AiyraO percurso até onde Heiko vai estar começa a ficar longo e olho pela janela do carro, percebendo como estamos nos afastando do centro, afastando muito.Depois de mais de uma hora no carro eu olho para Kiler, a curiosidade me vencendo.— É muito mais longe que isso, Kiler?Ele desvia o olhar da estrada por só alguns segundos e depois volta a dirigir, uma mão no volante e a outra repousando em sua própria coxa.— O que vamos fazer lá requer um espaço tranquilo para trabalho e em Nova Iorque temos muitos ouvidos e olhos atentos para isso. — Kiler me responde, algo sombrio pesando em sua expressão.Um pensamento arredio perpassa em minha cabeça.— Quando você diz que Heiko vai interrogar, no que isso implica exatamente? — volto a perguntar, minha voz hesitante.Kiler aperta um pouco mais o volante e não me olha ao responder:— Acho que Heiko sempre te deixou a margem do que realmente fazemos, Aiyra. — Ele balança a cabeça — Imagine o seguinte: se nós perguntarmos ao cara uma coisa e
AiyraUm mês depoisEnquanto deixo as crianças no novo apartamento de Ethan percebo que algo mudou desde aquela noite entre nós. Não há declarações de amor ou rendições de lascívias escaldantes, mas agora, enquanto eu o sigo porta adentro do apartamento, eu notei pela primeira vez que ele não me olha como se eu fosse a pior decepção da sua vida.Uma melhora, ao menos.As crianças seguem a minha frente, Merlim já bem crescido para apenas um filhote, obedientemente, em uma guia que Ben segura.Tivemos alguns contratempos semanas atrás com a energia inesgotável do cão, mas seguindo as instruções do adestrador, nós conseguimos contornar a situação.Essa é a primeira vez que eu os deixo com Ethan, ao invés dele ir até o nosso apartamento e não tenho grandes preocupações se eles vão ficar bem, pois Ethan tem se mostrado um pai de fazer babar.Ele já sabe os gostos, as manias e até o exato jeito de parar as birras de Yana ou de fazer com que Ben reaja as suas perguntas.Estar na mesma sala q
EthanBen me entrega a última peça do quebra-cabeça com um olhar orgulhoso.Tão parecidos com os da mãe.Tento controlar o assombro em meu rosto, mas acredito que não me saio muito bem. Ele completou um quebra-cabeça daqueles de te deixar bravo de tão difíceis que são, em menos de uma hora.A questão da fala é um ponto a se atentar, mas não acredito que o vá prejudicar até que ele comece a socializar com outras crianças além de Yana.E esse é o outro problema. Já cheguei a conversar com Aiyra sobre os colocar na pré-escola, mas ela não confia em deixa-los em nenhuma instituição por aqui e eu entendo sua desconfiança, depois do que ela passou seria normal se não confiasse nem na própria sombra.Tenho sido um idiota com ela por não ter confiado em mim, mas eu entendo que deva ser difícil.Podemos talvez contratar algum educador particular, pois obviamente meus filhos tem um potencial gigantesco, mesmo que eu não seja o pai mais babão dessa terra.Tendo recebido a mensagem de Aiyra mai
AiyraEthan retira o braço de cima de mim e eu tento não parecer tão decepcionada com isso. Ele se senta na cama, os olhos avermelhados descendo para minha perna firmemente enfaixada e eu sigo o seu olhar, percebendo que eu fui trocada e limpa.Por Deus... que tenha sido Isobell. Não há nada que Ethan já não tenha visto, mas há uma certa insegurança no fato de ele me ver no meu pior.— A bala se alojou em um músculo e o médico disse que levaria um bom tempo até que sua cicatrização se complete, então decidimos que você ficaria comigo, enquanto isso. — Ethan me diz, seu olhar se cravando no meu, esperando minha reação.— Vocês decidiram, então? — Pergunto, não conseguindo conter o sarcasmo.— Você estava apagada e assim ficará melhor para que as crianças não fiquem preocupadas. — Ele me responde, a voz tranquila.— Eles me viram assim? — Indago, imaginando o desespero delas.— Não. Ainda não, mas teremos que deixá-los vê-la logo. Yana já começou a ficar mais birrenta que o normal e Ben
AiyraTem algo de muito errado, em você ter que ser ajudada a tomar banho pelo seu ex-marido, com quem tem sonhos sujos todas as noites. Ethan me ajuda a tirar a camisola leve e fico só de calcinha na sua frente, minha pele se arrepiando e os bicos dos meus seios, se endurecendo só com a perspectiva de estar sob o seu olhar.Relaxa, corpo! Isso não é hora de ficar excitada.Ethan ignora o quanto pode os meus seios, quando desce a minha calcinha, mas vejo-o travar os dentes e engolir em seco quando se abaixa.Ele tem feito tanto isso perto de mim ultimamente, que acredito que terá problemas nos dentes em breve.No começo, eu achei que ele estivesse bravo comigo de alguma forma, mas depois eu percebi que não sou a única que está lutando contra um corpo cheio de tesão reprimido.Não vou mentir e dizer que não me envaideci um bocado com isso.Ter um homem como Ethan ficando sempre no limite perto de você é muito estimulante.Graças a Deus que não estamos dormindo no mesmo quarto, pois se
IsobellAlgo está errado.Saio do quarto em que tenho me escondido desde o maldito interrogatório. Se eu soubesse que Aiyra veria aquilo... eu não sei.A questão toda é essa, eu não teria como ser menos cruel ou pegar leve na forma como tratei aquele homem. Aquela era eu, pura e simplesmente. Saber o que ele faria a jovem no motel só me deu um combustível a mais. Eu posso ir direto para o inferno por isso, mas cada célula minha se entregou a necessidade que eu tinha de fazer o desgraçado sofrer.No geral eu não me importaria menos, mas ver o olhar enojado no rosto de Aiyra me doeu mais do que imaginei que doeria. Claro, depois ela tentou conversar, tirando daquele coração mole dela, uma explicação razoável para estar morando a quase quatro anos com uma sádica.Não importa as desculpas que ela arranje para isso, eu sei o que sou e isso me assusta como a própria morte.Desde então, eu tenho entrado de cabeça em qualquer missão que Heiko me passe, por mais horrível que pareça para mim
AiyraUm Ethan muito nervoso entra na cozinha onde eu preparo o café. Fico um pouco rígida, pensando que problemas, tem algum tesão em se pronunciarem pelas manhãs.— O que aconteceu? — Disparo, já me preparando.— Meus pais... porra! — Ethan me diz, a mão na testa.Puta merda... será que aconteceu algo a eles?— Eles estão bem? Ethan me olha, talvez só agora percebendo que eu desci da cama sozinha e sem ajuda. Empino o meu queixo de um jeito que ele conhece bem. Não vou ficar pedindo ajuda a cada vez que vou ao banheiro, quero um pouco da minha dignidade de volta e para já.— Eles estão bem, Dakota. Muito bem e na porta da frente. — Ele anuncia, deixando meu pequeno ato de rebeldia para depois.Pego as muletas, ainda detestando o objeto e me aproximo de Ethan, tentando não apoiar a perna ferida no chão.— Aqui? Assim do nada? — solto as perguntas.— Eles tentam falar comigo a mais de dois meses. Minha mãe deve ter cansado de esperar e veio ver por si mesma se não estou caído em alg
Isobell“Eu lutava para respirar e segurar a ânsia que ameaçava me subir pela garganta. Eu já estou a muitos anos nisso e ainda assim é sempre ruim. Fecho a porta do quarto as minhas costas, minha pele queimando em cada parte que fui tocada, como um lembrete do que eu permiti que me fizessem.Sorin será o último, depois dele terei minha passagem direta para uma missão a longo prazo na Itália e terei meses a frente quando eles perceberem que parti. Essa foi a última vez.Desço as escadas do nosso comando central e passo por alguns homens da antiga, que parecem tensos e isso me faz andar mais devagar, meus ouvidos atentos a qualquer informação que seja útil.— Ele está para chegar nessa semana, depois de mais de cinco anos. — Ouço um dos homens dizer, seu ombro encostado na parede, enquanto conversa com o homem.Finjo verificar algo em meu celular e paro um pouco.— Ninguém aqui, nunca viu o rosto dele. É estranho e ouvi boatos que ele é conhecido por ser um dos mais cruéis desde Novac.