Capítulo 4

Seu comunicado fez a sala entrar em combustão, diversas vozes se chocaram.

Todos aqueles diretores, vestindo ternos caros, relógios de luxo.

Todos eles esbravejaram contra a sua decisão como se estivessem discordando de um juiz de futebol.

Ela os ouviu impassível. Não tremeu.

— Como uma mulher, que alguns dias atrás a única preocupação, era não misturar roupas brancas e coloridas, pode se tornar CEO da maior companhia de peças automotivas do mundo? Isso é um absurdo, senhores!

Rosalie olhou para o diretor de operações.

Eles sabiam de sua formação, mas escolheram ignorar.

Os outros diretores se levantaram e concordaram com seu colega.

— Não tem capacidade para essa função!

Disseram.

Não sou um homem, vocês querem dizer, pensou ela.

Rosalie respirou fundo, então olhou para os homens que duvidavam de sua capacidade empresarial.

Eram patéticos.

— Já chega desta discussão inútil, minha decisão já está tomada. — Anunciou.

Eles a olharam como se fosse louca, até que o Diretor Financeiro e o Diretor de receita se colocaram ao seu lado.

— Essa decisão já foi tomada, como podem ver. — Disse o diretor Financeiro, e foi apoiado pelo seu outro colega.

Rosalie ergueu uma pasta e retirou um papel onde ergueu para todos os presentes.

— Minha decisão foi aprovada pelo conselho de acionistas do Grupo Empire! Essa reunião não foi para pedir permissão, foi um comunicado.

Com essas palavras, ela saiu da sala de reuniões da presidência.

Rosalie caminhou até o elevador segurando sua bolsa no ombro, seus sapatos caros fazendo barulho no piso.

Ela apertou o botão e antes das portas se fecharem ela vislumbrou o rosto de Louie Valois, ela não resistiu e acenou com ironia.

Quando as portas se fecharam ela colocou uma mão em seu coração, e ouviu as palavras daqueles homens duvidando de sua capacidade.

Seu coração estava acelerado.

O elevador parou em no quinto andar, uma mulher grávida de vestido florido entrou e a cumprimentou.

Rosalie se recompôs e acenou com a cabeça.

Quando a mulher se apoiou na lateral do elevador suas chaves caíram.

A viúva não pensou duas vezes e se abaixou, para que a grávida não tivesse que fazer isso.

— Ah! Muito obrigada, faz meses que mal consigo ver meus pés... — disse a mulher, e sorriu.

Rosalie assentiu com a cabeça e viu a felicidade no rosto da jovem.

Naquele instante foi levada pelas lembranças da vida que tivera, arremessada de volta ao passado.

Setembro de 1986

02:00 da manhã

Rosalie olhou para a barriga arredondada, e suspirou enquanto as lágrimas desciam.

Ela olhou para o lado e viu Duncan dormindo tranquilamente.

Sentiu vontade de acertá-lo uma bofetada.

Mas apenas o sacudiu até que despertasse.

Ele se sentou de imediato, seus olhos claros a fitaram confusos.

— Está com dor? — perguntou-lhe.

Rosalie suspirou frustrada, e se deixou cair de costas nos enormes travesseiros.

— Eu tive um sonho terrível, você não faz ideia!

Duncan se deitou ao seu lado, e a olhou.

— Sonhos ruins são apenas sonhos ruins, Rosalie. — Ele tentou confortá-la.

Rosalie se virou para ele, mergulhando no mar profundo que eram seus olhos.

— Qual foi o sonho, Rose?

Ela suspirou, então disse:

— Você vai rir.

— Não vou. — Prometeu.

— Sonhei que você me abandonava, por uma mulher feia ainda por cima.

Suas palavras não o afetaram, ao invés disso o fizeram gargalhar alto.

— Não ria Duncan, foi muito real!

Ela desferiu alguns t***s contra seus braços enquanto ele ria, mas ele não parou.

Rosalie simplesmente parou de tentar fazê-lo parar e teve uma crise de choro.

Isso o fez parar no mesmo instante.

Duncan a puxou para seus braços e a apertou contra o seu corpo, passando as mãos em seus cabelos.

Ele sussurrou palavras doces, até que ela parasse de chorar.

Quando finalmente parou, ele a convenceu ir até a varanda.

— Está frio aqui, Duncan. — Resmungou quando sentiu uma brisa gélida no rosto.

Duncan a cobriu mais com a manta e a guiou para a amurada, a abraçando por trás.

— Olhe para o céu, Rose.

Ela olhou, mesmo a contragosto.

Era noite de lua cheia, e o céu estava repleto de estrelas, uma noite realmente linda.

Quando ela tentou se desvencilhar dele, Duncan a segurou.

— Apenas me deixe abraçá-la, e olhe para as estrelas.

Ela se deixou envolver cada vez mais em seus braços, apreciando o brilho majestoso do céu.

— Está frio aqui. — Repetiu ela.

— Vou aquecê-la, apenas sinta meu amor, minha querida. — Sussurrou ele contra seu ouvido.

Rosalie sentiu, até que sua bolsa rompeu.

— A Sra. não vai sair?

Rosalie piscou, e retornou ao presente onde a mulher grávida a olhava.

Ela já estava no saguão e se despediu da mulher com um sorriso.

Rosalie entrou no seu carro e dirigiu para sua casa.

Durante o trajeto ela ligou o rádio, e para sua tristeza tocava a música de seu casamento.

Ela tentou não chorar, e respirou fundo.

— Eu ainda sinto seu amor, Duncan. E isso é o que mais dói... — Sussurrou enquanto ouvia a melodia.

A falta dele era como ser envolvida em ventos fortes, e respirar se tornava impossível.

E desde sua morte não pôde se permitir demonstrar fraqueza, era isso que esperavam dela.

Rosalie aumentou o som do rádio e se deixou envolver pela melodia, deixou que as lágrimas descessem e se lembrou de Duncan...

Ela se deixou levar pelas lembranças, como ondas suaves sua mente se foi...

Setembro de 1986

Rosalie paralisou enquanto assistia sua bolsa se romper.

Duncan a soltou, entrando correndo no quarto procurando suas chaves.

Ela olhou para suas mãos trêmulas e começou a sentir leves pontadas, deviam ser o início das contrações.

Quando ela olhou novamente para suas pernas viu o sangue.

Devia sair sangue?

— Rosalie! Rosalie!

Duncan segurou em seu rosto, as mãos em concha a obrigando olhar para ele.

— Se concentre em mim, vou levá-la para o hospital.

Embora ele estivesse apressado, Duncan disse cada palavra lentamente.

Mas Rosalie não se mexeu.

Estava horrorizada com a perspectiva de dar à luz, aterrorizada.

Quando Duncan reuniu todas as bolsas e as colocou no carro, ele voltou para buscá-la.

Rosalie estava parada no mesmo lugar, suas mãos trêmulas.

O homem segurou em seu rosto novamente e disse:

— Sei que está com medo Rose, mas preciso que seja corajosa agora. — Ele puxou sua mão, e a segurou forte.

Quando foi levada para a sala de pré-parto sentindo fortes dores, ela olhou para Duncan.

— E se eu não for capaz disso?

Ela fechou os olhos, sentindo mais uma contração.

Era como se estivesse sendo quebrada, de dentro para fora.

Duncan se aproximou mais da cama, ficando com o rosto a centímetros do dela e segurou em sua mão.

— Farei uma promessa a você. — disse ele, e Rosalie viu como seus olhos estavam marejados. — Não vou soltar sua mão. Nem hoje e nem nunca.

O parto durou mais de dez horas, e Duncan não soltou sua mão.

Exatamente como prometera.

Rosalie limpou as lágrimas e estacionou o carro em sua garagem.

Antes que a porta da garagem se fechasse ela viu uma sombra pelo retrovisor.

Rosalie se sentiu de repente observada, e imediatamente saiu da garagem.

Ela deu a volta em sua propriedade, e seguiu para a entrada da frente.

A viúva olhou para a rua, observando as pessoas em suas rotinas.

Tudo parecia perfeitamente em ordem.

Contudo, a sensação de ser observada ainda persistia.

A mulher caminhou até sair de sua propriedade, sempre observando os homens que passavam.

Após alguns segundos disso, ela desistiu e entrou no casarão.

Há vários metros de distância, um homem vestido de preto saiu das sombras.

Duncan voltou a observar sua antiga casa, olhou para sua mulher que parecia tão solitária.

Mesmo naquela distância, Duncan Valois percebeu a perda de peso de Rosalie.

Essa percepção o destroçou, o fez se sentir amaldiçoado.

Duncan estava de boné e óculos escuros, mas os jogou fora.

Não era mais Duncan Valois, e nem mesmo a mulher que amou a vida toda o reconheceria no corpo daquele homem.

Antes de partir, ele lançou um último olhar para o casarão, e desejou desesperadamente poder voltar no tempo...

Ele cerrou os punhos, e partiu.

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