Amber
Andar pela empresa era uma experiência surreal. Cada corredor, cada sala, parecia carregar um fragmento de memória que minha mente ainda relutava em acessar. Era estranho e familiar ao mesmo tempo, como caminhar por uma casa da infância depois de muitos anos longe. Algumas pessoas me cumprimentavam com sorrisos educados, outras com um calor que sugeria que nos conhecíamos bem. Eu retribuía todos os acenos, tentando esconder o desconforto crescente.
Passei por uma sala quando a porta se abriu de repente, e Nadia saiu. Seu rosto se iluminou com uma surpresa que parecia quase teatral.
"Amber! Não sabia que você estava por aqui." Ela se aproximou com um sorriso que não chegava aos olhos. "Bom dia. Precisa de alguma coisa?"
Eu hesitei por um momento, mas forcei um sorriso educado. "Não, só estou me ambientando novamente ao lugar."
"Ah, claro," ela respondeu, inclinando a cabe&ccedi
LeonardoAinda estávamos tentando entender por que Nadia estava agindo daquele jeito. Eu olhei para Amber, que ainda parecia imersa nos pensamentos sobre o que tinha acabado de ouvir, e estendi minha mão para ela."Vem cá," murmurei, puxando-a suavemente para os meus braços.Ela veio sem hesitar, e quando estava ali, tão perto de mim, não consegui evitar um sorriso. "Sabe, eu gostei de ver você com ciúmes," confessei, rindo baixinho. "Minha ruiva explosiva está voltando aos poucos."Ela riu contra meu peito, o som leve e natural, algo que eu sempre ansiava ouvir. "Eu nunca pensei que me sentiria assim. Achei que tinha passado dessa fase," disse, mas havia um brilho divertido em seus olhos."Não acho que seja assim que funciona," o cheiro dela me inebriava. "Eu não consigo nem pensar em alguém se aproximando de você.""Vamos fazer uma pro
AmberAinda estava mexida com o que Leonardo havia acabado de me contar. Por mais que quisesse fingir que aquilo não me atingia, algo dentro de mim parecia se contorcer. Minha mente estava confusa, tentando processar a ideia de que minha vida poderia ter sido muito pior do que eu imaginava. Meu pai seria mesmo capaz de matar minha mãe e inventar aquela história? Não queria pensar muito sobre isso. Era demais para digerir.Com um suspiro pesado, saí das garras de Leonardo, sentindo o calor de suas mãos relutantes em me soltar. Caminhei até a mesa e peguei as pastas que Layla havia deixado. Olhei o conteúdo: eram os documentos para a reunião que aconteceria dentro de uma hora.Leonardo se levantou, ajeitando a gravata e observando-me com um sorriso leve. "Está animada para a reunião?" perguntou, mas o tom era de brincadeira."Apavorada," respondi sinceramente, bala
LeonardoO caminho até a sala de reuniões era tranquilo, mas eu podia sentir a tensão que Amber carregava. Cada passo parecia mais pesado para ela, e mesmo sem dizer nada, estava claro que sua mente estava cheia de preocupações. Assim que entramos na sala, percebi o motivo de sua rigidez imediata: Nadia já estava lá, mexendo em papéis sobre a mesa como se tivesse todo o direito de estar presente.Amber hesitou ao vê-la, seus olhos rapidamente buscando os meus. Era um pedido silencioso, mas claro: eu tinha que lidar com isso.Coloquei minha mão em suas costas, um gesto que dizia que estava ao lado dela. "Nadia," chamei, minha voz firme o suficiente para cortar qualquer conversa que pudesse começar. Ela olhou para mim, surpresa."Senhor Martinucci?" respondeu, com um tom que oscilava entre a surpresa e a defensiva."Você não irá participar
"Positivo."Meus joelhos quase cederam quando vi as duas linhas rosas. Eu estava grávida. Leonardo e eu íamos ter um bebê. Por um momento, a felicidade tomou conta de mim. Imaginei o sorriso dele ao ouvir a notícia, o abraço quente que ele me daria, e como tudo finalmente faria sentido. Nós não precisaríamos mais esconder nosso relacionamento. Estávamos construindo uma família.Respirei fundo e voltei à minha mesa, tentando disfarçar o turbilhão de emoções. Ninguém na MGroup sabia do nosso romance, e era melhor assim. Se alguém descobrisse, com certeza pensariam que o meu cargo de Diretora de Segurança Cibernética era por causa dele, e não por minhas habilidades.Sentei-me e liguei o computador. Precisava pensar em uma maneira especial de contar a notícia. Algo que fosse a nossa cara. Leonardo e eu sempre adoramos jogos e enigmas tecnológicos, então imaginei esconder a mensagem em um código, algo que ele teria que desvendar."Você vai adorar essa surpresa, Léo", murmurei com um sorris
LeonardoAs mensagens recusadas e as insistentes tentativas de Amber, estavam me fazendo falhar e aquilo era intolerável para mim. "Se precisar de um minuto, senhor Martinucci." o Ceo do Grupo Taurus falou."Não, estou apenas com um problema..." não tive tempo de terminar.A porta da minha sala se abriu com violência, interrompendo minha videochamada com os diretores do Grupo Taurus. Por um momento, pensei que tivesse enlouquecido, aquela não podia ser a Amber, minha sempre controlada e profissional diretora. Mas era ela, seus cabelos ruivos emoldurando um rosto que eu nunca tinha visto tão transtornado."Que merda você está fazendo? Saia já daqui. Eu disse que falaria com você depois." Pausei a chamada e me ergui. As palavras saíram mais duras do que eu pretendia, mas estava no meio de uma negociação crucial."Eu preciso falar com você, senhor!" Sua voz tremeu ligeiramente, e aquilo me desarmou por um segundo. Em doze meses de relacionamento, eu nunca a tinha visto vacilar."Seguran
LeonardoNaquela manhã chuvosa, eu tinha certeza de que algo estava prestes a mudar. Meu instinto para problemas era muito aguçado, e desde o momento que Amber saiu do meu hotel, eu pude sentir que tinha acabado de tomar uma péssima decisão."Quando eles irão chegar?" Olhei para minha secretária que continuava a trocar mensagens com alguém do grupo Delux. "Eles já me fizeram aguardar mais do que o necessário, Sra. Torres. Se não houver resposta em 2 minutos, estamos indo embora.""Claro, senhor."Me afastei, deixando que ela tentasse resolver aquele problema. Puxei novamente meu celular do bolso e entrei nas mensagens trocadas com Amber. Não havia nenhuma nova visualização desde ontem, quando saiu do meu hotel."Senhor, eles chegaram."O salão estava impecável para aquela reunião. A mesa de guloseimas já disposta, o ar na temperatura que eu gostava, e os locais com todos os papéis necessários para a apresentação. Se tudo desse certo, eu fecharia um dos maiores contratos de entretenime
AmberA primeira coisa que senti foi dor. Uma dor lancinante que parecia partir minha cabeça ao meio. Tentei abrir os olhos, mas as pálpebras pesavam como chumbo. Um bipe constante ecoava ao meu lado, ritmado com as batidas do meu coração."Ela está acordando," uma voz feminina soou distante. "Chame o doutor Hans."Forcei novamente meus olhos, conseguindo abri-los dessa vez. A luz branca e forte me fez fechá-los imediatamente. Tentei erguer a mão para proteger meu rosto, mas algo me impedia. Senti o puxão de agulhas e tubos em meu braço."Calma, querida. Não se mexa muito," a mesma voz, agora mais próxima. "Você está no hospital."Hospital? Por quê? Tentei falar, mas minha garganta estava seca demais. Um gemido rouco foi tudo que consegui emitir."Aqui, tome um pouco de água." Um canudo tocou meus lábios e bebi devagar, sentindo o líquido gelado aliviar o desconforto. Abri os olhos novamente, dessa vez mais preparada para a claridade.Uma enfermeira de meia idade sorria gentilmente pa
Peter"Ela acordou, senhor Calton." A voz no telefone era baixa, discreta. "Ainda está confusa, como previsto."Desliguei o celular e olhei para os documentos espalhados em minha mesa. Três dias. Foram necessários apenas três dias para criar uma vida inteira para Amber Kane - certidão de nascimento, histórico escolar, fotos de família cuidadosamente manipuladas.A tecnologia pode fazer milagres nas mãos certas."Tudo pronto?" perguntei ao homem sentado à minha frente."Sim, Calton. Os registros médicos foram alterados. Segundo o sistema, ela deu entrada sem documentos. Todo o incidente foi apagado.""E quanto à investigação do acidente?""Sob controle. A placa era falsa, como ordenado. Sem câmeras funcionando no local. Sem testemunhas dispostas a falar." Ele hesitou. "Mas...""Mas?""Não conseguimos apagar as câmeras do hotel. Por mais que tentássemos, a segurança continua inviolável. E Martinucci viu a ambulância partir."Meus dedos tamborilaram na mesa. Leonardo. Claro que ele estar