Bento se distanciou de Téron, Roger percebeu, mesmo tendo diminuído a fenda dos olhos e fingindo estar totalmente entregue aos sonhos. Colocando as duas mãos debaixo da cabeça em um travesseiro improvisado, tinha mais acesso a olhá-los.
- Pensei que tivesse acordado. - Falou Bento.
- Foi uma dose pequena, mas bem concentrada. - garantiu Téron. - Não irão acordar nas próximas duas horas, pelo menos.
- Pensei em amarrá-los daqui a pouco, só para que nos ouça, o que acha?
- Não gostaram de chegarem aqui amarrados e Roger parecia um animal enfurecido, Bento. Sugiro que tente falar com um de cada vez, longe um do outro, sabe. Ir devagar.
– Acho melhor deixar Bento resolver isso, Téron. Os conhece desde a infância e ninguém melhor que ele para falar, não acha? Já me custou muito tempo inventar todo esse cenário ilusório. Condado. Até a mim pareceu ridículo, não sei como caíram nessa.ー Achei mais forçado a parte em que nossos pais se sacrificaram, a tal gruta… Não pensou em nada melhor? Até eu quase chorei. ー Bento ria abertamente.ー Nunca me preparei para essa parte. A de inventar sobre os pais de vocês, foi puro improviso e achei que ficou até bom. Mas eles nunca precisarão saber que foram deixados aqui e que talvez seus covardes pais estejam por aí.
O orfanato. Passou a reconhecer o local onde estavam e a casa onde passaram a infância, se assomou à sua frente.ーHanna, acorde. Veja, é A Casa Abrigo. Olhe!Sua voz estava roufenha de cansaço, o efeito do que bebera ainda era sentido em sua língua seca. Hanna abriu os olhos quando ele a apoiou à sua frente em seus joelhos. Sentada e apoiada nele, ela abriu os olhos e viu o orfanato.ー O que estamos fazendo aqui? – Perguntou a jovem querendo resvalar novamente para o sono e já fechando os olhos.ー Não sei, mas você tem que lutar e tentar ficar acordada. Vamos entrar.Hanna se ajoelhou e pegou a mão qu
ーFiquem longe de nós! – O rapaz falou e segurando a mão de Hanna, começaram a se afastar de todos e irem em direção a porta. Só então Serena se mexeu. Não que tenha se movido do lugar nem nada assim. Mas com um menear de uma mão em direção a porta, essa se fechou com um baque tão forte, que as paredes tremeram. Hanna gritou e se agarrou a Roger.ーDeixem-nos sair! – A voz da jovem saiu chorosa. ーNão vamos denunciá-los, só queremos ir embora daqui, seguir com nossa vida. Bento, vamos conosco, por favor.ーNão seja ridícula, Hanna. Por que eu iria querer voltar à nossa vida patética se tenho a
Dora se aproximou dos dois e ambos se retraíram. Ela pegou devagar as mãos de Roger e passou as suas pelas palmas e braços do rapaz, que não conseguiu evitar um arrepio. Hanna segurava o pedaço de pau que havia se quebrado quando ele tentara quebrar a porta e se mantinha à espreita, colada ao seu corpo sem desviar os olhos da mulher, preparada para lhe atacar caso ele ferisse seu amigo. Seus olhos demonstravam que nada a impediria de golpeá-la. Dora a ignorou e em segundos, as feridas de Roger desapareceram.ーEsse é apenas um dos poderes que temos no início do solstício. ー Informou Dora, ficando de pé e se afastando. ーEntendam que uma nova vida se abre diante de todos. Vocês chegaram à maioridade e agora detém mais poder do que imaginam. Vocês três poderão abrir uma fenda para novas realidade
ーComo poderia não amá-los? E me acreditem, eu só soube disso há pouco tempo. Foi Dora e Téron que me disseram que isso era possível, que éramos os jovens da profecia. Tentei falar com vocês inúmeras vezes, quando descobri. Dora e Serena foi que me fez mudar de ideia e me disseram que ainda não estavam preparados. Achamos por bem esperar a hora certa de apresentar a vocês essa maravilhosa oportunidade.ーE nos dizer assim, dessa forma, tudo de uma vez? Nos trazer até aqui, fingir que tínhamos viajado entre realidades, modificar o orfanato, usar de seus poderes para criar um redemoinho, nos assustar por horas e apresentar a nós isso que acha que é para nós, uma maravilha? Ah, você é mesmo o pior filho da puta que já conheci, Bento. ー Roger lhe disse, o asco visí
Quando o barulho cessou, ele arriscou abrir um pouquinho a porta. O silêncio o saudou. Criando coragem, saiu de gatinhas da geladeira e engatinhou até onde estava sua amiga. O gosto de sangue na boca, com certeza do dente quebrado ou das mordidas na língua.Hanna estava de pé, seus cabelos grudados no suor do rosto, sua expressão, inescrutável. A exaustão visível, deixava pregas debaixo de seus olhos escuros pelas olheiras. O braço, antes quebrado, pendia solto e os dentes trincados. Com a outra mão, a sã, ela segurou o braço que, ao que parecia, doía, pela expressão dela, mas não mostrava sinais de quebradura. Como poderia ser possível isso:ーRoge, acho que os matei. ーela soluçou, a voz baixa e rouca. Roger, abraçado à Hanna, falou em seu ouvido:ーEles não suportam o sol, não devem suportar também o fogo.ーO que pensa em fazer? Seu isqueiro não dará conta de tantos, imagino que sejam muitos.ーVocê ainda está com aquele colar?ーÉ uma bijuteria de vidro! Comprei por centavos em uma feira, vai querer oferecer a eles? Eles não são índios, Roge. Quer barganhar nossa vida com isso? ーela retirou de dentro das vestes a bijuteria que estava de encontro ao seus seios, mostrando ao amigo.ーFique quieta e me deixe tentar algo. Não temos muito tempo.Retirando o colar do pesco&ccedCAPÍTULO VINTE E SEIS
ー Não podemos seguir mais por onde íamos, jamais quero me encontrar novamente com Metralhores, Deus me livre!ーSerá que há mais bestas como eles que estão entrando em nossa realidade, Han?ー Tomara que não. Sua ideia foi excelente, heim? Eu não teria pensado naquilo, ainda mais sob pressão. Mas creio que tenhamos que ir até a tal árvore, lá está a resposta, você não acha?ー Infelizmente sou obrigado a concordar. Mas Bento e seus novos amigos devem esperar por isso, sabem que é para lá que iremos para pôr fim a tudo isso. E me assustam mais que os Metralhores, na verdade. Acha que conseguirá gritar daquela forma novamente se os vir?ー F