Na Praça

                   Chon Smith

Acordei com o despertador fazendo o barulho de sempre. Dei um pulo

da cama e fui para o banheiro, joguei água no rosto e fiquei me encarando no espelho por alguns  minutos.

— Preciso dormir mais – resmungo, passando a mão no rosto.

A festa ontem durou até às quatro da manhã, foi uma mistura de loucura com diversão. Olho para a mancha roxa que estava em meu pescoço, e abro um sorriso de lado relembrando o que tinha acontecido. Posso dizer que foi a melhor noite que já tive até agora, principalmente com duas garotas ao mesmo tempo.

Tomo um banho bem demorado, visto uma roupa simples e desço as escadas bem devagar, desejando que meu pai já tivesse saído.

Entro na cozinha e vejo só a Anna recolhendo os pratos da mesa.

— O David já saiu?

— Já – responde ela com um sorriso de lado.

— O que tem pro café? – pergunto me sentando.

— Para o senhor festeiro tem panquecas, bolo e suco – resonde ela levando os pratos para a pia. — Você tem que chegar mais cedo dessas festas, a My não veio tão tarde.

— Ela é mulher, tem que estar em casa cedo.

— E você ainda mora nessa casa, tem que obedecer as ordens.

— Você tá parecendo o David – resmungo.

— Eu só quero seu bem Chon, nada mais – fala e toca no meu ombro.

— Perdi a fome – me levanto rápido e saio da cozinha.

Anna não é minha mãe, mas vive me dizendo o que devo fazer.

Saio de casa á passos largos e chego na praça, que havia perto de casa.

— Aff – resmungo me sentando no banco.

“Às vezes fico imaginando como seria se minha mãe estivesse viva”, penso.

Fiquei sentando ali por alguns minutos, observando as crianças brincarem.

De longe avisto a senhora que havia falado comigo vindo em minha direção. Me levanto rapidamente do banco e sigo em direção oposta.

Sem querer acabo esbarrando em alguém.

— Ah não – ouço-a resmungar.

— Me desculpe, eu não a vi.

A garota em minha frente tinha olhos verdes, cabelos longos, loira, magra, não muito alta, pele branca e suas bochechas rosadas pareciam morangos. Igual uma boneca de porcelana, tem jeito de ser tão delicada e educada.

— Tudo bem – diz ela olhando para a pipoca que estava esparramada no chão.

— Posso te comprar outra se quiser – digo, fazendo ela olhar para mim.

— Muito obrigada, mas não precisa – fala gentilmente, colocando uma mecha de seu cabelo atrás dá orelha.

— Eu insisto – digo e olho para trás, vendo a senhora sentada no banco olhado para mim.

— Ok então – ouço ela dizer.

— Então vamos – saio andando na frente.

Vou até o carrinho e compro a pipoca.

— Aqui está – digo, e lhe entrego.

— Obrigada – agradece com um sorriso meigo no rosto.

Ela se senta em um banco e começa a comer.

— Olha, me desculpa mais uma vez – digo, me sentando ao seu lado.

— Não precisa se desculpar, eu estava distraída também.

Volto a olhar as crianças correndo feito loucas e seus pais atrás.

— Sabia que a infância é nossa melhor etapa da vida?

— Acho que sim – respondo olhando-a de lado.

— Não ache, tenha certeza. É a fase em que passamos mais tempo com quem amamos. Depois vem a adolescência e ficamos rebeldes e complicados de ser entendidos.

Olhei para ela que comia a pipoca e observava as crianças correndo.

Não respondo nada, desvio o olhar para o chão.

— Chon! – ouço uma voz familiar chamar. Ergo o olhar e vejo Josh.

— E ai cara! – me levanto já o cumprimentando. Fazendo o toque que inventamos.

Josh é meio que um irmão pra mim, crescemos praticamente juntos. E como sempre ele estava todo estiloso, calça jeans com corrente, camisa preta com o desenho de uma caveira e uma jaqueta. Ele tem a mesma idade que eu e uma coisa que fazia as garotas babarem nele era seus cabelos um pouco longo e castanho, seus olhos eram da mesma cor também.

— E ai quem é ela? – pergunta ele e olha pra garota.

— Não sei – respondo dando de ombros.

A garota se levanta e joga o saquinho de pipoca no lixo que estava ao lado do banco.

— Obrigada pela pipoca – agradece sorrindo de lado.

— De nada.

Ela logo sai andando.

— Você comprou pipoca pra uma pessoa que nem conhece?! Me conta outra.

— Eu sem querer esbarrei nela e derrubei a pipoca no chão, então tive que repor – digo.

— Ok – diz, me olhando desconfiado. — Mas me conta como foi a noite com as garotas?

Josh sempre foi curioso! Começamos a andar de volta pra casa e contei tudo a ele sobre a festa e as meninas.

                      Cindy Collins

Depois do acidente com a pipoca continuei a fazer minha caminhada pela cidade. Queria rever as coisas que não via há anos e posso dizer que a cidade está muito bela.

Enquanto caminhava observando as lojas e as coisas, acabei esbarrando em uma mulher. Posso dizer que hoje não é o meu dia.

— Me desculpe – digo erguendo meus olhos.

Ela ficou paralisada me olhando. Então fiz o mesmo por alguns segundos.

— Me desculpe, eu estava tão encantada com a cidade que não a vi – falo novamente.

— Não tem problema eu também estava distraída – diz ela sorrindo.

Aquele sorriso me pareceu tão familiar que trouxe à tona várias lembranças.

Analisei a mulher novamente, seu rosto estava com a maquiagem borrada e vestia um vestido preto de veludo que por sinal deveria ser muito caro. Mas ela era linda, tinha cabelos loiros, olhos verdes, lábios carnudos, corpo perfeito.

— Eu tenho que ir – e continuei andando.

Paro e olho novamente para trás enquanto ela entra em uma loja.

" Seria ela?"

" Impossível"

Afasto os pensamentos da cabeça e continuo caminhando. Vejo uma garotinha passar correndo com um largo sorrido no rosto, seu pai passa logo em seguida correndo atrás dela.

O que me fez recordar dos momentos que tive com meu pai.

                Flashback

(Autora quem narra)

Uma garotinha de lindos cabelos loiros corria feito louca pela enorme praça, se desviando de algumas pessoas que ali passavam.

— Você não me pega!!! – gritava ela para o homem que vinha correndo logo atrás.

— Tem certeza? Fofinha! – responde o homem já perto dela.

A menina acaba tropeçando em uma pedra e cai no chão.

— Fofinha, você está bem? – pergunta o homem se abaixando ao seu lado.

— To bem pai – responde ela rindo com a vozinha meiga.

— Querida, você quase me matou de susto.

A menina começa a rir.

Aquela lembrança era como um filme se passando na minha cabeça. Nessa época o amor entre eu e meu pai havia crescido mais ainda, estávamos muito felizes, havíamos acabado de superar o sumiço da minha mãe. Não tenho certeza se eu superei, mas ele seguiu em frente e isso é o que mais importa pra mim.

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