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Um passo mais perto de você

Maddie 

Observei os jardins do palácio pela janela do meu quarto enquanto terminava de me vestir,  o sol já brilhava no céu, aumentando a temperatura do lado de fora.

Vesti uma regata justa, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo alto antes de calçar meus tênis, colocar os fones de ouvido sem fio e sair. 

Já tinham se passado quinze dias desde nossa visita a Zurique, e eu estava satisfeita com o aumento da temperatura no início de maio. Desci até a cozinha que estava deserta já que o café da manhã já havia sido servido, abrindo a geladeira e pegando uma garrafa de água.

— Senhorita Lechner, a senhorita vai sair? — Felix, o segurança particular do meu pai surgiu na entrada de serviço da cozinha, me observando com aquela expressão neutra que era típica de todos os guardas do palácio.

— Eu vou correr, Félix, como faço todas as manhãs — eu expliquei caminhando até a saída.

— O seu percurso será longo, senhorita Lechner? 

Eu suspirei interrompendo meus passos antes de me virar para o homem, geralmente eles evitavam esse tipo de questionamento, mas depois da última vez meu pai o deixou pessoalmente responsável por evitar que eu me metesse confusão.

— Eu vou correr no bosque, como todas as manhãs, não se preocupe, eu não pretendo correr até Zurique hoje. 

Eu saí sentindo o olhar do homem me acompanhar, sabendo que se dependesse do desejo da minha mãe ele me acompanharia em cada passo que eu desse, mas depois de prometer ao meu pai que eu ficaria longe de problemas, ele decidiu me dar mais um voto de confiança.

Eu estava determinada a cumprir minha promessa, eu procurava ir em todos os eventos oficiais, fazer companhia para Louise e  me vestir sempre  de maneira adequada. Meu único hobby durante minhas horas livres era correr, e eles vinham respeitando meu espaço.

Estava me esforçando para seguir as regras, pelo menos a maioria delas, mas confesso que durante meus passeios matinais uma delas em especial eu fazia questão de quebrar. Já tinha adquirido um bom ritmo quando vi sua silhueta parada no local de sempre em uma postura rígida e alerta.

Matteo olhou em minha direção conforme eu diminuía meu ritmo para conversar um pouco com ele. Eu fazia isso todas as manhãs Na tentativa de conhecê-lo um pouco melhor, e apesar da sua resistência inicial, eu sentia que a cada dia eu conseguia ultrapassar um pouco as barreiras que ele erguia.

— Bom dia, Matteo — eu o cumprimentei com um sorriso. 

— Bom dia, Senhorita Lechner — ele me devolveu com cordialidade. 

— Maddie, por favor. Não tem ninguém aqui, não precisa ser tão formal — eu supliquei, me aproximando dele.

Matteo adquiriu uma postura um pouco mais tensa, reagindo à minha proximidade. Eu ainda não sabia determinar se aquilo era ou não um bom sinal.

— Isso seria inadequado, Srtª Lechner — ele respondeu.

— Sabe o que eu acho inadequado? Essas regras idiotas sobre não podermos interagir — eu insisti — e mesmo que não achasse, só seria inadequado na frente das pessoas, nós estamos sozinhos aqui.

Mas, para minha frustração, Matteo Não respondeu, se limitando a olhar para longe, mantendo sua postura perfeita.

— Sabe, nós estamos nessa rotina há quase quinze dias. Isso faz de você praticamente meu amigo de infância — eu avisei, recebendo pela primeira vez uma reação genuína do homem.

Matteo  me encarou com uma expressão divertida, erguendo uma sobrancelha em seguida.

— Quanto anos você tem, senhorita Lechner?

— Fiz vinte e quatro em março.

— Então eu tinha nove anos quando a senhorita nasceu, enquanto a senhorita estava entrando no jardim de infância, eu estava conhecendo os pais da minha primeira namorada, acho que o título de amigo de infância seria impossível — ele declarou.

Eu poderia interpretar aquela resposta como um sinal claro de "Por favor, me deixe fazer meu trabalho em paz" ou como um incentivo a prosseguir em minha abordagem. 

Eu escolhi a segunda opção.

— Então você é um Italiano de trinta e três anos e sua primeira namorada foi aos catorze, eu já sinto como se te conhecesse melhor, Matteo Bertozzi — eu ironizei, recebendo um pequeno sorriso em troca.

Meu coração acelerou algumas batidas com aquele sorriso, mas antes que eu pudesse reagir, eu notei pela minha visão periférica duas sombras se aproximando, prestes a se revelar através dos arbustos que as escondiam, Matteo parece ter notado o mesmo, já que reassumiu sua postura rígida depressa.

Eu não tinha tempo de simplesmente voltar a correr e fingir que não estava falando com ele, então fiz a primeira coisa que veio à minha mente.

— Guarda, alguém está no bosque? — eu soltei em um tom arrogante assim que o Sr Augustin e a filha apareceram em nosso campo de visão.

— Não, Senhorita Lechner. A senhorita correrá sozinha — ele garantiu em um tom tranquilo. 

Eu pisquei um olho para ele discretamente, antes de dar as costas, correndo em direção ao bosque, sentindo seu olhar preso em mim enquanto colocava uma música para tocar em meu Smartwatch, abafando todo o som exterior com meus fones de ouvido.

Eu odiava com todas as forças a forma como agia com os empregados do palácio na presença de outras pessoas, mas tinha aprendido da forma difícil, quando minha cozinheira favorita foi demitida do palácio por comportamento inadequado.

E esse comportamento foi permitir que eu entrasse na cozinha todos os dias para conversar com ela durante minha adolescência. 

Bastou a rainha tomar conhecimento disso, para que a senhora Bianchi, a governanta e mãe do David, a demitisse. Meus pais ficaram furiosos comigo por ter prejudicado a mulher, e a ajudaram a conseguir outro emprego, e eu aprendi que muitas vezes é melhor dançar conforme a música. Fazia questão de saber o nome de todos os funcionários novos, e até me tornava amiga de alguns, mas na presença de outras pessoas, eu agia como todos os outros.

Se eles fizeram isso com uma cozinheira que trabalhava no lugar há quase duas décadas, o que fariam com Matteo, que sequer era um cidadão do país?

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