AiyraSegurando uma xícara fumegante de café eu observo as crianças brincarem com Merlim, que mostra agora a barriga obediente a Ben. Yana está ao lado dele, balbuciando algo que deveria ser fofo, mas que no mínimo é engraçado.Eu vou ter que conversar com eles. Ontem depois que relaxei ao lado de Live, criei coragem e mandei ao Ethan o meu endereço. Marquei um horário razoável perto da hora do almoço. Uma agitação nervosa me obriga a respirar fundo. Se eu não os preparar direito, as chances de isso dar errado são enormes. Isobell desliza para a banqueta ao meu lado, seus olhos acompanhando a interação encantadora das crianças com uma expressão abobada que provavelmente espelha a minha. Uma percepção assustadora me atinge ao fitar os seus cabelos acobreados que caem em ondas selvagens pelo rosto delicado.Ela os ama como se fossem seus filhos. Desde que eles estavam em meu ventre ela cuidou deles e o tem feito sempre.Espero algum sentimento de posse ou ciúme me invadir, mas só sin
AiyraSe eu achava que tinha alguma possibilidade de algum deles não se habituar a Ethan eu estava completamente enganada. Em menos de uma hora eu já vi os olhos exigentes de Yana pedirem toda a atenção do pai e Ben começar a pedir colo, do mesmo jeito que ele faz comigo.Os pratos de filé de salmão com verduras que preparei já estão vazios sobre a mesa e eu fico observando a forma como o laço entre eles parece ficar mais forte a cada minuto. Não é como se não houvesse problemas no futuro ou alinhamentos que Ethan terá que fazer para tornar a convivência entre eles mais normal, mas para um primeiro encontro, eu diria que é um sucesso.Perco-me na conversa que se desenrola entre eles e começo a retirar os pratos. Distraída, eu deixo que os três tenham o seu momento a sós, levando o meu tempo para organizar a cozinha bagunçada pelo meu preparo do almoço.Retiro da geladeira a torta que comprei por delivery na cafeteria de Live e caminho para a bancada, me sentindo um pouco leve. Não é c
AiyraO percurso até onde Heiko vai estar começa a ficar longo e olho pela janela do carro, percebendo como estamos nos afastando do centro, afastando muito.Depois de mais de uma hora no carro eu olho para Kiler, a curiosidade me vencendo.— É muito mais longe que isso, Kiler?Ele desvia o olhar da estrada por só alguns segundos e depois volta a dirigir, uma mão no volante e a outra repousando em sua própria coxa.— O que vamos fazer lá requer um espaço tranquilo para trabalho e em Nova Iorque temos muitos ouvidos e olhos atentos para isso. — Kiler me responde, algo sombrio pesando em sua expressão.Um pensamento arredio perpassa em minha cabeça.— Quando você diz que Heiko vai interrogar, no que isso implica exatamente? — volto a perguntar, minha voz hesitante.Kiler aperta um pouco mais o volante e não me olha ao responder:— Acho que Heiko sempre te deixou a margem do que realmente fazemos, Aiyra. — Ele balança a cabeça — Imagine o seguinte: se nós perguntarmos ao cara uma coisa e
AiyraUm mês depoisEnquanto deixo as crianças no novo apartamento de Ethan percebo que algo mudou desde aquela noite entre nós. Não há declarações de amor ou rendições de lascívias escaldantes, mas agora, enquanto eu o sigo porta adentro do apartamento, eu notei pela primeira vez que ele não me olha como se eu fosse a pior decepção da sua vida.Uma melhora, ao menos.As crianças seguem a minha frente, Merlim já bem crescido para apenas um filhote, obedientemente, em uma guia que Ben segura.Tivemos alguns contratempos semanas atrás com a energia inesgotável do cão, mas seguindo as instruções do adestrador, nós conseguimos contornar a situação.Essa é a primeira vez que eu os deixo com Ethan, ao invés dele ir até o nosso apartamento e não tenho grandes preocupações se eles vão ficar bem, pois Ethan tem se mostrado um pai de fazer babar.Ele já sabe os gostos, as manias e até o exato jeito de parar as birras de Yana ou de fazer com que Ben reaja as suas perguntas.Estar na mesma sala q
EthanBen me entrega a última peça do quebra-cabeça com um olhar orgulhoso.Tão parecidos com os da mãe.Tento controlar o assombro em meu rosto, mas acredito que não me saio muito bem. Ele completou um quebra-cabeça daqueles de te deixar bravo de tão difíceis que são, em menos de uma hora.A questão da fala é um ponto a se atentar, mas não acredito que o vá prejudicar até que ele comece a socializar com outras crianças além de Yana.E esse é o outro problema. Já cheguei a conversar com Aiyra sobre os colocar na pré-escola, mas ela não confia em deixa-los em nenhuma instituição por aqui e eu entendo sua desconfiança, depois do que ela passou seria normal se não confiasse nem na própria sombra.Tenho sido um idiota com ela por não ter confiado em mim, mas eu entendo que deva ser difícil.Podemos talvez contratar algum educador particular, pois obviamente meus filhos tem um potencial gigantesco, mesmo que eu não seja o pai mais babão dessa terra.Tendo recebido a mensagem de Aiyra mai
AiyraEthan retira o braço de cima de mim e eu tento não parecer tão decepcionada com isso. Ele se senta na cama, os olhos avermelhados descendo para minha perna firmemente enfaixada e eu sigo o seu olhar, percebendo que eu fui trocada e limpa.Por Deus... que tenha sido Isobell. Não há nada que Ethan já não tenha visto, mas há uma certa insegurança no fato de ele me ver no meu pior.— A bala se alojou em um músculo e o médico disse que levaria um bom tempo até que sua cicatrização se complete, então decidimos que você ficaria comigo, enquanto isso. — Ethan me diz, seu olhar se cravando no meu, esperando minha reação.— Vocês decidiram, então? — Pergunto, não conseguindo conter o sarcasmo.— Você estava apagada e assim ficará melhor para que as crianças não fiquem preocupadas. — Ele me responde, a voz tranquila.— Eles me viram assim? — Indago, imaginando o desespero delas.— Não. Ainda não, mas teremos que deixá-los vê-la logo. Yana já começou a ficar mais birrenta que o normal e Ben
AiyraTem algo de muito errado, em você ter que ser ajudada a tomar banho pelo seu ex-marido, com quem tem sonhos sujos todas as noites. Ethan me ajuda a tirar a camisola leve e fico só de calcinha na sua frente, minha pele se arrepiando e os bicos dos meus seios, se endurecendo só com a perspectiva de estar sob o seu olhar.Relaxa, corpo! Isso não é hora de ficar excitada.Ethan ignora o quanto pode os meus seios, quando desce a minha calcinha, mas vejo-o travar os dentes e engolir em seco quando se abaixa.Ele tem feito tanto isso perto de mim ultimamente, que acredito que terá problemas nos dentes em breve.No começo, eu achei que ele estivesse bravo comigo de alguma forma, mas depois eu percebi que não sou a única que está lutando contra um corpo cheio de tesão reprimido.Não vou mentir e dizer que não me envaideci um bocado com isso.Ter um homem como Ethan ficando sempre no limite perto de você é muito estimulante.Graças a Deus que não estamos dormindo no mesmo quarto, pois se
IsobellAlgo está errado.Saio do quarto em que tenho me escondido desde o maldito interrogatório. Se eu soubesse que Aiyra veria aquilo... eu não sei.A questão toda é essa, eu não teria como ser menos cruel ou pegar leve na forma como tratei aquele homem. Aquela era eu, pura e simplesmente. Saber o que ele faria a jovem no motel só me deu um combustível a mais. Eu posso ir direto para o inferno por isso, mas cada célula minha se entregou a necessidade que eu tinha de fazer o desgraçado sofrer.No geral eu não me importaria menos, mas ver o olhar enojado no rosto de Aiyra me doeu mais do que imaginei que doeria. Claro, depois ela tentou conversar, tirando daquele coração mole dela, uma explicação razoável para estar morando a quase quatro anos com uma sádica.Não importa as desculpas que ela arranje para isso, eu sei o que sou e isso me assusta como a própria morte.Desde então, eu tenho entrado de cabeça em qualquer missão que Heiko me passe, por mais horrível que pareça para mim