Devon
Deixo Grace no carro e volto para dentro da casa para buscar Harry. Quero sumir com o corpo dele. Arrasto-o até o porta malas.
Dirijo atento ao limite de velocidade, enquanto espero meu ritmo cardíaco voltar ao normal. Foi por pouco. Pelo retrovisor, vejo Grace deitada no banco traseiro com a cabeça recostada na porta. Ela está muito suada e machucada. Entre desmaios e gemidos, ela dorme e acorda, dorme e acorda.
Depois de alguns minutos, ela pergunta se falta muito para chegar ao hospital. Digo que não. Ela está tão zonza que não olhou para fora, ainda não se deu conta de que não estamos indo para o hospital.
Chase quase colocou tudo a perder. Eu o ajudei, para que eu pudesse me aproximar de Grace. Mas Chase me traiu. Me deixou para trás, para ser capturado por eles. Consegui fugir antes que chegassem. Agora Chase está morto e Grace está comi
— Quando percebi que você estava esperando que Harry fosse te salvar hoje, tirei o desgraçado do caminho no mesmo instante... E terei pelo menos uma noite. Uma noite como aquelas que eu tive com a minha garota. Depois, não preciso mais de você.Estou com a visão embaçada. Há cada vez mais manchas pretas diante dos meus olhos. Acaba aqui. Ele vai me estuprar e me matar logo depois. Quando alguém notar o meu desaparecimento, já será tarde demais.Devon desce a calça jeans e a cueca e abre as minhas pernas. Lentamente, enquanto ele se distrai em masturbar o membro enrijecido, baixo o braço livre e, dobrando um pouco o tronco para a esquerda, alcanço com a ponta dos dedos, o cabo do martelo. O movimento é quase imperceptível, e eu o disfarço com um gemido de dor. Esticando-me um pouco mais, consigo segurar o martelo firmemente.Devon se aproxima entre
Dezembro de 2018O dicionário define luto como: angústia ou sofrimento mental profundo por uma perda; mágoa lancinante; tristeza profunda.Mas na vida, luto pode parecer com muitas coisas que guardam apenas uma pequena semelhança com "tristeza profunda."Segundo Elizabeth Kluber Ross, quando estamos morrendo ou sofremos uma perda irreparável, nós todos passamos por 5 estágios diferentes de luto.Primeiro o da negação. Porque a perda é tão absurda que não conseguimos imaginar que seja verdade. Ficamos com raiva de todo mundo. Raiva de quem sobreviveu. Raiva de nós mesmos. Tentamos negociar: pedimos e imploramos. Oferecemos tudo que temos. Oferecemos até as nossas almas em troca de só mais um dia. Quando a negociação falha e a raiva fica difícil de suportar, caímos em depressão, desespero... até
Londres, InglaterraSábado, 27 de outubro de 2018RebeccaQuando Grace vai para cama à noite, eu a ouço se contorcer e se remexer. Ouço-a chorar e gritar o nome de Harry. Fico parada do lado de fora da porta de seu quarto, querendo fazer isso desaparecer, mas sabendo que não posso. Quando fui visitar meu irmão, contei isso para ele. Harry disse que não há nada que eu possa fazer. “Apenas fique ao lado dela, e não deixe que se corte”, disse ele.Não sabia que ela tinha comportamento suicida. Quando abordei o assunto, ela respondeu que se quisesse realmente se matar, não haveria nada que eu pudesse fazer. Porque ela pode se afogar na banheira. Ou pode cortar uma artéria com uma faca de cozinha. Ela poderia até pular de uma ponte. Ou saltar da plataforma do metrô.
Mais tarde, Grace senta-se à mesa da cozinha novamente, e segura um envelope pardo com seu nome. Preparo o jantar para nós duas. A TV está ligada na sala, e o som escapa para a cozinha, compensando o silêncio entre nós.Grace parece não perceber, mas nesses dias, esse vazio me deixa uma pilha de nervos, e então jogo conversa fora para disfarçar o silêncio.— O que acha de pedaços de frango na salada? — pergunto. Ela dá de ombros. — Prefere arroz integral ou branco? — quero saber, mas ela não responde.— Farei o frango — digo. — Harry gosta de frango. — Mas sabemos que ele não estará em casa.— O que é isso? — pergunto, apontando para o envelope que ela tem nas mãos.— O quê? — Grace indaga.— O envelope.— Ah — diz ela. — Isto
Dirigimos pelas ruas da vizinhança. Tudo tão silencioso. As crianças voltaram para a escola depois da nevasca de duas semanas, que não estava prevista, e agora não ficam mais no gramado da frente construindo bonecos de neve nem fazendo guerra de bolas de neve com risadas altas e estridentes, sons tão estranhos em nossa casa pouco comunicativa. Algumas casas já colocaram luzes de Natal, e há um Papai Noel inflável caído e inerte sobre um monte de neve.Quando chegamos ao consultório da doutora Thompson, sento-me em uma poltrona, enquanto Grace, relutantemente, arrasta-se até o sofá. Estantes do chão ao teto estão cheias de livros em uma parede. Pela janela, que a doutora mantém com as persianas fechadas, apenas uma quantidade escassa de luz adentra à sala, proporcionando privacidade e um pouco de aconchego. A sala é escura e discreta. Ajeito meu su&eacu
Quarta-feira, 07 de novembro de 2018GraceEssa casa parece fria, vazia e escura. Puxo uma manta sobre meu corpo e vejo as chamas. Eu devo ter adormecido, porque a próxima coisa que eu sei é que é de manhã e Rebecca está fazendo barulho na cozinha. Ela faz ovos e torradas e fica comigo até que eu tenha comido tudo. Nós não falamos muito. Depois do café da manhã, Becca lava os pratos e sai para trabalhar, mas ela volta na hora do almoço para me fazer comer novamente. Ela cozinha, eu como.Harry ainda está internado. A droga injetada nele quase o matou, e ainda está causando efeitos colaterais. E eu tento descobrir o meu próximo passo. Não há nenhum obstáculo agora tomando a minha vida. Mas parece que estou esperando por algo. Às vezes, o telefone toca, toca e toca, mas eu não o pego.A &uacut
Naquela noite, sentei na minha cama com meu celular na mão e liguei para minha mãe. Eu não disse nada quando ela atendeu, mas ouvir a voz dela foi muito bom. Era disso que eu precisava.— Grace? — Dava até para sentir o alívio em sua voz. — Oi, filha. Você não vai falar nada? — Ela faz uma pausa. — Tudo bem. Eu sempre fui meio tagarela mesmo.Coloquei o telefone no viva-voz e deitei na cama, fechando os olhos enquanto ela contava tudo que eu tinha perdido.— Seus avós estão na cidade nos visitando, e imagino que você não saiba o quanto eles me deixam louca, pois você era muito pequena quando os conheceu. Eles estão de mudança para São Paulo, e seu irmão achou que seria uma ótima ideia eles passarem um tempo aqui antes de irem. Já faz três semanas que chegaram, e eu j&aa
Sábado, 10 de novembro de 2018Vault Beach, Gorran HavenReino UnidoA vizinhança parece estranhamente vazia enquanto eu caminho na direção da praia quase deserta. Eu não vi animais, não vi nada de pássaros, nada de esquilos. Eu também não ouvi os pássaros.Harry e eu alugamos um chalé aqui em Vault Beach, depois que tive outro ataque histérico de pânico. Ele me perguntou o que me acalmaria, e eu lembrei do mar. O som do mar me acalma. Chegamos há mais ou menos meia hora, e falei para Harry que iria conhecer a praia enquanto ele descarregava as malas.O silêncio é melancólico; há apenas o som do vento nas árvores. As nuvens estão se agitando. Em breve virá uma grande chuva gelada. O céu tem um horrível plano para hoje. Os animais dev