Dois anos depois – Cancun, México.
A mesma tarefa repetitiva, lavar copos, secá-los, guardar e organizar a bancada antes
que “Baila la Luna” abrisse. Não era muito vantajoso, mas dava para pagar as contas depoisque tive que fugir feito um rato.Eu me divertia bastante quando a boate abria, pelo menos. As garotas dançando, os caras
babando e muito agito. Meu trabalho era fazer a mágica por trás do balcão e deixá-los bêbadoscom as minhas misturas alcoólicas. De vez em quando aparecia Pitter, um dos seguranças quenão cansava de me perturbar. Meu coração já bateu por alguém, mas doeu e não deixaria doernovamente.A boate abriu, era um dia especial, pois um cantor famoso realizava um show para um
público mais reservado no camarote. Joana, uma dançarina, não parava de perturbar meu trabalho com suas perguntas.— Vai, Mag, me conta quem está lá em cima. Preciso saber.
Servi mais uma dose para outro cliente e sem olhá-la nos olhos, respondi.— Não sei, Jô, agora me deixe trabalhar.
Ela revirou os olhos e saiu. O trabalho foi tranquilo como quase sempre, até que umhomem de terno sentou no bar e ficou me encarando fixamente. Fingi não o ter visto e continueifazendo os drinks, mas ele permaneceu ali, sentado. O homem era bonito, alto e tinha umabarba atraente, mas estava estampado em sua testa que era um agente da Interpol.— Pode me dar uma dose de uísque?
A voz grave chegou em meus ouvidos, porém, não correspondi. Preparei um copo de
uísque com gelo e deixei na frente do sujeito.— Obrigado. Como se chama? — O homem de terno perguntou.
Eu estava em alerta, pois era uma fugitiva. No passado meu noivo foi assassinado, não
sei quem fez aquilo, mas toda a culpa recaiu sobre mim. Minha única saída foi escapar deles.Na minha opinião, havia o dedo de Kumicho, o plano era me incriminar, e deu certo. O que atéentão eu não conseguia entender era o porquê da CIA, que me tinha como uma agente linha defrente, não me ajudou. O sistema é falho e não podia esperar pra ver.— Não que seja da sua conta, mas estou trabalhando e não tenho tempo para bater papo.
— Gritei por cima da música barulhenta.
O Sujeito sorriu. A boate estava escura com luz estroboscópica piscando, mal conseguia
identificar o homem, mas sentia um estranho formigamento na nuca, era como um aviso paraque ficasse em alerta e foi isso que fiz. No fim do meu turno levava o lixo lá para trás e jáseguia meu rumo. Minha casa era em uma rua próxima a praia e ao deck. Então, fazia meupercurso a pé.Estava próxima à minha casa quando notei que alguém me seguia. O medo já havia
sumido há algum tempo e mantive a calma, apressei o passo, virei a esquina e me escondi para pegar de surpresa quem quer que fosse. Quando o homem chegou perto, o ataquei. Dei uma chave de braço, o deixando sem ação.— Ei, calma! Posso explicar.
— Então comece a falar antes que te mate!
O homem levantou as mãos para o alto em sinal de rendição, passei as mãos pelos
bolsos, costas, cintura e só quando desci para a canela pude sentir a arma, a puxei e aponteipara ele.— Vire devagar e me fale de uma vez quem é você e o porquê está me seguindo.
Ele fez o que mandei, ficando de frente para mim. A primeira coisa que pude notar foio par de olhos azuis cristalinos, depois a bendita barba desenhada e o cabelo loiro escuro comum corte Militar um pouco maior na parte de cima mais bagunçado.— Sou Ethan, agente F99ederal.
— E?
— Estou aqui para falar do meu irmão.
— Não sei quem é seu irmão, só me deixe em paz.
— Claro que sabe, Trinity, ele era seu noivo. — ele disse me encarando dentro dos
olhos.Senti o estomago protestar e uma leve tontura percorrer minha cabeça.
— Saia daqui, não sei de quem está falando. Meu nome é Mag.
Meu coração estava acelerado e minha garganta seca. Aquele homem em minha frente
estava mentindo, Locke não tinha nenhum irmão, eu o conhecia desde os quinze anos.— Calma, Trinity. Sei quem fez isso com ele e só vim pedir ajuda para vingar sua morte.
Se você o amou como ele dizia que amava, vai querer o mesmo que eu, vingança.
— Locke não tinha irmão. — falei, sentindo as emoções percorrerem meu corpo.
— Trinity, escute. Abaixe essa arma e me deixa conversar com você.
Via em seus olhos que dizia a verdade, mas meu coração estava doendo demais. Tentei
apagar aquele dia da minha vida durante dois anos e, por mais que fosse impossível, conseguiao menos trancar toda dor e lembrança em um baú no fundo de minha mente e jogar a chavefora. E naquele momento um homem em minha frente me dizia que era irmão de Locke. Nãoparecia fazer sentido algum, mas as perguntas começaram a girar em minha cabeça.— Por que Locke nunca me falou que tinha irmão? Ele nunca mentiu para mim.
O homem se mantinha parado, com as mãos para o alto e o olhar grudado no meu, estavacalmo e parecia ter certeza de que eu não iria atirar.— Trinity, sou filho do pai dele. Ele foi furto de uma traição, não sabia sobre mim até
um ano antes de morrer. Quando fui atrás, ele não quis contato e aos poucos fomos nosconhecendo. Preferiria contar sobre ter me conhecido apenas quando contasse a ele sobretrabalhar na CIA.“O Que? Locke Sabia?”, pensei.
Abaixei a arma, tirei o pente e guardei as balas em meu bolso. Ele podia mentir, mas,mesmo assim, queria saber o porquê disso agora. Eu teria que me arriscar e confiar.— Saiba que se for mentira, irei te matar de algum jeito. — Falei, entregando a arma e
seguindo para minha casa.Mesmo sem olhá-lo, sabia que estava me acompanhando. Parei em frente à minha casa
e dei uma última olhada para o sujeito, que estava ao meu lado. De algum jeito eu sabia quedali em diante, minha vida que, até então se mantinha silenciosa e pacata iria mudar.O barulho estava prestes a bater à minha porta de novo e dentro do meu peito estava
disposta a abri-la. O ódio ainda habitava em mim, o vazio que Locke deixou fora preenchidocom uma louca sensação de que um dia o vingaria. Chegou a hora de parar de fugir. Se tudo oque Ethan me disse fosse verdade, teria um aliado para descobrir o real motivo por trás damorte de Locke.Abri a porta dando passagem para que ele entrasse e logo em seguida entrei trancando
a porta.— O que deseja saber primeiro?
— Tudo, desde que seja verdade!
EthanMinha vida sempre foi muito agitada, no ensino médio era o típico adolescente popular e todas as garotas caiam aos meus pés, aconteciam muitas festas, bebedeira e sexo à vontade. Mas isso mudou quando completei dezoito anos e meu pai me contou que trabalhava para agência internacional de segurança. Em uma única noite fiquei sabendo que mudaríamos de residência, que ele estava sendo transferido, porque havia sido exposto e eu, minha mãe e Dora, minha irmãzinha de quatro anos estávamos em perigo. Nos mudamos para a Los Angeles e meu pai teve que parar de trabalhar por um tempo. Nossa vida ficou tranquila, havia segredos que meu pai não contava e eu não fazia questão alguma de saber, só pensava em me divertir.O último ano da escola foi uma completa loucura, conheci muit
EthanPassei dois malditos anos atrás da Trinity. Estava quase desistindo quando meu colega de trabalho a achou com o reconhecimento facial do FBI, era uma self em uma boate. Devo admitir que não se parecia com a garota que meu irmão me mostrou, mas não custava nada conferir. Arrumei minha mala e Emma apareceu na porta, estava de pijama e com os cabelos soltos emoldurando o seu rosto.— Mais uma vez? — a irritação em sua voz era notável.— Emma, já conversamos sobre isso.Fechei minha mala. Precisava de um banho e depois partiria para achar Trinity. — Isso está insuportável, sabia? Por que não esquece esse assunto? Não consigo mais suportar sua ausência, Ethan!Passei por minha esposa, ignorando-a. Ela tinha o poder de me deixar de mal humor logo cedo, só que
TrinityEu tinha muitas dúvidas em minha cabeça e uma confusão se instalou em meu coração. Remexer naquele assunto me feria muito. Mas era preciso, apesar de notar claramente que Ethan estava mentindo e não sabia quem armou para mim. Precisava dele, era uma ajuda, e só poderia confirmar isso depois de ter plena confiança de que ele não era alguém que fosse me matar ou me entregar.Tomei um banho, tentei comer algo, nada descia nada, então desisti de comer. Deitei na cama e tentei dormir, sabendo que naquela noite teria pesadelos e que mais uma vez acordaria no meio da noite, destruída, assustada e sozinha.Sentia uma dor de cabeça irritante. Passei horas sem dormir e minha mente não me deixava descansar. Durante o dia tentei fazer mil coisas para esquecer o assunto e mas nada me distraia.
EthanA madrugada não foi das melhores, apesar de que estava acompanhado de uma linda mulher, que para mim era intocável, minha cunhada. Sabia que tinha tocado em um assunto que a machucava e percebi isso assim que a pergunta saltou da minha boca, ela rapidamente mudou o comportamento. O brilho em seus olhos se apagou e me arrependi de ter perguntado sobre Luka. Trinity encerrou o assunto e se trancou no banheiro, pude ouvi-la chorar. Depois disso, quando ela finalmente saiu, já estava deitado nos cobertores no chão fingindo que já havia dormido. A ouvi chorar até pegar no sono, ao mesmo tempo que desejei consolá-la.Sabia que precisava dar espaço.Já vi inúmeras vezes minha mãe chorar depois da morte do meu pai e, por mais que em meu coração tivesse raiva, no dela, mesmo depois de descobrir sua traiç
TrinityNo pendrive continha um arquivo codificado com o título “Cura”. Era isso que teríamos que entender. — Como vamos decodificar isso? Não tenho nenhum contato na CIA. — Calma, sei exatamente quem vai fazer isso. — disse Ethan ao pegar seu celular.— Não! Não pode mostrar isso para ninguém, não podemos confiar em ninguém agora!— Sim, eu tenho uma pessoa de confiança. Meu colega da inteligência, ele é incrível no TI. Sabe tudo sobre esses códigos. Relaxe, eu confio nele com a minha vida.— Ok.Ele discou o número e aguardou que o tal amigo atendesse.— Jake? Pode falar agora? Então, cara preciso de um favor, mas entenda que é confidencial. Pode me ajudar? — ficou em silêncio por uns minutos. — Certo ent&a
EthanEra realmente incrível como ela mexia comigo. Mesmo sendo errado, ter nossa pele em contato me fez sentir algo diferente, era como se fosse familiar estar com ela. Não, não, não! Estava ficando louco, aquele não era meu foco. Precisava estar com ela de mente limpa e sem confundir tudo, correr atrás dela foi difícil, e quando a alcancei estava entrando na antiga casa que Locke morava, deixei que entrasse, e mantive distancia, mas algo me dizia que não seria saudável que ela entrasse sozinha.Trinity parecia totalmente desligada ao entrar naquele lugar, era como se ela estivesse em outro mundo. A chamei algumas vezes enquanto ela olhava fixamente para a porta do que parecia ser um quarto, mas ela não me ouviu, foi só quando toquei seu braço e tentei impedi-la de entrar que ela me notou e, com a mesma fúria que me tirou de cima dela, me
TrinitySaí do banho renovada e estava com vontade mais do que nunca de ir até o fim. Ethan estava sentado na cama, com o laptop no colo, havia em seu rosto esculpido um sorriso de satisfação. Andei até minha mala, peguei uma muda de roupas e uma meia, estava frio, muito mesmo. Ia entrar no banheiro novamente para me trocar, mas ele me encarou, sorriu e se levantou.— Temos os arquivos completos e está tudo perfeito, nada de arquivo corrompido. — seu tom era calmo e velado.— Como assim?Ele me encarou, depois avaliou meus trajes e um rubor subiu suas bochechas.— Desculpe, pode se vestir, depois falo sobre isso.— Não, diga. Foda-se que estou de roupão e toalha nos cabelos, me conte tudo.— Meu irmão achou um único agente que cura todas as doenças. Câncer, HIV, tuberculose, saram
Trinity A viagem estava sendo comprida e cansativa. Ao meu lado Ethan dormia e ver suas feições dormindo estava sendo o meu melhor passatempo. O voo era de primeira classe, o que era até mais confortável. Faltavam duas horas para que o avião pousasse. Ethan estava no lado da janela e em sua cabeça tinha uma touca que deixava um pouco de seu topete para fora, sua barba já estava maior do que a primeira vez que o vi.As vezes dava para sentir o tremor das turbulências, e foram esses mesmos tremores leves que me embalaram, me deixando sonolenta e ainda observando Ethan. Aos poucos fui pegando no sono. Não sei por quanto tempo dormi e quando comecei despertar encontrei Ethan encarando-me com um sorriso bobo nos lábios.— Estamos pousando. Está preparada emocionalmente para ver a cidade? — perguntou em tom baixo.— Sim, estou bem com isso.— Que bom, fiquei preocupado com…— Eu sei, Ethan. Não disse