KAIDEN MORI

Enquanto aguardo as ordens, repasso todos os detalhes da operação com os agentes envolvidos.

— Não façam nada imprudente. Não avancem sem ordens específicas. Um erro e tudo estará perdido. Entendidos?

Todos assentem. Quando estou prestes a fazer uma última instrução, meu celular vibra com uma mensagem, e eu olho para o visor.

Ao ver que é uma mensagem de Ruby, imediatamente fico alerta.

Ruby Campbell: Mori, eles chegaram aqui há alguns minutos e estavam prestes a descarregar a mercadoria. No entanto, depois de uma ligação, percebi que algo deu errado e eles provavelmente irão embora.

Ruby Campbell: Venham rápido. Vou fazer o possível para impedir a fuga.

Praguejo em voz alta e respondo, com as mãos suando.

Eu: Porra, Ruby, não faça nada imprudente! Fique escondida até chegarmos.

Coloco o celular de volta no bolso e grito para todos:

— Pessoal, é agora! Vamos!

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RUBY CAMPBELL

Meu pai era católico, e mesmo não sendo um frequentador assíduo da igreja, ele costumava dizer que tudo na vida acontece por um motivo. Deus tem um plano para tudo.

Ouvir isso tantas vezes me marcou, mas quando completei dezoito anos, deixei de acreditar em Deus. Afinal, que tipo de plano divino envolveria a morte trágica dos meus pais?

Fiquei destroçada. Fechei-me para os sentimentos mais belos que tinha. Só me restou o ódio, e me agarrei a ele.

Lembro-me de Jimmy entrando em casa no meio da noite para me dar a notícia.

Mal conseguia ver a tela do celular enquanto digitava a pergunta mais absurda da minha vida: "Como organizar um velório duplo?"

De alguma forma, consegui organizar tudo. Jimmy me ajudou, e depois, ambos foram cremados.

Levei as cinzas até a praia onde eles se conheceram e chorei ao me despedir.

Naquela noite, consumida pela dor e pela ausência que nunca seria preenchida, engoli vários comprimidos para dormir, desejando desesperadamente algum alívio para meu sofrimento.

Cai num sono profundo que durou dois dias inteiros, até que Jimmy me acordou, prometendo me ajudar a vingar a morte deles.

Por um momento, senti alívio por não estar sozinha.

Então, desculpem-me se pareço imprudente agora, ou se pareço uma mulher consumida pela vingança, mas farei de tudo para que o filho do maldito pague pelos pecados do pai.

Quem sabe ele não sabia de tudo o que Hassan fez aos meus pais. Ou até mesmo fez parte daquilo.

Estou convencida de que o pai o preparou para assumir seu lugar. No mundo da máfia, é assim que funciona.

Ele provavelmente já sabia de tudo, então é tão culpado quanto o próprio Hassan.

Verifico as munições da minha arma enquanto a voz alta e furiosa de Dmitry ecoa pelo local.

“Você está me dizendo que alguém congelou as câmeras por um tempo e ninguém percebeu na hora?”

Meus olhos arregalam.

— Porra. Isso não é bom. Nada bom.

“Eles foram rápidos demais para que notássemos antes.”

Então seu braço direito ordena:

“Em posição, todos.”

O mafioso então grita:

“Revirem esse maldito lugar! Alguém deve ter entrado aqui!”

Eu estremeço.

— Droga! Preciso agir rápido antes que eles me encontrem.

Corríamos risco todas às vezes em que executávamos este tipo de operação.

Às vezes éramos alvejados com tiros que cessavam durante o nosso embate, pois os criminosos optavam por fugir, tentando escapar da iminente prisão.

Contudo, em outras, eles eram resistentes, atirando até as balas findarem.

Nunca fomos atingidos, mas isso não significava que nunca aconteceria. Era um risco que aceitávamos por um bem maior.

Eu precisava ganhar tempo até que os outros chegassem ao galpão. Sabia que isso levaria um pouco, mas tinha que funcionar.

“Porra! Tem alguém atrás da parede à direita.”

— Mas que droga! Será que eles conseguiram decodificar as câmeras na parte onde elas haviam sido congeladas?

Aperto a mão na arma, sabendo que não tenho a menor chance de sair daqui sem ser vista. Então, tomo uma decisão.

“Saia de trás da porra da parede!”

Dmitry grita. Fecho os olhos por um instante, depois me movo, apontando minha arma para ele.

No momento em que apareço, ouço o som de gatilhos sendo destravados e sinto os olhos de muitos sobre mim, prontos para disparar.

Mesmo sob a mira de tantas armas, consciente de que qualquer movimento errado resultará em uma chuva de balas, mantenho minha postura firme.

Minha mão encontra o metal frio da arma. Como se a violência fosse uma atração inevitável, sinto o poder familiar vibrar através de mim.

— Merda. É uma policial!

Sidorov, o braço direito de Dmitry, diz.

— Peguem-na. Prendam-na.

Ele ordena, mesmo sob a mira da minha arma. Ele sabe que, se eu atirar, serei retribuída com uma rajada mortal.

Dois homens se aproximam, mas antes que eu possa reagir, Dmitry intervém:

— Parem!

Os homens hesitam, confusos, e quando olho para Dmitry, um calafrio percorre minha espinha.

Ele permanece parado, imóvel, sem piscar, sem dar um único passo em qualquer direção.

Em vez disso, ele opta por me observar, suas sobrancelhas grossas desenhando sobre os olhos que eu realmente não quero olhar, mas me encontro arrastada para o seu azul selvagem de qualquer maneira.

Eles são como a dureza das nuvens acima e a rajada impiedosa do vento em todas as direções. Eu posso fingir que eles não existem, mas eles ainda me fazem perder a sensação de meus membros.

Sua testa franze, mas é breve, quase imperceptível, antes que ele volte à sua expressão anterior.

A passos lentos, ele finalmente segue em minha direção.

Droga. Droga.

Seus sapatos grandes fazem um barulho estridente no concreto. Ele enfia a mão no casaco, e duas possibilidades surgem na minha mente.

Na primeira, ele saca uma arma e atira na minha cabeça por eu estar aqui.

Na segunda, ele me ridiculariza por pensar que fui esperta o suficiente para pegá-lo e, em seguida, espalha meus miolos pelo chão.

Mas ele que saiba: se eu morrer aqui, ele também vai! Recuso-me a ir para o inferno sem levá-lo junto comigo.

Sua presença domina meus sentidos em uma fração de segundo.

Intimidador. Imponente. Sufocante.

Ele para tão perto que eu posso sentir o cheiro dele, ou melhor, sou forçada a inalar ele com cada inspiração.

E é o suficiente para inundar meus sentidos com seu perfume, algo sutil e masculino e definitivamente feito especificamente para ele, porque nunca senti esse cheiro em nenhum outro lugar.

É uma mistura de couro e madeira. Poder e mistério.

Ele me observa e eu o encaro de volta, inabalável.

Mesmo que eu seja queimado por aquele olhar gelado, se eu for despedaçado e feito em pedaços, nunca vou recuar na frente do idiota.

Ele me olha com curiosidade e, de repente, parece me reconhecer. É isso mesmo? Ele parece surpreso.

Será que ele sabe de quem sou filha?

Prestes a começar a falar, minha mente se acelera com todos os argumentos que passei muito tempo preparando.

Eu levanto a cabeça ligeiramente, firmando meus olhos com os dele.

Cinzentos sinistros. Olhos de assassino.

De repente, sou transportada para o passado, de volta ao dia em que me despedi das cinzas dos meus pais.

Dmitry Ivanov, um governante neste mundo, é uma das razões pelas quais nunca serei a mesma.

Um verdadeiro rei que detém mais poder do que a própria rainha.

Meu pior inimigo.

— Veja só. É você.

Ele sussurra tão baixo que quase penso ter imaginado.

Seus olhos brilham com um brilho sádico, e ele parece um psicopata. Não sei o motivo, mas sinto a mudança em seu humor.

Ele ergue um canto dos lábios, provavelmente sua única forma de sorrir.

— Fique longe de mim! Meus parceiros logo estarão aqui. E você estará onde deveria estar há muito tempo.

Me sentindo suicida, digo. Mas ele não parece se afetar com a afirmação de que mais policiais estão a caminho.

Pelo contrário, o sorriso dele se amplia ainda mais.

Idiota.

Meus dedos apertam a arma, desesperada para atirar em sua face.

"Vingança. Você é uma lutadora. Faça ele pagar." Essas palavras ecoam na minha cabeça, me carregando com uma grande dose de adrenalina.

— Você é uma policial. Que ironia.

Ele comenta, e eu franzo a testa, sendo tirada da névoa por Ivan, que chama nossa atenção:

— Dmitry, precisamos agir antes que a polícia chegue.

Dmitry ignora, aproximando-se ainda mais. Ergo a arma, mirando em seu peito, ignorando os outros homens prontos para atirar se necessário.

Ele leva a mão até uma mecha do meu cabelo que está caído ao lado do meu rosto, e eu fico rígida no lugar, completamente surpresa.

— O-o que você está fazendo?

Pergunto assim que ele esfrega a mecha entre os dedos.

— Tire suas mãos de mim, idiota.

Ele sorri ao ver minha reação, o que me irrita profundamente. Há algo nele que é provocador e desperta em mim uma fúria intensa.

— Está achando graça? Vamos ver se estará tão confiante assim daqui a alguns minutos.

Seus olhos voltam para os meus.

E de repente ele me puxa para mais perto. Arregalo os olhos com a ousadia do desgraçado.

Seus olhos descem até o nome em meu uniforme e depois voltam para os meus.

— Ruby Campbell. Então esse é seu nome.

Eu aponto a arma para a sua garganta e digo:

— Tire suas mãos imundas de mim! Não vou falar de novo.

Ele não obedece. Ao contrário, me prende em seus braços ainda mais forte.

— Dmitry, que porra você está fazendo, cara? Vamos sair daqui antes que tudo vá para o inferno.

Mais uma vez, ele ignora o aviso.

Dmitry se aproxima do meu cabelo e inspira profundamente.

“Ele... está me cheirando?”

— Saia de perto de mim, seu psicopata!*

Grito, furiosa e chocada por ele estar me tocando.

Ergo a arma até a sua cabeça, prestes a apertar o gatilho. Mas ele nem se abala.

Ele sorri para mim com dentes brancos e uniformes.

Quando sinto sua mão agarrar minha cintura, um arrepio maldito percorre meu corpo, o que só piora a situação, já que ele parece gostar da minha reação.

Estou tão atordoada que, apesar de todos os esforços, não consigo falar uma palavra ou me livrar dele.

Ele aproxima a boca do meu ouvido e sussurra:

— Parece que não sou o único que estava de olho em você. Você também estava me vigiando, baby?