Quando Harry desce as escadas, já lavei uma carga de roupas claras e coloquei as escuras na secadora e, enquanto descarregava a máquina de lavar louça, consegui engolir dois pedaços de banana e algumas colheres de iogurte.
— Vou levar Teddy para a escola — ele diz, pegando o que restou da minha banana. — Descobri que isso vai te ajudar um pouco.
— Você não precisa. Eu já planejava fazer isso.
Ele encolhe os ombros.
— Não é como se eu tivesse algo para fazer. Você está sempre correndo pra lá e pra cá. Aproveite a manhã para relaxar.
O problema com isso é que eu não sou capaz de relaxar ultimamente. Eu tenho tanto a fazer que até minha bomba de banho semanal é um incômodo muito grande, porque acho que estou perdendo tempo. Acho que fiquei na banheira p
Houve raros momentos em que quase me convenci de que conseguiria fazer isso. Harry sorria do jeito que sorria quando via algo engraçado na TV e uma covinha surgia em sua bochecha, ou ele soltava aquela risada grave, ou cantava algo baixinho no meu ouvido enquanto eu lavava a louça, e eu tinha que me perguntar o que no mundo me faria não querer ter algo que fosse metade dele - algo que ri como ele, sorri como ele e tem olhos da mesma tonalidade que os dele.Como eu poderia não querer isso?Como eu poderia não querer um bebê que é tão bom quanto ele?Então eu tinha que me lembrar que não importa o quão bom isso seja, quão perfeito e inocente ele seja.Porque nada disso importa se eu não posso ser a mãe que ele merece, se eu não posso amá-lo como deveria, apoiá-lo como deveria e cuidar dele como precisa.Eu fui filha de uma mãe com depr
— Pare de me pedir para colocar meu trabalho em espera só porque você praticamente não trabalha mais!As palavras saem tão quentes na minha língua que sinto o calor percorrer todo o meu corpo, e minhas entranhas queimam quando o rosto de Harry empalidece em um olhar que eu nunca tinha visto antes, como se eu o tivesse machucado fisicamente com essas palavras.— Sinto muito — gaguejo, todos os músculos do meu peito ficam tão tensos que é impossível respirar.— Eu não quis dizer isso... eu não quis dizer... eu não...Fico tonta, mas não da maneira que ele me faz sentir quando me beija.É o tipo de tontura que me permite sentir todo o meu corpo fraco.Cambaleio e seguro-me no balcão.— Grace — a voz de Harry interrompe a agitação em torno dos meus ouvidos, o som distante, mas tão
Domingo, 21 de abril de 2024Londres, InglaterraEstou ocupada com preparativos para o jantar, quando meu telefone começa a tocar no balcão, mas não fico chateada com a interrupção quando vejo quem está ligando.— Oi, Gracie! —Quando o vídeo focaliza, Gabe sorri amplamente para mim, seus olhos protegidos por um par de óculos de sol.Tenho um vislumbre de Sara sentada no banco do motorista, uma mão segurando o volante enquanto olha para mim rapidamente.— Oi Graceeee!Eu nunca percebi o quão feliz ver duas pessoas poderia me fazer; meu estresse semanal desaparecendo no segundo em que os vejo sorrindo.— O que vocês dois estão fazendo acordados tão cedo? — pergunto. Com a diferença de fuso horário, devia ser cerca de seis ou sete da manhã.
— Posso ajudar com algo? — Harry pergunta quando chega na cozinha. — Sim, você pode ir entreter nossos convidados enquanto eu termino o jantar. Ele vai para a sala ao meu pedido, deixando-me amassar as batatas e misturar o molho.Eu geralmente acho a arte de cozinhar relaxante, mas hoje tudo em que consigo pensar é na bagunça que terei que limpar quando todos irem embora.Visitas não são tão fáceis de hospedar como os filmes fazem parecer. — Posso fazer alguma coisa? — Michele, esposa de George, pergunta, colocando sua taça vinho no balcão. — Ah, não — sorrio.— Relaxe.Está tudo bem. Ela sorri, dando um leve aperto no meu ombro e volta para a sala, deixando-me sozinha até que ouço mais passos no corredor.Eu estava meio que esperando Harry, famoso por não ser capaz de esperar até que o jantar estivesse na mesa, mas fico surpresa quando não é ele. — Rebecca! — sorrio quando a vejo. — O
— Ei — a voz de Harry, levemente preocupada, me irrita.— O que há de errado?Solto uma risada, e viro-me para encará-lo.— O que há de errado? — pergunto.— Você disse para eles que estamos tentando ter um bebê!Ele ergue uma sobrancelha, aparentemente confuso sobre qual é o problema.— Sim, quero dizer, ela me perguntou quais eram nossos planos, então eu disse a ela.— Você não deveria ter feito isso.Ele está tão confuso - completamente alheio - que sua testa inteira está franzida.— Não achei que fosse grande coisa.A maioria das coisas para ele não são grande coisa.— É privado, Harry — retruco, com a voz baixa, não querendo que todos ouçam.— É entre mim e você, e você n&a
Londres, InglaterraDomingo, 14 de outubro de 2018Uma hora depois que eles saem, a campainha toca. Pego minha pistola do sofá e a coloco na parte de trás da calça. Ao abrir a porta, vejo apenas um envelope da FedEx no chão, com o nome do remetente na frente: Seu amigo, C.Olho para o envelope, paralisada. Como ele descobriu esse novo endereço? Eu deveria abrir na presença de Harry. Mas não quero esperar.Com as mãos tremendo, abro o envelope. No interior, encontro duas notas: um papel dobrado e um cartão, preso por um anzol colorido, ligado a um pedaço curto de linha. O cartão diz:“Dedicado a Grace Heinz... Só estou começando.”É um anzol de pescador. Mas por quê? Não faz sentido. Chase está brincando comigo? Isso é algum tipo de jogo? Abro o outro papel
Antes de voltar para Londres Domingo, 2 de setembro de 2018 Acordamos algumas horas depois, com uma enfermeira entrando no quarto com o café da manhã. Não estou com fome, mas sei que preciso comer, então escolho uma fruta, mastigo e engulo. — O que vamos fazer? — pergunto para Harry. — Quando chegarmos em Londres, terei que me internar em uma clínica em Manchester, por causa das drogas que injetaram, e teremos que fazer terapia. Acho que você deveria voltar para casa. — Harry sorri. Meu estômago revira. Harry fala isso como se fosse simples. Voltar para casa. Eu não tenho casa. E eu não quero fazer terapia. Ele aponta com a cabeça para a bandeja. — Pegue dois pãezinhos. Você precisa comer. Sorrio e como devagar. Então me ocorre que eu talvez esteja conhecendo o verdadeiro Harry só agora. É diferente quando não estamos presos e forçados a fazer coisas sob o risco de
Acordo assustada e sem fôlego. Minhas mãos tremem e quando olho para cima, vejo Hannah. — Você está bem? — pergunta, apavorada. — Não sei — respondo, confusa. Meu coração está batendo muito rápido. — O que aconteceu? Hannah solta um suspiro e relaxa seus ombros. — Foi um pesadelo. Acordei com seus gritos, entrei aqui e vi você se debatendo. — Me desculpe, Hannah. Nem lembro o que estava sonhando — minto, deito de lado e tento acalmar a minha respiração irregular. — Como está se sentindo? — pergunta ela. — Entorpecida — respondo e fecho os olhos. Não consigo sentir nada agora. Quando abro meus olhos, Hannah está olhando fixamente para mim, com preocupação estampada em seu rosto. Eu realmente gostaria que ela não olhasse para mim desse jeito; isso me faz sentir estranha, como se eu fosse diferente agora. Eu sei que estou, mas podemos apenas fingir que eu não estou? — Que horas são? — pergunto. — Quase três