Maddie
— Você está de ponta cabeça — eu brinquei, pausando a música.
Ele rodeou o banco, parando ao meu lado, me oferecendo a mão para que eu me levantasse.
— Minhas desculpas por isso, Srtª Lechner, não queria interromper.
— Você pode confessar que estava gostando de me observar, nós somos amigos de infância agora. Não temos segredos um com o outro — eu o provoquei ainda segurando sua mão, apesar de já ter me levantado.
— Pensei que já tivéssemos esclarecido a questão sobre sermos amigos de infância, Srtª Lechner — Matteo declarou, olhando em meus olhos.
Meu coração acelerou com o seu olhar, fazendo com que eu me sentisse tonta por um segundo. Ou talvez isso fosse culpa do sol forte que brilhava sobre nossas cabeças.
— Eu sei a idade com que você teve a sua primeira namorada e você descobriu o meu esconderijo secreto — eu apontei o campo que nos cercava — Você é meu amigo de infância, quer queira ou não.
Mais uma vez a sombra de um sorriso passou por seu rosto, mas ele não respondeu.
— Além disso, a regra é clara, nós estamos de mãos dadas há mais de trinta segundos, em alguns países, já estaríamos casados nesse momento — eu indiquei com o olhar a minha mão que continuava sob a dele.
Matteo me soltou depressa, parecendo apenas ter percebido seu deslize naquele momento, reassumindo sua postura profissional.
— Perdoe a minha indiscrição, senhorita. Eu não queria interromper, fui incubido de encontrá-la. A rainha solicita sua presença — ele avisou.
Eu gemi audivelmente em desgosto. Por que ela quer me ver agora? Eu estou fazendo tudo certo!
Eu comecei a caminhar ao lado do homem, voltando para o palácio. Nós retornamos ao bosque juntos pela trilha enquanto eu repassava as últimas horas em minha mente, tentando entender o que fiz de errado.
— Eu a encontrei, ela estava correndo no bosque, já está a caminho — Matteo anunciou em um pequeno comunicador na gola de seu uniforme.
Eu lhe lancei um olhar questionador diante da sua frase, e isso não passou despercebido ao homem, que explicou em seguida.
— Vamos manter o segredo do seu esconderijo — ele garantiu, me fazendo sorrir.
— Você sabe o que eu fiz? Eu gosto de já ir treinando as justificativas no caminho.
— Não sei de nada, sinto muito.
— Isso é bom, geralmente, quando estou encrencada vocês são os primeiros a saber — eu ponderei.
— Somos? — Matteo parecia surpreso com aquela informação.
Eu lhe lancei um olhar lateral, oferecendo a ele um sorriso travesso.
— Claro, vocês precisam de tempo para organizar a operação de resgate, e sei lá, conseguir a cabeça de quem nos deixou escapar.
— É bom saber disso — Matteo me lançou um olhar divertido.
Nós estávamos chegando ao fim do bosque, em breve teríamos que retomar toda aquela distância de antes e ignorar todo o avanço que fizemos.
— Bom, é melhor eu me apressar. Eu não pretendo falar com a rainha vestida assim — eu parei de caminhar, me virando de frente para ele.
— Desculpe interromper sua corrida — o homem pediu mais uma vez.
— Obrigada por me procurar e manter meu esconderijo em segredo, você tem se mostrado um bom amigo nessa última hora — eu o provoquei.
— Nós não… você não vai desistir, não é? — ele suspirou.
— Até mais tarde, Matteo — eu me despedi antes de voltar a correr.
Não pude evitar o sorriso satisfeito que surgiu em meu rosto enquanto eu corria de volta para casa, eu não sabia por quê eu me sentia daquela maneira, mas eu queria estar perto dele, e eu conseguiria estar perto dele.
Eu me vesti depressa para ir até a rainha, e em alguns minutos estava caminhando rumo a sua sala particular onde ela me repreendeu por tantas vezes durante minha os últimos anos.
O que eu fiz? Aquela era a pergunta que rodeava minha mente, eu tenho certeza que estava me esforçando para andar na linha, não tinha mais ido a nenhuma festa, fazia alguns dias que não via o Fred, e as únicas vezes que saí foram na companhia do Alexander, que parecia também se esforçar para não cometer nenhum deslize, já que depois da nossa última façanha em Zurique, seu avô ameaçou enviá-la para viver com os pais nos Estados Unidos.
E aquela era uma ameaça e tanto, já que ele não tinha nenhuma notícia dos pais desde que partiram.
Tobias Bauer, um dos guardas do palácio, abriu as portas para que eu entrasse, fechando em seguida deixando apenas a rainha e eu sozinhas na sala.
— Majestade — eu fiz uma pequena reverência ao me aproximar da mulher.
— Senhorita Lechner, por favor sente-se — ela indicou uma poltrona vazia à sua frente.
Eu caminhei até lá com uma expressão desconfiada, seguindo suas instruções.
— A senhora pediu para me ver? — eu perguntei desconfiada.
— Sim, eu estou com um problema, senhorita Lechner, seu pai me convenceu de que você seria a pessoa certa para me ajudar, e observando sua mudança de atitude nos últimos dias comecei a dar razão a ele — Ela explicou com naturalidade para meu espanto.
— Minha ajuda?
— Sim, eu estou com problemas para lidar com a Lady Brenner.
Eu me movi de maneira desconfortável na poltrona, Eu odiava a situação de vida da minha amiga, mas sabia que não tinha muito o quê eu pudesse fazer para ajudá-la, tendo em vista que ela mesmo se sujeitava a tudo sem questionar.
— Anna, você sabe que desde a tragédia com os Brenner eu assumi pessoalmente a missão de cumprir o que Willian e eu sonhamos para a Louise — a rainha adquiriu um tom íntimo que por pouco não me arrancou uma careta.
Louise sempre foi criada com o objetivo de se casar com Fred e assumir o trono ao lado dele quando fosse a hora. Tanto seus pais como a rainha nunca se importaram em procurar saber o que ela desejava, e durante anos ela resistiu a esse plano com resiliência, seguindo seu coração e mantendo um relacionamento com Alexander Weisman. Eu acreditava que com tempo ela conseguiria convencê-los a esquecer essa ideia absurda, e se casaria com meu amigo.
Mas quando seus pais morreram em um acidente, Johannah ganhou uma nova arma para usar em seu favor, afirmando o quanto seus pais estariam decepcionados com suas atitudes.
Louise ainda tentou resistir, mas ela não estava preparada para a guerra psicológica que a rainha travou, e a cerca de dois anos atrás ela terminou tudo com Alex, deixando o rapaz desolado.
O único motivo da minha amiga não estar casada nesse momento era o total desinteresse na parte do Fred, que já tinha deixado claro que não cumpriria o desejo da tia, ainda assim ela esperava vencê-lo pelo cansaço em algum momento.
— Sim, eu sei — eu declarei com dificuldade tentando não demonstrar o quanto o assunto me irritava.
Johannah me encarou por alguns segundos, me desafiando a contrariá-la sobre suas declarações anteriores.
— Eu não sei mais o que fazer, mesmo com todos os meus esforços ela tem estado cada vez menos disposta, ela não se parece mais com a futura princesa cativante que todo o nosso povo adorava.
Eu me segurei para não revirar os olhos diante daquela frase. Claro que ela não estava mais disposta, ela estava infeliz.
— Majestade eu posso ser sincera? Você sabe, sem correr o risco de ser jogada nas masmorras.
— Nós não temos masmorras aqui, Anna.
— Mas tem o convento, para mim, seria a mesma coisa!
— Apenas diga o que você tem a dizer — recebi um olhar cansado em troca.
Eu tirei um momento para organizar as ideias em minha mente, eu precisava ser mais clara possível para conseguir ajudar minha amiga.
— Majestade, A senhora sabe que eu e Louise somos amigas desde sempre. Eu a conheço como ninguém, e sei que ela tem se esforçado para ser perfeita, mas ela tem apenas vinte e quatro anos, Nós não sabemos como ser perfeitos o tempo todo.
— O que você quer dizer? Que ela deve ser mais como você? Anna, Você não sabe o trabalho que dá abafar cada indiscrição que você e seus amigos cometem. As pessoas desse país ficariam decepcionadas se vissem a futura rainha se comportando de forma tão inconsequente — Johannah explicou.
— Mas a senhora está se esquecendo de um ponto importante, ela não é como nós. A senhora não acha que seria importante para os jovens desse país verem que é possível se divertir sem ser um péssimo exemplo como eu sou?
Uma expressão surpresa tomou conta do rosto da Rainha diante da minha audaciosa frase, em um primeiro momento eu pensei que ela me repreenderia por por aquela tolice, mas ao contrário disso ela parecia pensativa.
— O que você sugere?
Eu me surpreendi com sua resposta, mas me recuperei depressa, pensando no que poderia pedir a seguir.
— Nos deixe ir a um evento, apenas nós duas sem que a senhora ou qualquer um sob seu comando nos vigie — eu olhei em seus olhos tentando lhe passar confiança — confie em nós e descubra tudo através dos jornais depois, se tiver qualquer coisa além de elogios a Louise, a senhora saberá que eu estou errada.
Ela tirou mais alguns momentos para pensar na minha proposta, e eu não estava tão confiante de que ela aceitaria, mas para minha surpresa ela aceitou.
— Em dois dias acontecerá a festa de aniversário da senhorita Augustine, se vocês se saírem bem, eu posso pensar melhor em tudo o que você me disse.
Tudo bem, aquela festa com certeza seria a coisa mais entediante que eu faria na vida, mas eu me sentia entusiasmada com aquela oportunidade. Se eu tivesse que aguentar uma festa chata para conseguir a companhia da minha amiga de volta, eu faria sem pensar.
— Majestade, a senhora…
— Nossa conversa terminou, Anna — a mulher declarou pegando um livro em um aparador ao lado da sua poltrona, passando a me ignorar.
Aquela atitude fez eu me lembrar do motivo de odiar cada minuto em sua presença. Eu me levantei e após fazer uma breve reverência deixei a sala pensando em tudo o que faria se realmente conseguisse tirar Louise daquela prisão.
MaddieA água quente escorria pelo meu corpo, caindo diretamente do teto enquanto eu me ensaboava com o sabonete que me deixaria com um aroma nem um pouco típico. A pressão da água era relaxante, não tão relaxante quanto um banho de banheira seria, mas ainda assim, era relaxante.Fechei os olhos, sorrindo ao sentir as mãos que contornavam meu quadril de maneira suave logo antes de seus lábios percorrerem a pele sensível do meu pescoço, grudando meu corpo ao dele, reacendendo todo o desejo da noite anterior.— Esse cheiro fica ótimo em você — Fred mordiscou o lóbulo da minha orelha.Eu me movi em seus braços, me virando de frente pra ele antes de sentir o mármore frio em contato com as minhas costas.— O seu cheiro? — Exatamente — ele riu, me encurralando no box antes de me beijar.Mas, ao invés de me permitir aproveitar mais daquele beijo, eu escapei de seus braços, abrindo a porta do box, o deixando para trás.— Sinto muito, Fred. Mas nós já passamos do horário, seus pais podem cheg
Maddie Acordei quase duas horas depois com uma batida na porta, o sol brilhava com força do lado de fora, e eu já tinha perdido a hora da minha corrida matinal, de qualquer maneira, não me sentia disposta naquele momento. — Pode entrar — eu bocejei para quem quer que estivesse do outro lado. Louise abriu a porta devagar, parecendo desconcertada por ter me acordado. — Lizie, bom dia — eu sorri ao ver minha amiga.— Eu não queria te acordar, desculpa.Eu me levantei, indo até o espelho para checar o estado deplorável que eu me encontrava depois de dormir com o cabelo molhado.— Não tem problema, já está tarde. É que eu não dormi muito a noite — eu expliquei, penteando os cabelos com os dedos.— Algum problema? — ela se sentou na minha cama.Eu peguei uma escova, cuidando de arrumar o cabelo, me preparando para sair.— Problema nenhum, pelo contrário. O Fred me ligou ontem — eu pisquei para ela, a observando pelo espelho enquanto escovava os longos fios castanhos do meu cabelo. — Ah
MaddieDepois de aproveitar alguns minutos na companhia de Matteo no dia anterior durante os ultimos minutos de seu horario de descanso, um plano começou a se formar em minha mente, e após passar a noite calculando os horarios, eu já sabia o que fazer para conhecê-lo melhor. Mais tarde do que eu estava habituada, desci as escadas correndo, usando minha roupa de ginastica e o cabelo preso em um rabo de cavalo, indo até a cozinha pegar a minha garrafa de agua.— Anna? você levantou agora? Pensei que já estava correndo — minha mãe se surpreendeu ao me ver.— Eu decidi dormir um pouco mais hoje já que minha agenda está livre, não tem nada demais nisso certo? — eu sorri para ela antes de seguir meu caminho até a cozinha.Mas ao invés de aceitar minha resposta sem questionar, minha mãe me seguiu, parecendo pouco convencida com minha justificativa.— Anna, o que você está tramando? — Por que você pensa que estou tramando alguma coisa? Eu apenas dormi até mais tarde — eu franzi o cenho.— V
Matteo— Como você acabou aqui? — Maddie perguntou enquanto caminhávamos pelos campos de lavanda alguns dias depois que ela me descobriu no bosque.Eu havia desistido de tentar me afastar, Madeline era como um campo magnético que me atraia em sua direção, e por mais que eu soubesse que aquilo poderia me causar grandes problemas, eu não conseguia evitar.— No palácio? — eu a olhei de soslaio.— No país. Nós somos um ótimo destino turístico, mas as pessoas geralmente não migram para St Bartholdi — Maddie explicou o seu raciocínio.Observei seu perfil exposto pelo rabo de cavalo alto que ela usava, o vento soprou, agitando seus cabelos e trazendo até minhas narinas o aroma de lavanda que eu sempre associava a ela. Madeline e eu estávamos aproveitando o meu horário de descanso para nos conhecer melhor, ela tinha começado a correr um pouco mais tarde e sempre nos encontrávamos no campo, caminhando até a cabana que ficava ali, nos abrigando de qualquer olhar curioso que pudesse surgir, apro
Matteo— O que você acha? — Eu mostrei o resultado final diante da câmera em uma chamada de vídeo com Josephine, minha prima de quem eu era muito próximo.— Está perfeito, você só precisa arrumar o cabelo — Ela sugeriu.— Meu cabelo está arrumado — eu neguei.Minha prima revirou os olhos, decidindo não insistir no assunto— O que mais te deram para usar? — ela perguntou.Peguei um blazer azul marinho, colocando por cima da camisa que eu vestia. Eu me sentia muito estranho usando peças que no mínimo custavam mais da metade do meu salário, eu sentia como se tivesse assaltado uma loja da YSL, mas tanto a rainha quanto o Sr Lechner não me deram muita escolha.Depois que eu revelei a minha idade, eles me explicaram o que estavam planejando e prepararam tudo para que desse certo.— Me explica de novo o que você tem que fazer — Josie pediu.— A princesa foi convidada para uma festa do filho de algum um dos nobres do país, então eu tenho que ir e bancar a babá de uma mulher de vinte e quatro
MatteoEu esperei poucos minutos antes de sair, indo diretamente para o palácio para cumprir minha ronda. Não demorou até que eu estivesse deixando uma das salas de reuniões do palácio, já completamente uniformizado, depois de ter dado um relatório completo da festa para o senhor Lechner, ocultando a parte em que a princesa desapareceu por alguns minutos e que sua filha me reconheceu. O homem pareceu bastante satisfeito com as informações que recebeu e com a minha discrição para lidar com o assunto.Mas durante minha ronda pelos jardins do palácio, as cenas da dança de Maddie não saiam da minha mente, aquilo estava se tornando uma provação maior do que eu esperava, e eu mal podia me concentrar em minha tarefa. Estava no meio de uma ronda no início da madrugada quando um vulto no lado oeste do jardim chamou minha atenção. Caminhei até lá com cuidado, ladeando a propriedade dos Lechner em busca de algo suspeito. Quando eu virei onde vi o vulto sumir, me sobressaltei com um alto barulho
MaddieAssim que meus pais saíram do quarto eu corri para a janela, assistindo Matteo se afastar pelo jardim ao lado de Fred. A expressão em seu rosto quando compreendeu o que estava acontecendo estava gravada em minha mente e eu me sentia péssima.— Droga, Maddie. Olha a confusão que você arrumou — eu gemi desgostosa, falando comigo mesma.Sentir o olhar de Matteo me acompanhar em cada passo naquela festa foi uma das sensações mais empolgantes que experimentei nos últimos meses, e eu apenas revelei a ele que sabia sobre sua presença porque precisava distraí-lo para que Lizzie pudesse ir se encontrar com Alexander. O que eu não esperava era que aquele momento se tornasse tão intenso, mesmo após voltar para casa não conseguia tirá-lo da minha mente, e foi assim que Fred acabou tentando invadir meu quarto.Me deitei na cama me sentindo derrotada. Meu sentimento por Matteo estava começando a ultrapassar a mera atração física e eu não podia mais negar, pelo menos, não para mim mesma. Ma
Madeline— É sério, eu adorei cada segundo desse dia, obrigada por me convencer a sair — Louise declarou enquanto caminhávamos pelos corredores do palácio em direção ao seu quarto.— Nós devemos fazer isso mais vez… — eu me interrompi ao me aproximar da porta entreaberta do gabinete do meu pai, ouvindo uma voz conhecida vinda de lá.Eu me aproximei com cuidado, espiando através da fresta. Matteo estava em pé diante da mesa do meu pai, em uma postura perfeitamente alinhada.— Ninguém deve tomar conhecimento disso, certo? — meu pai o avisou.— Sim senhor.Tomar conhecimento do que? — Essa situação poderia ser mal interpretada, principalmente pela rainha — meu pai completou.Ele me entregou?Meu coração acelerou em meu peito diante daquela descoberta. Por que ele faria isso comigo? Eu pensei que…— O que está acontecendo? — Louise sussurrou ao meu lado, mas eu me limitei a fazer sinal para que ela ficasse em silêncio.— O senhor não deve se preocupar com a minha discrição, senhor Lechne