CAPÍTULO 35 Valéria Muniz — Calma, soldado! — o toquei por inteiro, tentando entender como estava, tentando acalmá-lo. — Se abaixem! — sua voz ainda estava alta, senti que ele cobriu a sua cabeça com seus braços, como se ainda estive em confronto, e firmava com força, senti seus punhos estremecerem em minhas mãos quando o toquei. — Calma soldado! Você não está mais na guerra, a guerra acabou! — tentei abraçar, passei as mãos nos seus punhos em movimentos que costumava usar à dois anos quando ele ainda estava ferido, tentei tocar o seu rosto, sua cabeça, e massageei muitas vezes — Eu estou aqui para te ajudar, calma! Theodoro estava claramente tendo outro surto piscicótico, deitado de bruços no chão, marchando no mesmo lugar, provavelmente se escondendo de um ataque que ele costuma imaginar enquanto dorme. Meu coração apertou, não acredito que dois anos se passaram, e ele continua do mesmo jeito? Com as mãos senti seus olhos fechados, eu pr
CAPÍTULO 36 Valéria Muniz Acordei e ele já não estava na cama. Precisei colocar a roupa que usei ontem, e então me levou para o trabalho, mas hoje era ele quem estava em silêncio, e eu engasgando com as perguntas que surgiam na minha mente. — Tome cuidado, te peço que não saia sozinha. Ezequiel sumiu, mas pode voltar a qualquer momento, então... — Tudo bem. — respondi apressada. — Amanhã eu venho te buscar no horário do almoço, ficarei com você até a Edineia chegar. — Está bem. — Realmente está bem? — colocou a mão no meu ombro. — Me responde uma coisa, que não saiu da minha cabeça... — coloquei a mão na cintura. — Sim. — Porquê você mencionou o nome da Anelise ontem, quando já estávamos deitados? — ele tirou a mão do meu ombro, pensou por alguns segundos. — Pensei que havia dormido... bom, como você deve ter notado, eu tenho algumas crises noturnas devido a pesadelos, ou através de determinados sonhos e até mesmo
CAPÍTULO 37 Valéria Muniz Fiquei preocupada em como comer na frente dele, pelo que ouvi a Anelise falar, eram apenas saladas e macarrão com almôndegas, mas demorei bastante, tentando não parecer boba e bagunceira na mesa. Confesso que me senti um pouco estranha, já que Anelise era tão simpática e tirava muitas gargalhadas do Theodoro enquanto a gente almoçava, e eu não sabia como fazer. A Edineia chegou quando eu já estava terminando de comer, ambos me esperaram por educação, então quando terminei, foram embora. — Val, não esqueça que um oficial virá te buscar, provavelmente o Sargento. — Theodoro me disse, já na porta da cozinha, antes de ir. — Está bem. Está tudo certo com a festa? — Sim, não se preocupe com nada — veio no meu ouvido — Apenas, em ficar ainda mais bonita pra mim! — sorri. — Comprei um hijab lindo, que combina com o vestido, espero que goste. — Provavelmente vou adorar ver, e ainda mais arrancar! — senti meu rosto corar, mas mantive a pose. — Com certeza!
CAPÍTULO 38 Valéria Muniz — Vem, vou ligar o chuveiro pra você! — ela foi me ajudando com muita agilidade, assim que tomei banho, ela já estava com uma escova de cabelo nas mãos, um secador foi ligado e muito rápido ela secou e colocou alguns plásticos nas pontas, que ela chamou de “bobes”. — AHHHH! — Quase morri de dor com a depilação, mas ela era rápida, e quando terminou, ficou inacreditável a maciez da minha pele. — Nossa, parece incrível! — “Será que não vai aparecer ainda mais as cicatrizes que Aaron me deixou nas pernas?“ — Edineia não comentou nada, então tomei coragem de perguntar: — As cicatrizes... elas são horríveis, não são? — perguntei com um nó na garganta. — Olha, eu notei algumas pequenas marcas, mas são tão insignificantes que nem perguntei. Pelo visto são marcas de queimaduras, mas se está preocupada, saiba que são muito discretas, quase não aparecem. — Ah... que bom, então... — me aliviei, embora passando a mão eu ainda as sinta. — Já vou começar a maquiage
CAPÍTULO 39 Theodoro Almeida Sexta-feira (1 dia antes do casamento) Por mim o casamento teria sido apenas no cartório, mas depois da ligação do Vicente, tudo mudou: — ”Meus pais querem ir na cerimônia, e também tem alguns amigos da Anelise e meus. O que acha de fazer numa igreja? O pai de alguns amigos nossos, conseguiu reservar para amanhã, e ainda sem custos, caso queira. Parece que um casamento foi cancelado e a igreja estava pré-decorada”. — Nossa! — O quê? — Parece bom demais. Conhece bem essas pessoas? — desconfiei. — Sim, mas posso ir com você hoje a tarde, e as crianças podem te assistir casar. A não ser que esse casamento não tenha nenhum sentimento, e queira casar de novo mais tarde... — fiquei pensando por um momento. — Não, não pretendo me casar novamente. — Por mais que não ame a Valéria, não tenho pressa em me divorciar, a pressa é dela, e realmente não me casarei de novo, então... — Isso é um “sim”? — ouvi a voz da A
CAPÍTULO 40 Theodoro Almeida Encostei seu corpo no meu, a apoiando nos meus braços, inclinando-a, fazendo as pontas do seu cabelo ficarem no ar, e vendo a expectativa que havia no rosto dela. Segurando seu queixo eu a envolvi no meu beijo, uma das mãos a segurava e a outra mostrava a ela: que estava comigo, estava segura. Seu gosto doce e envolvente me tiraram o foco de tudo, por alguns segundos esqueci dos detalhes, esqueci que a igreja estava lotada de crianças, precisei me controlar. — Estou louco para roubar a noiva. — sussurrei outra vez na sua boca, porém não pude aprofundar em intimidades, ao olhar no rosto dos oficiais que fizeram a guarda de honra da noiva. — HEEE! — ao ouvir o alvoroço dos convidados e as palmas das crianças, ergui a Valéria de novo, cuidando para que se apoiasse em mim, e desejei realmente que as coisas dessem certo. O coronel estava presente, tomou sua posição e então fiquei orgulhoso, todos os oficiais estavam em form
CAPÍTULO 41 Valéria Muniz A única coisa de que tenho medo, é de acordar. Abrir os olhos do coração e saber que não passou de um sonho, que não é real..., mas como não seria? Se a minha alma grita de emoção ao sentir a alegria de cada detalhe, cada acontecimento. “Eu te avisei... seu tenente não tirou os olhos de você!“ — sorri ao lembrar das palavras da Edineia quando nos cumprimentou. “Ah, como eu gostaria de ter visto isso!“ — meu eterno soldado me olhando. “Como seria essa sensação?“ Me perdi em pensamentos depois de comer tão bem, ele é tão cuidadoso... — Valéria? — Hum? — virei depressa para Theodoro. — Quer dançar? Por esses lados, é comum os noivos abrirem a pista de dança com a valsa! — as palavras dele foram como sentir um vento forte, tentando me derrubar. Estremeci na cadeira segurando o guardanapo. — Eu não sei, dançar! Sinto muito... — lembrei do sufoco que passei numa festa com dezoito anos. Aaron me deixou dançar co
CAPÍTULO 42 Theodoro Almeida — Eu não sou essa pessoa que você pensa! Eu... eu... — saí de cima dela, passando as mãos pelo rosto — Theodoro! — levantei da cama. — Valéria, porque você não disse? Eu fiquei todos esses dias pensando isso de você, e não é prostituta? — ela sentou de cabeça baixa, mas depois a levantou, falando mais alto. — Foi você quem deduziu, Theodoro! Só porque eu estava no seu quarto, começou a me acusar, fiquei com raiva! Depois você não se lembrou de mim — levantou da cama — Você precisa me entender! Porque eu te diria? — senti uma revolta dentro de mim. — Eu não acredito, nisso! Pensei mal de você, quando nem era verdade? — meu sangue ficou quente, segurei o corpo dela e empurrei contra a parede para beijá-la. Segurando no seu queixo, a beijei intensamente até perder o ar, encostando meu corpo no dela, a apertando em mim — Me diz o que foi fazer lá? Porquê me procurou no meu quarto, então? — Eu apenas te ouvi chamar, fui te