Capítulo 8
Primeiro dia: Quando Ivana enviou uma foto de Frederico descascando camarões para ela, Alva preparou uma fogueira e queimou todas as fotos deles juntos.

Segundo dia: Quando Ivana enviou uma imagem de Frederico beijando-a sob uma árvore de plátano, Alva contratou trabalhadores para derrubar todas as cerejeiras que ele plantou no jardim dos fundos.

Terceiro dia: Quando Ivana mandou uma coleção de declarações de amor que Frederico fizera para ela durante uma transmissão ao vivo, Alva pegou todas as cartas de amor que ele havia escrito para ela ao longo dos anos.

As cartas estavam amareladas pelo tempo, mas a caligrafia ainda era nítida e clara.

Ela passou os dedos pelas palavras, sentindo um último toque de nostalgia... antes de jogar cada uma delas na trituradora sem hesitação.

...

Manhã da Partida

Ao amanhecer, Alva abriu lentamente os olhos e viu Frederico parado ao lado da cama, segurando seu celular.

Seu olhar era profundo e carregado de questionamento.

— Alva, seu celular recebeu uma mensagem dizendo que o processo de cancelamento foi concluído. O que você está cancelando?

O coração de Alva disparou. Com um movimento rápido, ela pegou o celular e desbloqueou a tela.

Era a confirmação do cancelamento de sua identidade.

Felizmente, seu celular tinha senha, e Frederico só pôde ver algumas palavras soltas na notificação.

Respirando aliviada, ela respondeu sem pestanejar:

— Nada de importante. Uma conta de rede social foi invadida, então achei mais seguro cancelá-la.

Frederico finalmente relaxou, puxando-a para um abraço carinhoso:

— Querida, adivinhe o que eu comprei para você? Algo que você adora.

Alva piscou lentamente antes de responder com suavidade:

— Bolinhos de arroz de uma loja do lado leste da cidade.

Seus olhos se arregalaram de surpresa:

— Como você sabia?

Como ela poderia não saber?

Nos tempos de namoro, toda vez que Frederico a fazia chorar, ele cruzava a cidade para comprar bolinhos de arroz daquele lugar para se desculpar.

O aroma doce e reconfortante sempre derretia seu coração. Ela nunca quis joias ou carros de luxo — apenas aqueles simples bolinhos de arroz.

Ele costumava dizer:

— Minha Alva é fácil de agradar demais!

E ela sempre retrucava com uma risada suave, dando um leve toque em sua testa:

— Não sou fácil de agradar... Eu te amo. É por isso que perdoo suas bobagens.

Então acrescentava com seriedade:

— Mas se algum dia eu parar de te amar... nem se ajoelhar na minha frente vai adiantar.

A memória parecia tão distante agora.

Frederico abriu uma caixa cuidadosamente embalada e mostrou os bolinhos de arroz com um sorriso orgulhoso:

— Viu? Sabia que não conseguiria te enganar.

Alva devolveu o sorriso, com uma doçura melancólica:

— É verdade... você nunca conseguiu me enganar.

Por algum motivo, o comentário dela o deixou inquieto.

— Alva... — sussurrou ele, como se quisesse dizer algo mais.

Antes que ele pudesse continuar, ela se levantou calmamente e foi ao banheiro.

Quando voltou, encontrou Frederico saindo apressado, como se fugisse de algo que nem ele mesmo compreendia.

Alva permaneceu em silêncio por um momento antes de seguir para fora.

No instante em que chegou à porta, parou abruptamente. Não muito longe, estava Ivana.

Ela ousava aparecer assim, tão descaradamente? E ainda na propriedade deles?

Mas, mais do que a surpresa de Alva, a reação de Frederico foi muito mais intensa.

Ele se aproximou rapidamente, seu rosto tomado pela fúria, segurando firmemente o braço de Ivana:

— Você está louca? O que está fazendo aqui? Eu disse claramente que você não deveria aparecer enquanto Alva estivesse em casa!

Ivana estremeceu ao ouvir seu tom áspero, seus olhos rapidamente se encheram de lágrimas. Com um gesto delicado, ela segurou a lapela da camisa dele:

— Eu não consigo ficar longe de você... nem nosso bebê.

Ela guiou a mão dele até sua barriga, como se isso pudesse acalmá-lo.

Frederico, no entanto, puxou sua mão de volta com frieza:

— Pare de agir assim. Vou pedir para meu assistente te levar embora. Nos próximos dias, eu verei você e a criança.

Mas Ivana se recusou a obedecer, agarrando sua mão novamente enquanto fazia beicinho:

— Não! Eu não quero ir com seu assistente. Quero que você me acompanhe!

Antes que ele pudesse reagir, ela puxou sua gravata e se inclinou para beijá-lo.

Frederico inicialmente franziu o cenho e tentou afastá-la, mas diante de sua insistência, seus instintos tomaram conta. Seus braços envolveram sua cintura e ele aprofundou o beijo com intensidade.

As carícias ficaram mais ousadas, suas mãos explorando sob o tecido fino da blusa de Ivana.

Porém, no último momento, ele recuperou o controle e a empurrou para trás bruscamente:

— Já chega. Você precisa ir.

Com os olhos brilhando de lágrimas fingidas, Ivana se aconchegou em seu peito e sussurrou algo ao seu ouvido.

Frederico endureceu momentaneamente, seu rosto assumindo uma expressão sombria.

Por fim, ele suspirou resignado:

— Está bem. Hoje ficarei com você. Vá para o carro, eu irei em breve.

Com um sorriso triunfante, Ivana acariciou sua barriga e entrou no veículo, satisfeita.

Foi nesse instante que Frederico começou a se virar para voltar à casa.

Alva, que observava tudo à distância, rapidamente se virou e saiu antes que ele a visse.

Não demorou muito para Frederico entrar pela porta. E disse:

— Alva, eu planejava passar o dia inteiro com você, mas acabei de receber uma ligação urgente da empresa. Preciso sair agora. Fique em casa, seja boazinha, e assim que eu resolver tudo, prometo passar o dia inteiro ao seu lado, está bem?

Ele esperou ansiosamente pela resposta dela, mas Alva apenas ergueu os olhos e o encarou.

Aquele simples olhar o deixou atônito.

Desde quando os olhos de Alva deixaram de brilhar com aquela luz vivaz?

Sua garganta se apertou, e ele murmurou involuntariamente:

— Alva...

Ele ainda ia dizer algo mais, mas Alva o interrompeu. Seus lábios se curvaram em um leve sorriso, e sua voz soou suave como uma brisa:

— Vá, cuide dos seus assuntos.

Seu tom era tão calmo e gentil que não deixava espaço para suspeitas.

Finalmente, o coração inquieto de Frederico relaxou.

Sem pensar duas vezes, ele acariciou seus cabelos com ternura antes de se virar e sair.

Pouco depois, o som da buzina do carro ecoou do lado de fora, diminuindo até desaparecer por completo.

Assim que o silêncio tomou conta, o sorriso de Alva se desfez, dando lugar a duas lágrimas silenciosas que escorreram por seu rosto.

Ela as enxugou com firmeza e pegou os bolinhos de arroz sobre a mesa, jogando-os no lixo sem hesitação.

Sem demora, entrou no quarto e pegou a mala que já estava pronta há dias.

Depois de lançar um último olhar à casa que um dia chamou de lar, enviou uma mensagem final para Frederico:

“Meio mês se passou. Agora você pode abrir o presente que te dei de aniversário de casamento.”

A resposta dele chegou quase imediatamente:

“Querida, volto para casa em breve. Vamos abrir juntos.”

Alva sorriu amargamente.

Juntos?

Frederico, daqui para frente, você estará sozinho.

Ela então selecionou todas as mensagens que Ivana lhe enviara ao longo dos últimos dias e as encaminhou para ele sem hesitação.

Por fim, retirou o cartão SIM do celular e o quebrou em duas partes.

Segurando sua mala, atravessou a porta uma última vez.

Lá fora, o sol brilhava intensamente, iluminando um novo começo.

A partir de agora, por mais que procurem, ninguém jamais encontrará Alva.
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