Os ventos frios vindos do sul jogavam os cabelos de Ana para trás em um frenesi constante. Seu sobretudo, assim como de todos os lampiões presente no funeral, eram pretos, combinando com as almas entristecidas. Os agulhas negras, por outro lado usavam longas capas brancas, para mostrar a brandura da morte honrada. Para eles não havia motivos para tristezas, pois houve honra e não a vida de um covarde. Eles riam e contavam anedotas sobre David. Era a primeira vez que Ana via um funeral daquele jeito.
A mão de Maria estava fria, e ela continuava com os olhos fixos no monte de terra onde o caixão vazio havia sido enterrado. Alexandre tocou seu ombro, e fez um gesto com a cabeça, ele queria que ela contasse alguma historia do amigo, mas ela n&
O lampião pulou no meio de dez homens. Pôs o primeiro revolver para cantar – um Cortez 36 – esse revolver não disparava um único projetil, mas sim varias esferas de chumbo. Os disparos iluminaram a noite, e mais uma vez Alexandre fez jus ao titulo lampião. A luz mortífera do lampião se apagou, deixando o trabalho de iluminar para lua, que revelava cavalos e homens caídos. Sangue, entranhas e merda espalhados. Alexandre esvaziou as câmaras e recarregou com cinco novos cartuchos, devolveu o revolver ao seu lugar e sacou outro, dessa vez um puma 38, capaz de comportar seis cápsulas contendo projeteis letais. Alexandre passou a revistar o que sobrara dos homens sobre o chão da floresta. Depois de alguns instantes constatou que nenhum daqueles homens tinha o que ele procurava.
Mal o ribombar da primeira badalada do grande sino tinha parado, e Ana já estava fora da cama. Enfiava as pernas nas calças enquanto lutava para se equilibrar. – Ana –Maria gemeu da cama ao lado –, você dormiu? – perguntou enquanto se sentava. –O suficiente – Ana respondeu, agora enfiando os braços na camisa. A menina terminou de calçar as botas e correu para a porta do dormitório que se abria. Dona Raimunda, monitora de dormitório parou ao ver Ana; lançou lhe um olhar de reprovação que fez Ana parar, olhou para trás e viu que não tinha arrumado a cama, o que era quase um crime para dona Raimunda. Ana revirou os olhos antes de volta a ca
Quando um órfão era aceito por um tutor, este assinava um termo de responsabilidade, prometendo cuidar, e lhe ensinar o oficio para que pudesse trabalhar quando chegasse a hora certa. Houve outra discussãodurante a assinatura do contrato, a mãe matriarca se negou a deixar o lampião assinar a principio, foi preciso que o barão intervisse. O lampião não se deixou abalar, resolveu tudo com um sorriso no rosto, o que começou a incomodar Ana, mas não o suficiente para cogitar desistir. E olha que muitas mães tentaram persuadi-la a mudar de ideia, mas Ana era obstinada, e não lhes deu ouvidos. Na maioria das vezes o órfão tinha um dia para se despedir, mas Alexandre não deu essa oportunidade para Ana, partindo uma hora depois de ter assinado o termo. –Vamos embora –
Partiram ao raiar do dia.Mal tinham deixado cidade de Ponta Branca, e o lampião puxou uma gaita e começou a tocar, ritmos sempre alegres. Entre uma nota e outra cantava alguma coisa, musicas que Ana não conhecia, e depois de tempo percebeu que Alexandre inventava as melodias que cantava. Canções – se podia chamar assim –, que sempre envolviam Tempestade, e o quanto ele era belo, e o quanto a vida era bela. Outras vezes as “canções” agradeciam a tudo. Ate mesmo o sol escaldante que os fritavam.–Gostou dessa, garota? – ele perguntava. A principio Ana pensou que as perguntas eram dirigidas à ela, mas descobriu que era para Tempestade.&n
Tomas contemplava o quartel de Ponta Branca. Uma estrutura sólida de ferro e rocha, cercado por um muro de madeira e rocha. Das quatro extremidades do quartel, erguiam-se imponentes torres de vigia, permitindo que as sentinelas não tivessem pontos cegos, e nos muros mais sentinelas vigiavam o lugar. Cada ponto do muro também contava com uma guarita, cada uma comportando uma metralhadora giratória, além de homens armados. Tomas achou impossível invadir aquele lugar. Eram perto das seis e meia da manhã, dois dias depois da grande escolha. O general ordenou-lhe que se apresentasse às sete horas daquele dia. Ele respirou fundo, e pensou em Alice, como sempre fazia. Ele a amava desde que se lembrava, mas ela não gostava dele. Ele sabia o motivo, ele não era tão inteligente quanto Henrique, nem tã
Teus olhos me renderam, Teu sorriso me dominou, Sou cativo do teu jeito, Sujeito à tua tortura. Está à porta a amizade Que com palavras vãs, Prometem-me liberdade, Mas liberdade de você não existe. &nb
Seis meses de treinamento foram o suficiente para transformar Ana numa atiradora hábil; mais rápida e precisa do que a maioria dos pistoleiros dos cinco reinos. Isso graças em parte, ao seu potencial, e ao treinamento rígido e constante. Nenhum humano conseguiria suporta o ritmo de treinamento de um lampião. O segredo estava no sono de cura, que poderia até mesmo revitalizar as forças.Ana mais uma vez puxou o ar naquela manhã. Estava treinando com sua faca bifurcada, simulando estocadas, e defesas. Não gostava muito de lâminas, mas Alexandre lhe mostrou o valor de uma faca a curta distancia. Sorriu pra si mesma aprovando o próprio desempenho.Num piscar de olhos trocou a faca para mão e
Não mais que uma sombra movendo-se pelas paredes, não mais que um espectro vivo no mundo das trevas. A lua já brilhava forte no céu, embora ainda não fossem nem dez horas. E mesmo a lua não denunciava o invasor.A grande estrutura era constituída por uma fonte redonda cercada por três andares do imponente prédio quadrado. David olhou para cima, viu o que procurava; a janela aberta estava no terceiro andar da parte externa. Não um lugar difícil de invadir, mas quem iria querer invadir a sede dos diplomatas, que tinha o símbolo dos agulhas e dos lampiões?Retirou o arco das costas. A flecha que retirou em seguida era diferente; era constituída de quatro partes, três ganchos e uma a