França Lille
Janeiro de 1986Rosalie Corse suspirou e olhou para o teste de gravidez positivo em suas mãos trêmulas.O que ela deveria fazer agora? Grávida aos dezessete anos...Ela respirou fundo enquanto suas mãos suavam ao colocar o teste em seu bolso, então voltou para a recepção da loja de conveniência onde trabalhava.No instante que se recolocou atrás do caixa, o sino da porta ressoou com a entrada de um grupo de jovens.Ela engoliu em seco ao ver Duncan Valois.Quando seus olhares se encontraram ele sorriu imediatamente.Os outros garotos pegaram suas cervejas e pagaram.Rosalie evitou o olhar de Duncan todo o tempo, mantendo o olhar baixo e fingindo estar ocupada organizando prateleiras.Quando ouviu o sino novamente na porta respirou aliviada, contudo, o alívio durou pouco.— Por que está me evitando, Rosalie?A voz grave dele a fez derrubar alguns itens de limpeza, antes que os alcançasse no chão ele se abaixou bem ao seu lado e lhe entregou.Rosalie se viu refém de seu olhar verde inquisidor.Duncan era vários centímetros mais alto que ela, seus ombros largos e rosto completamente masculino sempre o destacavam dos demais.Ele possuía apenas dezoito anos, contudo, seu olhar verde sempre fora confiante e impetuoso.Nunca o viu recuar, e sabia que ele não começaria agora.— Não o estou evitando, apenas tenho trabalhado muito. — Mentiu.Quando tentou passar por ele, foi contida por suas mãos grandes que a seguraram pelos braços.Duncan a pressionou levemente contra a prateleira de objetos e a forçou olhar em seus olhos, direto e implacável ele pronunciou:— Quando mentir olhe nos meus olhos, Rose.Ela engoliu em seco, enquanto sentia as mãos dele em sua pele, seu corpo sendo pressionado ao dela, enquanto seu coração acelerava cada vez mais.Duncan a encarava, seu olhar firme.— Solte-me, Duncan. — Ordenou-lhe.Ele não a soltou, ao invés disso, ergueu levemente sua mão e acariciou seu rosto.Rosalie engoliu em seco.— Diga-me o que a aflige e eu farei parar. Apenas diga, querida. — Sua voz era terna.Ela quis empurrá-lo, e gritar com ele por ser tão gentil quando ela o estava evitando há dias, mas não o fez, apenas puxou o teste de gravidez positivo e mostrou-lhe.Quando Duncan viu o teste ele a soltou, e recuou alguns passos.Seu olhar pela primeira vez saiu de seu rosto e se fixou em seus pés.— Como fará parar, Duncan Valois? — Ela o desafiou.Quando ele apenas devolveu-lhe silencio, ela virou de costas para ele e continuou a organizar as prateleiras.De repente ouviu algo que nunca esqueceria.— Case-se comigo, e juro que nem a morte me fará deixá-la.Rosalie se voltou para ele, e viu Duncan ajoelhado segurando uma aliança.[...]Dezessete anos depois.Rosalie caminhou pelo casarão e verificou se as crianças já estavam prontas para o jantar. Após se certificar disso foi até a lavanderia e colocou alguns lençóis para lavar.Depois fechou algumas janelas da sala de estar e se encaminhou para a escadaria até seu quarto.Quando a mulher entrou no quarto a primeira coisa que notou foi o vento gelado da noite.Rosalie olhou para as portas de vidro abertas, quando se aproximou para fechá-las percebeu que Duncan estava recostado na amurada da varanda.Ela o observou por alguns segundos.Suas costas musculosas tensionadas, os ombros largos e as pernas longas e sólidas, ele parecia alheio a sua presença.— Duncan?Ela o chamou, porém, ele não se virou.— Eu vi uma estrela cadente, Rose. — disse-lhe Duncan depois de alguns segundos, então lentamente se virou para ela.Rosalie suspirou ao encontrar seu olhar verde.— Precisamos nos arrumar, para a recepção no Picardie-Baux. — O lembrou.Ele assentiu, seu olhar em seus lábios.Ela o observou parado, com as costas apoiadas na amurada e agora com os braços cruzados.Seus bíceps ficaram maiores ao cruzar os braços.— Venha aqui. — Ele a chamou.Ela sabia que aquilo era uma ordem, contudo, não obedeceria.Estavam quase atrasados e Duncan nem se vestira.Quando Rosalie lhe deu as costas, levou apenas um segundo para que ele mergulhasse sua mão em seu cabelo...Duncan de alguma forma diminuiu a distância entre eles e afundou seus dedos em seus cabelos, com firmeza ele a virou para ele.Ficaram se encarando, enquanto ela o observava se aproximar ainda mais.Rosalie mergulhou em seus olhos verdes era um mar misterioso e profundo.Duncan a pressionou contra a lateral da parede, ela sentiu seus dedos da outra mão roçarem sua perna desnuda, lhe causando arrepios.Deus ... Não tinham tempo para isso ...Então por que seu corpo estava se deixando dominar por ele?— Eu fiz um pedido ... — sussurrou ele, contra seus lábios.Duncan subiu mais sua mão, seus dedos acariciando sua coxa e se aproximando perigosamente de seu sexo.Enquanto a outra mão estava mergulhada em seus cabelos, a dominando pela nuca.Mantendo seu olhar sobre ele.Rosalie estava dominada de todas as formas, e não protestou contra aquilo.Ela mergulhou no amor que ele lhe oferecia.Queria se afogar nele.— Qual? — perguntou-lhe, ciente de sua voz rouca.Duncan sorriu contra seus lábios, seus narizes se tocando e outras coisas mais.— É segredo, minha querida.Ele a beijou nos lábios e a deixou parada na varanda, suas pernas trêmulas e seu centro aceso para ele.[...]Picardie-Baux— Ela nem mesmo disfarçou. — Resmungou Rosalie ao marido.Ele tirou o olhar da taça de vinho para encará-la, seus olhos cinza cintilando.Rosalie se referia a mulher de azul que havia passado perto deles, seu olhar se fixando em Duncan.Duncan havia com toda a certeza melhorado com o tempo.Se é que isso era possível.Rosalie observou os músculos de seu abdômen definido, os braços fortes e bronzeados...Como se não bastasse seu corpo se parecer com uma escultura grega, não era diferente ao olhar para seu rosto.O queixo marcado e uma barba cheia e escura.Os cabelos bem cortados, e as sobrancelhas espessas.Ele fingiu olhar para os lados.— Não vejo nenhuma outra mulher, a não ser você. — Disse por fim.Duncan estava de frente para ela, sentado na cadeira luxuosa.Ela sorriu para ele, percebendo como estava sendo boba.— O que você pediu Sr. Valois? — perguntou ela com um sorriso, retornando ao assunto da estrela cadente.Duncan sorriu, de lado.Ele balançou o vinho em sua taça, então ergueu seu olhar verde para sua esposa.Duncan entreabriu os lábios, contudo, Rosalie jamais soube o que ele diria.Eles ouviram antes de realmente ver.Um som ensurdecedor.Então tudo desmoronou em chamas e a última coisa que Rosalie viu, foi Duncan se jogar protetoramente sobre ela, a abraçando...Seu corpo pesado sobre o seu, e sangue. Muito sangue.A mulher gritou ao perceber que não conseguia ver nada, apenas sentir o homem acima dela com os braços ao seu redor.— Não se mexa, Rosalie...Ela ouviu a voz de Duncan, e sangue saiu de sua boca.— Duncan!Seu grito foi sufocado e amargo.Ele apenas a abraçou forte contra si.A mulher sentiu uma forte dor na cabeça e não conseguia se mexer.Ela não conseguiu mais gritar, e se deixou mergulhar na escuridão nos braços de Duncan...Quando abriu os olhos sua visão estava turva e todo o seu corpo doía.— Sra. Valois? Consegue me ouvir?Diante dela estava um homem de cabelos grisalhos e com um jaleco branco.— Onde...— tentou perguntar, porém, sentia-se tão fraca...— A Sra. está no Hospital Provence Aligre, foi uma das vítimas da explosão no restaurante Picardie-Baux. — Informou o médico de plantão.Rosalie se sentia ainda confusa, e ao ouvir aquelas coisas tentou se sentar, mas sentiu uma forte dor na lateral do corpo e na cabeça.Ela gemeu de dor e o médico se aproximou.— Não se mexa, quebrou várias costelas e ficou em coma durante dois dias.Rosalie Valois arfou ao sentir a dor alucinante em seu corpo e cabeça.Uma semana em coma?Ela olhou ao redor e viu o quarto branco e vazio, e pensou em Duncan.— Onde está meu marido?Quando o olhar do médico vacilou, ela gritou um sonoro não.Como se pudesse negar a verdade estampada em seu rosto.— O Sr. Valois suportou todo o impacto da explosão, seu corpo foi encontrad
Rosalie deu seu último adeus a Duncan e se deixou levar por seu filho Bastien e sua filha Angelika.Na saída do cemitério Rosalie viu o carro de Louie estacionado.Ela ignorou e voltou para o casarão, onde cuidou da casa e dos filhos.Rosalie ignorou as ligações de Louie, que insistia em falar com ela.No quinto dia ela atendeu.Não era seu Ex cunhado.Era uma ligação do escritório do Grupo Empire.Ela estranhou, só teria uma reunião com os diretores daqui a alguns dias, precisava decidir com quem ficaria o cargo de CEO que pertencia a Duncan.A antiga secretária de Duncan a alertou que, seu antigo cunhado estava em reuniões secretas com alguns membros do conselho administrativo." A viúva não tem competência para gerir as ações de meu irmão"Rosalie tinha quase certeza que era isso que Louie dizia nas reuniões.Ela terminou a ligação e com o compromisso de almoçar com a secretária no dia seguinte.Como Louie ousava fazer reuniões secretas para colocar em dúvida sua competência?Rosali
Seu comunicado fez a sala entrar em combustão, diversas vozes se chocaram.Todos aqueles diretores, vestindo ternos caros, relógios de luxo.Todos eles esbravejaram contra a sua decisão como se estivessem discordando de um juiz de futebol.Ela os ouviu impassível. Não tremeu.— Como uma mulher, que alguns dias atrás a única preocupação, era não misturar roupas brancas e coloridas, pode se tornar CEO da maior companhia de peças automotivas do mundo? Isso é um absurdo, senhores!Rosalie olhou para o diretor de operações.Eles sabiam de sua formação, mas escolheram ignorar.Os outros diretores se levantaram e concordaram com seu colega.— Não tem capacidade para essa função!Disseram.Não sou um homem, vocês querem dizer, pensou ela.Rosalie respirou fundo, então olhou para os homens que duvidavam de sua capacidade empresarial.Eram patéticos.— Já chega desta discussão inútil, minha decisão já está tomada. — Anunciou.Eles a olharam como se fosse louca, até que o Diretor Financeiro e o D
Rosalie atravessou a sala e encontrou-a vazia.Olhou para o relógio em seu pulso, não era tão tarde então subiu as escadas para ver seus filhos.Quando a mulher chegou no último degrau, quase caiu para trás ao ouvir os gritos de Angelika.Rosalie sentiu seu coração batendo descompassado, suas pernas tremeram e ela escorregou ao virar o corredor.Seu primeiro pensamento para os gritos de Angelika era que alguém havia invadido a casa e a estava machucando.Rosalie se levantou e continuou correndo, sentindo-se a beira do colapso.Quando Rosalie chegou no foco dos gritos, descobriu que era em seu quarto.E ficou chocada com a cena que viu.Bastien estava com diversos sacos de roupas jogados no chão, enquanto Angelika tentava acertá-lo, aos prantos.Rosalie ainda sentia que seu coração estava batendo rápido demais, contudo, se aproximou da cena.Apenas uma olhada rápida e ela percebeu que todas aquelas roupas pertenceram a Duncan...Ela olhou para seu filho mais novo, seu rosto era muito pa
Duncan caminhou para longe do casarão, mas seu coração permaneceu em sua antiga casa.Ele caminhou por horas a esmo, pela cidade.Quando as primeiras gotas de chuva caíram sobre ele, Duncan não as sentiu.Ele continuou caminhando, com pés que não eram os seus...Um corpo que não era o seu.Ele observou as pessoas correndo na rua da chuva, ele parou no meio fio e cogitou a possibilidade de se jogar na frente de um carro.Mas logo o rosto de Rosalie e seus filhos surgiram em sua mente, e o homem descartou essa ideia.Duncan Valois estava morto, inclusive para Rosalie.Só lhe restava uma coisa.Descobrir quem havia feito aquilo.O homem retornou para o condomínio de luxo onde o CEO do grupo Lecomte vivia, então se trancou no escritório do homem.Passou as horas seguintes lendo suas agendas, descobrindo tudo que podia sobre ele.Até que encontrou um arquivo sobre si mesmo.Estava lacrado, o próprio François não o havia aberto.No documento havia todas as informações sobre sua vida, e aquil
Ele sentiu suas mãos tremerem e todo o seu corpo mergulhar em uma profunda violência contida.O grupo Lecomte era o responsável por sua morte, e podia perceber que François não estava envolvido, até onde sabia.No entanto, por que seus diretores tomaram uma decisão como aquela?Lentamente, Duncan Valois libertou a lâmina da garganta de Petit, que se afastou.Luidi respirou aliviado, e olhou para Duncan.— Chefe, a morte de Duncan Valois fará bem aos negócios...— Você irá disparar no ranking mundial, o Grupo Lecomte não possuí outro concorrente como o Grupo Empire! — Disse outro homem, e Duncan o reconheceu como Martin, outro subordinado.— Todos sabem que o grande responsável pelo grande crescimento do Grupo Empire era a família Valois. Assim como o pai Dominique Valois, aumentou o crescimento em seu tempo como CEO, o seu filho fez semelhante. Duncan Valois era o grande responsável pelo sucesso. — Concordou Fernand.Duncan trincou os dentes, ele estalou o pescoço e fechou os olhos.El
Louie caminhou a passos largos pela empresa.Em sua mente a decisão de Rosalie ainda o irritava profundamente, sua determinação em continuar não cedendo a ele o deixava louco.E agora ela havia sido aprovada, isso devido a sua pequena invasão em sua reunião com alguns acionistas e diretores.Mas não tinha problema, ainda havia muitas pessoas que não apoiaria uma mulher como CEO.Louie Valois caminhou pela empresa Empire, de queixo erguido ele entrou no escritório do diretor de Marketing.O homem se voltou para ele, surpreso com sua entrada.— Sr. Valois. — Pronunciou o diretor.Louie olhou ao redor, e caminhou até a cafeteira sem olhar para o diretor.Em seguida se serviu de café, ficando de costas para o outro homem.Após alguns segundos, Louie ouviu o diretor de Marketing, Bresson, pigarrear tentando chamar sua atenção.Louie Valois se virou lentamente e olhou para Bresson, que estava agora de pé o encarando.— Precisa de algo, Sr. Valois? — perguntou-lhe, Bresson.Louie bebeu um po
Ela sentiu sua boca ficar seca, e seu sangue pareceu correr mais rápido em suas veias, seu corpo parecia febril e suas pernas estremeceram.Rosalie estava sendo consumida pela raiva.Louie a olhava sem ter a intenção de soltá-la, e quando a pressionou mais Rosalie gemeu de dor, quando o homem percebeu isso não a soltou de imediato.— Está com dor, Rosalie? — perguntou com escárnio. — Estou segurando-a muito forte?Rosalie fechou os olhos.Quando os abriu, não havia mais nenhum medo em seus olhos quando lhe disse:— Você deve chorar em sua cama toda noite, pensando que eu, uma mulher com infância pobre se senta na cadeira da presidência e você não.Havia chamas intensas nos olhos de Louie, porém, as portas do elevador se abriram.Louie havia apertado o botão novamente, e em seguida a libertou.Rosalie saiu do elevador sem olhar para trás.Seu coração batia descompassado, suas mãos estavam formigando, suas pernas trêmulas.Quando girou a chave para entrar em sua sala da presidência a de