Collin Morris Eu mal podia acreditar no que estava acontecendo. Era uma tarde cinzenta e fria, e a casa parecia mergulhada em um silêncio inquietante, interrompido apenas pelo som ocasional do vento batendo na janela. Manuela, agora com oito meses de gestação, repousava no quarto enquanto eu permanecia na sala, tentando organizar os meus pensamentos depois de tantos conflitos internos. Ainda me recuperava das emoções que a consulta de ultrassonografia havia despertado, das conversas sinceras durante o almoço, dos diálogos repletos de promessas e incertezas. Mas nada poderia me preparar para o que estava prestes a acontecer.Enquanto eu revisava mentalmente os eventos dos últimos dias, o telefone de Manuela começou a tocar. Eu sabia que ela raramente atendia chamadas naquele horário, e uma pontada de apreensão percorreu o meu corpo. Em meio à confusão de sentimentos, decidi ficar no corredor, com o coração batendo forte, para não interromper o que quer que ela estivesse fazendo.Pouco
Manuela Morris A dor vinha em ondas avassaladoras, sugando toda a minha energia e deixando meu corpo trêmulo. Eu apertava com força a mão de Collin, que estava ao meu lado, mais nervoso do que eu. Meu coração pulsava acelerado, misturando a dor física com a ansiedade e a emoção de finalmente trazer nossos bebês ao mundo.O hospital estava em alvoroço. Enfermeiras corriam de um lado para o outro, médicos se preparavam, e eu sentia o suor escorrendo pela minha testa.— Você está indo muito bem, amor — Collin murmurou ao meu lado, sua voz trêmula de preocupação.Tentei rir, mas só consegui soltar um gemido de dor.— Se isso é ir bem, então eu nem quero saber o que é ir mal — sussurrei entre respirações pesadas.— Você é forte, Manuela. Eu estou aqui com você.As palavras dele aqueceram meu coração, mas outra contração me atingiu como um raio. Meu corpo inteiro se retesou, e eu gritei, agarrando o lençol da maca como se minha vida dependesse daquilo.A Dra. Santana se aproximou, com um o
Collin Morris O inverno em Paris era severo, e as janelas do meu escritório na Morris Enterprise estavam embaçadas pelo frio. Do alto do prédio, eu podia ver a cidade movimentada, as pessoas caminhando apressadas, tentando escapar do vento cortante.Dois meses haviam se passado desde que nos mudamos para a França. Manuela e os bebês estavam bem, e nossa vida parecia estar finalmente entrando em equilíbrio. Eu tentava dividir meu tempo entre a empresa e minha nova família, algo que nunca imaginei fazer.Ser pai era… inesperadamente transformador.Antes, minha vida girava em torno de negócios, reuniões e estratégias. Agora, minha rotina também incluía mamadeiras, noites em claro e um amor que eu sequer sabia que poderia sentir.Helena e Caio eram tudo para mim.E Manuela…Bem, Manuela havia mostrado uma força que me fazia admirá-la cada vez mais. Cuidava dos nossos filhos com uma dedicação absurda, e mesmo com as dificuldades, não reclamava. Eu via o amor dela nos pequenos gestos, e is
Collin Morris Eu mal conseguia dormir naquela noite. O peso do que estava prestes a acontecer me corroía por dentro. Dois meses haviam se passado desde que nos mudamos para a França, e eu começava a acreditar que, de alguma forma, a vida estava finalmente se acalmando. Manuela estava em um estado de graça maternal – embora as dúvidas sobre a paternidade dos nossos gêmeos ainda sussurrassem nas sombras do meu pensamento, eu tentava ignorá-las e confiar no que via: o amor que brilhava nos olhos dela toda vez que segurava Helena e Caio. Mas aquela sensação tênue de incerteza nunca se dissipara por completo.Foi numa manhã cinzenta, com o céu carregado de nuvens e o ar úmido, que a porta da nossa casa se abriu abruptamente. Eu estava na cozinha, tentando preparar um café forte para clarear a mente, quando ouvi passos apressados e o som de uma voz áspera que parecia perturbar a paz que eu tanto almejava.— Collin! — gritou alguém.O coração acelerou. Eu larguei a caneca e fui em direção à
Manuela MorrisEu não sei por onde começar. A confusão que se seguiu aos resultados do teste de DNA ainda pulsa em minha mente como um eco amargo, mas agora, a dor tomou uma nova forma – a traição, a injustiça e o abandono. Collin, tomado pelas dúvidas e pela humilhação, saiu de casa naquela manhã. Eu fiquei sozinha com os bebês, Helena e Caio, meus gêmeos, e com a sensação de que todo o nosso mundo, que eu lutara tanto para construir, estava desmoronando.O silêncio pesado da casa foi interrompido por passos decididos do lado de fora. Pouco tempo depois, a porta da frente se abriu abruptamente e, para meu horror, apareceu Lois, com um sorriso frio e uma malícia que me gelou a alma.— Manuela, precisamos conversar! — ele exclamou, com voz estridente, sem sequer esperar por um convite para entrar.Meu coração disparou. Eu levantei-me devagar, tentando juntar a coragem que restava dentro de mim, enquanto os bebês, ainda adormecidos no quarto, pareciam não entender a tempestade que se fo
Collin MorrisEu estava sentado sozinho no meu escritório, no alto de um prédio antigo em Paris, tentando forçar a concentração enquanto a chuva batia forte contra as janelas. A rotina da Morris Enterprise, as reuniões e os números, de repente, pareciam ter perdido o sentido. Algo em mim estava quebrado, e eu mal conseguia juntar os pensamentos. Há poucos dias, meus dias já não eram os mesmos; a dúvida sobre a paternidade dos meus filhos e as mentiras de Lois haviam corroído a base de tudo o que eu acreditava. E agora, uma nova revelação - ou assim diziam - ameaçava despedaçar o pouco de confiança que eu ainda tinha.Eu estava tentando trabalhar, mas o telefone tocou incessantemente. O número desconhecido piscava na tela, e algo dentro de mim me dizia que aquela ligação mudaria tudo. Atendi sem muita cerimônia, mas não tive tempo de pensar quando uma voz familiar e fria soou do outro lado:— Collin, aqui é o Lois.A voz dele sempre teve um tom que misturava arrogância com falso arrepe
Manuela Morris As luzes de Maputo brilhavam ao longe enquanto Manuela caminhava pelas ruas quase desertas, os braços pesados com o peso dos dois bebés. O cheiro de maresia e as vozes distantes de alguns notívagos eram tudo o que acompanhava seu passo vacilante. O cansaço era insuportável. Seu corpo tremia não só pelo frio da madrugada, mas pelo choque de tudo o que acontecera nas últimas horas.Ela não sabia exatamente o que a mantinha em pé. Talvez o instinto de mãe, talvez o puro desespero. Só sabia que não podia parar.Quando finalmente chegou à porta da casa de sua avó, sentiu um nó se formar na garganta. Era ali onde crescera, onde aprendera a distinguir o certo do errado, onde sempre encontrara um abraço nos momentos difíceis. Mas será que ainda havia um lugar para ela ali?Manuela respirou fundo e bateu à porta. Uma, duas, três vezes. O som ecoou pela noite silenciosa. Seu coração batia forte contra o peito.Demorou alguns segundos até ouvir um barulho do outro lado. Depois, p
Collin Morris Eu não sei exatamente quando a decisão tomou forma em minha mente – talvez na madrugada solitária depois de tantas noites de angústia, ou talvez no exato instante em que percebi que nada mais poderia consertar o que eu havia deixado desmoronar. O que sei é que, a cada batida do meu coração, a dor da separação de Manuela me corroía e a certeza de que eu precisava fazer algo me consumia. Eu precisava reerguer o que havíamos construído, mesmo que para isso tivesse que pedir perdão aos familiares dela e implorar que ela voltasse para mim.No dia seguinte, após uma noite em claro tentando ordenar os pensamentos, decidi que iria a Maputo. Havia descoberto, por meio de contatos confiáveis, onde Manuela estava sendo acolhida pelos seus parentes. Eu sabia que, se quisesse ter uma chance de reparar nossos laços, teria de enfrentar não apenas a dor, mas também aqueles que a amavam e que, provavelmente, a julgariam por tudo que havia acontecido.Com o coração apertado e a determina