AiyraUm Ethan muito nervoso entra na cozinha onde eu preparo o café. Fico um pouco rígida, pensando que problemas, tem algum tesão em se pronunciarem pelas manhãs.— O que aconteceu? — Disparo, já me preparando.— Meus pais... porra! — Ethan me diz, a mão na testa.Puta merda... será que aconteceu algo a eles?— Eles estão bem? Ethan me olha, talvez só agora percebendo que eu desci da cama sozinha e sem ajuda. Empino o meu queixo de um jeito que ele conhece bem. Não vou ficar pedindo ajuda a cada vez que vou ao banheiro, quero um pouco da minha dignidade de volta e para já.— Eles estão bem, Dakota. Muito bem e na porta da frente. — Ele anuncia, deixando meu pequeno ato de rebeldia para depois.Pego as muletas, ainda detestando o objeto e me aproximo de Ethan, tentando não apoiar a perna ferida no chão.— Aqui? Assim do nada? — solto as perguntas.— Eles tentam falar comigo a mais de dois meses. Minha mãe deve ter cansado de esperar e veio ver por si mesma se não estou caído em alg
Isobell“Eu lutava para respirar e segurar a ânsia que ameaçava me subir pela garganta. Eu já estou a muitos anos nisso e ainda assim é sempre ruim. Fecho a porta do quarto as minhas costas, minha pele queimando em cada parte que fui tocada, como um lembrete do que eu permiti que me fizessem.Sorin será o último, depois dele terei minha passagem direta para uma missão a longo prazo na Itália e terei meses a frente quando eles perceberem que parti. Essa foi a última vez.Desço as escadas do nosso comando central e passo por alguns homens da antiga, que parecem tensos e isso me faz andar mais devagar, meus ouvidos atentos a qualquer informação que seja útil.— Ele está para chegar nessa semana, depois de mais de cinco anos. — Ouço um dos homens dizer, seu ombro encostado na parede, enquanto conversa com o homem.Finjo verificar algo em meu celular e paro um pouco.— Ninguém aqui, nunca viu o rosto dele. É estranho e ouvi boatos que ele é conhecido por ser um dos mais cruéis desde Novac.
AiyraEu devia desviar o olhar. Cada pensamento lógico meu aconselha a desviar o olhar, fechar a porta, mas o calor que parece se espalhar por cada parte pulsante minha, me diz o contrário.Ethan está deitado na cama, seu torso tonificado a mostra e só um fino lençol cobrindo os quadris, seu rosto embalado em um sono profundo. Ele voltou de uma viagem ao sul do país e para nãos nos deixar sozinhos por muito tempo, voltou na primeira oportunidade que teve.Isso lhe custou quase dois dias de sono ruim e preocupação. Não importava o quanto eu fizesse ligações por vídeo ou que eu assegurasse que estava tudo bem, Ethan ainda ficava tenso, como se um mal estivesse só à espreita, esperando nossa distração.Essa pequena viagem de Ethan me mostrou duas coisas: que as crianças estão muito mais apegadas ao pai do que considerei e que eu me habituei demais com sua presença sempre constante, seus olhos as vezes temerosos, como se sentissem que eu posso desaparecer a qualquer momento. E há moment
AiyraA médica a minha frente sorri, enquanto uma assistente leva Yana e Ben para uma outra sala, uma que eles definiram como “sala de jogos”.Ben me dá uma última olhada, antes de seguir a irmã super animada com a ideia de conhecer algo assim.Foi um pouco mais custoso do que achei que seria, deixar Merlim em casa. Ele não gostou, as crianças não gostaram e eu não gostei, mas entrar em um consultório psicológico renomado com um cão de quase sessenta quilos e parecendo ameaçador me pareceu uma péssima ideia.Suspirando, eu desvio minha atenção para a doutora chamada Jessica. Ela tem um rosto com traços fortes, o único ponto suave em seu rosto sendo os olhos, de um castanho gentil, sempre que nos miram.— Foi muito útil vocês terem trago alguns dos registros de Benjamim do outro médico e após alguns exames iniciais eu posso dar um parecer médico, lembrando que ainda vão restar mais acompanhamentos e exames para podermos começar a pensar na melhor forma de agir. — A médica declara, a ca
AiyraCom a folha em minhas mãos, meu sorriso se amplia. Não é a letra mais perfeita do mundo, mas se tornou uma de minhas preferidas. Os diversos garranchos e rabiscos aqui e ali, são a prova de que nos custou muito empenho para tornar nossa confusão de ideias em algo decente e harmônico.Yana e Ben se mostraram muito mais criativos do que achei possível e Ethan auxiliou a organizar os atritos quando a euforia tomava conta. Levou mais de uma semana e tivemos que ir nos organizando em partes, mas posso ter a certeza de que foi divertido para todos.Eu só os acompanhava, guiando-os quando preciso e tentando não chorar a cada verso. Com o violão bem preso em meus braços eu senti como a antiga paixão pela música vinha à tona, deixando a insegurança para trás.Não importa o que eu tenha feito antes, ou o quanto eu tenha me afastado do que amo, pois no centro desse recanto seguro do meu coração eu sempre vou ter a certeza que nasci para fazer isso e dor alguma me vai tirar essa parte de
FarreyA linha muda no meu ouvido, soa como um martelo sob a minha cabeça.“Você foi exposto e os chefes decidiram não se envolver mais com você. Está por sua conta.” O meu contato me disse, muito tranquilo, antes de desligar na minha cara.— Filhos da puta! — Rosno, socando a mesa a minha frente.Em menos de três meses tudo pelo que trabalhei foi por água abaixo. A maioria dos meus pagos na polícia foram afastados, minha candidatura cancelada e ainda estou sendo caçado. Olho pelo pequeno escritório em que tive que me esconder. Esse é um dos últimos refúgios que ainda tenho.Vejo a oscilação em minhas mãos ao pegar no copo de uísque a minha frente e solto mais uma enxurrada de palavrões. Tenho uma vaga ideia de quem é o responsável por toda essa merda envolta em meus planos, mas não há modo simples de eu ir atrás daquele alemão, filho da puta. Estou ocupado demais tentando não ser pego para isso, mas eu vou me reerguer, já fiz isso mais de uma vez e farei de novo.Eu não imaginava
Live— É sério, me ligue a qualquer problema. — Aiyra me alerta pela terceira vez.Olho bem para ela, quase a mandando ir a merda, mas seguro a resposta nos lábios. Ela tem todo o direito de estar preocupada.Aiyra vai ter uma reunião com Heiko, algo que pareceu ser muito importante e com Ethan preso em uma viagem ela me perguntou se eu poderia ficar com as crianças até mais tarde.Babona como sou por essas duas criaturas eu aceitei, mais do que feliz em ajudar. Depois de ajeitar uma bolsa que creio caber o mundo dentro, Aiyra iniciou um discurso de como Yana pode ser impulsiva ou de como devo ter a certeza de que Ben está me ouvindo.Quanto a Yana eu sei o completo potencial de risco da garota, considerando o jeito que nos conhecemos. Ben é um doce com quem ele confia, mas pode ser arredio com estranhos.Ao menos desde que tivemos ciência do seu diagnóstico já temos uma linha de ação. Eu particularmente não acho que vá mudar em nada como eu o vejo, mas preciso ter a ciência que Ben n
Aiyra— Eu consegui que as famílias retirassem o apoio a Farrey. Vão deixa-lo se afundar na própria merda agora. — Heiko me diz e apesar de saber que é uma informação importante não consigo me sentir inteiramente ligada ao assunto.— Qual acha que seria o próximo passo? — pergunto, tentando dispersar o aperto em meu peito.— A polícia local está uma bagunça por causa da corregedoria, eles vão tentar acha-lo, mas duvido muito que consiga e é aí que eu entro. Vou usar os meus recursos e das famílias locais para achar esse desgraçado e aí você decide o que fazer com ele. — Heiko me informa, seus olhos verdes esperando por minha reação.— Eu decido hein... — comento, sem saber o que dizer.— Nós começamos toda essa busca por você, Aiyra e é justo que você decida se quer terminar isso você mesma ou se quer deixar ele com as autoridades.— Eu não sei, antes eu estava tão dominada pelo ódio que não percebia o quanto seria difícil para mim abdicar dessa parte de mim mesma. Eu realmente não se