- Nunca senti tantos arrepios em minha vida. - Disse Hanna.
Desceram devagar os degraus. Um Lugar que brincaram muito de esconde esconde, que jamais temeram estar, que escolhiam livros que não tinham ainda sido separados para a biblioteca, gostavam de serem os primeiros a lerem; mais Hanna, que era obcecada pela leitura, passava horas pesquisando para o colégio. Agora desciam os quinze degraus de madeira, temerosos, os rangidos que nunca antes perceberam, parecia ser o prelúdio de algo nefasto.
Nem perceberam que seguravam as mãos enquanto desciam, mesmo em fila indiana, muito menos se deram conta de suas mãos trêmulas a segurar a do outro que também tremia.
Nenhum redemoinho. A fraca luz da lamparina era o suficiente para saber que ali estava tão deserto quanto
- Parece normal, não? Começava assim, com a história de Nena, a marrenta. - Hanna passava as páginas devagar. A cachorrinha era magra, cor caramelo, olhos tristes e cansados.- Deixe-nos ver também - Pediu Bento, puxando o livro para que os três o lessem. - Sim, isso mesmo, uma cadelinha ingrata que sempre mordia seu dono, que a acolheu da rua.- Chamavam-na de Lena melequenta. - Ele lia rápido a história, pulando linhas.- Mas que no fundo era uma cadela revoltada e até primorosa. - Lia Roger, as linhas de letras grandes.- Vamos ver as seguintes, me lembro de algumas. - Hanna passou as páginas, haviam algumas gravuras, desenhos de uma cadelinha magra, toda suja, quando foi resgatada das
- Meu pai vai me matar, deve ter riscado o capô. - Hanna mordia a unha, ainda sentada entre os bancos da frente e sem cinto de segurança.- Dê-se por satisfeita se ainda estiver viva até os verem novamente, está tudo muito estranho. Acelere mais Roger, ligue o farol alto, ao menos até passarmos pela porteira.Roger acendeu os faróis e pisou no acelerador. O fecho da luz artificial cortou o negrume da noite, só se viam árvores por todos os cantos e o chão de terra vermelha à frente.Não estava longe da porteira, viam-na adiante, Bento já tinha a mão na porta para abri-la ao chegarem nela para poder abri-la. Foi quando o facho de luz iluminou o homem no meio da porteira. - Me parece que temos que continuar a olhar o livro, entendi que ele é um manual. - Bento pegou o livro e passou a folheá-lo, os amigos, agora sentados juntos atrás, o acompanharam.- Supondo que sejamos nós, os que cita o livro, diz que não somos os três mosqueteiros, creio que sejamos nós. - Começou Bento a tentar decifrar o que liam. - Diz que somos desgarrados… não somos desgarrados!- Nem sobreviventes. - Acrescentou Hanna.- Somos sim, estamos vivos. - Roger encarava os amigos. - Será que morremos na estrada e nem percebemos?- Não seja idiota, Hanna está sangrando, eu estou com dor de cabeça por causa da pancada, estamos bem vivos. Deve ser um enigma issoCAPÍTULO TREZE
- Tenham calma, pensem que de nada vai adiantar entrarmos em pânico. - Bento bateu amavelmente no ombro de Roger, que dirigia e segurou a mão de Hanna, sentada atrás. - Vamos seguir as pistas do livro, não nos resta outra coisa.- Ok, o que fazemos então?- Continue dirigindo, vamos usar as estrelas como orientação, deixem essa parte comigo - Bento disse, apertando a mão fria de Hanna, ele percebeu que Roger se acalmava um pouco e começou a dirigir.Estavam em uma rua estreita de terra, Roger desligara o farol alto e mantinha-se a cinquenta quilômetros por hora; Bento tinha o rosto para fora para observar o céu melhor, seus cabelos escuros e cacheados, estavam desarrumados e o vento o açoitava. Hanna não havia sido muito explícita quanto ao sujeito. Quando os vira de longe, na porteira, não dava para se ter uma noção de quão alto ele era; devia ter dois metros de altura, os ombros largos e meio encurvados em um ângulo que o deixava parecendo ser deficiente. Os músculos que saltavam do seu sobretudo preto aberto, que quase arrastava ao chão, não parecia ter sido produzido por exercícios em uma academia.O chapéu preto, escondia parcialmente seus cabelos loiros até os ombros e suas feições. Realmente ele não era um humano muito comum. Os três sentiram o corpo todo estremecer, quando a criatura vergou o corpo, há dois passos deles e urrou:- AHHHHHHH.Roger e Hanna, de joelhos, tentavam CAPÍTULO QUINZE
Não havia ninguém lá fora. Apenas a tal mulher Serena, Bento, o tal Téron e eles três, que haviam sido desamarrados; o sol despontava ainda fraco.Se aproximaram de Serena que se aproximou de uma fogueira recém avivada, com um sorriso ela lhes ofereceu um prato contendo uma mistura de ovos mexido com algo verde e saboroso.Pegaram cada um um prato e com as mãos, não lhes foi oferecido talher, eles comeram o mexido já morno. Serena e Téron também se serviram, comeram de pé e acompanharam-na para outro lugar, sentaram-se novamente no chão. Téron lhes ofereceu uma terrina e um copo para beberem água, estava tépida, não gelada, mas muito fresca e gostosa. Seguravam o copo, quando Serena recomeçou a falar: - E como se sacrificaram? - Indagou Hanna, com voz triste, emocionada.- Não interessa como se sacrificaram, Hanna. Não estão vivos e nós também morreremos nesse lugar se continuarmos perdendo tempo com histórias. - Falou Roger, desinquieto, andando de um lado para o outro.- Sente-se e cale-se, Roge, estou cansada de suas explosões! - Hanna disse, após sair do estupor. - Quero ouvir o que Serena tem a nos dizer, seja lá o que for.Ele a olhou boquiaberto, olhou depois para Bento e esse pediu com um gesto que ele se sentasse.- Continuando. - Serena ficara calada até que Roger se sentasse, ele o fez irritado e resmungando. - Entendo perfeitamente o ultraje de vocês, é mCAPÍTULO DEZESSETE
- Não. Agradecemos, mas não queremos viver aqui, temos nossa vida lá. - Agora foi Hanna quem se opôs. - Temos nossa família, nossos pais, irmãos, amigos, Roger foi acolhido por uma pessoa boa e amável, Bento também foi acolhido, como e eu e estamos bem, muito obrigada.- Hanna tem razão, nos desculpem, mas queremos ir embora. Sentimos muito não poder ajudá-los. - Roger falou, baixo.- Não entendo vocês. - Disse Bento. - Roger me espanta mais. Era para se sentir animado de estar entre os seus, finalmente. Sempre foi revoltado por não ter sido adotado e ficado no orfanato até os dezoito anos. Agora descobre sua verdadeira origem, seu lar e quer voltar?- Nunca fui um revoltado. Por ser mais el&eac