Aquilo não podia ser real, eu era uma piada pra Deus? Uma coisa era cogitar que ele poderia mandar uma mensagem, outra era realmente ele mandar.
Fiquei igual uma idiota, olhando pro celular, parada na calçada, desliguei a tela joguei o celular na bolsa e fui andando até minha casa, como morava perto da faculdade, era muito comum ir a pé, e hoje, aqueles quarteirões nunca pareceram tão longos.
Fingi que estava tudo bem, e que nem estava pensando na tal mensagem, mas a verdade é que eu estava me coçando para responder, e responder o quê? Eu não sabia se já cortaria ele logo de cara, ou se daria uma chance para ver o que ele quer.
Fazia muito tempo que não sentia um frio no estômago, o que estava acontecendo comigo? Uma mulher quase formada, COM UM RELACIONAMENTO, com borboletas no estômago por causa de macho, não é possível, recomponha-se.
Chegando em casa, fiz absolutamente tudo que podia para me ocupar, me distrair, passei aspirador na casa, tomei banho, comi, mas todos os meus sentidos estavam vidrados no celular, que eu fiz questão de deixar longe de mim, em uma tentativa vergonhosa de fingir que não me importava.
Eu já estava deitada na minha cama, rolando o feed do i*******m, quando meu celular apitou, e eu senti um arrepio na espinha:
Marcos: Boa noite gata, foi mal que não nos vimos hoje, prometo te compensar.
E eu murchei na hora.
Nicole B.: Sem problema, boa noite.
Foi tudo que respondi, e não consegui mais sair do W******p, voltei a tela para conversa com Pedro, fiquei um bom tempo ali, sem saber o que responder, fitando a tela.
Talvez eu não devesse responder mesmo, não faria bem nenhum responder aquela mensagem, eu teria que ser grosseira com ele, pra colocar ele no lugar dele, que ousadia, ele pedindo meu número por aí, sabendo que não sou solteira, mandando mensagem como se tivesse alguma intimidade pra isso, não senhor, não vou responder mesmo, não vou responder e ponto!
*
*
*
Respondi a mensagem, é, pois é, aparentemente eu não tenho autocontrole, ninguém está me julgando mais que eu mesma.
Pedro Lima: Estou sabendo que essa mensagem não é mais uma surpresa pra você.
Nicole B.: Oi Pedro, é, acho que você deve ter esquecido de mencionar que era segredo...
Eu não senti culpa, nem remorso, tentei ser legal, mas sem demonstrar interesse nele, eu estava me sentindo uma criança pronta para ser pega no flagra.
Como a outra metade da culpa não era minha, eu mais do que depressa mandei uma mensagem para um destinatário diferente dessa vez:
Nicole B.: Se eu for pro inferno, saiba que você vai junto!
Mariana Albuquerque: A gente já não ia de qualquer jeito?
Nicole B.: KKKKKK você é uma destruidora de lares! O Pedro mandou uma mensagem quando eu estava saindo da biblioteca, e eu como uma belíssima de uma tonta, respondi, acho que estou com dor de barriga
Mariana Albuquerque: AI MEU DEUS! Tá zoando? Cadê o print?
Mandei o print pra ela, sabendo que eu seria zoada eternamente, mas né, já desceu para o inferno, abraça o capeta.
Mariana Albuquerque: Achei uma garota misteriosa, pronta para aventuras sexuais
Pois era só o que me faltava mesmo, nesse momento eu estava pronta pra dar fim nessa amizade de centavos.
Mariana Albuquerque: Brincadeira, brincadeira! Não vem pra cima pinscher, calma
Nicole B.: Você acha que eu dei muita corda? Não queria ser mal educada, mas também não vou dar corda
Mariana Albuquerque: Amiga não encana, você só respondeu um oi, não tem nada demais, agora boa sorte pra dormir KKKKK boa noite, bjos
Mariana acabou de cair 2 pontos no meu ranking de amigas (mentira), mas ela tinha toda razão, eu me lasquei, como vou dormir agora com toda essa ansiedade de uma menina de 13 anos com seu primeiro amor.
*
*
*
A verdade foi que eu dormi bem rápido, muita maturidade eu achei, mas logo que acordei a primeira coisa que fiz foi ver meu celular, e claro, não tinha nenhuma mensagem, eu tinha me superado no quesito idiota, o que eu estava pensando? É óbvio que não teria um pedido de casamento feito durante a noite, meu Deus.
Aos sábados, eu e a Mari normalmente saímos para caminhar de manhã, é um jeito dela me arrastar pra fazer alguma atividade física, e aproveitamos pra arejar a cabeça e fofocar o que não conseguimos pôr na pauta da semana.
Tomei uma xícara de café preto, e saí de casa, me encontrei com a Mari no lugar de sempre e seguimos andando.
- Acho que me precipitei – disse.
- Claro que não, se permita ter um pouco de emoção menina, hoje é sábado, ontem foi sexta-feira, seu digníssimo namorado nem sequer foi te ver, hoje nós vamos sair, com ou sem o Marcos! – Mari disse animada.
- E eu serei uma belíssima vela – Respondi rindo, já sabendo que Marcos não ia querer ir.
- A vela mais linda de todos os tempos – Rimos.
Cheguei em casa próximo das 10 horas da manhã, havia combinado com minha mãe que almoçaria com ela e meu pai hoje, tomei um banho, coloquei um vestido soltinho e fui de carro, nossa casa não era tão perto uma da outra.
Assim que cheguei lá, ela já me bombardeou de perguntas como “o Marcos não vem?”, “Faz tempo que não vejo ele?”, “O que ele está fazendo hoje?”, minha mãe gostava do Marcos, mas ela sabia que estávamos bem estremecidos, sinceramente, não sei se as perguntas dela eram pra me cutucar ou se ela realmente estava curiosa, meu pai, como sempre, se absteve de comentários, ele nunca gostou muito do Marcos e nunca escondeu, ele sempre tratou Marcos bem e incluiu ele nas coisas de família, mas ele sabia que a filhinha dele queria um romance de conto de fadas, e não um casamento por comodismo.
Acho que ele viu uma coisa em Marcos que eu mesma demorei pra ver, a forma como ele se acomoda, não faz questão de estar presente e nem de fazer uma surpresa ou ser romântico, eu não esperava grandes e majestosos gestos, mas o mínimo, como a presença por exemplo, as vezes seria bom.
Depois do almoço voltei pra casa e aproveitei minha tarde de sábado para fazer as coisas que normalmente não tenho tempo durante a semana, fiz as unhas, hidratei meu cabelo (e vamos lá, o pobre coitado estava precisando).
Enquanto esperava minhas unhas secarem, assistia uma série bobinha no N*****x, para passar o tempo, aproveitei para dar um sinal de vida para Marcos:
Nicole B.: A Mari nos chamou pra sair com ela e o Lucas hoje, você topa?
Marcos: Gata vai com ela, apareço mais tarde se conseguir
E o Marcos, chocando um total de zero pessoas, com certeza não ia aparecer, mas tudo bem, a Mari estava certa, eu vou começar a sentir minha vida sem ele, quem sabe é isso que falta para realmente tomar uma decisão sobre esse relacionamento?
No começo da noite, já estava me arrumando para sair com a Mari, tomei um banho, escovei meu cabelo, coloquei um vestido azul claro curto, mais justinho no corpo, com decote quadrado e alças de amarrar, com o calor que estava fazendo, logo as pessoas iam começar a sair nuas, e ninguém iria estranhar.
Fiz uma maquiagem bem leve, até pra não derreter todinha com esse calor, rímel, blush, um gloss rosinha, está ótimo, coloquei uma sandália de saltinho médio, nude de tiras, era uma das minhas favoritas.
Já estava pronta para sair, antes de pedir um uber, percebi um ponto importante daquele rolê e mandei uma mensagem para Mari:
Nicole B.: Estou pronta, você não me disse aonde vamos, fico preocupada?
Mariana Albuquerque: Não falei porque você é cocô e não ia querer ir! Vamos no gaúcho
Eu não era um cocô, acontece que o “bar do gaúcho”, apesar de ser conhecido na cidade, não era role de casal, Mari adora porque sempre foi do fervo e o namorado dela com a graça de Deus não é bobo de discordar, mas praticamente todo mundo que ia era solteiro, e era muito frequentado por homens.
Ao contrário do meu homem, que não costumava frequentar nada, nem comigo, então as vezes não me sentia muito confortável no ambiente, mas eu disse que estava pronta pra viver minha vida e eu vou, a contragosto, mas vou.
Nicole B.: Às vezes eu acho que você me odeia, mas pra sua alegria, não vou reclamar, vou pedir um uber, logo chego
Chegando no bar, já tinha bastante gente em pé, estava cheio, por sorte conseguimos uma mesinha no estilo bistrô, próximo da calçada, estava batendo uma brisa gostosa para amenizar aquele calor infernal, logo pedi um drink bem docinho do jeito que eu gosto, enquanto Mari entrou no Gin e Lucas na Cerveja. Nós começamos a conversar e rir, basicamente eu e a Mari conversamos e rimos, Lucas estava mais na dele, falando pontualmente, e vamos lá, eu e ela temos muito assunto, nem demos muita falta do pobre homem que ria da nossa conversa fiada. Dois drinks depois eu já estava pronta para pedir água, meu limite alcoólico é baixo e tendo em vista minha última decisão no WhatsApp, eu não era muito confiável.- Você não vai pedir água, vamos pedir um drink, desses de criança que você gosta – Disse Mari, fingindo que também não estava com o riso frouxo.- Mari você sabe que eu fico bêbada rápido, deixa eu me recompor senão não vou aguentar nada, daqui a pouco vou ficar com sono.
Depois que eu enviei aquela mensagem puxando assunto com a Nicole não consegui mais tirar ela da cabeça. A diferença de um homem para uma mulher, quando estes estão interessados, é que a mulher não consegue fazer mais nada além de querer atenção e uma boa conversa, já o homem, como no meu caso, toca os seus afazeres e apenas lembra quando a vontade aperta, principalmente na região dos testículos. Logo quando recebi a sua resposta, fiquei pensando diversas formas de puxar assunto e convencê-la a sair comigo. Mas eu sabia que não podia querer acelerar o processo. Nicole além de estar comprometida, sempre foi o tipo de garota que não sai respondendo para aqueles que ficam atirando para todos os lados. Eu sabia que se quisesse ter ela para mim, ainda que por um breve momento, teria que me esforçar um pouco mais. Um pouco não, bem mais. De tudo o que eu poderia imaginar para esse sábado, nada chegaria perto de ver a Nicole, muito menos, ver a Nicole no “bar do gaúcho”.
Ele não precisou colocar o nome no bilhete, eu sabia exatamente quem tinha mandado, ousado, confesso, eu conseguia sentir meu estômago fervilhando, como ele sabia o que eu estava bebendo? Ele só estava esperando Marcos sair da mesa? Meu Deus do céu, como minha vida tinha virado isso? Eu estava de costas pra mesa dele, mas sentia meus pelos se arrepiarem, o olhar dele queimava na minha pele, e eu não sabia se devia responder o bilhete, ou seguir minha noite naturalmente. Depois de nem ter respondido minha mensagem, agora me manda uma bebida, qual será a próxima jogada dele? Aproveitei que Lucas não estava na mesa pra virar um pouco pra trás e ver se conseguiria vê-lo, quando fiz, ele estava olhando fixamente para mim, e eu provavelmente fiquei vermelha como um pimentão, ele sorriu, e eu virei de volta, já sabendo àquela altura, que aquele homem seria minha perdição.- Guarda o bilhete, homens são fofoqueiros, não quero Lucas se metendo onde ninguém chamou – Diss
Droga, mas que merda eu tenho na cabeça? Caralho! Eu disse que ia devagar, eu não consegui, aquele cheiro, a pele dela, eu perdi a cabeça de vez! Não estava nos meus planos seguir a garota até a casa dela, mas quando vi um bando de urubus rodeando a mesa dela e da amiga, eu fiquei louco, ELA ERA MINHA CARALHO. Não de verdade, eu sabia disso, mas não queria ninguém em cima dela, ela era propriedade minha, e ninguém além de mim tocaria nela. Quando dei por mim, estava seguindo o carro que ela estava e parando na frente da sua casa, como um perfeito psicopata. Eu não poderia perder a chance, ela estava tão perto, o máximo que ela poderia dizer era não, mas alguma coisa me dizia, na forma como ela me olhou, como corou sob meu olhar, que ela me queria, ainda que fosse um desejo insano. Quando senti o cheiro dela, era baunilha, flores, nossa, o mundo ao meu redor parou, o planeta poderia explodir bem ali, e eu não daria a mínima, eu fui tomado, a beijei, beij
Aqueles dias foram passando pra mim como se os ponteiros do relógio estivessem presos no lugar, a sensação de ter o Pedro foi sobrenatural, mas eu não seria a pessoa que trai o namorado, eu não faria isso com Marcos, eu sabia, dentro de cada fibra minha, que já deveria ter deixado ele, mas eu resisti, eu insisti, eu quis dar certo a qualquer custo. O problema é que o custo foi muito alto, manter um relacionamento que não funciona é muito mais árduo do que manter um relacionamento com amor, aquilo vira stress, vira raiva, vira frustração, e eu tenho certeza que não era a única a ver, eu não estava sozinha naquele namoro, se eu sabia que estava tão ruim, é impossível que Marcos não soubesse que estávamos ladeira abaixo. Eu ia terminar, estava decidido, eu veria Marcos hoje, e conversaria com ele, que precisamos seguir nossos caminhos separados. Já havia passado 2 dias desde o beijo, e eu desde então não tive mais notícias dele, tonta, como se eu não soubesse quem
Não tive notícias dela, nem a vi em lugar nenhum, normalmente já não frequentávamos os mesmos ambientes, mas passei na rua dela algumas vezes de carro, e nem sinal dela. Aquilo, não sei bem porque, mas me deu um aperto no peito, eu não a queria apenas pra um beijo, é claro que não vou pedi-la em casamento, mas queria mais que 5 minutos de tesão embaixo de uma árvore, eu fiz a maior merda. Naquele dia, à noite, fui ver o jogo no bar do gaúcho, como de costume, com Guilherme.- Nada dela? – Ele perguntou.- Não. – Respondi sem estender o assunto, mas ele como um belo filho da puta não ia deixar passar.- Cara, você quer tanto assim sair com ela? Ou é só porque você acha que ela não te quer? Se for orgulho ferido, vocês já ficaram, deixa isso pra lá.- Orgulho ferido?! Porra Guilherme tá de sacanagem? Aquela perdição me beija, e depois some, nem um oi? – Respondi.- TA COM ABSTINÊNCIA MEU AMIGO – Guilherme disso, gargalhando, isso mesmo, ele estava se divertindo com a min
Normalmente, quando vou dormir, deixo meu celular no “não perturbe”, tenho sono leve, a vibração dele me acorda a noite toda, então foi a forma que consegui para ter uma boa noite de sono, se alguém precisar, me ligue, e como não tinha aula hoje de manhã, me dei ao luxo de dormir um pouquinho mais, entre todas as tarefas que fazia, era bom conseguir mais 1 hora de sono sempre que pudesse. O que eu não estava esperando era acordar com uma mensagem do Pedro, depois que ele sumiu, achei que tinha sido apenas mais um nome na sua longa lista de conquistas, mas aparentemente, ele tinha pensado em mim. Esse pensamento me deu um frio no estômago, ele pensou em mim. De qualquer forma, tudo com Marcos ainda estava muito recente, meu término tinha exatos 4 dias agora, eu e Marcos não havíamos mais nos falados desde a fatídica conversa. As coisas dele ainda estavam na minha casa, mas não tive coragem de pedir pra ele buscar, ou de perguntar se ele queria que eu levasse pra e
Quando cheguei no Gaúcho, Guilherme já estava lá, como sempre, já tinha pedido nossa cerveja e estava sorrindo para o celular, o que já tinha virado um costume.- Fala mano! – Me cumprimentou quando cheguei.- E aí parceiro, tô com a maior sede! – Respondi.- Eu já tô na segunda Pedro, você demorou pra um caralho.- Tive que passar na feira, entregar uma encomenda do Chico, e quando estava lá, vi a Nicole – Disse levando o copo a boca e já rindo, sabendo a chacota que viria a seguir.- HAHAHAHA Mas foi por um bom motivo então, tá perdoado – Disse rindo, é claro que não contei que tive um mal súbito e dei um selinho nela ali no meio da feira, mas o principal é que eu tinha visto ela, e ela não estava me ignorando nos dias que passaram, e nem me disse não quando a convidei pra vir aqui, só está sendo cautelosa, por causa do pereba do Marcos, mas eu ainda estava no páreo.- Chamei ela pra vir aqui hoje, mas ela foi embora – Falei pro Guilherme.- Eeeei meu irmão, no segundo encontro já c