O dia da audiência havia finalmente chegado. Soraya tratou de colocar a sua melhor roupa. Um terninho cinza e salto escuro. Por conselho de Ingrid, ela não colocou joia alguma, nem maquiagem forte para chamar atenção. O ideal seria que ela aparentasse ser alguém humilde, de aparência simples, sem vaidade.Claramente a estratégia de sua advogada em colocar uma nova versão de Soraya era para que o juiz não a julgasse pela roupa mas sim por seu comportamento. Ela sabia que inúmeras artimanhas o seu opositor iria realizar para colocar a mãe das crianças como a vilã. Tudo indicaria que Soraya perderia, mas para a recém-advogada, nada estava perdido enquanto o juiz não desce o seu veredito final.— Tem certeza que estou bem? Não quero demonstrar fraqueza, e também não posso aparentar arrogância. Quero parecer realmente uma mulher simples, como me tornei. Somente com o intuito de ter acesso aos meus filhos, conviver com eles.— Você está perfeita querida. Se o juiz for bonitão, acredito que
— A senhora deveria saber que não é assim que funciona, correto? - o juiz não estava para sorrisos. Soraya concordou e ele pôde dar continuidade. — Por favor, as perguntas dos advogados.Ingrid foi a primeira. Estava extremamente irritada com a amiga. Nada do que ela falou, elas haviam planejado. Ignorou as suas falas anteriores e focou no processo.— É verdade que a senhora amou incondicionalmente as crianças, desde o momento que descobriu o nascimento?Soraya engoliu a seco. Ela sabia que a resposta era não. Pensou por alguns segundos em tudo que havia combinado com Ingrid e com o juramento que acabara de fazer no tribunal. Não seria certo mentir.— Não. Eu não os amei de imediato. - Ingrid revirou os olhos. — Foi somente após anos que percebi que eu os amava incondicionalmente.A sua advogada percebeu que ela não iria colaborar, então decidiu mudar de estratégia.— Você se vê oprimida pelo pai dos seus filhos, e pela mulher que foi expulsa do tribunal? Eles lhe destratam de alguma
— Advogados.Ingrid é a primeira se levantar. Ela caminha lentamente. Em sua cabeça se passa inúmeras alternativas de perguntas, porém, uma das suas estratégias é fazer com que Sebastián confesse a sua opressão perante a sua cliente, fazendo com que Soraya se transformasse em vítima, não em culpada.— Todos aqui sabem o ódio que o senhor guarda pela minha cliente. O abandono, o desprezo, fez com que o senhor nutrisse uma rejeição pela mãe das crianças, correto?Ele confirma.— Por isso, permanece firmemente, contra a aproximação da mãe com seus filhos. Coloco o senhor contra a ti mesmo. Caso houvesse a abandonado para fugir com outra mulher, e após anos se arrependesse do ato cometido, não gostaria que lhe dessem uma segunda oportunidade para uma aproximação?Sebástian pensa por alguns instantes. Ele concorda.— Então com qual direito o senhor acha que pode não permitir que uma mãe desesperada se reconcilie com as crianças?— Senhor meritíssimo! - o advogado de oposição interfere. — E
SebastiánEla deixa uma lágrima escorrer sobre a bochecha. Minha mão ainda repousa sobre seu peito. Posso sentir os batimentos fortes, latente contra a minha pele. Suas mãos repousam sobre as minhas, e nesse momento, como algo contagioso, eu retiro rapidamente.— Percebeu o quanto eu ainda te quero?— Isso é impossível. - ela me encara com sofridão. — Você nunca me amou.Seus olhos caem ao chão. Penso por alguns segundos como eu poderia resolver toda essa situação. Não é certo eu continuar agindo do mesmo modo em relação a manter o distanciamento dela com as crianças. Se eu continuar, o juiz poderá achar que eu estou sendo errôneo, e dar a guarda a ela. Então faço algo que vai me custar muito, mas pelo menos não custará os meus filhos.— Você pode ver as crianças.— Como?— É isso que você ouviu. Poderá ter encontros com elas, contudo, serão supervisionados. Em hipótese nenhuma a deixarei sozinha com os meus filhos. Eu não confio em você.O sorriso que antes havia se formado, desapare
Cansado, fico deitado sobre a cama pensando em tudo que ouvi. Não acho correto o que minha mãe e Diana estão fazendo. Soraya não merece nada que seja digno, não merece o amor das crianças, mas colocar os meus filhos contra ela, é errado.Mesmo que essa história me deixe indignado, ao pensar em tudo que aquela mulher fez conosco, eu não consigo agir com tanta dureza no coração. Se eu permiti a possibilidade de encontro, não foi pensando nela, mas sim nos meus filhos. É impressionante como a conexão de uma mãe com o filho é tremenda. Mesmo que eles nunca tenham se conhecido, eles podem sentir a presença dela.O que me preocupa é Selene. Daqui a alguns dias irá começar o período mais pesado do tratamento. A leucemia não é uma doença fácil e esse momento de turbulência emocional pode agravar esse problema. Fecho os olhos e peço a Deus para poder nos guardar. Guardar os meus filhos de toda angústia e ansiedade. Que Soraya venha para acrescentar algo de bom na vida deles, não para atrapalhar
— Não me insulte desse modo. Em nenhum momento eu desonrei a minha palavra de homem. Há uma ação judicial que envolve os nossos filhos. Eu não posso tapar os meus olhos e fingir que nada está acontecendo.— Que se dane a ação judicial. Você é um homem rico agora. Pode tudo o que quiser. Não precisa dar continuidade a um processo, poderia entrar em um acordo, e dar o dinheiro que essa cretina deseja.— Esse é o grande problema. Soraya não quer quantia alguma. Ela realmente quer conhecer os filhos.— E você acredita nela? - ergo os ombros, sem saber o que responder. — Não está vendo que ela está destruindo nosso casamento? - giro os olhos. — Isso está claro como água. Ela retornou porque quer voltar a ser a sua esposa, e como ela poderia conseguir isso? Através dos filhos. Do vínculo maior que você tem com ela.— Mesmo que fosse. Ela estaria perdendo tempo. Eu não vou retroceder em minha decisão. Eu me casei com você para a vida toda Diana. Entenda isso. Mais calmo, lentamente caminho a
Depois da informação que obtive, tratei Ingrid com a mais perfeita resiliência de sempre. Eu não tenho ciúmes de Diogo. Não temos relacionamento algum, e por isso ele não me deve nada. O que me incomoda é a mentira. Ela não precisava omitir que estava se relacionando com ele, com a intenção de não me magoar, ou com a que eu não me magoasse com ela. Isso não era necessário. Eles não me devem nada.Respirei fundo e abri os olhos. Hoje é o grande dia. Vou me encontrar com os meus filhos, e finalmente poderei dizer o quanto os amo. De imediato, acordei cedo e fui me arrumar. Coloquei a melhor roupa que havia, uma blusa de seda escura, e uma calça do mesmo tom. A maquiagem deixei bem leve, coloquei poucos acessórios e nos pés uso um salto fino.Estava nervosa. Pela décima vez umedeci meus lábios já apagados de toda a coloração do batom vermelho cereja. Decidi retirá-lo e colocar somente um gloss para realçá-los. Não quero chamar atenção para minha aparência, preciso que prestem atenção no m
"Nós não te reconhecemos como mãe"Essa frase martelou a minha cabeça em todo o trajeto de volta para casa de Ingrid. Depois disso, eles se levantaram e saíram. Suel ainda queria ficar alguns minutos, mas Sebástian não deixou. Assim que estacionei, deixei o meu corpo cansado se render. Encostei a testa no volante e paralisada permaneço.Ingrid me emprestou o seu carro novo, e talvez se não fosse isso eu nem sei como eu retornaria para casa. As lágrimas novamente se formam em meus olhos, deixo com que elas saiam. Choro como uma criança desesperada. Me coloco como alguém que perdeu um familiar, pois é assim que eu me sinto. Mesmo que eu não tenha convivido com as crianças, a rejeição de Selene me doeu muito.Era como se uma faca fosse enfiada em meu coração. As suas falas não eram como o de uma menina de 6 anos enfrentando uma doença terrível. Era como se alguém adulto, empenhado em me machucar, proferindo aquelas palavras dolorosas.— Isso tudo é uma merda. O que estou fazendo de minh