CAPÍTULO 30 Valéria Muniz — Ele se lembrou de mim, meu amorzinho! Seu tio é meio mandão e grosseiro às vezes, mas é a pessoa que mais tem feito coisas pela titia! Ah meu Deus, você deve me achar uma doida, porquê ele parece ter feito pouco, mas pode gargalhar pra ele quando chegar, porque ninguém se lembra e faz algo pela titia como ele! — as risadas gostosas de Samuel é o que me faz sorrir, querer passar por cada dificuldade que tenho enfrentado. Só não posso lembrar do meu irmão Abel, então eu choro e não quero chorar agora. — Depois a titia chora, não é? — os furinhos da bochechinha dele são lindos quando sorri, já senti algumas vezes quando passo os dedos, consigo visualizar bem, na minha mente. Escolhi um hijab de tecido fino, porquê a dona Anelise disse que o vestido que me deu é da mesma cor, e muito bonito. Usarei uma roupa melhor hoje, e esse de mangas médias e um pouco mais justo, deve ficar bom. A moça da limpeza me ajudou a escolher uma roupinha para o bebê e logo eu j
CAPÍTULO 31 Theodoro Almeida Ver a alegria estampada no rosto da Valéria, chegou a deixar o meu rosto dolorido de tanto sorrir, é incrível como parece uma menina de uns quinze anos ou menos. — Você está louco para ajudar a sua nova tia a provar o bolo, não é Samuca? — brinquei com o Samuel que estava se divertindo, batendo as mãozinhas. Levantei, me aproximei e toquei no rosto dela com chantilly, Valéria virou como se estivesse me olhando, ou tentando me ver, logo peguei um guardanapo e limpei o rosto sujo, mas ela continuava ali... — Estava sujo, mesmo. — me expliquei. — Não é isso. Eu só queria agradecer pela noite incrível! — Teremos muitas oportunidades, mulher! Você parece uma menina, toda desconcertada! — brinquei, mas ela não sorriu como imaginei, parecia emocionada. — Val, se quiser eu te ajudo a lavar as mãos! — Edineia falou e ela assentiu, indo até a pia. — Obrigado, Edineia! Vou indicar essa confeitaria a todo o quartel, v
CAPÍTULO 32 Valéria Muniz “Ele está lembrando?“ “Meu Deus, ele está lembrando!“ Senti meu coração batendo mais forte, qualquer hora esse homem me mata, ou por sumir como fez essa semana, ou por me fazer esquecer que sumiu, dessa maneira... coração bobo, porque se emociona, tanto? Theodoro parou na minha frente e não saiu mais. Ficou em silêncio por um tempo, o senti tocar o meu rosto como fiz com o dele, eu poderia jurar que estava me analisando, talvez tentando entender de onde me conhecia. — Não vai falar, não é? — sua voz era descontraída. — Até onde eu sei, não é bom contar essas coisas, quando se teve perca de memória, espero que se lembre rápido. — Tem sorte, Val... gosto de desafios, vou me lembrar! — sorri ao sentir seu dedo dando batidinhas no meu rosto. — Está bem. — Boa noite, Val! — segurou melhor a minha mão, me fazendo suspirar, sentindo ele brincar com meus dedos e os óculos. — Boa noite Theodoro, você... — an
CAPÍTULO 33 Valéria Muniz Quando ele falou isso, entrei em desespero. Segurei um pedaço quebrado da cadeira, mas comecei a pensar enquanto o ouvia levantar, e ele deveria estar possuído com o empurrão, jamais o afrontei. Sem opção eu peguei o celular: — Vou ligar, estou ligando! — fiz a discagem rápida que Theodoro me ensinou, liguei para ele na frente de Aaron, por alguns segundos eu estaria segura. Aaron não me agrediu por agora, e eu tinha uma chance de Theodoro me atender e me ajudar. No segundo toque ele atendeu, acho que nunca quis tanto ouvir a sua voz. — Val? Se está preocupada com seus óculos, eu estou levando, acabei deixando no meu bolso. — Preciso de dez mil reais, pode enviar na conta da minha irmã Raquel, dona Anelise. — Val, o que está acontecendo? — Preciso de um adiantamento do trabalho, para pagar as coisas do casamento... — Querida, continua na linha... vai explicando como transferir o dinheiro, que já est
CAPÍTULO 34 Valéria Muniz Embora tudo tenha terminado bem, eu não estava bem. Como Theodoro não perguntou mais nada, me encostei no banco e fiquei quietinha. “Mãezinha, porque meus irmãos são assim?“ — ah, me esqueço que meu pai também era como eles, só que com a minha mãe viva, as coisas não eram assim. . Senti o carro parar, ouvi o barulho da porta dele abrindo, e também algumas vozes masculinas do lado de fora. Depois ouvi quando o porta-malas abriu, e alguns gritos do Aaron, mas eu estava sentida demais, precisava ficar sozinha. Quando Theodoro voltou, senti a sua mão na minha coxa. — Tudo bem, aí? — engoli o ar sem sequer, quase me engasguei. Não estou acostumada com o comportamento masculino dessa maneira. — Sim, só estou pensando um pouco. — ele acariciou de leve, mas logo soltou, permitindo que o ar saísse dos meus pulmões. — Ok, já liguei para o Vicente, ele disse que tudo bem você dormir na nossa casa, aliás, agora terão que e
CAPÍTULO 35 Valéria Muniz — Calma, soldado! — o toquei por inteiro, tentando entender como estava, tentando acalmá-lo. — Se abaixem! — sua voz ainda estava alta, senti que ele cobriu a sua cabeça com seus braços, como se ainda estive em confronto, e firmava com força, senti seus punhos estremecerem em minhas mãos quando o toquei. — Calma soldado! Você não está mais na guerra, a guerra acabou! — tentei abraçar, passei as mãos nos seus punhos em movimentos que costumava usar à dois anos quando ele ainda estava ferido, tentei tocar o seu rosto, sua cabeça, e massageei muitas vezes — Eu estou aqui para te ajudar, calma! Theodoro estava claramente tendo outro surto piscicótico, deitado de bruços no chão, marchando no mesmo lugar, provavelmente se escondendo de um ataque que ele costuma imaginar enquanto dorme. Meu coração apertou, não acredito que dois anos se passaram, e ele continua do mesmo jeito? Com as mãos senti seus olhos fechados, eu pr
CAPÍTULO 36 Valéria Muniz Acordei e ele já não estava na cama. Precisei colocar a roupa que usei ontem, e então me levou para o trabalho, mas hoje era ele quem estava em silêncio, e eu engasgando com as perguntas que surgiam na minha mente. — Tome cuidado, te peço que não saia sozinha. Ezequiel sumiu, mas pode voltar a qualquer momento, então... — Tudo bem. — respondi apressada. — Amanhã eu venho te buscar no horário do almoço, ficarei com você até a Edineia chegar. — Está bem. — Realmente está bem? — colocou a mão no meu ombro. — Me responde uma coisa, que não saiu da minha cabeça... — coloquei a mão na cintura. — Sim. — Porquê você mencionou o nome da Anelise ontem, quando já estávamos deitados? — ele tirou a mão do meu ombro, pensou por alguns segundos. — Pensei que havia dormido... bom, como você deve ter notado, eu tenho algumas crises noturnas devido a pesadelos, ou através de determinados sonhos e até mesmo
CAPÍTULO 37 Valéria Muniz Fiquei preocupada em como comer na frente dele, pelo que ouvi a Anelise falar, eram apenas saladas e macarrão com almôndegas, mas demorei bastante, tentando não parecer boba e bagunceira na mesa. Confesso que me senti um pouco estranha, já que Anelise era tão simpática e tirava muitas gargalhadas do Theodoro enquanto a gente almoçava, e eu não sabia como fazer. A Edineia chegou quando eu já estava terminando de comer, ambos me esperaram por educação, então quando terminei, foram embora. — Val, não esqueça que um oficial virá te buscar, provavelmente o Sargento. — Theodoro me disse, já na porta da cozinha, antes de ir. — Está bem. Está tudo certo com a festa? — Sim, não se preocupe com nada — veio no meu ouvido — Apenas, em ficar ainda mais bonita pra mim! — sorri. — Comprei um hijab lindo, que combina com o vestido, espero que goste. — Provavelmente vou adorar ver, e ainda mais arrancar! — senti meu rosto corar, mas mantive a pose. — Com certeza!