HAFIQToda a minha família sabe que já é tarde em Londres, certamente é algo muito importante, eu atendo rápido e reconheço a voz, que me cumprimenta visivelmente tensa.- Masa’u Al-Khair Hafiq. (Boa noite Hafiq)- Al-Khair An-Nur, Anusha. (Boa noite pra você também, Anusha).- Kifac? Mabçút? (Como vai? Vai tudo bem?).Ela continua querendo saber como eu estou. Não entendo aonde ela quer chegar.- Ana mabçut, Kíflic? Mabçuta? Hífel Hál? (Eu vou bem e você? bem? Como estão as coisas?).O meu pressentimento não é bom, a minha voz denuncia a minha tensão.- Kif Báyl, Anusha? (Como está meu pai, Anusha?). Ela ficou em silêncio, algo não está nada bem.- Anusha, o que aconteceu? Fale comigo?A ligação é de minha avó Anusha, mãe de meu pai, eu saio da sala andando rápido em direção ao meu escritório, preocupado com o silêncio de minha avó.Não sei o teor da conversa, se é algo que Tônia não possa ouvir.Tranco-me no escrit
PRÓLOGO RUMO AO QATAREstou ainda meio dopada de advil e calmantes, sofrendo por causa do estresse e uma enxaqueca potente dos diabos.O quê eu consigo me lembrar de minha ida ao Qatar? Muito pouco. Somente lampejos soltos e desconexos de uma viagem longa e cansativa.A verdade é uma só e tem que ser dita!Essa peça anatômica da qual eu sempre me orgulhei em fazer ótimo uso, que todos conhecem por cérebro, se tornou um pedaço de carne burro e autômato, desde que Hafiq despejou-me com toda a sua “gentileza” de sempre, a notícia, leia-se “bomba nuclear”, que em poucos dias embarcaríamos rumo a Doha, Capital do Qatar.Tal qual a outra vez em que nós viajamos e eu dei aquele chilique horrendo por causa da turbulência, Hafiq no ápice de seu modo “mestre mandou”, me despiu e me deu sopa na boca, eu acho que tomei, ou será que cuspi a sopa nele? Não me lembro com certeza.Enfim, ele me botou pra dormir, por vezes cambaleei
ANTÔNIAA primeira coisa que eu fiz quando desembarquei em Doha, Capital do Qatar foi rir. Eu ri bastante.Ri pensando como minha vida tem sido irônica. Em vez de contos de fadas, minha vida está mais pra melodrama mexicano, daqueles bem bizarros.Os meios de transporte mais utilizados por mim há alguns anos atrás eram o jegue e o pau de arara.E em menos de seis meses, eu deixei o Brasil para viver em Londres, e nem bem conheci o Big Ben, já estou de mudança, mesmo que seja temporária, para viver em um palácio, no Oriente médio.Alguém consegue ver a piada disso tudo? Parece até conto da carochinha, mas é a mais pura verdade.O homem que dorme comigo todos os dias, o meu marido, é o sucessor do trono deste país riquíssimo e o meu filho, meu pequenininho Kaled, é um dos membros da realeza do Qatar.Agora eu olho ao meu redor, dentro desse jatinho particular gravado com as iniciais de Hafiq e penso: isso é ou não é en
Basmah se ouviu, fingiu que não ouviu. É uma senhora atarracada e sorridente, Hafiq devolve-lhe o sorriso acabando com a expressão carrancuda, olha para os lados na intenção de ver se é observado por alguém e beija-lhe a testa suavemente.- Como vão as coisas, Basmah? Você continua fazendo aqueles Kleejas deliciosos que eu amo? Kleejas são os biscoitos de canela que Basmah faz, você também vai adorá-los habibi.Eu sorrio para ele e Basmah concorda alegremente com Hafiq e começa a falar tão rápido em árabe, que quase me deixa tonta.Hafiq agradece quando Basmah nos leva até uma suíte enorme e fecha a porta, se jogando exausto em um sofá vitoriano.- Farah é a primeira esposa de meu pai, essa peste negra é mãe de Aziz e Malika, acho que nem meu pai suporta esta mulher.De repente eu me dou conta de que ela é avó de Kaled, e penso: coitado do meu filho, que falta de sorte.- Pelo modo gentil que você fala dela, vocês dois se detestam, certo?- Farah sempre fez da minha vida um inferno, e
- Não me chame de querido, se alguém ouvi-la falando desse jeito pensará o quê?- Pensará que eu sou uma madrasta zelosa, que te quer bem e que quer o melhor pra você. E o melhor pra você é Jamilah, não uma mulher do povo e que já foi mulher do seu...Eu fecho os olhos e as recordações de alguns anos atrás não poderiam ser piores, ainda sinto a presença dela no meu quarto, tentando me confundir, me corromper.Decido acabar com a discussão, a proximidade de Farah só dificultará a minha permanência nessa casa.- Nem mais uma palavra ou eu esqueço a educação e a faço engoli-la. Não ouse dar a sua opinião de merda sobre a minha mulher, eu não te dou esse direito. Eu estou te avisando, fique bem longe de Antônia e Kaled, eles são meus, entendeu bem, meus!Saio puto da vida, deixando-a com o rosto afogueado pela raiva e sem dar a última palavra. O melhor a fazer é deixar a covardia de lado e procurar meu pai, o único motivo de eu ter aceitado vir para Doha em plena lua de mel.Fico parado c
Retornamos para a sala de estar e Antônia nos espera, deslocada neste ambiente e de todo o resto.Malika chegou a tempo do jantar, acompanhada de Farid, um aprendiz de alpinista social que ela teimou em se casar. Ela e Farah cochicham provavelmente frivolidades. Antônia continua ao lado de Basmah, trocando o peso do corpo de um pé para o outro, fingindo interagir com as duas mulheres.Nossos olhares se encontram e ela abaixa os olhos, disfarçando que observa os pés. Eu queria dar-lhe apoio agora, queria puxá-la pra junto de mim, acariciar seu corpo até que a sua angústia passasse, mas infelizmente estamos atados a tantos protocolos, convenções sociais, que eu me contenho.Me pego fantasiando com uma saída de emergência, o que eu realmente preciso nesse momento e que acalmaria de uma vez por todas os meus nervos em frangalhos: fugir pra longe com a minha onça de olhos cor de mel e esquecer que todos a nossa volta existem.Mas infelizmente, o que eu mais quero não é possível, eu tenho o
Este macho enorme, com a pele bronzeada reluzindo na penumbra do abajur, as pernas musculosas e longas, as coxas grossas e torneadas, o tórax largo e o abdome duro com o V proeminente que eu adoro lamber, chupar, morder, é todinho meu.Ah! Depois desse homem, eu realmente me tornei uma vaca insaciável, eu acordo do meu devaneio sexual quando ele desabafa.- Porra, diga-me quanto tempo eu vou suportar esse inferno?- Calma Hafiq, nós chegamos hoje, vai tudo se acertar.- Por isso mesmo que eu estou falando, nem bem chegamos e eu já não aguento todos eles, quanto tempo eu vou suportar isso? Diga-me quanto tempo você suportará essa gente sem fugir? Eu não deveria ter feito isso com você, com Kaled, com todos nós.Eu tento tranquilizá-lo, mas ele está cansado, os golpes da convivência familiar que ele detesta vieram muito pesados e ainda nem tem vinte quatro horas que colocamos nossos pés nesta terra.- Talvez seja melhor deixar de ser egoísta e te mandar de volta pra Londres.Essa ideia
No outro dia Hafiq acordou bem cedo com Anusha batendo em nossa porta.Ele vestiu correndo uma calça de moletom surrada, só dando tempo de eu me cobrir com o lençol, ainda anestesiada pelo sono.- Sabahu Al-Khair, Hafiq, precisamos conversar sobre as manobras que vamos pôr em prática nesse momento. Daqui a quinze minutos vamos nos reunir com algumas lideranças políticas para decidir o melhor caminho a seguir.- Sabahu Na-Nur , só um minuto por favor, Anusha.Os olhos atentos de Anusha acompanharam os movimentos relaxados de Hafiq pelo quarto. Ele se vira em minha direção pra falar comigo, me tirando da lerdeza matinal.- Habibi, eu não vou poder tomar café com você hoje, mas prove os Kleejas de Basmah e guarde alguns pra mim que eu vou comer depois, você verá, são deliciosos.Hafiq se aproximou displicentemente da janela e os raios de sol evidenciaram ainda mais os vergões vigorosos em suas costas arranhadas. O seu peito e os ombros também têm marcas bem nítidas e avermelhadas dos meu