9º Capitulo

Quando o dia amanheceu eu me revirei na cama, era dia de limpar os quartos, por sorte meu pulso já estava bem melhor e agora eu conseguia dar conta de tudo, parei por alguns segundos na cama olhando para o teto, como seria encontrar Jack? Com todas as minhas forças desejei que ele já tivesse saído para a empresa, lembrei-me do beijo da noite passada e minha boca começou a formigar desejando sentir aquela sensação novamente, eu precisava sair daquela casa eu precisava ficar o mais longe possível daquele homem, ele estava me ganhando por inteira, estava me prendendo com suas garras em formas de gentileza, bonito, rico e disponível? Isso só podia ter um erro, um erro grande, grave e que me faria sofrer o dobro, suspirei, eu tinha que me manter fria, eu precisava ser forte.

Sai da cama, escovei os dentes, troquei de roupas, caminhei até a cozinha, deixei o café pronto para ele, organizei tudo e peguei o balde de limpeza para subir as escadas e começar minha faxina nos quartos, precisei voltar alguns minutos depois por que havia esquecido as chaves e um dos quartos estava trancado, o que era muito estranho por que Jack não trancava nenhum quarto, voltei para o corredor e comecei a testar uma, duas três chaves, mas a maldita porta parecia não querer abri de jeito nenhum, eu já estava desistindo quando resolvi testar a penúltima chave, uma com um brilho diferente, forcei contra a fechadura e pronto! Lá estava ela, a dona daquela porta, sorri triunfante e adentrei no quarto, meus olhos, porém se chocaram com o que eu via, eu não queria acreditar naquilo tudo, dei um passo para trás analisando cada pequeno detalhe do lugar, era um quartinho lindo de bebê, meu coração parou de bater, Jack tinha filhos? Mas eu nunca tinha visto nenhuma criança na casa, que lugar era aquele?  Caminhei devagar e calmamente, o berço estava arrumado e os bichinhos de pelúcia pareciam que nunca tinham sido tocados antes, cada pequeno detalhe parecia ter sido pensado para receber uma vida, mas tudo indicava que a vida não tinha vindo parar ali, estremeci talvez fosse melhor eu voltar a trancar o quarto e sair dali o mais rápido possível, havia um motivo para aquele quarto estar trancado, dei meia volta e trombei em algo grande, Jack estava parado na porta e acabei dando de cara com o peitoral dele, tarde demais, ele veria que eu tinha invadido o pequeno quarto.

- Desculpa, eu... É só estava querendo limpar e...

Ele sorriu, parecia calmo, porém seus olhos estavam distantes e tristes.

- Tudo bem, mais cedo ou mais tarde você o encontraria mesmo.

Esfreguei uma mão na outra nervosa.

- Estava trancado, eu destranquei... Fui curiosa, não deveria ter me metido aqui.

Ele caminhou para dentro e alisou o berço olhando tudo em volta.

- E ainda assim não vai me perguntar para quem ele foi feito?

Mordi o lábio, sim eu queria muito saber... Mas, suspirei, não era da minha conta.

- Não é da minha conta, senhor... Eu nem devia estar aqui...

Ele sorriu com aqueles dentes perfeitos e se aproximou de mim.

- Voltamos para a estaca de “senhor” novamente? Pensei que já tivesse parado com isso.

- Desculpa. – Eu disse, depois pausei deixando a bendita curiosidade me vencer. – De quem é o quarto?

Jack me olhou ainda com o olhar perdido e triste.

- Do meu filho, que não nasceu.

- Como? Foi um aborto? – A pergunta escapou da minha boca sem querer e logo levei a mão a ela, pasma com a minha insolência, o que diabos tinha dado em mim?

- Não. – Ele suspirou. – Eu e Simoni estávamos juntos a pelo menos dois anos, eu gostava dela, mas não tinha certeza se era um casamento que eu queria, ela já morava aqui então eu não via motivos para formalizar tudo, mas ela obviamente queria, então para me tirar de cima do muro ela falou da gravidez, eu explodi de felicidade, ter um filho era tudo que eu mais queria e obviamente ela sabia disso, foi ai que começou uma corrida contra o tempo, ela queria se casar antes que a barriga crescesse e eu queria aprontar o quarto antes do casamento, organizamos tudo e nos casamos nem um mês depois após descobrir a gravidez, eu nunca cobrei nada dela por que ela era a mulher da minha vida, era que eu tinha escolhido e se estava gravida de mim seria a mãe do meu filho.

- E o que houve?

- Na lua mel descobri que era mentira, deu o acaso dela ficar menstruada e foi impossível continuar escondendo ou negando, então ela jogou na minha cara que tinha mentido para me fazer tomar uma decisão, por que eu ficará enrolando ela e nunca descia do muro sobre o casamento, eu surtei, a larguei sozinha no hotel... Durante aquele mês tudo que eu tinha feito, pensado e planejado era em prol dela e do nosso filho, quando eu soube que era tudo mentira meu mundo desmoronou.

Ele secou os olhos com os dedos e se virou para que eu não o visse emocionado, me compadeci com o sofrimento dele e levei minha mão sem querer até seu ombro.

- Sinto muito, Jack... – Eu sorri olhando para tudo a minha volta. – Tenho certeza que quando tiver filhos eles vão amar ter um quartinho como esse, é um sonho...

Ele me olhou voltando a sorrir.

- Pensei em tudo com muito amor, você pretende ter filhos Nataly?

Empolguei-me com a pergunta dele, ter filhos era tudo que eu mais queria, sorri sem poder me conter.

- Muitos! Quero uma casa cheia de crianças, muitas correndo pela casa felizes e brincando, acho que uns cinco ou seis estaria bom...

- Cinco ou seis? – Ele me olhou espantado.

- Vim de uma família pequena, era mamãe, papai e eu... Minha mãe morreu no parto, meu pai quando eu ainda era criança, não tive irmãos então acho que sempre desejei não estar sozinha no mundo, ter filhos e construir uma família grande é um sonho...

Jack sorriu se aproximando calmamente, seus olhos penetraram nos meus me fazendo viajar, ele levou sua mão até o meu rosto fazendo um pequeno carinho, ele estava perto muito perto, perto o suficiente para nossos corpos se colarem e sua respiração bater em meu rosto.

- Acho que você foi feita sob medida para me torturar então... – Dito isso ele cobriu minha boca com um beijo suave, eu tentei resistir à tentação, mas era impossível, ele tinha algo sobre mim que me dominava, que me ganhava e me prendia, não importava quão forte eu tentasse ser, ele sempre conseguia derrubar minhas barreiras, meu corpo se aqueceu com o gesto dele, mas logo ele se afastou.

- Sinto muito, Nataly... Não vai mais acontecer...

Ele disparou para fora do quarto parecendo ainda assustado com o próprio ato, o que era estranho por que ele tinha me beijado também na noite passada e não parecia ter ficado tão transtornado, apesar de que na noite passado o beijo tinha sido feroz alimentado pela paixão e pelo álcool, e agora... Bom agora, tudo tinha soado naturalmente, quase como um suspiro delicado, quase como... Amor.

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