FarreyA linha muda no meu ouvido, soa como um martelo sob a minha cabeça.“Você foi exposto e os chefes decidiram não se envolver mais com você. Está por sua conta.” O meu contato me disse, muito tranquilo, antes de desligar na minha cara.— Filhos da puta! — Rosno, socando a mesa a minha frente.Em menos de três meses tudo pelo que trabalhei foi por água abaixo. A maioria dos meus pagos na polícia foram afastados, minha candidatura cancelada e ainda estou sendo caçado. Olho pelo pequeno escritório em que tive que me esconder. Esse é um dos últimos refúgios que ainda tenho.Vejo a oscilação em minhas mãos ao pegar no copo de uísque a minha frente e solto mais uma enxurrada de palavrões. Tenho uma vaga ideia de quem é o responsável por toda essa merda envolta em meus planos, mas não há modo simples de eu ir atrás daquele alemão, filho da puta. Estou ocupado demais tentando não ser pego para isso, mas eu vou me reerguer, já fiz isso mais de uma vez e farei de novo.Eu não imaginava
Live— É sério, me ligue a qualquer problema. — Aiyra me alerta pela terceira vez.Olho bem para ela, quase a mandando ir a merda, mas seguro a resposta nos lábios. Ela tem todo o direito de estar preocupada.Aiyra vai ter uma reunião com Heiko, algo que pareceu ser muito importante e com Ethan preso em uma viagem ela me perguntou se eu poderia ficar com as crianças até mais tarde.Babona como sou por essas duas criaturas eu aceitei, mais do que feliz em ajudar. Depois de ajeitar uma bolsa que creio caber o mundo dentro, Aiyra iniciou um discurso de como Yana pode ser impulsiva ou de como devo ter a certeza de que Ben está me ouvindo.Quanto a Yana eu sei o completo potencial de risco da garota, considerando o jeito que nos conhecemos. Ben é um doce com quem ele confia, mas pode ser arredio com estranhos.Ao menos desde que tivemos ciência do seu diagnóstico já temos uma linha de ação. Eu particularmente não acho que vá mudar em nada como eu o vejo, mas preciso ter a ciência que Ben n
Aiyra— Eu consegui que as famílias retirassem o apoio a Farrey. Vão deixa-lo se afundar na própria merda agora. — Heiko me diz e apesar de saber que é uma informação importante não consigo me sentir inteiramente ligada ao assunto.— Qual acha que seria o próximo passo? — pergunto, tentando dispersar o aperto em meu peito.— A polícia local está uma bagunça por causa da corregedoria, eles vão tentar acha-lo, mas duvido muito que consiga e é aí que eu entro. Vou usar os meus recursos e das famílias locais para achar esse desgraçado e aí você decide o que fazer com ele. — Heiko me informa, seus olhos verdes esperando por minha reação.— Eu decido hein... — comento, sem saber o que dizer.— Nós começamos toda essa busca por você, Aiyra e é justo que você decida se quer terminar isso você mesma ou se quer deixar ele com as autoridades.— Eu não sei, antes eu estava tão dominada pelo ódio que não percebia o quanto seria difícil para mim abdicar dessa parte de mim mesma. Eu realmente não se
Aiyra“Eu vejo a espuma chegar até meus pés, quando as ondas quebram na areia, vejo os pássaros sobrevoando ao longe, suas asas batendo algumas vezes e depois relaxando, deixo o vento se encarregar do resto. Vejo até a areia que espremo entre meus dedos voltar a se esparramar com o resto e sinto o cheiro de água salgada se infiltrar por minhas narinas.Eu vejo tudo, mas não ouço absolutamente nada. Não importa o quanto eu incline minha cabeça ou o quanto eu tente apurar meus ouvidos. É só um firme silêncio dominando a minha volta. É estranho e assustador, pois assim o meu único companheiro são meus próprios pensamentos e eu não quero estar com eles agora.Eu tentei com muito afinco. Tentei pagar a dívida com Farrey anos atrás, tentei não envolver a Ethan nisso, tentei fugir da obsessão daquele louco e depois tentei até ter um pouco de reparação. Eu realmente tentei muito, mas a única coisa que consegui foi por a vida dos meus filhos em risco e quase matar a minha melhor amiga.Volta
EthanÉ a segunda noite. Quase três dias inteiros sem dormir, sem comer algo que não seja café, biscoito ou algo mastigado as pressas. Tivemos diversas reuniões com a polícia e se o caos não fosse o suficiente, ainda recebemos uma notificação do estado dizendo que Aiyra pode ser processada por ter forjado a própria morte. Requisitei os melhores advogados que tenho e eles me garantiram que com as provas que temos de que Farrey estava envolvido com a polícia local, talvez quem acabe indenizada seja Aiyra.Eu espero mesmo que seja assim, pois eu não vou ver a minha mulher ficar sentada em um tribunal sendo acusada pelo estado sendo que eles nunca lhe deram a menor assistência. Estou cansado de ficar na defensiva. Estou cansado de ter de remediar as situações, de sempre a minha família ter que pagar o preço.Desvio o olhar da tela do meu computador, onde vejo pela milionésima vez meus filhos correrem para a saída de emergência. Yana puxando o irmão com força e Ben ainda um pouco retice
AiyraO ressonar baixo do sono de meus filhos é como ser banhada por calmaria novamente, todos os meus músculos relaxando ao estar deitada ao lado deles, cada um enlaçado em um lado de minha cintura.Depois que saímos do lugar onde o achamos, nossa primeira parada foi ao veterinário para cuidar de Merlim. O médico nos disse que a pata traseira dele estava quebrada, mas que ele faria o possível para que o cão voltasse a andar novamente em breve.Creio que o pobre médico ficou intimidado com meu olhar e o de Heiko em cima dele, praticamente exigindo que ele fizesse algum tipo de milagre na pata ferida do cachorro.Ethan me assegurou que Merlim teria o melhor tratamento possível e eu tive que aceitar, pois ainda tinha que cuidar dos meus filhos. A despedida na clínica veterinária foi de partir o coração.As crianças não queriam deixar Merlim sozinho lá e quando as coisas ficaram realmente histéricas eu me surpreendi quando Ben tirou a sua camisa um pouco suja, de dias vagando nas ruas e
AiyraA animação dentro do carro é contagiante. Yana fica dando pequenos pulinhos no acento as minhas costas ao ritmo da música alegre que toca nos autofalantes. Ben se contenta em balançar a cabeça algumas vezes, mais concentrado em prestar atenção no que a letra se refere.Tento não ficar eufórica ao imaginar que um deles pode acabar optando pela carreira musical, até mesmo porque eles são muito novos para estar os pressionando com isso agora, mas que seria interessante ter um de meus filhos seguindo os mesmos passos que eu, seria.Enquanto eles ainda podem eu vou preservar suas infâncias, deixa-los serem inocentes e despreocupados o quanto puderem.A música termina e outra começa, uma que eu conheço muito bem, pois ajudei a compor com Vangory.Olho para Ethan, que dirige, seus olhos capturando os meus com um sorriso no canto dos lábios.— É a voz da tia Van! — Yana diz, a animação em pessoa.— É sim filha e advinha quem escreveu essa música? — Ethan a pergunta, seus olhos fixos na
AiyraAperto meus olhos na direção do endereço que Kiler me enviou, minha moto parada no acostamento. No geral parece ser só um estacionamento. Não sei o motivo de tanta cautela com relação ao que Kiler quer de mim, mas sinto como se eu estivesse prestes a entrar em um vespeiro.A sensação só piora conforme me aproximo.Decidida a acabar com tudo isso eu ligo a minha moto novamente e paro no estacionamento, ao lado do de um carro que se assemelha muito ao de Kiler.Desço da minha moto, retiro meu capacete e ando até a janela do carro. Dou uma breve batida no vidro e me encosto no carro, vendo Kiler sair dele. Sua altura, postura rígida e cabelos escuros são os mesmos, mas há algo em seu olhar que não estava lá antes. É doloroso, primitivo e carregado de culpa.Kiler olha para mim, não da forma fria que ele sempre fazia, mas de verdade. Ele também se deixa mostrar e isso me confunde, pois eu já estava me habituando a ideia de ficar enojada por ele.— Você realmente veio. — Ele diz, um