De fato, Amélia foi a única criança a apresentar um trabalho sobre o cemitério dos loucos. O problema é que as fontes históricas de suas informações não era confiáveis ou nem sequer existiam, isso sem mencionar o fato de que as crianças que falaram sobre a praça e sobre a igreja ficaram assustadas com aquela história de varíola.
Na volta pra casa, Amélia e a mãe tiveram uma conversa.
— Não fique triste, não se pode tirar notas altas em tudo.
— Acontece que as apresentações são as únicas coisas em que vou bem!
— Você fez o trabalho com esse tema por
Alice e Amélia passaram alguns dias sem se falar.Na cabeça de Alice, tudo estava bem. Ela mesma passava algum tempo mais quieta de vez em quando. Mas Amélia achava que estava dando um baita gelo na prima.Tia Rosário percebia o clima ruim entre a duas, uma tarde tentou animá-las com um jogo complicado de tabuleiro que apenas Maurício estava interessado.— Dez pontos para quem acertar quanto é dois mais dois!— É quatro!— Dez pontos para o Maurício!Ninguém ligou.— Tem alguma outra coisa
O transtorno bipolar é uma doença que causa alterações no comportamento e leva uma pessoa a oscilar entre momentos de felicidade e depressão repentinamente. As chamadas "oscilações de humor" significam alternâncias entre a mania (estado eufórico) para um estado depressivo. A frequência é variada, assim como a intensidade do quadro que pode ser leve, moderada ou grave.Não, eu não lembro qual era meu nome e também não lembro quando nasci. Mas você acha que sou homem então vamos dizer que me chamo João, e pelos meus cálculos estou há mais de 40 anos aqui. Então vamos fazer de conta que essas são informações precisas, muito embora seu nome e sua idade não sejam algo muito importante para a morte, a n&atil
— João... durante qual guerra você estava vivo? A primeira ou a segunda?— Teve uma segunda?— Esquece. Eu sinto muito por tudo que aconteceu com você, queria fazer alguma coisa para ajudar, mas não sei se devia derrubar aquela manicômio. Você acha que lá ainda é assim?Alice começou a chutar freneticamente um monte de terra, sentia raiva dos médicos, de Esperanza e principalmente sentia raiva do hospital mental. Cavou a terra com seus chutes até achar o que parecia um pequeno ossinho, talvez do dedo de alguém. Ela o recolheu e ficou jogando para cima e capturando no ar.Muito tempo se passou enquanto ela descontava a raiva na
A volta de dona Ana do hospital rendeu um grande burburinho entre os vizinhos.Não era que estivessem sentindo saudades dela, mas ouvir fofocas era mais interessante do que ler o jornal para certas pessoas.A fofoca da morte de Fabián e da nova residente da casa de Rosário já tinha se desgastado. Agora dona Ana falava sobre o romance da enfermeira que passava pomada na queimadura de sua perna com o zelador 20 anos mais velho e casado.Tia Rosário aceitou ir até a casa de dona Ana comer um pedaço de bolo de limão que os vizinhos tinham preparado para dar as boas vindas. Mas não estava lá pelas fofocas, só tinha um pouco de consideração pela amiga. E também tinha uma quedinha por bolo de lim
Gabriel Valdés era um senhor de meia idade, quase na casa dos cinquenta anos. De família humilde, o trabalho no cemitério dos loucos era a melhor coisa que tinha conseguido. Como algumas pessoas que já passaram da época de perseguir seus sonhos e de esperar o amor, ele apenas queria trabalhar o menos possível, beber, fumar e sustentar seus vícios. De vez em quando, abria um buraco no chão e enfiava um corpo dentro, sem cerimônia nenhuma. Pelo menos uma vez por semana, ele ia ao lugar checar se tudo estava em ordem, embora vândalos não fossem um problema muito constante naquele cemitério quanto nos outros que já tinha trabalhado.Gabriel soube que alguém da vizinhança tinha oferecido um bolo de limão para comemorar algo. Era de sua consciência que sua presença e
Amélia se acalmou quando pôde ter a certeza de que Gabriel não era um fantasma desencarnado, mas apenas um senhor gentil que não queria bagunça no seu local de trabalho.Apesar de insistir em ir sozinha, acabou indicando a Gabriel o caminho de casa e sendo levada até lá.Alice estava sentada no sofá e quase gritou quando viu o homem entrando com a prima.— O que ele quer?— Quero falar com seu responsável.— A tia Rosário não está.— Não tem problema, eu espero.As duas
Após a conversa com a tia, Alice foi para o quarto. Encontrou Amélia penteando o cabelo vermelho de uma boneca particularmente feia. Franziu o cenho e se deitou na cama.— Me desculpe por ter culpado você — Amélia se apressou em dizer.— Tudo bem.— Não, não está tudo bem. Você levou toda a culpa por mim. Isso é horrível.— Eu não ligo.Alice roía as unhas e encarava a boneca de Amélia, pensando bem, talvez fosse mesmo horrível que ela não tenha dividido a culpa com a prima. Afinal, Amélia tinha sido a culpada de toda a desgraça, por ter v
Na manhã seguinte, Alice parecia ter se esquecido completamente do aviso da tia sobre o médico. Rosário conseguiu marcar uma consulta com um psicólogo dali há alguns dias e combinou de não contar nada a ela sobre o que se passaria.No telefone, a atendente recomendou que ela não tentasse impor restrições em Alice, ao contrário, a deixasse livre para agir da forma que desejasse, contanto que isso não prejudicasse a integridade física de ninguém. Assim, ela poderia falar mais abertamente e dar mais detalhes sobre seus pensamentos e ações dos últimos dias durante a sessão com o psicólogo.Começaram a manhã como qualquer outra, após o café, Rosário saiu com as crianças para a