Na tarde de sexta-feira quando cheguei do trabalho recebi uma correspondência. Na verdade, um convite para ser palestrante num seminário de terapia ocupacional. O evento aconteceria em São Carlos, na universidade onde eu tinha estudado e seria no mês de agosto, justamente durante meu período de férias. Fiquei empolgada, afinal o tema que eles pediam para eu ministrar era um assunto recorrente na minha prática profissional: tecnologia assistiva, portanto eu estava apta a dissertar sobre o assunto, explicando a importância que os dispositivos usados em terapia tinham para conferir maior independência ao paciente.
Sorri entusiasmada e no mesmo instante liguei o computador para responder afirmativamente à comissão organizadora. Aproveitei também para fazer algumas pesquisas sobre o tema da palestra, no entanto me dei conta que em breve precisaria ir a uma biblioteca procurar artigos recentes.
Como prometera, Alexandre comprou para mim um lindo vestido para eu usar na festa do grupo Bastos. A peça era maravilhosa! Em tafetá de seda vermelho, tomara que caia, justo no corpo e com um caimento impecável, afinal era um Versace e como tal não seria diferente. Os sapatos e joias também ficaram por conta do meu namorado e mesmo que eu tenha dito que não havia necessidade Alexandre me produziu da cabeça aos pés. Tentei não me consumir em culpa ao imaginar os gastos astronômicos do meu namorado comigo, mas ainda assim pensei bastante no que eu poderia dar a ele para me aproximar um pouco de presentes tão lindos. Infelizmente eu não tinha muito dinheiro disponível, tinha algumas reservas que haviam sobrado após a partilha dos bens que ocorreu durante o divórcio, mas mesmo que usasse parte do dinheiro não seria o suficiente para dar um presente
Se duas noites antes eu estava totalmente relaxada e feliz quando comemorei com Alexandre o primeiro mês de namoro, não podia afirmar o mesmo de hoje, afinal havia chegado o dia da festa do grupo Bastos e ainda que eu estivesse elegante e bonita com o Versace que ganhara de presente, eu sabia que seria analisada e talvez até condenada por muitos. O pensamento me causou um leve tremor e eu tentei me acalmar, porém, ao imaginar que em menos de uma hora eu conheceria colegas, amigos e outros familiares do meu namorado, minha ansiedade aumentou. - Calma Carol, são pessoas ricas, mas ainda sim são apenas pessoas como você. A frase saiu em voz alta, com o objetivo de abrandar meus ânimos, no entanto quando a campainha tocou eu senti meu coração disparar novamente. De qualquer modo fui até a porta e a abri. Alexandre me olhou da cabeça aos pés e
A noite estava ótima, no entanto eu estava cansada, por isso uma hora depois que o senhor Xavier fez seu discurso ao lado dos filhos, eu sugeri a Alexandre irmos embora. Ele respondeu com um tom libertino em meu ouvido. - Mas eu ainda nem a levei para conhecer o resto do edifício. Ele acariciou levemente minha nuca, contudo de um modo bem sugestivo, senti um frenesi pelo corpo, e por isso perguntei: - Você não está propondo o que eu acho que está, não é? - Estou propondo sairmos de fininho daqui, mas não para ir embora, mas sim para subirmos até a cobertura, lá tem um heliponto, sabia? - Não, acho que você não tinha me contado isso. - Não?! – Seu tom foi propositadamente fingido, porém seu olhar foi sensual. – Então é melhor mostrar a você como ficou.
Olhei-me no espelho do banheiro do escritório decorado e resmunguei. - Meu cabelo está todo bagunçado! Alexandre estava terminando de vestir-se, mas ainda assim me observou. - Não está amor, está impecável. - Não está não! Olhe aqui! – Apontei para o alto da cabeça, onde alguns fios soltos comprovavam minha fala. Alexandre se aproximou e me olhando pelo espelho disse: - Você está linda como sempre, ninguém vai notar alguns fios soltos. Não se preocupe! - Como não? Assim que voltarmos para o salão vão perceber o que houve. - Você acha mesmo? Acha que o pessoal vai imaginar que trepamos de um jeito delicioso agora pouco? - Alexandre! - Que foi? - Não gosto quando você fala assim!
Eu não voltei a conversar com Alexandre sobre seu pai, nem tão pouco perguntei mais detalhes sobre a relação dele com o irmão, porque decidi que não queria envolvimento com a família Bastos. Meu namorado era uma excelente pessoa, eu não tinha dúvidas disso, no entanto seus familiares não me causaram boa impressão, portanto o melhor a fazer era ignorá-los. Contudo, se eu podia manter distância deles, não queria o mesmo em relação a minha família, e lembrando do pedido da minha mãe para ir a Ribeirão passar alguns dias, na segunda-feira enquanto trabalhava, aproveitei meu horário de intervalo para conversar com Dr. Isidoro, meu chefe, e pedir uma folga. Ele concedeu, entretanto, o fez com a condição de que eu repusesse as horas devidas em algum momento. Concordei, e por isso ficou acertado que eu folgaria no
Se não senti vontade de manter contato com a família de Alexandre, não aconteceu o mesmo com relação aos seus colegas de trabalho, por isso quase uma semana depois da festa do grupo Bastos acompanhei meu namorado até seu escritório em Moema. O lugar era extremamente agradável, ficava numa rua arborizada e o sobrado que abrigava o escritório era bastante charmoso e acolhedor. Além das garotas que eu já havia conhecido, uma mulher na faixa dos quarenta e poucos anos chamada Elaine trabalhava como assistente. Ela me recebeu muitíssimo bem e apesar de não ser bonita, era simpática e bastante eficiente segundo Alexandre. Meu namorado tinha sua própria sala, Pedro ocupava outra, mas Carla e Melissa dividiam o espaço num cômodo mais amplo, porém todos trabalhavam no segundo andar do sobrado e no térreo ficavam a recep&
Finalmente chegou o dia de ir para Ribeirão Preto e na estrada eu tentei me manter serena e não pensar muito nas reações dos meus pais quando conhecessem Alexandre. Dois dias antes eu havia ligado e contado à minha mãe que estava saindo com um homem, contudo não dei detalhes sobre meu namorado, apesar de dona Carmem me bombardear com perguntas. Eu não queria responder nenhuma delas por telefone e por isso disse que precisava terminar um relatório do hospital para entregar ao meu chefe. Então desliguei e tentei não pensar no assunto, mas faltando pouco mais de uma hora para chegar ao destino, comecei a sentir a ansiedade crescer cada vez mais. - No que está pensando, minha linda? Está tão calada! Olhei para Alexandre, era ele quem dirigia, estava atento ao volante, mesmo assim não parecia preocupado com nada, já eu estava quase dizendo para ele f
Apesar da discussão com minha mãe, ela não foi grossa com Alexandre, claro que não ficou saltitando de alegria pela casa, mas conseguiu pelo menos prestar atenção nele quando ele falava. Não era difícil porque Alexandre era o tipo de pessoa que cativava facilmente os demais, era simpático e tinha um bom papo e isso facilitou bastante o entrosamento com meu pai, meu sobrinho e com Camila, que só o conheceu no final do dia, porque tinha passado o feriado dando plantão no hospital, mas após jantarmos e arrumarmos a cozinha minha irmã comentou quando estávamos apenas nós duas. - Mas que gato você arranjou, heim?! Estou morrendo de inveja! - Ai Cacá! Eu ri, ela também, de qualquer modo eu sabia que sua fala não passava de brincadeira, porque de verdade nós nos dávamos muito bem, a