Capítulo 10
Interesses demais
- Oi, dona Vânia.
- Vitor! Onde você está? Eu vou para ai e vou te trazer para casa!
A voz do outro lado era realmente histérica, tão conhecida, tão familiar e muito protetora.
- Não precisa dona Vânia, eu só torci o pé.
- Pode me chamar de mãe uma vez na vida, Vitor?!
- Ta bem, mãe, olha, eu estou bem, de verdade... eu quero seguir viagem e depois, quando tudo acabar, eu vou estar aí para assumir o cargo que vocês querem.
- Eu não quero saber de cargo, Vitor, eu quero saber se meu filho está bem, quero ver você.
- Eu estou bem, mãe.
A enfermeira e Simone entraram juntas e tiveram que ouvir minha conversa.
- Mãe, a enfermeira vai me dar um r
Capítulo 12 Dias quentes Ela se levantou e subiu as escadas, certamente indo ao quarto do Bill para o chamar. Talvez, anos depois eu me sentisse muito confortável com aquela proposta, eu estava em outra época da vida, muito mais desapegado e escorregadio. Porém aos vinte e cinco anos eu não estava nada assim. Eu ainda era um cara muito mais decente do que fui nos anos seguintes da minha vida até porque mal sabia da perda pela qual iria passar e pelo tanto de trabalho que iria encarar com a morte do meu pai bem como o alcoolismo da minha mãe. Eram anos ainda bem mais leves do que os seguintes e eu estava mais empático com as pessoas. Quando se precisa endurecer nas relações, nos tornamos mais frios e desatados dos nós com as pessoas. Confesso que aquela proposta não me deixou feliz, entretanto resolveu muita coisa. Eu não teria que encarar o drama de mulheres com ciúmes, não teria que fi
Capítulo 11 Visitas amorosas Assim que chegamos ao Geen Yard, lá estava Larissa me esperando no restaurante. O mais estranho foi ver Simone fazendo sala para ela. Aquilo parecia uma bomba relógio que o Diabo tinha jogado no meu colo. Andei com a muleta até as duas sentindo um tapinha de despedida dos meus amigos no meu ombro. -Muito engraçado, Bill. -Se vira, molecão. Larissa veio me ajudar, como se eu precisasse, a andar até a mesa. Simone me observava de braços cruzados com um sorriso sarcástico no rosto. -Eu vim te ver, Vitor, você está bem? -Perguntou a cantora. Olhei Simone de relance, fazendo uma careta de dor para me sentar à mesa. -Eu estou com uma luxação no pé e dói bastante, mas de resto, bem. -Sorri para ela muito sem jeito pois sabia que
Capítulo 7O ébrio equilibrista de damasManhã de sábado. Acordei com menos dores pelo corpo e no pé. Estava sozinho. Olhei ao redor e vi uma bandeja de café da manhã. Havia um bilhete nela.Bom dia, motoqueiro. Coma tudinho e me chame quando quiser. Simone.Sentei-me na cama e fiquei olhando aquele suco de laranja, torradas, geleia e pão-doce. Parecia delicioso. Ouvi o bip do celular com notificação de whatsapp. Olhei.Bom dia, amore. Vou aí te ver a tarde. Beijo nessa boca. Larissa.Fechei os olhos prevendo o prelúdio do apocalipse. Aquilo não podia dar boa coisa. Comi algumas coisas da bandeja e tomei o suco. Decidi que já podia sair dali. Levantei-me sem pressa, coloquei um short de
Capítulo 14 Decisões Tomei uma decisão difícil. À noite iria ao bar e iria terminar aquele enrosco todo com as mulheres da cidade. Seria uma nobre atitude minha e eu precisava tomá-la. Eu não queria ser o Assis Ferreira dois e terminar por partir o coração daquela garota em mil pedaços por causa unicamente de sexo. Eu não era daquele jeito. Bem, talvez um pouco mas uma única garota de cada vez e não duas ao mesmo tempo e nem no mesmo lugar. — Pensativo demais... Olhei Simone e sorri de canto. — É, eu tenho uma decisão chata para tomar. — E qual é? — Terminar com vocês. Ela arregalou os olhos. Depois sorriu. — Vitor, não tem nada para terminar porque não existe nada. — Existe, eu não sou um tonto canalha para achar que você não sente nada e nem a Larissa. — Mas isso não foi culpa sua — Ela me olhava com inquietação. — Eu sou culpado e Bill me fez ver isso. Sou culpado na med
Capítulo 15 Reflexoes de um inconsequente Eu precisava ir ao bar para me despedir de Larissa e dizer que aquele diabólico plano dela de trisal tinha sido revogado pela minha pessoa. Já passava das vinte e uma horas quando cheguei próximo ao palco, fumando, com os cabelos cobrindo parte do rosto como se não quisesse realmente ser notado. E eu, de fato, não queria. Ela me viu rapidamente, como era astuta. Fiz um sinal de que precisava falar com ela depois da apresentação. Era como se ela tivesse pressentido o que eu queria dizer pois assim que fui para a fora, ela mudou a música que cantava para I still haven´t found what im looking for, do U2. Eu simplesmente “ainda não tinha encontrado o que estava procurando” e acredito que nem ela. Eu corri, eu rastejeiEu escaleiEstes muros da cidadeEstes muros da cidadeSó para estar com você Mas eu ainda não encontreiO que estou procurandoMas eu ainda não encont
Capítulo 16Soluções mágicasAcordei já tarde no dia seguinte. Ouvi batidas na porta. Girei o corpo e olhei meu celular. Dez da manhã. Não acreditei que dormi tanto! Afinal nem bebi na noite anterior, somente olhei o mar e fui para a cama. Levantei-me sem vontade para abrir a porta e dei de cara com Simone. Ela me olhava de braços cruzados com um olhar perturbador de quem ia cometer um assassinato.— Que houve?— Bom dia! — Disse ela entrando sem pedir licença.Ao me olhar nu, ela parou e baixou a cabeça sorrindo.— Nada que você nunca tenha visto antes.Joguei meu corpo na cama e sabia que era quase certo de que ela me tocaria. O problema é que eu tinha que, uma vez na vida, ser fiel ao que dizia às outras pessoas. Eu tinha dito a Larissa que não dormiria com mais ninguém ali. Ela ficou ali olh
Capítulo 17Desconfortos femininosAo chegar ao hospital, soube que a médica estava presente mas eu precisava aguardar minha vez. Simone sentou ao meu lado e observou que as pessoas olhavam para mim. Afinal, um cabeludo, tatuado, com colete de motoqueiro e cara de poucos amigos não era necessariamente uma figura atraente aos olhos de muita gente. Baixei a cabeça e fiquei esperando ao celular para evitar o contato com os olhares maldosos.- As mulheres piram em você né?- Mulheres? Levantei a cabeça e olhei em volta. Se alguma enfermeira ou paciente tinham olhado para minha pessoa com ares cobiçosos, pelo menos naquele momento estavam disfarçando bem. Voltei a olhar o celular e até entrei no site da empresa. Eu estava voltando e, para minha tristeza, teria que botar aquele enforcador cinza que se chama gravata. Simone já estava impaciente, cruzando de pe
Capítulo 18Emoções a flor da peleAssim que chegamos, Simone se dirigiu com alguma raiva a seu escritório. Eu fui atrás dela. Ela se sentou e me olhou com estranheza, como se eu não tivesse o direito de estar ali.- Vai me tratar mal porque outra mulher me chamou para jantar?- Eu estou te tratando mal, Vitor?- Está.- Alecrim dourado, eu preciso trabalhar, eu fui com você e já fiz o que quis fazer, que era te apoiar.- É assim?- Vitor, o que você quer de mim?Ela baixou a cabeça e enterrou o rosto nas mãos, um sinal de desespero ou impotência.- Quero que confie que eu não cantei aquela médica!- Eu confio. Quer por escrito? - Ela alterou a voz - Já é difícil o suficiente ter me apaixonado por um cara que vai me deixar a qualquer momento, é