Anusha me tira dos meus pensamentos e se levanta, jogando cinquenta Riyal Qatari na mesa da cafeteria que paramos para lanchar e reclama como sempre.— Vamos, rápido! Você e Jamal parecem duas lesmas, ainda temos que comprar uma roupa pra você para a festa de hoje, antes que você ponha esses peitos para fora com os decotes que você teima em usar.Eu sussurro pra Jamal.— Ih! A Manusha ataca novamente.Ele levanta a sobrancelha sem entender.— Manusha? Não entendi.— Acorda Jamal, por isso que ela fica te chamando de lesma, Manusha é a junção de Má com Anusha, Manusha entendeu agora?— Eu sou velha, mas não sou surda, você merecia umas boas chibatadas nessa sua bunda gorda. Mas eu gostei, Manusha é bom, pode me chamar assim menina, impõe respeito aos inimigos.— Eu me chamo Antônia, Anusha, e não menina.— Sim, eu sei, mas é muito bom implicar com você, menina.— Se continuar me chamando de menina, continuarei te chamando de Manusha!— Fique a vontade, menina insolente.E lá vai ela ba
ANTÔNIAEu tentei me manter como uma dama fria e educada, mas o sangue me sobe no rosto, eu sou latina e baiana, não tem jeito de eu ser diferente, comigo a porrada canta, jogo capoeira desde que me dou por crescida, antes que ela começasse a pensar a limpar a porra de sua bunda sozinha, essa ordinária pediu por isso.Encosto a filha da puta na parede e pego-a pelo queixo, para que me encare.— Escute aqui, sua vaca! Hafiq é e sempre será meu. Não tenta tomar o que é meu senão eu faço uma marca bonitinha nessa sua cara ordinária.Ela não se dá por vencida e eu só sinto o cuspe atingir o meu rosto em uma velocidade supersônica, e a mal fodida da Jamilah fala mais alto.— Vagabunda.Não vou deixar essa passar de graça e só pra ela ver que eu não estou de brincadeira, dou- lhe dois tapas na cara tão estalados que deixaram a marca do meu anel em sua bochecha.Ela sai pelo corredor com os olhos arregalados, segurando
É uma confusão imensa, Farah acusa Hafiq de ofender o sheikh Karim e só trazer discórdia, Malika e o marido olham um para o outro, totalmente chocados com a discussão e Anusha desce as escadas com Hafiq, puxando-o pelo braço, enquanto ele passa por todos com os olhos injetados de ódio, pega a minha mão tão forte quase a esmagando e nos conduz até a saída.— Chame Youssef para irmos embora.Eu corro até Youssef e ele se adianta para manobrar o carro. Anusha nos segue e Hafiq discute com a avó.— Você o defende, eu sei que ele é seu filho, mas você esteve comigo todo o maldito tempo em que eu esperei a minha mãe, sentado na soleira da porta, sem que ela voltasse pra casa. Dia após dia, sem receber nenhuma notícia e nem um corpo pra enterrar. Então me faça um favor, pare de fingir que você não sabe de nada e comece a me falar a verdade, palavra por palavra, até lá, eu estou fora! Eu não deveria ter deixado a minha vida em Londres pra voltar pra esse inferno, eu vou fazer como o meu pai q
HAFIQDecido deixar um pouco de lado a minha miséria pessoal e vou verificar o motivo de Tônia se demorar tanto no banho, a porta está só encostada, ela sabe que eu não gosto que tranque, em caso de necessidade, eu posso protegê-la ou socorrê-la mais rápido.Sigo o som do seu choro baixinho e me deparo com Antônia, encolhida embaixo do chuveiro aberto, esfregando a bucha pelo corpo.A pele marrom ficando cada vez mais avermelhada de tanto friccionar a bucha na pele.Ela chora copiosamente e eu nunca a vi desolada dessa forma, ela só pode estar em um transe histérico.Esfregando e chorando e esfregando e chorando, a pele já deve estar arranhada, eu preciso tirá-la dessa histeria, entro no chuveiro mesmo de cueca e arranco a bucha das suas mãos.Tônia me encara e eu vejo nos olhos de gato que eu tanto amo, uma dor, uma tristeza extrema.Ela só repete palavras humilhantes, totalmente sem sentido, “cadela vadia”, “
Os músculos dos meus braços tremem, mas eu mantenho-a firme, grudada na parede.Tônia ainda me fita com as unhas fincadas em minhas costas e os dentes pequenos cravados em meu ombro.Após nos recuperarmos de nossa foda avassaladora, ela desliza por meus quadris, mantendo-se em seus próprios pés e continuamos abraçados, nos beijando fundo e com calma, até que nossas bocas se desgrudam pouco a pouco, abro o chuveiro e a lavo rapidamente, tirando- a logo debaixo da ducha.— Venha que eu vou te enxugar, você está se enrugando tal qual uma ameixa debaixo desse chuveiro.Visto-a com um roupão e pego uma toalha para secar os seus cabelos. Enquanto enrolo uma toalha na cintura, Tônia deposita beijinhos macios e molhados em meu peito, em meus braços.A minha felina hoje está preguiçosa e manhosa como uma gatinha dengosa, por vezes tão doce e tão feroz, mas tão minha.Tônia descansa deitada de lado, com a coxa enroscada entre as minhas pernas, brincando com alguns pelos que circundam os meus ma
ANTÔNIAHoje Manusha está com tudo, espinafrando a torto e a direito em todo mundo, os lojistas sofrem como Judas na cruz, com todas as suas exigências e reclamações.Após rodar e rodar pelo comércio, e praticamente voltar de mãos vazias, ela me leva até a sua casa para tomarmos um chá.A casa de Anusha, se é que esse palacete pode ser humildemente chamado de casa, reflete muito a sua personalidade.A arquitetura é austera, com a decoração clássica e tradicional, alguns objetos de arte visivelmente caros, mas não há nenhuma ostentação ou exagero em seus objetos pessoais, tudo muito limpo, organizado e reto como ela, direta como uma flecha.— Eu sei que você tem muitas perguntas, pois eu lhe digo logo, esqueça! De mim você não terá respostas, menina.— Eu só precisava entender certas coisas, não sei como posso ajudar Hafiq, ficando no escuro é um pouco difícil.— Hafiq está certo quando discordou de Karim manter certos
ANTÔNIAMais até do que eu deveria, pois quando eu perdê-la, um pouco de mim também se perderá, assim como quando perdi Aziz.— Ajudo, mas com duas condições.— Diga, veremos se você é boa negociante.— Vai ser tudo do jeito que você quiser Manusha, mas eu quero ir a todas as consultas médicas e me faça um favor, nada de ir ao mercado muito cedo, eu preciso das minhas horas de sono.— Só isso? Você é péssima negociadora, menina.Eu tento não engasgar com o nó em minha garganta e pergunto, falando em voz baixa.— O que você quer fazer de agora em diante, o quê tem em mente? Levanto o rosto e ela continua a secar as minhas bochechas úmidas.— Nada de incrível e específico, só essas maluquices que você gosta, eu preciso de um pouco de sua ousadia, aceito sugestões.Eu forço um sorriso para aliviar o peso do momento.— Então começaremos com um novo cabelo, não há nenhum motivo de uma rainha, uma mulher bonita e vaidosa como v
ANTÔNIAEle abre lentamente os olhos e me sorri preguiçosamente daquele seu jeito despretensioso e irresistível.— Oi habibi, demorou tanto, o quê Anusha queria?Eu tenho que mentir pra ele, Anusha confiou o seu drama pessoal a mim, eu não trairei a sua confiança.— Nada demais, o de sempre, compras e uma manhã de overdose de chás.Ele gargalha e ajeita Kaled no seu colo, apertando-o forte em seu peito, Kaled envolve o pescoço de Hafiq ainda cochilando e balbucia.— Papai.Fingindo não perceber que eu congelei no caminho ao ouvir essa palavra, Hafiq continua seguindo em direção à varanda, alisando os cabelos de Kaled.— Ainda tá com sono, abni?Kaled fecha os olhinhos novamente e enterra o rosto no pescoço de Hafiq. Após colocar Kaled no quarto e assegurar-se que ele continua dormindo.Hafiq me encontra no quarto, sentando-se na cama, observando divertido me ver lutar em vão, tentando desembaraçar e domar os meus cabe