Ethan
Minha vida sempre foi muito agitada, no ensino médio era o típico adolescente popular
e todas as garotas caiam aos meus pés, aconteciam muitas festas, bebedeira e sexo à vontade.Mas isso mudou quando completei dezoito anos e meu pai me contou que trabalhava paraagência internacional de segurança. Em uma única noite fiquei sabendo que mudaríamos deresidência, que ele estava sendo transferido, porque havia sido exposto e eu, minha mãe e Dora,minha irmãzinha de quatro anos estávamos em perigo. Nos mudamos para a Los Angeles emeu pai teve que parar de trabalhar por um tempo. Nossa vida ficou tranquila, havia segredosque meu pai não contava e eu não fazia questão alguma de saber, só pensava em me divertir.O último ano da escola foi uma completa loucura, conheci muitas garotas e passei pela
cama de todas, as festas em LA eram muito melhores. De alguma forma, tudo ia às milmaravilhas, mas foi no meu aniversário de dezoito anos que descobri uma verdade irreparável,meu pai tinha um filho fora do casamento. Descobri isso quando minha mãe estava ao telefoneaos prantos com minha tia Morgan, senti o sangue subir para a minha cabeça, fiquei louco esaí. Naquela noite bebi com meus novos amigos, fumei um baseado para que a raiva do cretinopassasse, mas nada aliviava minha frustração. Alicia, minha conquista da vez me ofereceuheroína, foi isso que me tirou do torpor naquele momento.Acordei na praia, sozinho e com uma dor de cabeça insuportável. A luz feria meus olhos,
minha garganta estava seca e meus pensamentos confusos. Senti meu telefone vibrar no bolsoe o peguei, mas a chamada caiu na caixa de mensagens e no visor mostrava dezenove ligaçõesperdidas. Ignorei, como sempre. Caminhei por um tempo na praia, era apenas sete da manhã e a cidade dormia. Não conseguia compreender os motivos de alguém trair a esposa e os filhos.Como Edward foi tão promiscuo? Minha mãe era perfeita, era linda e cuidava de tudo tão
perfeitamente. Quem quer que fosse a outra, não passava de uma vagabunda para mim, e nem em sonho desejei conhecer o bastardo do meu irmão. No final da manhã decidi ir para casa, mas seria a última vez que pisaria naquele lugar, queria pegar estrada e sumir pelo mundo, viver intensamente.Notei, ao parar o carro, que os vizinhos estavam em volta da minha casa, que se
encontrava com a porta aberta. A preocupação conseguiu me fazer ficar esperto no mesmomomento, o mal estar estava presente, mas a lucidez em cem por cento. Desci do carro e corripara dentro da casa, minha mãe estava de pijama, minha irmãzinha no colo da minha tia emuitos homens de terno espalhados pela casa.— Mãe? — sussurrei com medo.
Ela correu e me abraçou forte, no qual se agarrou e chorou como uma criança que acabará
de perder um doce. A verdade era que não tinha doce algum, foi meu pai. Descobri que na madrugada haviam invadido a casa e houve uma luta do meu pai contra outras pessoas. Minha mãe e minha irmã se esconderam no quarto do pânico que havia no quarto deles e de lá ligou para a polícia.Mataram meu pai dentro do meu quarto. Quando a inteligência chegou já estava feito. A raiva
que sentia do meu pai foi substituída por uma dor intensa. Na minha cabeça havia o pensamento de que se estivesse em casa, poderia ter ajudado e ele não estaria morto. Toda via, era um pouco minha culpa. Toda situação serviu para que eu quisesse proteger as pessoas. Após o funeral do meu pai, encontrei uma mensagem na caixa de voz, entre tantas uma mensagem do meu pai que parecia ser nossa despedida.“Filho… olha, sei que não posso corrigir meus erros a essa altura do campeonato, mas
gostaria de contar pessoalmente algumas coisas do passado. Algo me diz que não teremos essa chance, então, preciso que entenda cada palavra que eu disser. Tudo bem?Ethan, eu te amo, filho. Amo Dora, mas nem sempre nós, adultos, agimos como pessoas corretas.Há quinze anos estava em Oklahoma, em uma viagem a trabalho, lá conheci uma
mulher, uma camareira do hotel em que me hospedei. Filho, sei que ama sua mãe e que essa história pode te ferir profundamente, mas preciso que abra bem seu coração e entenda tudo. Angel era uma mulher doce, incrível, e eu e sua mãe estávamos no meio de uma briga muito séria.Apesar de você não se lembrar, estávamos quase nos separando. Eu me
apaixonei por Angel no meio dessa briga e fiquei seis meses naquela cidade, curtindo minha paixão com Angel e me esqueci completamente da esposa incrível que tinha em Nova York e do filho que eu amava tanto.Sua mãe me ligou e disse que precisava que eu voltasse e que
precisava muito de mim e, apesar de estar cego pela Angel, parti e fui para casa. Terminei meu romance com Angel, mesmo ela me implorando para ficar, ela era muito nova e dizia que me amava. Porém, Sophie, sua mãe, era o amor da minha vida. Quando voltei para vocês, filho, me acertei com sua mãe.Angel ligava todos os dias, mas não a atendia e um dia ela simplesmente parou de me ligar. Apenas quando você fez nove anos Angel voltou a me ligar, foi aí que soube que tinha outro filho, ele ia completar cinco anos e se acidentou gravemente. Foi por esse motivo que não estava na sua festa de aniversário, porque seu irmão, precisava de doação de sangue e precisava ser o meu. Filho, amo sua mãe desde o dia em que a conheci, mas errei.
Não posso nem dizer que me arrependo, pois Luka, seu irmão, o foi fruto desse erro, e o amo como amo você e Dora.Luka, hoje, tem quinze anos, é incrivelmente parecido comigo
em tudo, tem notas excelentes e não sabe sobre você. Ethan, não deixe que sua raiva por mim te impeça de querer conhecê-lo. Se algo me acontecer, prometa que cuidará dele? Na gaveta do meu escritório há um diário com os dados dele, tem endereço, conta bancaria e tudo mais. Não o deixe sozinho, por favor.Amo vocês, filho. Saiba que nada muda o quanto te amo. Me perdoe, se for possível,
mas não se destrua. Se me odiar, entenderei, mas ame seu irmão. Luka é um garoto incrível e merece seu amor e o de Dora”.Fiquei completamente sem chão. Era como se a dor que sentia aumentasse cada segundo
a mais. Ele estava me pedindo o impossível, não havia chance de eu me aproximar de um filhodele, um bastardo. Ignorei aquela mensagem de voz, segui em frente e fingi que ele nuncahouvesse me pedido nada. Após sair da faculdade, entrei no FBI, desejava ajudar as pessoascomo ele ajudava. Apesar de sentir uma imensa decepção por meu pai, ainda me orgulhava desua profissão.Sentia um incomodo em meu coração, eu podia fazer o que fosse e ele não passava.
Estava em uma equipe incrível no FBI, era agente de campo e a adrenalina daquela profissãome trazia a paz, era como se estar em constante movimento me aliviasse, e nos momentos desilêncio ouvia o barulho das dores que carregava dentro do peito. Quando podia, visitava minhamãe, que havia voltado para Nova York, pois eu morava em Manhattan.Minha irmã crescia cada vez mais e sua beleza era idêntica à de minha mãe. Nas poucas
vezes que tocávamos no assunto delicado do filho do meu pai ela me pedia para procurar porLuka, era nesses momentos em que me despedia e voltava para meu apartamento. Era como eu não conseguisse superar aquela droga. Um dia apenas disquei o número que havia no maldito diário e ouvi a voz do garoto. Ele já não era mais adolescente, tinha vinte e quatro anos e senti certa familiaridade em sua voz. Meu peito parecia cheio e foi quando ele disse, “Alô? Pai, é você?”. Aquilo me destruiu por dentro pela terceira vez. Ainda que eu estivesse na linha sem dizer nada, ouvia ele chorar.— Alô. Luka? — consegui dizer com a voz baixa
— Quem é? — sua voz estava rouca pelo choro.
— Sou Ethan, seu irmão!
Silêncio.
Meu desejo era dizer a ele sobre a morte do meu pai, mas parecia injusto com ele. Luka
não era o culpado por ser meu irmão, ele era um erro, mas a culpa não era dele. Foram segundos de clareza, que me fizeram agir.— Onde está o… Edward?
— Podemos falar pessoalmente? Tenho muitas coisas a dizer, mas precisa ser
pessoalmente.— Tudo bem. Onde podemos nos encontrar?
Após descobrir que ele ainda morava em Oklahoma, peguei o primeiro voo e fui vê-lo.
Nos encontramos em um café próximo de onde ele morava.Quando cheguei ao café o encontrei sentado. Assim que o vi, tive a certeza sobre ser meu
irmão. Ele parecido com meu pai e eu não me parecia em nada com eles, havia herdado aaparência do meu avô, pai de minha mãe. Luka era uma cópia jovem de meu pai.Caminhei inseguro até ele, em minha expressão havia surpresa e na dele um sorrisoimenso. Podia se ver o quanto ele esperava aquele encontro, só não sabia que iria descobrir quem seu pai faleceu.— Olá. Prazer, sou Luka. — estendeu a mão.
Apertei sua mão, mas algo em meu interior me impulsionou a atravessar uma linha, o
puxei para um abraço, que fez meu coração ser preenchido por um sentimento que nem mesmo sabia que existia.— Ele veio com você?
Engoli o que parecia ser uma pedra, mas era hora de dar a notícia.
— Vamos nos sentar? — sugeri.
— Claro.
— Olha, Luka, sei que espera notícias de nosso pai, mas infelizmente não são boas.
— O que há de errado?
— Nosso pai faleceu há um tempo. Foi há cinco anos.
Ele empalideceu e vi lágrimas brotarem de seus olhos. Luka puxou seus óculos para cima,
limpou as lágrimas e os endireitou.— Ele… eu… hã. — ele engoliu sua dor.
— Ele te amava.
— Não pudemos nos despedir.
— Sinto muito, nem eu pude.
Aquele dia foi difícil, não conversamos muito, mas após aquele encontro minha vida
mudou. Sempre que eu conseguia, ia vê-lo. Soube que era noivo e que amava muito a noiva.Mandava postais deles e ela era incrivelmente linda. Longos cabelos loiros e olhos verdesclaros.Conversávamos muito por telefone e ele me dizia tudo sobre eles. Soube que a noiva
dele viajava muito, que ela vivia machucada e que nunca tinha uma explicação para seusferimentos. Ele me pediu para ajudá-lo a descobrir o que ela fazia quando não estava com ele,foi aí que descobri que a garota era da CIA. “Uhm, excitante”, pensei. Mas ele, Locke, comogostava de ser chamado, ficou arrasado, não entendia porque ela mentia, mas dizia que a amava muito e que não importava, ele iria amá-la mesmo mentindo. Afinal, nem era algo grave.Um dia ele me ligou e estava feliz, disse que ela havia chegado de mais uma de suas
viagens e disse que marcaria a data do casamento. Foi nossa última conversa, antes de eu saber que ele havia sido assassinado cruelmente.O irmão que aprendi amar foi morto. Saiu em todos os jornais que ela, a maldita noiva o
matou. Eu queria vingá-lo e descobri algo a mais por trás da morte de Luke, que ela não omatou, mas me ajudaria a descobrir quem havia feito isso.EthanPassei dois malditos anos atrás da Trinity. Estava quase desistindo quando meu colega de trabalho a achou com o reconhecimento facial do FBI, era uma self em uma boate. Devo admitir que não se parecia com a garota que meu irmão me mostrou, mas não custava nada conferir. Arrumei minha mala e Emma apareceu na porta, estava de pijama e com os cabelos soltos emoldurando o seu rosto.— Mais uma vez? — a irritação em sua voz era notável.— Emma, já conversamos sobre isso.Fechei minha mala. Precisava de um banho e depois partiria para achar Trinity. — Isso está insuportável, sabia? Por que não esquece esse assunto? Não consigo mais suportar sua ausência, Ethan!Passei por minha esposa, ignorando-a. Ela tinha o poder de me deixar de mal humor logo cedo, só que
TrinityEu tinha muitas dúvidas em minha cabeça e uma confusão se instalou em meu coração. Remexer naquele assunto me feria muito. Mas era preciso, apesar de notar claramente que Ethan estava mentindo e não sabia quem armou para mim. Precisava dele, era uma ajuda, e só poderia confirmar isso depois de ter plena confiança de que ele não era alguém que fosse me matar ou me entregar.Tomei um banho, tentei comer algo, nada descia nada, então desisti de comer. Deitei na cama e tentei dormir, sabendo que naquela noite teria pesadelos e que mais uma vez acordaria no meio da noite, destruída, assustada e sozinha.Sentia uma dor de cabeça irritante. Passei horas sem dormir e minha mente não me deixava descansar. Durante o dia tentei fazer mil coisas para esquecer o assunto e mas nada me distraia.
EthanA madrugada não foi das melhores, apesar de que estava acompanhado de uma linda mulher, que para mim era intocável, minha cunhada. Sabia que tinha tocado em um assunto que a machucava e percebi isso assim que a pergunta saltou da minha boca, ela rapidamente mudou o comportamento. O brilho em seus olhos se apagou e me arrependi de ter perguntado sobre Luka. Trinity encerrou o assunto e se trancou no banheiro, pude ouvi-la chorar. Depois disso, quando ela finalmente saiu, já estava deitado nos cobertores no chão fingindo que já havia dormido. A ouvi chorar até pegar no sono, ao mesmo tempo que desejei consolá-la.Sabia que precisava dar espaço.Já vi inúmeras vezes minha mãe chorar depois da morte do meu pai e, por mais que em meu coração tivesse raiva, no dela, mesmo depois de descobrir sua traiç
TrinityNo pendrive continha um arquivo codificado com o título “Cura”. Era isso que teríamos que entender. — Como vamos decodificar isso? Não tenho nenhum contato na CIA. — Calma, sei exatamente quem vai fazer isso. — disse Ethan ao pegar seu celular.— Não! Não pode mostrar isso para ninguém, não podemos confiar em ninguém agora!— Sim, eu tenho uma pessoa de confiança. Meu colega da inteligência, ele é incrível no TI. Sabe tudo sobre esses códigos. Relaxe, eu confio nele com a minha vida.— Ok.Ele discou o número e aguardou que o tal amigo atendesse.— Jake? Pode falar agora? Então, cara preciso de um favor, mas entenda que é confidencial. Pode me ajudar? — ficou em silêncio por uns minutos. — Certo ent&a
EthanEra realmente incrível como ela mexia comigo. Mesmo sendo errado, ter nossa pele em contato me fez sentir algo diferente, era como se fosse familiar estar com ela. Não, não, não! Estava ficando louco, aquele não era meu foco. Precisava estar com ela de mente limpa e sem confundir tudo, correr atrás dela foi difícil, e quando a alcancei estava entrando na antiga casa que Locke morava, deixei que entrasse, e mantive distancia, mas algo me dizia que não seria saudável que ela entrasse sozinha.Trinity parecia totalmente desligada ao entrar naquele lugar, era como se ela estivesse em outro mundo. A chamei algumas vezes enquanto ela olhava fixamente para a porta do que parecia ser um quarto, mas ela não me ouviu, foi só quando toquei seu braço e tentei impedi-la de entrar que ela me notou e, com a mesma fúria que me tirou de cima dela, me
TrinitySaí do banho renovada e estava com vontade mais do que nunca de ir até o fim. Ethan estava sentado na cama, com o laptop no colo, havia em seu rosto esculpido um sorriso de satisfação. Andei até minha mala, peguei uma muda de roupas e uma meia, estava frio, muito mesmo. Ia entrar no banheiro novamente para me trocar, mas ele me encarou, sorriu e se levantou.— Temos os arquivos completos e está tudo perfeito, nada de arquivo corrompido. — seu tom era calmo e velado.— Como assim?Ele me encarou, depois avaliou meus trajes e um rubor subiu suas bochechas.— Desculpe, pode se vestir, depois falo sobre isso.— Não, diga. Foda-se que estou de roupão e toalha nos cabelos, me conte tudo.— Meu irmão achou um único agente que cura todas as doenças. Câncer, HIV, tuberculose, saram
Trinity A viagem estava sendo comprida e cansativa. Ao meu lado Ethan dormia e ver suas feições dormindo estava sendo o meu melhor passatempo. O voo era de primeira classe, o que era até mais confortável. Faltavam duas horas para que o avião pousasse. Ethan estava no lado da janela e em sua cabeça tinha uma touca que deixava um pouco de seu topete para fora, sua barba já estava maior do que a primeira vez que o vi.As vezes dava para sentir o tremor das turbulências, e foram esses mesmos tremores leves que me embalaram, me deixando sonolenta e ainda observando Ethan. Aos poucos fui pegando no sono. Não sei por quanto tempo dormi e quando comecei despertar encontrei Ethan encarando-me com um sorriso bobo nos lábios.— Estamos pousando. Está preparada emocionalmente para ver a cidade? — perguntou em tom baixo.— Sim, estou bem com isso.— Que bom, fiquei preocupado com…— Eu sei, Ethan. Não disse
EthanTrinity despertou em mim duas sensações diferentes. A primeira, foi na saída da pousada, quando a vi, perfeitamente linda. Seus olhos estavam verdes, meio azulados, talvez fosse a temperatura climática que contribuísse para a mudança na cor. Além disso, seus cabelos soltos, a franja bem arrumada por baixo da touca e o sobre tudo… senti meu coração bater diferente e isso se repetiu quando a vi mirar com tamanha precisão no carro e dar um tiro certeiro no pneu, o fazendo capotar. Não sei se era apenas a emoção de quase sofrer um acidente terrível, mas desejei beijá-la pela segunda vez. Era uma mistura de orgulho e admiração, isso me encantou. Eu a subestimei, enfiei na cabeça que ela era uma menina frágil, quando, na verdade, era uma mulher capaz de se defender. Aquela