Eu estava chorando antes mesmo de ele se aproximar de mim, quase me derrubando quando nos abraçamos. Com os braços apertados em volta de mim, tudo que eu conseguia pensar era em puxá-lo para mais perto, beijando o topo de sua cabeça enquanto eu suspirava meses de alívio.
— Oi, bebê — sorrio, com lágrimas.
— Por que está chorando? — Gabe se afasta e olha para mim.
— Porque estou muito feliz em ver você.
Eu não queria soltá-lo, assim como quando ele era um bebê. É a sua risada que senti falta de ouvir todos os dias e aquelas perguntas aleatórias, do nada, que ele fazia com tanta frequência. Ele é uma das únicas coisas no Brasil que eu sentia falta.
— Você ainda tem a sua mãe, sabia?
Olho para cima quando ouço a sua voz. Mamãe sorri para mim. Gabe se afasta quando ela m
— Eu também senti sua falta — sorrio. — Eu não tenho certeza de como vou lidar com isso quando você tiver que viajar novamente, serão meses.Harry assente, e deslizo meus braços em volta de sua cintura. Então ele diz:— Desta vez é diferente, sabe? Antes eu sentia falta da minha cama, mas nunca senti falta de outra pessoa antes. E agora, eu literalmente sinto sua falta o tempo todo.Sorrio e roubo outro beijo.— Acho que vai ficar mais fácil. Quero dizer, passamos todos esses meses juntos. Só temos que nos ajustar com a distância. Vai dar tudo certo.Ele ri, pega um frasco de xampu e diz:— Desde quando você é otimista?Dou de ombros, pego o frasco da mão dele e o faço trocar de lugar comigo, para ele ficar debaixo da água. Rindo, ensaboo um pouco de xampu nas mãos e passo pelo cabelo dele, m
Sara continua a encará-lo enquanto ele sai pela porta dupla de vidro e passa em frente às vidraças, e então ela consegue olhar para mim de novo e percebe o que respondi.— Meu. Deus. Do céu! — exclama, de olhos arregalados e incrédulos. Eu coloco os lábios no canudinho para beber mais um gole.— Tá brincando comigo? — Sua expressão se transforma em puro choque. — Você tem um problema sério, Grace. Sabe disso, não sabe? — Ela se encosta na cadeira, cruza os braços e me encara:— O que ele está fazendo aqui?— Harry é super protetor, ele só estava se certificando de que estou bem.Sei o que Sara está pensando e não sei como contornar isso. Mas Harry não vai me perder de vista enquanto eu estiver insegura em sair. Sem falar que em breve ele terá que voltar para Londre
Sara está me levando até a casa da minha mãe. Passamos pela avenida principal, e vejo aquele beco. Meu estômago embrulha. Queria muito que existisse outro caminho para chegar até a casa da minha mãe, mas esta é a única via de acesso ao bairro. Meus olhos se enchem de lágrimas quando me lembrei do momento em que Ryan me atacou.“— Sai de cima de mim! Me solta! — Minha voz tremeu, mas eu tentei dar a ordem com a maior autoridade possível. Eu podia sentir o cheiro de cerveja em seu hálito e algo mais forte em seu suor, e uma onda de náusea subiu e caiu no meu estômago. Ouvi o som inconfundível de um zíper e ele riu no meu ouvido quando comecei a implorar.— Ryan, pare! Por favor, você está bêbado e vai se arrepender disso amanhã. Por favor, não! Não, não, não! — Sob
— O que aconteceu — ele sussurra, por fim.Não quero falar. Se eu disser em voz alta, vai se tornar real. É real.— Ela está morrendo — digo, entre soluços.— Ela está com câncer, Harry.Ele me aperta mais ainda, me põe no colo e me leva para seu quarto. Então me coloca na cama e puxa as cobertas para cima de mim. Depois de um tempo, a campainha toca. Ele beija minha testa e sai do quarto.Dá para escutar a voz dela após ele abrir a porta, mas não o que ela está dizendo. Harry está falando baixo, mas consigo entender o que ele diz. Então ouço ele dizer:— Ela está precisando de mim agora, Helena.Mais algumas coisas são ditas, mas não consigo distinguir. Depois de um tempo, escuto ele fechar a porta, e ele volta para o quarto. Sobe na cama, coloca os braços ao meu redor
E lá vamos nós.— Grace, estou tentando ao máximo ficar na minha. Mas ele alugou um apartamento há duas quadras da casa da sua mãe! Se não tentar pelo menos negar que esse cara é estranho, então vou imaginar que você está admitindo que seja verdade.Suspiro. Ela tem razão. Do seu ponto de vista, parece que está acontecendo mais do que está. Não tenho escolha a não ser contar a verdade, ou ela vai ficar pensando mal dele.— Tudo bem. Mas, Sara, você precisa...— Juro. Não conto nem para o meu gato.— Tá bom. Bem, lembra do cara dos meus sonhos? Que eu sonhava e sentia que era real? É ele. O cara dos meus sonhos existe, e é Harry.Ela está sorrindo. Hesito antes de continuar. Ela percebe pela minha linguagem corporal que a história não é tão feliz, e
— Não é para enfrentar o câncer, Grace. É para amenizar minha dor. É tudo que eles podem fazer a esta altura.As palavras dela fazem com que eu perca o resto de força que tinha nas pernas. Caio no sofá, baixo a cabeça no meio das mãos e choro. É incrível o tanto de lágrimas que uma pessoa só é capaz de produzir.Pego um lenço da mesinha e respiro fundo algumas vezes, tentando conter o resto das lágrimas. Estou mesmo cansada de tanto chorar. Minha mãe senta ao meu lado, e sinto seus braços cercarem meu corpo, então eu me viro para ela e a abraço.Meu coração dói por causa dela. Por causa de nós duas. Eu a abraço mais forte, com medo de soltá-la. Não posso soltá-la. Após um tempo, ela começa a tossir e tem de se virar. Fico observando-a enquanto ela se
— O que está fazendo? — pergunta o garoto que não sei o nome.— Colocando em ordem alfabética — digo.— Colocando o quê em ordem alfabética? — Harry pergunta, cautelosamente.— Tudo. Primeiro foram os livros que você trouxe, depois achei esses DVDs aqui. — Aponto para as pilhas na minha frente. — Estou colocando em ordem alfabética de acordo com a categoria, tipo: ação, aventura, suspense... E dentro das categorias estou colocando em ordem alfabética por...— Gabriel, vá para sua casa com seu amigo. Vão avisar sua mãe que vocês voltaram — diz Harry, me observando. Eles não se mexem. Ficam olhando para os DVDs na minha frente. — Agora! — Harry grita. Os dois pulam, assustados, desviam o olhar e vão em direção à porta.— Sua irmã &ea
As luzes se acendem, e imediatamente cubro os olhos. Sento e vejo Harry ao meu lado, completamente adormecido.— Ei — sussurra Sara. — Bati na porta, mas ninguém respondeu, estava aberta. — Ela entra e senta no sofá. Fica observando Harry roncar, espalhado no chão da sala. — Eu sabia que ele era um careta — diz ela, revirando os olhos. Dou risada.— O que está fazendo aqui? — pergunto.— Vim ver como você está. Você não atendeu ao telefone nem respondeu minhas mensagens. Sua mãe tem câncer, então você decidiu desistir da tecnologia? Não faz sentido.— Não sei onde meu telefone está.Nós duas ficamos encarando Harry por um momento. Ele está roncando bem alto. Os garotos devem tê-lo deixado exausto.— Bom, acho que as coisas não correram tão bem