Existe um lado ruim no fato de estar apaixonada, o momento em que os compromissos do cotidiano retornam e somos obrigados a deixar o ser amado. Me senti triste ao ver Alexandre sair do meu apartamento na manhã de segunda-feira, porque apesar de termos ficado juntos durante todo o fim de semana, parecia que não havia sido o bastante.
Soltei um suspiro de lamento antes de sair de casa para ir a garagem. Eu estava alguns minutos atrasada para o trabalho, mas se tivesse sorte não chegaria depois do meu horário de entrada no hospital. No entanto, meu celular tocou e ao ver o número achei melhor atender.
- Alo.
- Ah, você está viva afinal! Que bom!
Minha mãe ironizou e pelo seu tom eu sabia que ela não estava num bom dia, mesmo assim perguntei:
- Oi mãe, tudo bem?
- Sim, aqui em casa está tudo ótimo! Mas eu g
Os dias que se seguiram foram fantásticos! Eu e Alexandre nos víamos sempre, quase todas as noites ele ia ao meu apartamento. Na verdade, só quando eu tinha aulas de balé pedia que não fosse, porque eu sempre chegava cansada e em tais ocasiões eu precisava de uma bela noite de sono e nada mais. Quando Alexandre ouviu isso na primeira semana após transarmos choramingou manhosamente para ficar no meu apartamento e por isso eu cedi, no entanto, sua promessa de que me deixaria dormir à noite toda foi em vão e de madrugada fui acordada com beijos e súplicas apaixonadas de que queria fazer amor. Então, para evitar novas mas prazerosas armadilhas eu o proibia de ir me ver as segundas e quartas, mas a verdade é que já sentia falta de tê-lo ao meu lado e por um momento senti medo dessa sensação, afinal era pouco tempo juntos para estar tão entregue como eu estav
Passados alguns dias saí com Alexandre para jantar. Estávamos a caminho de uma lanchonete quando eu ouvi: - Amor, você lembra quando eu contei que saltava de paraquedas? - Sim, é claro! Você até comentou que tem uma prima que as vezes o acompanha nos saltos. - Isso mesmo, a Bia, um amor de pessoa, você precisa conhecê-la. Ela, e a mãe Isaura são minhas parentes mais próximas aqui em São Paulo. Inclusive minha tia ajudou bastante meu pai depois que perdi minha mãe. Estava sempre presente, me ajudando nos estudos e as vezes até me acompanhando as sessões de terapia. - Terapia?! - Sim, depois que minha mãe morreu eu fiquei muito mal e comecei a dar trabalho, então meu pai achou melhor me levar a um psicólogo, pra ajudar a enfrentar o luto. - E ajudou? - Bastante, tanto
Na tarde de sexta-feira quando cheguei do trabalho recebi uma correspondência. Na verdade, um convite para ser palestrante num seminário de terapia ocupacional. O evento aconteceria em São Carlos, na universidade onde eu tinha estudado e seria no mês de agosto, justamente durante meu período de férias. Fiquei empolgada, afinal o tema que eles pediam para eu ministrar era um assunto recorrente na minha prática profissional: tecnologia assistiva, portanto eu estava apta a dissertar sobre o assunto, explicando a importância que os dispositivos usados em terapia tinham para conferir maior independência ao paciente. Sorri entusiasmada e no mesmo instante liguei o computador para responder afirmativamente à comissão organizadora. Aproveitei também para fazer algumas pesquisas sobre o tema da palestra, no entanto me dei conta que em breve precisaria ir a uma biblioteca procurar artigos recentes.
Como prometera, Alexandre comprou para mim um lindo vestido para eu usar na festa do grupo Bastos. A peça era maravilhosa! Em tafetá de seda vermelho, tomara que caia, justo no corpo e com um caimento impecável, afinal era um Versace e como tal não seria diferente. Os sapatos e joias também ficaram por conta do meu namorado e mesmo que eu tenha dito que não havia necessidade Alexandre me produziu da cabeça aos pés. Tentei não me consumir em culpa ao imaginar os gastos astronômicos do meu namorado comigo, mas ainda assim pensei bastante no que eu poderia dar a ele para me aproximar um pouco de presentes tão lindos. Infelizmente eu não tinha muito dinheiro disponível, tinha algumas reservas que haviam sobrado após a partilha dos bens que ocorreu durante o divórcio, mas mesmo que usasse parte do dinheiro não seria o suficiente para dar um presente
Se duas noites antes eu estava totalmente relaxada e feliz quando comemorei com Alexandre o primeiro mês de namoro, não podia afirmar o mesmo de hoje, afinal havia chegado o dia da festa do grupo Bastos e ainda que eu estivesse elegante e bonita com o Versace que ganhara de presente, eu sabia que seria analisada e talvez até condenada por muitos. O pensamento me causou um leve tremor e eu tentei me acalmar, porém, ao imaginar que em menos de uma hora eu conheceria colegas, amigos e outros familiares do meu namorado, minha ansiedade aumentou. - Calma Carol, são pessoas ricas, mas ainda sim são apenas pessoas como você. A frase saiu em voz alta, com o objetivo de abrandar meus ânimos, no entanto quando a campainha tocou eu senti meu coração disparar novamente. De qualquer modo fui até a porta e a abri. Alexandre me olhou da cabeça aos pés e
A noite estava ótima, no entanto eu estava cansada, por isso uma hora depois que o senhor Xavier fez seu discurso ao lado dos filhos, eu sugeri a Alexandre irmos embora. Ele respondeu com um tom libertino em meu ouvido. - Mas eu ainda nem a levei para conhecer o resto do edifício. Ele acariciou levemente minha nuca, contudo de um modo bem sugestivo, senti um frenesi pelo corpo, e por isso perguntei: - Você não está propondo o que eu acho que está, não é? - Estou propondo sairmos de fininho daqui, mas não para ir embora, mas sim para subirmos até a cobertura, lá tem um heliponto, sabia? - Não, acho que você não tinha me contado isso. - Não?! – Seu tom foi propositadamente fingido, porém seu olhar foi sensual. – Então é melhor mostrar a você como ficou.
Olhei-me no espelho do banheiro do escritório decorado e resmunguei. - Meu cabelo está todo bagunçado! Alexandre estava terminando de vestir-se, mas ainda assim me observou. - Não está amor, está impecável. - Não está não! Olhe aqui! – Apontei para o alto da cabeça, onde alguns fios soltos comprovavam minha fala. Alexandre se aproximou e me olhando pelo espelho disse: - Você está linda como sempre, ninguém vai notar alguns fios soltos. Não se preocupe! - Como não? Assim que voltarmos para o salão vão perceber o que houve. - Você acha mesmo? Acha que o pessoal vai imaginar que trepamos de um jeito delicioso agora pouco? - Alexandre! - Que foi? - Não gosto quando você fala assim!
Eu não voltei a conversar com Alexandre sobre seu pai, nem tão pouco perguntei mais detalhes sobre a relação dele com o irmão, porque decidi que não queria envolvimento com a família Bastos. Meu namorado era uma excelente pessoa, eu não tinha dúvidas disso, no entanto seus familiares não me causaram boa impressão, portanto o melhor a fazer era ignorá-los. Contudo, se eu podia manter distância deles, não queria o mesmo em relação a minha família, e lembrando do pedido da minha mãe para ir a Ribeirão passar alguns dias, na segunda-feira enquanto trabalhava, aproveitei meu horário de intervalo para conversar com Dr. Isidoro, meu chefe, e pedir uma folga. Ele concedeu, entretanto, o fez com a condição de que eu repusesse as horas devidas em algum momento. Concordei, e por isso ficou acertado que eu folgaria no