A tensão ainda pairava sobre o grupo enquanto eles seguiam adiante. O brilho prateado de Amélia havia desaparecido, mas a sensação de que algo dentro dela havia despertado era inegável. Damian mantinha-se ao seu lado, seu olhar afiado como lâminas, vigiando qualquer sinal de perigo ao redor.
— Precisamos encontrar um lugar seguro para descansar — Zard sugeriu, observando a exaustão estampada nos rostos de todos.Atravessaram um trecho de floresta densa até encontrarem uma pequena clareira banhada pela luz difusa da lua. O local possuía uma energia diferente, quase reconfortante. Árvores antigas formavam um círculo natural ao redor, e no centro, uma rocha lisa parecia ter sido esculpida pelo tempo. Pequenos pontos luminosos flutuavam pelo ar como vaga-lumes encantados, tornando a atmosfera ainda mais mística.— Esse lugar… — murmurou Amélia, sentindoA alvorada trouxe consigo um frio cortante, e o grupo retomou a caminhada antes mesmo do sol se erguer por completo. A floresta ao redor parecia cada vez mais opressora, com troncos retorcidos e um silêncio que se estendia de forma incomum. Era como se algo os observasse, escondido entre as sombras das árvores centenárias.Damian seguia à frente, os sentidos aguçados, enquanto Amélia caminhava logo atrás, sentindo-se inquieta. Ainda tentava compreender o que havia acontecido com ela na noite anterior. O brilho prateado, a forma como as criaturas fugiram… aquilo tudo indicava algo muito maior do que ela podia compreender naquele momento. Zard, como sempre, mantinha-se sereno, mas seus olhos examinavam cada detalhe do ambiente, como se esperasse algo.O caminho tornou-se mais íngreme, e a vegetação se fechava ao redor deles. O cheiro da terra molhada e das folhas secas era intenso, e o barulho de pequenos animais se deslocando pela mata preenchia o silêncio.— Estamos sendo seguidos nova
A floresta parecia mais densa a cada passo que davam, como se as árvores se fechassem ao redor deles numa tentativa silenciosa de aprisioná-los. As copas altas bloqueavam quase toda a luz do sol nascente, deixando o chão coberto por sombras dançantes que se moviam conforme o vento soprava. O silêncio, antes apenas um incômodo, agora se tornava opressor, quase sufocante, como se o próprio ambiente conspirasse para escondê-los de algo muito maior do que eles podiam compreender.A trilha sinuosa era irregular e traiçoeira, ladeada por rochas cobertas de musgo escorregadio e raízes que se erguiam como garras tentando derrubá-los. Árvores centenárias se enfileiravam como guardiãs ancestrais, com troncos espessos e galhos retorcidos que formavam túneis naturais por onde a brisa sussurrava segredos esquecidos. O ar era úmido e carregado de fragrâncias da terra molhada, folhas apodrecidas e resquícios de flores silvestres.Damian caminhava ao lado de Zard, os sentidos em alerta e o corpo tens
A marcha pela floresta prosseguia em ritmo lento, mas constante. O céu acima já dava sinais do crepúsculo, tingido por tons de laranja e púrpura, como se a própria natureza quisesse oferecer um instante de beleza antes da escuridão.O grupo seguia em silêncio, os olhos atentos aos arredores. O terreno tornava-se mais acidentado, e a vegetação, mais rarefeita. Árvores altas cediam espaço a rochedos e arbustos baixos. As raízes expostas e o solo pedregoso exigiam cuidado redobrado. A cada passo, a tensão aumentava — não apenas pela expectativa do que encontrariam, mas também pela presença invisível que insistia em segui-los.Amélia sentia aquela energia. Um arrepio constante na nuca, como se algo — ou alguém — caminhasse entre os galhos, à margem da realidade. Por vezes, ouvia farfalhares que os outros pareciam não notar. E havia também aquele perfume… doce, quase etéreo… que trazia à memória a mulher da floresta. Julia. Ela não sabia o que significava sua presença, mas algo lhe dizia q
A caverna permanecia envolta em silêncio, exceto pelo suave eco das gotas que pingavam de alguma fenda oculta no teto. O crepitar das pequenas chamas no centro do abrigo aquecia o espaço com uma luz dourada e trêmula, projetando sombras dançantes nas paredes irregulares. Amélia e Damian estavam deitados sobre as peles estendidas, mas não havia mais distância entre eles. Seus corpos estavam próximos, quase colados, e o calor compartilhado entre suas peles parecia mais intenso que o fogo ao lado.Amélia sentia o coração pulsar forte, como se ele estivesse tentando dizer tudo aquilo que sua boca ainda não havia tido coragem de expressar. A respiração de Damian era ritmada e profunda, mas os olhos dele estavam bem abertos, fixos nela. Ele não conseguia mais fingir que era apenas mais uma noite comum — tudo ao redor parecia suspenso no tempo, como se aquela caverna tivesse se tornado um mundo à parte.— Eu não sei quando isso começou — murmurou Damian, com a voz baixa, quase reverente, enq
A luz pálida da manhã mal conseguia penetrar a escuridão da caverna. O grupo acordou com o frio cortante se intensificando, e a esperança de finalmente seguir viagem foi esmagada pela visão da entrada bloqueada.— A passagem está completamente coberta — anunciou Ethan, voltando da entrada com neve grudada aos cabelos e ao capuz. — A nevasca piorou durante a noite. Estamos presos.Um silêncio pesado caiu sobre todos. Os mantimentos já não eram abundantes e, com o clima hostil, a perspectiva de encontrar uma saída era sombria.— Por quanto tempo aguentamos aqui? — perguntou Lys, apertando uma manta fina contra o corpo.Zard, sentado em posição de meditação, abriu os olhos lentamente.— Com os recursos que temos? Três dias, talvez quatro, se racionarmos com rigor.Amélia olhou ao redor, sentindo o peso da situação apertar seu peito. Damian se aproximou e, mesmo com o olhar preocupado, passou o braço ao redor de seus ombros, trazendo-a para perto.— Vamos encontrar uma saída — disse ele c
A escuridão diante deles era absoluta. Mesmo com as tochas acesas, os túneis ocultos pareciam engolir a luz como um abismo faminto. O ar ali era mais denso, úmido e impregnado por um cheiro antigo de pedra e terra. Amélia sentia o coração bater com força — parte por medo, parte por certeza. A voz no vento ainda ecoava em sua mente, e algo dentro dela dizia que estavam no caminho certo.Damian caminhava ao seu lado, sua presença sólida como uma rocha. À frente, Zard examinava as paredes esculpidas, tocando símbolos desgastados pelo tempo.— Esta passagem foi selada por muito tempo — murmurou o ancião, seus dedos deslizando sobre inscrições quase apagadas. — Esses símbolos... são de uma era anterior à queda dos antigos lupinos. Isso não é apenas um túnel. É uma via esqueci
A entrada do templo natural parecia um véu de pedra e raízes entrelaçadas, como se a própria natureza o quisesse ocultar dos olhos do mundo. Ao adentrar o espaço sagrado, o grupo foi tomado por um silêncio acolhedor, quase reverente. O interior era amplo, esculpido de forma orgânica entre as rochas e a vegetação milenar, e ao centro havia um lago cristalino. A água refletia a tênue luz que filtrava por fendas no teto de pedra, criando um jogo de brilhos dançantes sobre as paredes cobertas de musgo.O som da água fluindo suavemente alimentava uma sensação de paz, aliviando, ainda que momentaneamente, o peso da jornada. Era como se o templo sussurrasse promessas de descanso e sabedoria. O grupo se espalhou ao redor do lago, alguns se deitando nas pedras aquecidas pelo calor suave que emanava do centro da terra, outros apenas observando o espelho d’água, como se esp
A noite havia se instalado suavemente sobre o templo natural, tingindo de prata as bordas do lago e realçando os contornos das estalactites brilhantes no teto da gruta. Um silêncio respeitoso pairava no ar, como se até o vento se curvasse diante da presença milenar daquele santuário. A gruta parecia respirar com eles, viva, pulsante, acolhendo suas dúvidas e oferecendo paz.Amélia, ainda tomada pelas revelações da profecia, sentia seu corpo leve, como se um chamado antigo vibrasse em cada célula. Não conseguia dormir, e algo dentro dela, um sussurro silencioso, guiava seus passos para além da câmara onde estavam. Saiu da área do templo onde o grupo descansava e seguiu por um estreito corredor moldado pela própria natureza.Foi então que a luz da lua, penetrando por uma fissura alta da gruta, iluminou um caminho disfarçado por p