CAPÍTULO 50 Valéria Muniz Era inconfundível aquele cheiro de perfume, Carla estava aqui. Era só o que faltava, essa mulher começar a incomodar... — O que faz aqui, Carla? — ajeitei meus óculos, tentando ver pelo menos um pouquinho para saber como essa bruxa era, porém só vi o seu vulto, parece magra. — Como sabe quem é? Por acaso está tirando onda com o Théo? Não é cega? — respirei fundo, tentando não me estressar com ela, “sou cega, não idiota!“ — pensei, pois ouço e sinto cheiros muito bem, além de várias outras percepções que são bem apuradas. — Acredito que não seja da sua conta, e com certeza não é esse o motivo que te trouxe até aqui, não é? Então seja direta, por favor que não tenho o dia todo! — tantos já me humilharam, essa mulher não vai conseguir, não vou deixar. — Enfim, tirou as asas pra fora! Está mostrando a cara, tirou até o pano de freira da cabeça! — me empurrou levemente, passando por mim, impregnando aquele cheiro de perfume por
CAPÍTULO 51 Carla Eu não acredito que apanhei daquela cega, e mesmo com uma faca quente, a Anelise conseguiu me dominar e tirar de mim! Que ódio, como isso é possível? Eu já estava conquistando aquele homem, mesmo cego de amores por uma mulher que nem olhava pra ele, ele sempre me escolhia para fazer programas, estava tão perto... Não sei o que aquela cega tem no meio das pernas, que conseguiu amarrar o tenente desse jeito, mas vou pegá-lo de volta, ah vou! Saí toda dolorida daquela casa, virei o pé na porta e acho que inchou. Peguei um ônibus antes que aquela personal me esmagasse, “que mulher forte, igual aquela cega!“ Já não basta os machucados que aquele velho me deixou, agora vou ficar roxa com as begaladas da cega... Preciso encontrar o Theodoro, dizer a minha versão, antes que ele ouça àquelas duas... Fui até o hospital e falei com uma atendente. Menti que estava passando mal, fiz um escândalo e avisei para ligarem no contato de emergê
CAPÍTULO 52 Valéria Muniz — Diga, Ane... não me deixe ficar pior, sem saber o que está acontecendo! — ouvi o barulho da cadeira. — Olha, eu estava lendo, acho que tem algo errado... — Por que? — Realmente é um recibo da casa de mulheres, e o cartão é do Théo. — meu coração começou a palpitar, meu peito doeu como se tivesse recebido uma facada. — Porém... coloco a minha mão no fogo por ele, acredito que possa ser uma montagem, ou algum pagamento antigo, e não especifica o tipo de serviço prestado, nem... — Não precisa defender... acho que confiei demais. — ouvi quando ela levantou da cadeira e veio até a mim, segurando na minha mão. — Eu o conheço, confio nele. Você também deveria, essa mulher é sem caráter e baixa... a gente deveria ter chamado mesmo, a polícia! — a voz dela era firme, estava tentando me animar ou também confiou demais nele. — Você mesma leu, porque ele faria um pagamento desses? Nenhum estabelecimento aceitaria um pagamento t
CAPÍTULO 53 Theodoro Almeida Saí daquele hospital com tanta raiva daquela mulher, fui para casa saber como estava a Val, minha cabeça está a mil, só de pensar que aquela desclassificada pudesse ter feito algum mal a ela. — Ela está aqui? Está bem, Ane? — perguntei assim que cheguei no portão de casa. — Théo, eu não quis deixar a Valéria sozinha, eu cheguei na hora que a Carla estava esquentando uma faca no fogo, pra queimar o rosto da Val, e ela conseguiu ainda dar umas bengaladas nela, mas não tem como saber pra onde ela foi, a direção, nem nada. Se eu não tivesse chegado naquele momento, poderia, sim, ter acontecido alguma coisa. — QUE MERDA! QUAL É DAQUELA MULHER? — PORQUE PAGOU UMA PROSTITUTA, SENDO CASADO, THÉO? DEIXOU A VALÉRIA SOZINHA, ONTEM? — EU SÓ PAGUEI UMA DELAS PRA CUIDAR DAQUELA PUTA, NADA MAIS! DESCULPA AS PALAVRAS, MAS ESTOU SATURADO COM A AUDÁCIA DAQUELA MULHER, ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM! — Se acalme, tá? Eu também acho que não deveria
CAPÍTULO 54 Valéria Muniz Eu nem comecei a explicar para o delegado, e quase caí de costas ao ouvir a voz da Carla, juntamente com aquele cheiro que agora me dá náuseas. — Você não tem autorização para entrar aqui! Ponha-se daqui pra fora! — Theodoro falou alto, percebi que levantou da cadeira, pelo barulho e levantei também, parecia realmente irritado com a Carla — Viemos prestar queixa de você, é melhor não piorar as coisas! — Eu vim me explicar, por favor me deixem explicar! Seu delegado, eu preciso me desculpar com a moça, realmente perdi a razão, sou uma burra! — Carla falou, parecendo apavorada, não entendi o que estava acontecendo, mas senti quando o Théo me puxou pra perto dele, abraçando meu corpo e me colocando do seu lado. — Então a senhorita é a Carla? — delegado perguntou com um tom de voz mais alto e firme. — Sim! Por favor, me permita falar, explicar o que aconteceu... — tentou ela e senti que estava mais perto, talvez por isso o Théo tenha me puxado. — Pegue os
CAPÍTULO 55 Theodoro Almeida Eu já estava suando frio, inquieto e louco para que aquilo terminasse bem. Acho que foi a primeira vez depois de anos, que alguém me fez ficar feito um bobo, com receio de dar um passo, de falar algo que não deveria, de falhar. A minha mente entrou em colapso, era o delegado de um lado, (com o seu jeito dominador, alguém que está acima de mim)... de outro a Carla que tive vontade de inforcar, mas não poderia, por estar na delegacia, porém o pior foi a Val, que na sua doce inocência quis se vingar da Carla e ainda discutir com o delegado, pensei que teria um treco, ou na melhor das hipóteses, seríamos presos. Nem acreditei quando consegui sair lá de dentro com a Val, que ainda estava uma vespa, sem me deixar encostar nela. “Será que sempre foi assim? Ou estraguei a sua ternura, quando fui ajudar a Carla?“ — Você esqueceu a sua bengala, trouxe pra você! — entreguei pra ela antes de entrar no carro, e praticamente puxou da mi
CAPÍTULO 56 Valéria Muniz Theodoro estava me tratando muito bem, isso eu não posso negar, mas o que me causou uma forte dor no peito e uma tristeza diferente, foi o fato de eu ter criado a ilusão de que estava em uma vida dos meus sonhos, e veio uma pessoa e chacoalhou tudo, me fazendo relembrar algo que não quero viver novamente. Encostei a cabeça na cabeceira da da cama, já que tive um dia movimentado, então lembrei de ter ouvido que teria jogo hoje, me preocupei, e não deu outra, começaram os fogos de artifício e em seguida ouvi um grito que já sabia o que era, Théo teve outro surto. Sentei na cama, procurei os óculos e a bengala e segui de onde vinha o som dos gritos. — AHHHH! AVANÇAR, TROPA! — ele gritou de repente, então tive certeza que estava acontecendo alguma coisa. Levantei, contei os passos ao sair do quarto, e parada ali, me concentrei no cheiro e no som. — ELES ESTÃO SE APROXIMANDO! — ao ouvir outro grito, percebi que vinha da cozinha, eu só precisava me concentrar
CAPÍTULO 57 Carla — AHHHHH, ME SOLTA, ME DEIXE IR! — continuei gritando até que me levaram até as celas, cheia de mulheres presas num lugar só, sem ter onde ficar, todas sentadas no chão, ou agarradas nas grades. — Já chega de show! — Você vai me colocar aqui? AQUI NÃO TEM LUGAR, ESTÁ LOTADO! — UÉ? VOCÊ NÃO FOI CORAJOSA E COVARDE PARA BATER NUMA CEGA? AGORA ESTÁ COM MEDO? POIS VAI FICAR AQUI, ESPERANDO A SUA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA OU ALGUÉM PAGAR SUA FIANÇA. E, DIGO MAIS... SE COMPORTE, PORQUÊ ELAS NÃO ESTÃO DE BOM HUMOR! — o homem simplesmente me obrigou a entrar, me empurrou e eu fiquei ali... morrendo de raiva, sem olhar pra dentro da cela, mas vendo a mesma cena catastrófica do outro lado do corredor. Os minutos foram passando, e não foram poucos, acabei ficando com dores nas pernas, me virei para dentro da cela. Percebi que estavam todas me olhando e comentando, e eu a ponto de matar um. — TÁ OLHANDO O QUÊ? CRIATURA INFELIZ, TODA