— O que está fazendo? — pergunta o garoto que não sei o nome.
— Colocando em ordem alfabética — digo.
— Colocando o quê em ordem alfabética? — Harry pergunta, cautelosamente.
— Tudo. Primeiro foram os livros que você trouxe, depois achei esses DVDs aqui. — Aponto para as pilhas na minha frente. — Estou colocando em ordem alfabética de acordo com a categoria, tipo: ação, aventura, suspense... E dentro das categorias estou colocando em ordem alfabética por...
— Gabriel, vá para sua casa com seu amigo. Vão avisar sua mãe que vocês voltaram — diz Harry, me observando. Eles não se mexem. Ficam olhando para os DVDs na minha frente. — Agora! — Harry grita. Os dois pulam, assustados, desviam o olhar e vão em direção à porta.
— Sua irmã &ea
As luzes se acendem, e imediatamente cubro os olhos. Sento e vejo Harry ao meu lado, completamente adormecido.— Ei — sussurra Sara. — Bati na porta, mas ninguém respondeu, estava aberta. — Ela entra e senta no sofá. Fica observando Harry roncar, espalhado no chão da sala. — Eu sabia que ele era um careta — diz ela, revirando os olhos. Dou risada.— O que está fazendo aqui? — pergunto.— Vim ver como você está. Você não atendeu ao telefone nem respondeu minhas mensagens. Sua mãe tem câncer, então você decidiu desistir da tecnologia? Não faz sentido.— Não sei onde meu telefone está.Nós duas ficamos encarando Harry por um momento. Ele está roncando bem alto. Os garotos devem tê-lo deixado exausto.— Bom, acho que as coisas não correram tão bem
Quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019Passei a noite com Harry e volto para a casa da minha mãe na manhã seguinte. Sento na beirada da cama da minha mãe. Ela está dormindo bem no meio da cama. Fico observando o ritmo de seu corpo enquanto ela respira. A cada respiração, escuto o esforço de seus pulmões dentro do peito. Dos pulmões que a deixaram na mão.Estico o braço e afago seu cabelo. Ao fazer isso, alguns fios caem nos meus dedos. Afasto a mão de novo e lentamente seguro os fios ao redor do dedo. Deito ao lado dela na cama e a abraço. Ela encontra minha mão, e nós entrelaçamos nossos dedos enquanto conversamos sem dizer uma única palavra.Quando minha mãe pega no sono de novo, vou até o mercado. A comida preferida de Gabe é pizza caseira. Compro tudo que vou precisar para a refeição, volto p
Uma hora depois, uma variedade de pizzas está na mesa. Nunca seremos capazes de comer tudo isso.— Gabe, que tal ver se teu amigo já almoçou? E aproveite e chame Harry também — diz minha mãe, olhando para a mesa cheia ao mesmo tempo que eu. Gabriel sai em disparada pela porta.Ela coloca mais dois lugares na mesa enquanto eu encho os copos com suco.— Harry provavelmente vai nos ajudar com Gabe — digo para ela.— Por quê?— Porque quero levar você para os tratamentos de agora em diante. É demais para a sua amiga.— Tudo bem. — Ela olha para mim e sorri.Gabriel e o amigo Lucas entram correndo pela porta da frente, e um instante depois chega Harry, que pergunta, hesitante:— Gabe disse que vamos comer pizza caseira?— Isso — minha mãe responde, colocando pizza nos pratos. Harry se aproxima da mesa
Terça-feira, 12 de fevereiro de 2019Londres, InglaterraAbsorto em pensamentos, estaciono o jipe perto do beco. Nunca vim a esta parte da cidade. Mal sabia que existia. O céu está mergulhado na escuridão, a chuva fraca me deixa ainda mais irritado. Meus olhos se voltam para o painel do carro. Duas e meia da manhã.Eu prometi a mim mesmo que não apareceria quando ele me ligasse. Suas atitudes criaram uma enorme cratera em nossa relação, destruindo tudo o que fomos um dia. Mas eu sei que não poderei cumprir a promessa de ficar longe. Ele é meu irmão. Mesmo quando estraga tudo, o que acontece com frequência, ele ainda é meu irmão.Pelo menos dez minutos se passam até eu ver Natan sair mancando do beco, pressionando um lado do corpo com a mão. Endireito-me no banco e meus olhos encontr
Quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019Londres, Inglaterra“Carlo Bernardi, filho de Paola Bernardi, morre em terrível acidente de carro.”Paro o carro quando vejo Natan perto da igreja onde está tendo o velório do rapaz. Nate olha para mim antes de se virar e caminhar na direção oposta. Vou atrás dele, chamando seu nome.— Escute, eu entendo — ele bufa, virando-se para mim. — Sei o que parece. Mas eu juro que eu não fiz isso! Não causei a morte daquele garoto. — Ele anda de um lado para o outro. — Não matei aquele garoto!Eu não digo nada. Fico olhando para ele, seus olhos azuis cheios de emoção. Ele passa as mãos pelo cabelo, se ajoelha, passa a mão o nariz e funga.— Por que você ainda está aqui, Harry?
Depois de passar horas conversando com minha mãe sobre Harry, estou na cama falando com ele pelo celular. São duas horas da manhã aqui e ele parece não ter planos de desligar.— Foi mal ligar tão tarde — suspiro. — Quer dizer, aí é cedo demais...— Não tem problema. Só estava deitado aqui, abraçando meu travesseiro, pensando em você.Rio de seu comentário.— Você não dormiu?— Dormi sim, mas acordei cedo para ir na academia, aí você ligou e eu não quis levantar, prefiro ficar aqui... tá tudo bem?— Conversei muito com minha mãe hoje... falamos sobre o quão bom você é para mim... ela me deu um presente e pediu perdão.— Sério? Isso é muito bom!— Estou nervosa... quero dizer que a amo e que já perdoei
— Lembro da conversa a que ela está se referindo, mas na hora eu não consegui escutar o que eles estavam dizendo. — Quando ele abriu a porta, eu disse para ele que você precisava vir para casa. Que nós precisávamos conversar sobre o assunto. Ele olhou para mim com uma expressão de mágoa e disse: “Deixe-a ficar, Helena. Ela está precisando de mim agora.”— Grace, aquilo partiu meu coração. Foi de partir o coração saber que você precisava mais dele do que de mim. Assim que as palavras saíram da boca de Harry, percebi que você tinha crescido... Harry percebeu isso. Ele viu o quanto as palavras dele me magoaram. Quando me virei para voltar para casa, ele me seguiu pelo corredor e me abraçou. Disse que nunca tiraria você de mim. Que ia deixar você se concentrar em mim e no tempo que me restava. — Ela coloca o presente embrulha
Ficamos em silêncio por um tempo, só observando o movimento do aeroporto, até que pergunto:— O que sua mãe mais gostava de fazer?Ele não responde de imediato. Fecha os olhos e, quando os abre novamente, estão marejados.— Eu não falo dela...— Eu sei — respondo.— Ela tinha um costume de comprar tudo novo no Natal. Eu ganhava roupas novas, mas só no Natal. Ela nos fazia assistir ao filme do Expresso Polar. Ela... — ele ri, passando o dedo na testa. — Ela amava o Natal.— Qual a melhor história sobre ela? — pergunto, beijando levemente seus lábios.— Humm, ela era uma sonhadora. Comprou a casa sozinha, sem ajuda do meu pai. Era a casa dos sonhos dela. Acho que ela sonhou tanto com a casa até se tornar realidade. Assim como sonhei com você. — Enrolo seu cabelo em meus dedos. E ele beija a