando mais tempo na casa de Jake. Megan trabalha com elas na Foster, uma empresa de tecnologia que tem negócios em diversos países, inclusive No Brasil. Apesar de ter acabado de conhecê-las é como se já nos conhecêssemos há muito tempo.Passada cerca de meia hora na pista de dança, Sam decide sentar-se um pouco e nos avisa que está voltando para a nossa mesa. Nós continuamos dançando. Alguns instantes depois eu ouço Carol gritar algo em português. Eu não consegui entender bem, mas acredito que tenha sido um palavrão. Outros gritos se seguiram e Carol correu em uma direção e nós a seguimos. Jake estava montado em um cara que eu nunca
A garçonete chega e nos abastece de champanhe. – No meu caso eu acho pouco provável, uma vez que o meu irmão está aqui. Eu bem que tentei, juro, com todas as minhas forças deixá-lo fora da nossa noite das meninas e olha só, ele veio. Ainda teve a cara de pau de me prometer que ficaria no escritório e não apareceria aqui. Agora, vejam vocês, ele esqueceu-se de dizer que levaria Sam com ele. – Todas riem – Bem, agora só nos resta fazer um brinde a essa noite de bom papo e muita dança. Não há ex-noivo, atual namorado ou segurança mal-humorado que possa tirar o brilho de uma noite como essa ao lado de boas amigas. Saúde.─ Saúde – Todas disseram em uníssono.─ Voltei para dar o tom dessa noite – Eu ouço Sam dizer atrás de mim. – A noite está quase no fim e não tem ninguém bêbado. – Ela se volta para a garçonete que está de prontidão ao lado da mesa – Querida, por favor, dois shots de tequila e uma taça de champanhe para cada uma de nós.Carol grita. – Agora sim, essa é a minha amiga.Quan
Eu acordo com o som de batidas na porta. – O quê? – Eu pergunto mal-humorada – Jake entra em seguida com um comprimido na mão e uma garrafinha com algum remédio. ─ Bom dia pra você também. – Ele brinca. – Tome esses remédios que você vai se sentir melhor.─ Você me trouxe pra cama? – Eu pergunto enquanto me sento na cama e pego os remédios da sua mão.─ Não. Ethan te trouxe até aqui. Eu apenas o acompanhei, pois eu estava carregado Sam, que também não estava muito melhor do que você. Vocês exageraram ontem.─ Eu não me lembro de muita coisa. Agora que você falou, eu me lembro de estar nos braços de Ethan e lembro-me dele me colocando sobre a cama.─ Eu tenho certeza de que ele não vai esquecer tão cedo. Você deu um mau momento a ele.─ Sério?Ele ri. – Muito sério. Você falou coisas do tipo: “Você é delicioso.” “Vamos lá em cima nos divertir que Jake não vai nem perceber...” Ah! teve mais essa: “Ethan você é tão sexy com esse seu ar militar, mas você devia relaxar um pouco
Seguimos para o elevador e quando chegamos ao térreo Ethan esperava com a porta do Bentley aberta. – Bom dia Senhorita Grenn, Senhorita Miller.─ Bom dia, Ethan. – Eu e Sam respondemos em uníssono. Eu entro imediatamente no carro e, protegida pelos meus óculos de sol, eu o assisto pelo retrovisor durante todo o trajeto até o hotel e noto que ele me olha diversas vezes.No hotel, depois de esperar Jake cumprimentar todo mundo que encontrava pela frente, hóspedes ilustres, visitantes importantes que haviam ido ao hotel apenas para almoçar no famoso restaurante de Jake, conseguimos finalmente chegar a nossa sala privada, que Jake havia reservado para o almoço. Foi divertido. O almoço foi marcado principalmente por lembranças da noite anterior. Eu cometi a gafe de comentar sobre a cena do ex-noivo de Sam e, claro, Jake ficou aborrecido. Então nós tratamos de finalizar o assunto.Depois do almoço fomos em direção ao escritório de Jake, mas nem bem chegamos lá ele já nos expulsou. ─ Por que
A noite foi longa. Mas eu me levantei com ânimo renovado. Eu desço para o café da manhã, mas como era esperado encontro a casa no maior silêncio. Eu liguei a cafeteira e alguns minutos depois Sam aparece.─ Bom dia. – Eu saúdo.─ Bom dia, Kate. Acordou cedo.─ Eu não dormi muito bem essa noite, pra ser sincera.─ Alguma razão especial?Eu deslizo uma xícara de café para ela no balcão – Nenhuma. – O que vocês pretendem fazer hoje?─ Eu não tenho ideia. Eu não estou muito animada para sair.─ Sabe? – Eu digo enquanto distribuo ovos mexidos em três pratos que estão dispostos sobre a bancada. – Eu havia pensado em resolver algumas coisas hoje e talvez se você convencesse Jake a passar o dia em casa, ele pudesse prescindir de Ethan durante algumas horas de hoje. E então, talvez à noite pudéssemos fazer algo juntos. Nós três.Ela me dá um sorriso cúmplice – Claro, eu posso fazer o sacrifício de passar o dia na cama com o seu irmão.─ Oh, por favor, poupe-me dos detalhes. – Damos uma gargalh
Nós caminhamos em silêncio até o restaurante, eu escolho uma mesa no canto bem reservada. Ethan segura a cadeira para que eu me sente e mantem-se de pé próximo à mesa.─ Ethan, o que você está fazendo? – Eu questiono, embora eu saiba a resposta.─ Trabalhando.─ Ethan, seja um cavalheiro e almoce comigo. – Ele hesita mais uma vez – Por favor. – Ele se rende e senta-se a minha frente.─ Senhorita, eu não deveria...─ Meu Deus, Ethan, meu irmão proibiu você de sentar-se à mesa comigo? ou de falar comigo?─ Não. Mas isso não é o comportamento adequado.─ Foda-se o comportamento adequado. – Eu digo com um sorriso. – Vamos comer? Quero que você escolha algo que você goste e peça o mesmo pra mim. Assim eu posso descobrir algo sobre você. Ainda que seja o seu gosto para alimentos.Ele sorri e seu sorriso é ainda mais bonito por ser raro – Eu não acho que seja uma boa ideia. Você pode não apreciar o que eu escolher.─ Eu não sou muito seletiva com os alimentos. Tenho certeza de que sou capaz
Ethan compra os ingressos e a pipoca. Nós assistimos ao filme que, por sinal, não era muito bom. Mas sua companhia foi incrível. Ele comentou o filme e fez piadas. Ele me mostrou um lado dele que eu não sonhava existir.─ Lembre-se. – Ele diz quando saímos do cinema. – Você não pode reclamar.─ Eu não estou reclamando.─ Mas gostaria? – Ele especula.─ Não adianta tentar, Ethan, eu não vou reclamar do filme.Estamos parados em frente ao cinema – Tudo bem. Eu libero você do compromisso. – Eu estou rindo – É sério, pode falar.─ Você não vai ouvir nada de mim sobre isso.Ele levanta as mãos em uma declaração de rendição. – Ok. Vamos esquecer esse filme. – Ele está descontraído e eu estou amando esse Ethan que eu não conhecia. – Você quer caminhar um pouco?─ Sim.─ Então vamos. Vou te levar em um lugar. – Ele pega a minha mão e seguimos pela calçada em silêncio. A união das nossas mãos me dá uma sensação de segurança e aquecimento.─ Onde estamos indo – eu pergunto.─ Tem um bar aqui pe