Capítulo um:

CAPÍTULO UM:



Norberto era um homem muito bonito. Olhos claros, cabelos louros, pele branca, corpo sarado, acabara de fazer 34 anos e tinha quase um metro e noventa de altura. Vestia-se muito bem. Adorava blazers, tinha uma coleção em seu armário. Costumava vestir-se com roupa social e casaco por cima dos ombros, assim chamava atenção das mulheres.

Era um perfeito cavalheiro. Tratava as pessoas com cordialidade, ajudava as velhinhas a atravessar a rua e era voluntário em uma ONG. No trabalho era todo organizado, nunca se atrasava, era assíduo, benquisto por todos. Tinha uma inteligência desmedida, era minucioso e metódico, fazia tudo de forma intensa. Um perfeccionista, assim era Norberto.

Ele tinha vindo morar no rio de janeiro depois da morte de seus pais. Sua mãe falecera de um AVC e, um ano depois, seu pai teve câncer de pulmão.

Norberto estudou na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, formou-se em publicidade e tinha um emprego rentável.

***

— Amor, a pizza chegou. — Melíade pegou os pratos, os talheres e a caixa da pizza, levando tudo para o quarto e deixando arrumado sobre a cama de casal.

Uma mulher de pele parda, cabelos curtinhos em um corte pixie e não mais do que aparentes 30 anos entrou e abraçou a outra por trás, enlaçando sua cintura. 

— Que delícia, Mê. Frango com requeijão?

Melíade e Luciana namoravam há pouco mais de um ano, mas já estavam planejando o casamento.

Não poderiam ser mais diferentes. Luciana era uma mulher séria, bem-sucedida, sempre bem-vestida e a respeitada delegada da polícia do Rio de Janeiro, enquanto Melíade era uma mulher gótica e rebelde, adoradora das artes.

Sentaram-se para comer e Luciana ligou a televisão pelo controle remoto.

— Amor, eu ando muito preocupada. — Melíade disse depois de dar uma dentada na pizza. — Esse psicopata vem atacando as lésbicas do Rio. Ele anda solto por aí, eu tenho medo.

Luciana segurou a mão da namorada e a beijou com carinho. 

— Não se preocupe. Eu e minha equipe estamos trabalhando arduamente nisso. Esse maluco vai ser pego.

— Dorme aqui essa noite comigo?

— Claro, meu amor. Vamos dormir juntinhas hoje, minha gótica.

***

— Lima? Notícias sobre o caso? E o nosso psicopata, aprontou essa noite? — Luciana entrou na delegacia na manhã seguinte com quarenta minutos de atraso. Ela e Melíade haviam passado a noite enroscadas em beijos e suspiros, fazendo com que a delegada perdesse a hora.

— Sim, doutora, mais uma vítima do serial killer, é a Vanessa Matoso, mais conhecida como Cássia Eller, por ter uma aparência similar à falecida cantora. A vítima saía de uma boate em Copacabana, quando o louco a atacou. E, enfim, o resto você já sabe.

— Precisamos pegá-lo logo antes que faça mais vítimas. Não é possível, esse louco tem de ser preso imediatamente, precisamos agir, precisamos de um grafólogo urgente.

— Grafólogo?

— Sim, Lima. Um perito em caligrafia. Esse método é muito usado nos Estados Unidos. Eu já li muito a respeito. Estou pensando seriamente em aplicar aqui também, quem sabe, não funciona? É um método que ajuda a polícia a capturar um serial killer. Esse maníaco vai ser pego e eu vou pegá-lo.

— Doutora, vamos com calma.

— Enquanto temos calma, ele pega mais pessoas. Não podemos ficar de braços cruzados. — Respondeu Luciana, colocando os óculos escuros no rosto de maneira dramática e saindo da sala.

Lima era o braço direito da delegada; um homem magro, estatura mediana, usava o corte de cabelo estilo samurai. Ele era apaixonado pela delegada, mas escondia a paixão.


— Tio Norberto, qual história vai nos contar hoje?

— Que tal se o tio contar a do pequeno príncipe?

— Sim! — Gritaram as crianças.

— Era uma vez...

***

— Obrigada por tudo que você tem feito pelas crianças, senhor Norberto. Eu não sei o que seria delas sem a sua ajuda — disse a dona da organização não governamental. 

Norberto sorriu sem jeito.

— Que é isso, dona Norma, eu faço tudo de coração. Contem sempre comigo, mas agora eu preciso ir, o trabalho me espera. — Ele se abaixou e abriu os braços. — Tchau, crianças.

Todas as crianças correram e pularam sobre ele, para abraçá-lo e se despedir.

Todos, exceto um menino magrinho e de pele negra, que ficou no canto, apenas observando. Dona Norma se aproximou e acarinhou o seu cabelo curtinho.

— Não vai se despedir dele, Julinho?

Ele balançou a cabeça enfaticamente. 

— Às vezes o tio Norberto tem um olhar estranho, Tia Norma.

— Como assim, querido?

Julinho deu de ombros, sem saber como explicar aquela sensação estranha que tinha de vez em quando, então foi brincar com os amigos assim que Norberto saiu pela porta.

***


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