A noite havia se instalado suavemente sobre o templo natural, tingindo de prata as bordas do lago e realçando os contornos das estalactites brilhantes no teto da gruta. Um silêncio respeitoso pairava no ar, como se até o vento se curvasse diante da presença milenar daquele santuário. A gruta parecia respirar com eles, viva, pulsante, acolhendo suas dúvidas e oferecendo paz.
Amélia, ainda tomada pelas revelações da profecia, sentia seu corpo leve, como se um chamado antigo vibrasse em cada célula. Não conseguia dormir, e algo dentro dela, um sussurro silencioso, guiava seus passos para além da câmara onde estavam. Saiu da área do templo onde o grupo descansava e seguiu por um estreito corredor moldado pela própria natureza.
Foi então que a luz da lua, penetrando por uma fissura alta da gruta, iluminou um caminho disfarçado por p
Com as frutas cuidadosamente envoltas em folhas grossas e resistentes, Amélia e Damian retornaram à gruta sagrada. A luz prateada da lua ainda banhava o caminho de volta, como se cada passo fosse guiado por uma força superior. O templo natural, com suas paredes cobertas por musgos brilhantes e o lago cristalino no centro, os acolheu em um silêncio respeitoso, como se o local também esperasse pela partilha daquele presente celestial.Os olhos dos companheiros se iluminaram ao ver os dois retornarem com alimento. Após dias de escassez, o aroma adocicado das frutas despertou esperança e alívio. Zard aproximou-se, analisando-as com cuidado antes de aprovar:— São frutas sagradas. Crescem apenas em locais tocados pela magia ancestral.Todos se reuniram em círculo, partilhando as frutas em silêncio reverente. Ao saboreá-las, uma sensação de calor e bem-estar se espalh
A madrugada havia cedido lugar a um amanhecer tímido, filtrado pelas fendas naturais no teto da gruta-templo. A claridade suave da aurora atravessava delicadamente a névoa tênue que dançava sobre as águas calmas do lago central, criando reflexos dourados nas pedras úmidas e musgosas ao redor. O ar ainda estava fresco, carregado do cheiro mineral da terra e do aroma adocicado das frutas recém-colhidas, que agora repousavam junto aos mantimentos do grupo, como um presente silencioso da floresta.Amélia despertou pela segunda vez, desta vez não com sobressaltos, mas envolta em uma estranha paz. Sua mente estava vívida com o que tinha vivenciado no sonho com Júlia. Cada detalhe parecia tatuado em sua memória — a forma como os braços da antiga amiga a acolheram, a névoa translúcida que as envolveu e as conduziu ao passado, e, acima de tudo, o instante avassalador em que a
O templo natural parecia mais desperto naquela manhã, como se a terra, as pedras e o lago tivessem escutado cada palavra dita por Amélia e Zard nas primeiras horas do dia. A luz dourada do amanhecer filtrava-se pelas fendas da caverna com mais intensidade, refletindo-se nas águas calmas do lago, que dançavam com uma tranquilidade quase cerimonial. O silêncio não era vazio, mas carregado de presença — como se os ancestrais estivessem observando, atentos, cada passo do grupo.Amélia voltou ao grupo e encontrou Damian já desperto, sentado sobre uma rocha plana, os olhos fixos no movimento da água. Ao vê-la se aproximar, ele sorriu — um sorriso pequeno, mas carregado de afeto e compreensão.
O templo natural os havia acolhido como um ventre antigo da terra, mas agora começava a pulsar com a vibração de um adeus. Cada pedra, cada fresta por onde a luz da lua se infiltrava na noite anterior, agora parecia mais opaca, como se aquela sagrada morada soubesse que sua missão havia terminado.Zard havia guardado o fragmento lunar com todo o cuidado, embrulhando-o em um tecido de linho antigo que levava consigo, como um artefato sagrado que carregava o destino não só da loba branca, mas de todos os descendentes da lua.A saída da gruta era silenciosa, quase solene. As botas tocavam o chão com suavidade, como se todos os membros do grupo estivessem conscientes da importância daquele momento. Ethan, sempre o primeiro a quebrar o silêncio com uma piada ou provocação, mantinha os lábios cerrados e o olhar atento às árvores que se estendiam do lado de fora. Maya andava
A manhã ainda era jovem quando o grupo partiu da clareira sagrada, deixando para trás o templo natural e as revelações que haviam transformado cada um deles. A floresta ao redor parecia silenciosa demais, como se observasse seus passos com olhos invisíveis entre os troncos retorcidos e as folhas que dançavam ao vento.O chão estava coberto por um tapete grosso de musgo e folhas caídas, abafando o som dos passos. As árvores ficavam mais altas e mais densas à medida que avançavam, como guardiãs de um segredo ancestral. O sol mal conseguia penetrar entre as copas, criando feixes dourados que iluminavam pequenas partes do caminho, como se a própria natureza os orientasse a seguir por ali.— Isso aqui est&aacut
A luz azulada que emanava do altar não cessou de uma hora para outra. Ela foi se dissipando aos poucos, como uma névoa suave que se desfazia no ar. Amélia permaneceu com a mão pousada na pedra, os olhos fechados, os lábios entreabertos como se estivesse em transe. Quando a energia finalmente se apagou, ela recuou um passo, cambaleando. Damian a segurou antes que caísse.— Estou bem — sussurrou ela, sua voz embargada por algo que nem mesmo ela sabia descrever.O grupo permaneceu em silêncio por longos minutos, respeitando o momento, tentando processar o que acabara de acontecer. A floresta também parecia ter prendido a respiração. Nenhuma folha se movia, nenhum animal emitia som. Era como se o mundo estivesse esperando.Zard se aproximou do altar, seus olhos mais fundos do que nunca. Tocou uma das inscrições laterais e a pedra reagiu, brilhando levemente sob seu toque.<
A manhã surgiu tímida entre as copas altas das árvores que protegiam o templo natural. Um manto de névoa rastejava sobre o lago central, dançando sob a luz pálida da aurora. O silêncio era espesso, quase sagrado, como se o próprio tempo tivesse desacelerado para que aquele lugar pudesse respirar em paz.Amélia abriu os olhos lentamente, ainda sentindo o calor do abraço de Damian da noite anterior. Ele dormia ao seu lado, uma expressão tranquila no rosto, e seu braço envolvia sua cintura com naturalidade. A respiração dele era um sopro constante, quase como o embalo de uma canção esquecida. Ela se permitiu ficar assim por alguns minutos, apenas sentindo a segurança daquele momento.Mas algo dentro dela começava a pulsar. Um chamado. Um aviso.Levantou-se devagar, cobrindo o corpo com o manto e caminhou até a beira do lago. A á
A alvorada mal se insinuava por entre as folhas espessas quando o grupo começou a se preparar para partir. O templo natural atrás deles permanecia em silêncio, como se também observasse a despedida daqueles que, por breves dias, haviam sido seus hóspedes e seus escolhidos. O lago central ainda refletia uma lua pálida prestes a desaparecer diante do sol, e o ar carregava o perfume de terra molhada, resina e frutos silvestres recém-colhidos.Amélia estava entre as árvores, colhendo mais algumas das frutas misteriosas. As folhas ainda estavam úmidas de orvalho, e seus dedos deslizavam com delicadeza sobre cada uma delas, como se reverenciasse a dádiva recebida.Damian se aproximou em silêncio, observando-a por um momento antes de dizer:— Nunca vi você assim… em paz. Como se fizesse parte do próprio mundo.Ela se virou devagar e sorriu.—