Sem saber bem o porquê Joana tinha optado por desistir da venda do apartamento e resolveu voltar a habitá-lo. Logo que chegou percebeu que a ausência deles durante aqueles meses fizeram com o que antes era um lar, carregasse, agora, um aspecto fantasmagórico. Ela suspirou pensando na trabalheira que teria para ressignificar aquele lugar. Levou alguns dias para que, por si só, pusesse tudo em ordem e, finalmente, pudesse parar para apreciar o mar que embelezava a sua janela - como sempre fizera. Foi nesse momento que percebeu que, mesmo com tudo no lugar, a casa ainda estava sem vida. “É isso”
A cada dia que o dia da sua viagem se aproximava, Théo se recordava das palavras de Edgar. Muitas vezes, ele dormia e acordava com a voz do homem em sua mente e concluiu que, talvez, ele estivesse certo, mas, Théo sabia que não poderia simplesmente abrir mão de tudo por Joana novamente - ainda mais depois de tudo o que ele descobrira. Ninguém tinha ideia de como ainda doía nele lembrar que tudo de real que viveram foram frutos de uma mentira, uma moeda de troca para que Joana chegasse exatamente onde ela estava. Ele cerrou os punhos dominado pela cólera. Joana e seu pai… Por Deus, ele amava tant
Mesmo com toda a confusão que tinha acontecido nos últimos tempos, Théo conseguiu reequilibrar a sua paz. Isso, no entanto, ele pensava que isso não era mérito seu - pelo menos não totalmente! Com todas as conversas, Joana o ajudara a entender que ele não tinha culpa da pulverização na relação de Daniel e Sampaio e que, mesmo sendo parte de uma família, ele não precisava carregar em seu espírito o peso dos erros dos outros membros dessa família, até porque quem ele era não foi fruto apenas do ambiente familiar, mas, de todas as esfer
Querido Edgar,confesso que é estranho te escrever tanto tempo após a sua partida, mas, acontece que ontem recebi, através de tia Violeta, os quimonos que você me enviou. São de uma delicadeza e de uma beleza extraordinária. Devo dizer que fico muito feliz que você tenha lembrado de mim com tanto carinho por todos
Já havia um tempo que as paredes do Hospital Sagrado Coração de Jesus se tornaram a casa de José Augusto Torres. Uma casa, não um lar. Nunca gostou daquele tipo de lugar e, tinha certeza: nunca gostaria! Em seu coração havia sendo constantemente alimentadas inúmeras lamentações sobre o fato de ter que estar ali e não poder ser nada além de um vegetal. O que mais lhe doía, porém era o fato de não poder fazer nada como uma pessoa “normal”, mas pode compreender tudo o que se passava com a mesma perspicácia e sabedoria de quando est
Joana acordou pela segunda vez na madrugada. Olhou o relógio e eram 02:30. Foi despertada pelo mesmo sonho que vinha atordoando sua mente desde a última visita que fizera a seu pai no hospital, há uma semana: a Morte, em todo o seu esplendor, lhe encontrava em uma floresta escura e sem vida – todas as suas folhas estavam despencadas no chão e a neblina cobria todos os lados. Tudo era escuridão, mas, ao longe - se ela se esforçasse bastante –, era possível ver uma pequena luz cintilar e era para lá que o dedo cadavérico da Morte apontava. Joana sabia que não deveria conf
Os olhos de Edgar atravessavam as bordas amadeiradas da imensa janela, estavam fixos na imagem da rua lá fora: as pessoas indo e vindo em seus trajes superaquecidos, a neve embranquecendo tudo ao redor deixando o mundo monocromático, milhares de carros, alguns pontos amarelos, as luzes vermelhas enfileiradas… Diziam que aquele seria o inverno mais rigoroso que teriam. Suspiro. Pensou que Nova York não era tão encantadora quanto diziam. Ele, particularmente, preferia mil vezes o Japão...! Se
Théo era filho de Patrício Sampaio, um importante agricultor da região nordeste da Bahia. Ele amava e admirava o pai, mas, odiava que o vissem somente como filho o Coronel Sampaio – que de coronel não tinha nada além do “título”! Geralmente, seu pai era um homem bom e solidário com os outros - mesmo que, quando preciso, fosse duro –, isso, entretanto não impediu que conquistasse alguns inimigos por lutar para alcançar todas as ambições que alimentou em sua vida. Théo não o culpava por nada disso, apenas se sentia grato pelo pai por ter t
A alma de Violeta estava desolada. Ela sabia que José não era a melhor pessoa do mundo, mas, ele era o único irmão vivo que lhe restara e, da linhagem pioneira dos Torres, agora só restava ela. Ela, Violeta Torres, a mais rotulada de todas as Torres, a tida como mais frágil, a, secretamente, maldita como solteirona... Ela não se vitimizava por esses adjetivos que recebia, tampouco vivia culpando ou maldizendo os outros por não entenderem o que se passava com ela - e nem haveria de fazê-lo! -, ela apenas continuava a viver a vida que Deus lhe dera e buscava fazê-lo com o coraç&