Quando o barulho cessou, ele arriscou abrir um pouquinho a porta. O silêncio o saudou. Criando coragem, saiu de gatinhas da geladeira e engatinhou até onde estava sua amiga. O gosto de sangue na boca, com certeza do dente quebrado ou das mordidas na língua.
Hanna estava de pé, seus cabelos grudados no suor do rosto, sua expressão, inescrutável. A exaustão visível, deixava pregas debaixo de seus olhos escuros pelas olheiras. O braço, antes quebrado, pendia solto e os dentes trincados. Com a outra mão, a sã, ela segurou o braço que, ao que parecia, doía, pela expressão dela, mas não mostrava sinais de quebradura. Como poderia ser possível isso:
ーRoge, acho que os matei. ーela soluçou, a voz baixa e rouca.
Roger, abraçado à Hanna, falou em seu ouvido:ーEles não suportam o sol, não devem suportar também o fogo.ーO que pensa em fazer? Seu isqueiro não dará conta de tantos, imagino que sejam muitos.ーVocê ainda está com aquele colar?ーÉ uma bijuteria de vidro! Comprei por centavos em uma feira, vai querer oferecer a eles? Eles não são índios, Roge. Quer barganhar nossa vida com isso? ーela retirou de dentro das vestes a bijuteria que estava de encontro ao seus seios, mostrando ao amigo.ーFique quieta e me deixe tentar algo. Não temos muito tempo.Retirando o colar do pesco&cced
ー Não podemos seguir mais por onde íamos, jamais quero me encontrar novamente com Metralhores, Deus me livre!ーSerá que há mais bestas como eles que estão entrando em nossa realidade, Han?ー Tomara que não. Sua ideia foi excelente, heim? Eu não teria pensado naquilo, ainda mais sob pressão. Mas creio que tenhamos que ir até a tal árvore, lá está a resposta, você não acha?ー Infelizmente sou obrigado a concordar. Mas Bento e seus novos amigos devem esperar por isso, sabem que é para lá que iremos para pôr fim a tudo isso. E me assustam mais que os Metralhores, na verdade. Acha que conseguirá gritar daquela forma novamente se os vir?ー F
Estavam de volta ao orfanato. Pararam na porteira e ficaram uns minutos olhando lá para dentro. Nem sinal de Bento ou dos outros, estava tudo quieto. A porteira estava como deixaram, aberta.ー Não tenho um pingo de vontade de entrar lá. ー disse Hanna.Roger concordou com um aceno de cabeça. Pressentiram que os esperavam, que estavam à espreita os aguardando e era inevitável o arrepio que sentiam.ー Ouça, Han, está ouvindo os pássaros?ー Sim! Me parece tudo normal, veja o céu, está azul, será que está tudo bem, que voltou tudo ao normal?ー Não imagina como gostaria de acreditar que sim, mas sinto em minha medula que não. El
ー Sério?ー Claro. Você achou que eu não iria querer conhecê-la?Roger sorriu mais abertamente e a puxou de encontro a si.ー Eu queria apresentá-la à vocês desde a segunda vez que saímos, mas tinha medo de que não fosse sério, sabe. E na verdade não sabia que era sério até agora.ー Seu bobo. Independente de ser sério ou não, quero muito conhecê-la. Ainda que seja só uma garota que está ficando com você, quero bater um papo com ela, contar como você é de verdade.Roger fingiu dar um soco em seu braço.ー Por favor, só n&atild
ー Padre, o senhor não acreditaria no que estamos metidos ー começou Roger. ー Aconteceu algo e nem sei por onde começar.Hanna, após ouvir o amigo tentando em desespero começar a contar, se afastou, o sorriso sumindo subitamente de seus lábios. Ela olhava para o Ford antigo do padre e se perguntava como ele podia estar ali. Será que podiam confiar nele, será que era um deles, dos que queriam matá-lo a todo custo para conhecerem uma outra realidade? Não passou despercebido ao padre a mudança abrupta da jovem.ー Acredito sim, meu caro, que estejam metido em alguma confusão, mas se acalme e me contem.ー Por que o senhor está aqui? ー Perguntou a garota, puxando Roger pelo braço para que se afastasse do clérigo at&eacut
ー Por favor, me perdoe, padre. O senhor irá entender tudo se nos ouvir. ー Pois se já não a ouvi! Está insana, dizendo coisas que não existem, falando sobre a abertura de um mundo novo, me dizendo que Bento se transformou em uma pessoa do mal! Me dê essas chaves ou não responderei por mim! Nunca levantei a mão para um de vocês ou qualquer outra criança, mas o farei se não me devolver a chave. Preciso ver como estão todos. Pedirei a Dora que ligue para seus pais, eu mesmo ligarei. Ele estava instável como Hanna nunca o via visto. A farta barba grisalha tinha perdigotos de sua fala raivosa e com o rosto bem perto da jovem, se fosse em outra situação, ela choraria por ser responsável por deixá-lo tão fora de si. E foi quando o carr
ー Que arcaico isso aqui! ー A voz foi de uma das criaturas, saiu alta e sarcástica. Não os olhavam, observavam tudo à volta, indiferentes a eles, com curiosidade. ー O que é aquilo barulhento? Não adiantou virá-lo. O ser que ficava no meio de dois, foi quem perguntou. Então sim, foram eles que viraram o carro. ー O que são vocês? ー Roger vociferou, dando um passo à frente, revoltado de saber que foram eles que viraram o carro. Hanna e Dora o seguraram pelo braço, tentando acalmá-lo. Já tinham visto que as tais criaturas eram poderosas e poderiam aniquilá-los facilmente. Roger com seu temperamento sempre volátil, não pensava quando era provocado. ー Somos os jovens da profecia, meu caro. E o que são vocês? Téro
ー Não nos resta mais muito tempo. Temos que entrar logo na fenda.Foi o que Bento disse. Seus aliados pensavam a mesma coisa. Não estavam preocupados com o que Hanna e Roger pensavam, tinham pouco tempo e não queriam gastar com perguntas sem respostas.ー Vão sem nós. Não queremos ir, Bento, por favor, siga seu caminho e nos deixe aqui. ー Pediu Roger em voz baixa, mais calmo do que havia estado até agora; olhava para Bento com um pedido no olhar, mais do que suas palavras, sua feição era de cansaço, físico e mental Ele não pedia á nenhum outro, mas á seu velho amigo.Hanna ao seu lado, não estava tão calma como ele, olhava com incredulidade para Bento e meio enraivecida de terem que insistir t