Harry
Corro até o carro, e antes que Natan consiga entrar no lado do passageiro, travo todas as portas. Ele fica boquiaberto ao me observar do lado de fora. E eu não gosto nada de fazer isso com ele. Natan bate na janela ao meu lado. Abro apenas uma fresta.
— O que você pensa que está fazendo?
— Se estivéssemos lidando com um assassino normal, podíamos ir juntos. Mas Chase não é normal. Nós o subestimamos. Ele nos colocou nesse lugar distante só para poder capturar Grace. E agora vai matá-la se eu não for sozinho.
— Mas ele não tem que saber, Harry!
Balanço a cabeça miseravelmente.
— Ele vai saber, Natan! Ele tem antecipado cada movimento meu desde que tudo começou.
Antes que Natan possa continuar seu protesto, fecho o vidro e saio em disparada. Eu sei que Natan vai me seguir, mas ante
Há poucos momentos atrás, jurei vingança contra Chase e agora ele está indefeso aos meus pés. Pego a faca, ajoelho-me e encaro os olhos sombrios dele. Não me lembro de alguma vez ter vislumbrado tamanho terror em alguém. E a verdade é que ele tem boas razões para estar aterrorizado. Deve se lembrar das palavras que eu lhe disse: “Acredite em mim, não faz ideia do significado da palavra dor. Mas vai descobrir.”Sinto a minha fúria aumentar novamente, com aquela sede de sangue. Posso fazer isso agora. Posso esquartejar Chase membro a membro. Talvez até arrancar o seu coração ainda pulsando, assim como havia ameaçado. Eu sei que não é impossível. Mas, ainda com a faca na mão, hesito. Algo na expressão de Chase muda. Retiro a fita adesiva da sua boca. Ele tenta respirar enquanto fala:— É o que ele que
Grace19h53Minhas mãos tremem quando tento soltar Angela. Estou preocupada com Harry, ele está demorando demais. Alguns minutos se passam quando ouço seus gritos. São gritos de gelar o sangue. E meu mundo desaba. O formigamento nos braços e no peito é intenso, e a minha pele coça.Não, não, agora não. Estou tendo uma crise de pânico. Apoio-me no encosto do sofá e tento permanecer em pé, mas deslizo pela almofada, batendo de lado com a cabeça no chão. Deitada, vejo a sala girar sem nitidez. Minhas mãos desesperadas tentam alcançar o bolso lateral da calça jeans, mas o gesto demanda muito esforço. Finalmente, consigo. Aperto o cabo do canivete entre os dedos.— Me solta! — ouço Angela gritar, e percebo que ela tenta se soltar, mesmo com uma arma apontada para a sua cabe&cced
DevonDeixo Grace no carro e volto para dentro da casa para buscar Harry. Quero sumir com o corpo dele. Arrasto-o até o porta malas.Dirijo atento ao limite de velocidade, enquanto espero meu ritmo cardíaco voltar ao normal. Foi por pouco. Pelo retrovisor, vejo Grace deitada no banco traseiro com a cabeça recostada na porta. Ela está muito suada e machucada. Entre desmaios e gemidos, ela dorme e acorda, dorme e acorda.Depois de alguns minutos, ela pergunta se falta muito para chegar ao hospital. Digo que não. Ela está tão zonza que não olhou para fora, ainda não se deu conta de que não estamos indo para o hospital.Chase quase colocou tudo a perder. Eu o ajudei, para que eu pudesse me aproximar de Grace. Mas Chase me traiu. Me deixou para trás, para ser capturado por eles. Consegui fugir antes que chegassem. Agora Chase está morto e Grace está comi
— Quando percebi que você estava esperando que Harry fosse te salvar hoje, tirei o desgraçado do caminho no mesmo instante... E terei pelo menos uma noite. Uma noite como aquelas que eu tive com a minha garota. Depois, não preciso mais de você.Estou com a visão embaçada. Há cada vez mais manchas pretas diante dos meus olhos. Acaba aqui. Ele vai me estuprar e me matar logo depois. Quando alguém notar o meu desaparecimento, já será tarde demais.Devon desce a calça jeans e a cueca e abre as minhas pernas. Lentamente, enquanto ele se distrai em masturbar o membro enrijecido, baixo o braço livre e, dobrando um pouco o tronco para a esquerda, alcanço com a ponta dos dedos, o cabo do martelo. O movimento é quase imperceptível, e eu o disfarço com um gemido de dor. Esticando-me um pouco mais, consigo segurar o martelo firmemente.Devon se aproxima entre
Dezembro de 2018O dicionário define luto como: angústia ou sofrimento mental profundo por uma perda; mágoa lancinante; tristeza profunda.Mas na vida, luto pode parecer com muitas coisas que guardam apenas uma pequena semelhança com "tristeza profunda."Segundo Elizabeth Kluber Ross, quando estamos morrendo ou sofremos uma perda irreparável, nós todos passamos por 5 estágios diferentes de luto.Primeiro o da negação. Porque a perda é tão absurda que não conseguimos imaginar que seja verdade. Ficamos com raiva de todo mundo. Raiva de quem sobreviveu. Raiva de nós mesmos. Tentamos negociar: pedimos e imploramos. Oferecemos tudo que temos. Oferecemos até as nossas almas em troca de só mais um dia. Quando a negociação falha e a raiva fica difícil de suportar, caímos em depressão, desespero... até
Londres, InglaterraSábado, 27 de outubro de 2018RebeccaQuando Grace vai para cama à noite, eu a ouço se contorcer e se remexer. Ouço-a chorar e gritar o nome de Harry. Fico parada do lado de fora da porta de seu quarto, querendo fazer isso desaparecer, mas sabendo que não posso. Quando fui visitar meu irmão, contei isso para ele. Harry disse que não há nada que eu possa fazer. “Apenas fique ao lado dela, e não deixe que se corte”, disse ele.Não sabia que ela tinha comportamento suicida. Quando abordei o assunto, ela respondeu que se quisesse realmente se matar, não haveria nada que eu pudesse fazer. Porque ela pode se afogar na banheira. Ou pode cortar uma artéria com uma faca de cozinha. Ela poderia até pular de uma ponte. Ou saltar da plataforma do metrô.
Mais tarde, Grace senta-se à mesa da cozinha novamente, e segura um envelope pardo com seu nome. Preparo o jantar para nós duas. A TV está ligada na sala, e o som escapa para a cozinha, compensando o silêncio entre nós.Grace parece não perceber, mas nesses dias, esse vazio me deixa uma pilha de nervos, e então jogo conversa fora para disfarçar o silêncio.— O que acha de pedaços de frango na salada? — pergunto. Ela dá de ombros. — Prefere arroz integral ou branco? — quero saber, mas ela não responde.— Farei o frango — digo. — Harry gosta de frango. — Mas sabemos que ele não estará em casa.— O que é isso? — pergunto, apontando para o envelope que ela tem nas mãos.— O quê? — Grace indaga.— O envelope.— Ah — diz ela. — Isto
Dirigimos pelas ruas da vizinhança. Tudo tão silencioso. As crianças voltaram para a escola depois da nevasca de duas semanas, que não estava prevista, e agora não ficam mais no gramado da frente construindo bonecos de neve nem fazendo guerra de bolas de neve com risadas altas e estridentes, sons tão estranhos em nossa casa pouco comunicativa. Algumas casas já colocaram luzes de Natal, e há um Papai Noel inflável caído e inerte sobre um monte de neve.Quando chegamos ao consultório da doutora Thompson, sento-me em uma poltrona, enquanto Grace, relutantemente, arrasta-se até o sofá. Estantes do chão ao teto estão cheias de livros em uma parede. Pela janela, que a doutora mantém com as persianas fechadas, apenas uma quantidade escassa de luz adentra à sala, proporcionando privacidade e um pouco de aconchego. A sala é escura e discreta. Ajeito meu su&eacu