Londres, Inglaterra
Domingo, 14 de outubro de 2018
13h43
Paro o carro no estacionamento ao lado da estrada. Meu telefone está tocando, mas não reconheço o número. Atendo e ouço uma voz familiar:
— Aposto que já estava pensando sobre quando iria ter notícias minhas. — Chase. Quando não respondo, ele continua: — Não se dê ao trabalho de localizar a chamada. Esse telefone é descartável e de qualquer maneira, consigo desaparecer rapidinho.
— Onde você está? — pergunto.
Chase solta uma risada.
— Eu não sou tão previsível como você queria, não é? Acredite em mim, sou tudo menos previsível. Não estou perto, estou muito longe de Londres agora, mas ele está um pouco mais perto.
— Como sabe que tem mais?— Me conte.— Tinha mais uma nota: “A vingança não vai reduzir ou prevenir o mal, porque ele já aconteceu. Mas a pergunta é: o mal já aconteceu para você, Grace?” Talvez eu não seja mais do que um fantoche nas mãos de Chase — falo, tristemente.Harry me encara.— Não fale assim. Nós vamos resolver isto. Estamos nisto juntos. Eu não vou deixá-lo chegar perto de você.Eu queria que as palavras de Harry me confortassem, mas as preocupações estão me deixando pior.Inclino-me para ver melhor o corpo cravejado de balas da vítima, dentro do carro, sentado no banco de motorista. Está anoitecendo e uso a lanterna do celular. Os olhos abertos da jovem morta parecem estar me fitando, como se perguntasse: Por quê? Como eu desejo ter uma resp
A última vez que Harry me puxou enquanto corríamos, foi para fugir daquele lugar na Tailândia. Cerro os dentes e tento não pensar sobre isso. Isso não pode acontecer outra vez. Não pode.Ele corre mais rápido do que eu, e arquejo enquanto avançamos rapidamente pelo piso liso e gelado. Quando chegamos na cobertura, entrecerro os olhos para tentar enxergar em meio à escuridão.— O que houve? — pergunto.— Olhe — Natan diz, apoia as mãos nos joelhos e respira fundo.— O quê? — pergunto. — Onde?— O nome dela é Maria. Trabalha na área da limpeza daqui da casa. Mas não parece ela. Sua voz está muito... inexpressiva.Levo a mão ao peito para sentir o bater do meu coração. Ele está rápido demais. Nem sei como ainda estou respirando. O ar noturno est&aac
Eu não irei. Sei que Chase virá até mim. Se ele foi capaz de entrar e drogar aquela mulher sem que ninguém notasse, ele pode fazer qualquer coisa. Coloco o travesseiro na cama, me levanto e digo:— Não tente simplificar a situação. Você sabe muito bem que essa é a coisa certa a se fazer.— Você escolheu esse momento para agir como alguém altruísta? — Sua voz preenche o quarto, arregalo os olhos e meu coração acelera. Sua raiva nunca foi direcionada para mim antes. — Grace, você passou aquele tempo todo naquela casa, insistindo que era egoísta demais, por pensar em se salvar, e agora que sua vida está em jogo, você quer agir como uma heroína? Qual é o seu problema?— Qual é o meu problema? Pessoas inocentes morreram! Uma mulher se jogou do telhado! E eu posso impedir que isso ocorra novamente!
Londres, InglaterraTerça-feira, 16 de outubro de 201810h02HarryAs primeiras coisas que vejo quando acordo, são os arranhões nos seus braços. Ela disse que não ia mais se machucar. Estendo a mão e toco suas cicatrizes com as pontas dos dedos, e Grace abre os olhos. Eu a puxo para mim, com a mão no seu quadril. Seus olhos estão grandes, alertas, embora ela tenha acabado de acordar. Beijo a sua bochecha, depois o seu queixo, depois o seu pescoço, parando ali por alguns segundos. Suas mãos seguram a minha cintura com mais força, e ela suspira no meu ouvido. Preciso dela de novo, meu autocontrole está prestes a desaparecer em cinco, quatro, três...— Harry — sussurra ela. — Odeio ter que dizer isso, mas... acho que temos algumas coisinhas para fazer hoje.— Elas p
Harry16h05Estou preocupado. Sinto que deixar Grace presa naquele quarto foi uma péssima ideia. Ela vai me odiar e nunca irá me perdoar. Mas estou desesperado, não sei mais o que fazer.Depois de quatro horas, chegamos no local da última pista. O armazém está vazio. Isto não faz parte do plano. Chase e Devon deveriam estar aqui e seriam pegos de surpresa. Com Natan liderando, passamos as portas duplas entreabertas da entrada. Segurando as armas e as lanternas à nossa frente, verificamos cada entrada à medida que avançamos através de um amplo corredor. Paramos e ouvimos. Não há nenhum som de vida aqui dentro.Natan diz suavemente:— Temos que ver melhor estas salas.Três homens separaram-se para verificar. Viro a lanterna para uma escada circular que começa no final do corredor. Subo. Empurro a porta
HarryCorro até o carro, e antes que Natan consiga entrar no lado do passageiro, travo todas as portas. Ele fica boquiaberto ao me observar do lado de fora. E eu não gosto nada de fazer isso com ele. Natan bate na janela ao meu lado. Abro apenas uma fresta.— O que você pensa que está fazendo?— Se estivéssemos lidando com um assassino normal, podíamos ir juntos. Mas Chase não é normal. Nós o subestimamos. Ele nos colocou nesse lugar distante só para poder capturar Grace. E agora vai matá-la se eu não for sozinho.— Mas ele não tem que saber, Harry!Balanço a cabeça miseravelmente.— Ele vai saber, Natan! Ele tem antecipado cada movimento meu desde que tudo começou.Antes que Natan possa continuar seu protesto, fecho o vidro e saio em disparada. Eu sei que Natan vai me seguir, mas ante
Há poucos momentos atrás, jurei vingança contra Chase e agora ele está indefeso aos meus pés. Pego a faca, ajoelho-me e encaro os olhos sombrios dele. Não me lembro de alguma vez ter vislumbrado tamanho terror em alguém. E a verdade é que ele tem boas razões para estar aterrorizado. Deve se lembrar das palavras que eu lhe disse: “Acredite em mim, não faz ideia do significado da palavra dor. Mas vai descobrir.”Sinto a minha fúria aumentar novamente, com aquela sede de sangue. Posso fazer isso agora. Posso esquartejar Chase membro a membro. Talvez até arrancar o seu coração ainda pulsando, assim como havia ameaçado. Eu sei que não é impossível. Mas, ainda com a faca na mão, hesito. Algo na expressão de Chase muda. Retiro a fita adesiva da sua boca. Ele tenta respirar enquanto fala:— É o que ele que
Grace19h53Minhas mãos tremem quando tento soltar Angela. Estou preocupada com Harry, ele está demorando demais. Alguns minutos se passam quando ouço seus gritos. São gritos de gelar o sangue. E meu mundo desaba. O formigamento nos braços e no peito é intenso, e a minha pele coça.Não, não, agora não. Estou tendo uma crise de pânico. Apoio-me no encosto do sofá e tento permanecer em pé, mas deslizo pela almofada, batendo de lado com a cabeça no chão. Deitada, vejo a sala girar sem nitidez. Minhas mãos desesperadas tentam alcançar o bolso lateral da calça jeans, mas o gesto demanda muito esforço. Finalmente, consigo. Aperto o cabo do canivete entre os dedos.— Me solta! — ouço Angela gritar, e percebo que ela tenta se soltar, mesmo com uma arma apontada para a sua cabe&cced