- Meu pai vai me matar, deve ter riscado o capô. - Hanna mordia a unha, ainda sentada entre os bancos da frente e sem cinto de segurança.
- Dê-se por satisfeita se ainda estiver viva até os verem novamente, está tudo muito estranho. Acelere mais Roger, ligue o farol alto, ao menos até passarmos pela porteira.
Roger acendeu os faróis e pisou no acelerador. O fecho da luz artificial cortou o negrume da noite, só se viam árvores por todos os cantos e o chão de terra vermelha à frente.
Não estava longe da porteira, viam-na adiante, Bento já tinha a mão na porta para abri-la ao chegarem nela para poder abri-la. Foi quando o facho de luz iluminou o homem no meio da porteira.
- Me parece que temos que continuar a olhar o livro, entendi que ele é um manual. - Bento pegou o livro e passou a folheá-lo, os amigos, agora sentados juntos atrás, o acompanharam.- Supondo que sejamos nós, os que cita o livro, diz que não somos os três mosqueteiros, creio que sejamos nós. - Começou Bento a tentar decifrar o que liam. - Diz que somos desgarrados… não somos desgarrados!- Nem sobreviventes. - Acrescentou Hanna.- Somos sim, estamos vivos. - Roger encarava os amigos. - Será que morremos na estrada e nem percebemos?- Não seja idiota, Hanna está sangrando, eu estou com dor de cabeça por causa da pancada, estamos bem vivos. Deve ser um enigma isso
- Tenham calma, pensem que de nada vai adiantar entrarmos em pânico. - Bento bateu amavelmente no ombro de Roger, que dirigia e segurou a mão de Hanna, sentada atrás. - Vamos seguir as pistas do livro, não nos resta outra coisa.- Ok, o que fazemos então?- Continue dirigindo, vamos usar as estrelas como orientação, deixem essa parte comigo - Bento disse, apertando a mão fria de Hanna, ele percebeu que Roger se acalmava um pouco e começou a dirigir.Estavam em uma rua estreita de terra, Roger desligara o farol alto e mantinha-se a cinquenta quilômetros por hora; Bento tinha o rosto para fora para observar o céu melhor, seus cabelos escuros e cacheados, estavam desarrumados e o vento o açoitava. Hanna não havia sido muito explícita quanto ao sujeito. Quando os vira de longe, na porteira, não dava para se ter uma noção de quão alto ele era; devia ter dois metros de altura, os ombros largos e meio encurvados em um ângulo que o deixava parecendo ser deficiente. Os músculos que saltavam do seu sobretudo preto aberto, que quase arrastava ao chão, não parecia ter sido produzido por exercícios em uma academia.O chapéu preto, escondia parcialmente seus cabelos loiros até os ombros e suas feições. Realmente ele não era um humano muito comum. Os três sentiram o corpo todo estremecer, quando a criatura vergou o corpo, há dois passos deles e urrou:- AHHHHHHH.Roger e Hanna, de joelhos, tentavam CAPÍTULO QUINZE
Não havia ninguém lá fora. Apenas a tal mulher Serena, Bento, o tal Téron e eles três, que haviam sido desamarrados; o sol despontava ainda fraco.Se aproximaram de Serena que se aproximou de uma fogueira recém avivada, com um sorriso ela lhes ofereceu um prato contendo uma mistura de ovos mexido com algo verde e saboroso.Pegaram cada um um prato e com as mãos, não lhes foi oferecido talher, eles comeram o mexido já morno. Serena e Téron também se serviram, comeram de pé e acompanharam-na para outro lugar, sentaram-se novamente no chão. Téron lhes ofereceu uma terrina e um copo para beberem água, estava tépida, não gelada, mas muito fresca e gostosa. Seguravam o copo, quando Serena recomeçou a falar: - E como se sacrificaram? - Indagou Hanna, com voz triste, emocionada.- Não interessa como se sacrificaram, Hanna. Não estão vivos e nós também morreremos nesse lugar se continuarmos perdendo tempo com histórias. - Falou Roger, desinquieto, andando de um lado para o outro.- Sente-se e cale-se, Roge, estou cansada de suas explosões! - Hanna disse, após sair do estupor. - Quero ouvir o que Serena tem a nos dizer, seja lá o que for.Ele a olhou boquiaberto, olhou depois para Bento e esse pediu com um gesto que ele se sentasse.- Continuando. - Serena ficara calada até que Roger se sentasse, ele o fez irritado e resmungando. - Entendo perfeitamente o ultraje de vocês, é mCAPÍTULO DEZESSETE
- Não. Agradecemos, mas não queremos viver aqui, temos nossa vida lá. - Agora foi Hanna quem se opôs. - Temos nossa família, nossos pais, irmãos, amigos, Roger foi acolhido por uma pessoa boa e amável, Bento também foi acolhido, como e eu e estamos bem, muito obrigada.- Hanna tem razão, nos desculpem, mas queremos ir embora. Sentimos muito não poder ajudá-los. - Roger falou, baixo.- Não entendo vocês. - Disse Bento. - Roger me espanta mais. Era para se sentir animado de estar entre os seus, finalmente. Sempre foi revoltado por não ter sido adotado e ficado no orfanato até os dezoito anos. Agora descobre sua verdadeira origem, seu lar e quer voltar?- Nunca fui um revoltado. Por ser mais el&eac
Bento se distanciou de Téron, Roger percebeu, mesmo tendo diminuído a fenda dos olhos e fingindo estar totalmente entregue aos sonhos. Colocando as duas mãos debaixo da cabeça em um travesseiro improvisado, tinha mais acesso a olhá-los.- Pensei que tivesse acordado. - Falou Bento.- Foi uma dose pequena, mas bem concentrada. - garantiu Téron. - Não irão acordar nas próximas duas horas, pelo menos.- Pensei em amarrá-los daqui a pouco, só para que nos ouça, o que acha?- Não gostaram de chegarem aqui amarrados e Roger parecia um animal enfurecido, Bento. Sugiro que tente falar com um de cada vez, longe um do outro, sabe. Ir devagar. – Acho melhor deixar Bento resolver isso, Téron. Os conhece desde a infância e ninguém melhor que ele para falar, não acha? Já me custou muito tempo inventar todo esse cenário ilusório. Condado. Até a mim pareceu ridículo, não sei como caíram nessa.ー Achei mais forçado a parte em que nossos pais se sacrificaram, a tal gruta… Não pensou em nada melhor? Até eu quase chorei. ー Bento ria abertamente.ー Nunca me preparei para essa parte. A de inventar sobre os pais de vocês, foi puro improviso e achei que ficou até bom. Mas eles nunca precisarão saber que foram deixados aqui e que talvez seus covardes pais estejam por aí.CAPÍTULO VINTE