AiyraKiler e eu estamos nesse carro a mais de quatro horas. Já conversamos, discutimos, flertamos e ainda assim estou entediada.Merda.Chegou a nós uma informação de que um dos agentes de Farrey, um particularmente importante está para encontrar uma leva boa de meninas nesse motel.Segundo as informações que chegaram, Farrey tem ficado mais ganancioso, incentivando aos seus “recrutadores” que façam suas investidas em garotas mais jovens, quanto mais jovens melhor.Nojento pra caralho.Eu senti como Kiler ficou irado com isso, não é exatamente como se ele estivesse demonstrando, mas eu sinto algo como uma tensão pulsante o envolvendo cada vez que ele mira os olhos na porta do motel.Eu consigo entender o ponto dele. De certa forma isso se assemelha muito ao que ele passou com Benner.Um embrulho em meu estômago me faz travar os dentes. Uma vez que essas meninas entrarem ali, serão primeiro iludidas com promessas absurdas de grandes ganhos e se isso não funcionar, eles sempre podem u
AiyraKiler me ajuda a sair do elevador do prédio, seu braço envolvendo minha cintura com firmeza. Em outro momento eu ficaria encantada com a forma gentil com a qual seus braços me guiam ou como o seu perfume é agradável, mas agora a única coisa que toma a minha atenção é a dor que parece reverberar por meu braço cada vez que piso no chão.Kiler quis me levar ao hospital, mas eu o lembrei que segundo os registros legais desse país eu estou morta, então eu argumentei com a calma de alguém que está com dor o quanto seria idiota me levar a um hospital.Nos primeiros quinze minutos eu tentei bancar a durona, mas no vigésimo solavanco do carro meus olhos começaram a pinicar com as lágrimas.Agora eu sei exatamente a aparência decadente que me encontro. Cabelos despenteados, olhos inchados e vermelhos e mancando brevemente.Eu não quero nem ver o enorme hematoma que vai ficar em minhas costas...Chegamos à porta da minha casa e ele me ajuda com a fechadura, pois minhas mãos tremem tanto qu
Ethan O copo intocado de gim começa a suar na pequena mesa a minha frente. Eu enchi o copo com a bebida por puro hábito, pois a vontade de beber é quase nula.Uma aflição conhecida vai me preenchendo e eu a aceito com gosto. Há dias em que eu não consigo conviver com isso, mas há também os dias em que a saudade é mais exigente que isso e eu me permito afundar nela.Eu prefiro ser rasgado toda vez ao lembrar dela do que ficar nesse limbo maldito em que não a vejo de nenhuma forma. Hoje é um dia especial... seria um dia especial.Lembro-me como anos atrás eu planejava paparicar ela em cada aniversário. A acordar nos levando a um sexo quente ou suave, o que ela quisesse.Eu não tenho mais essa opção. Levanto-me do sofá e caminho para o único cômodo que eu não entro nessa nova casa. Abro a porta e um miado intenso me faz olhar para baixo.Elvis me encara e depois passa por mim, indo direto para dentro. Eu o sigo e acendo a luz, respirando fundo. Eu trouxe do antigo apartamento todas a
Aiyra Tudo em mim grita para ir até seus braços, me enredar em seu calor e deixar que os anos longe um do outro cessem esse constante vazio que me cerca o peito, mas sei que existem questões bem mais sérias aqui.— Aiyra... — ele sussurra novamente, o peito subindo e descendo com força, começando a hiperventilar.Ethan fica me encarando, as lágrimas descendo livres por seu rosto, acentuando ainda mais a certeza que eu o quebrei de formas irreparáveis.Minhas sobrancelhas se franzem quando Ethan fica pálido, a respiração se tornando rasa e dificultosa.Ah, merda... ele está tendo uma crise de pânico.O mais rápido que consigo saio do carro, com uma pequena tesoura. Abro com tudo a porta do banco do passageiro, me sento ao seu lado e corto a braçadeira que o prende. Ethan não percebe muito o que fiz, pois, seus olhos conturbados se abrem e fecham, como se ele estivesse tentando se conectar com a realidade.Ethan teve muitas dessas crises de pânico quando adolescente, a pressão que ele
Aiyra“A neve caia obstinada ao nosso redor e os dedos magros e longos de Ethan batiam no painel do carro com irritação. Ele me avisou umas dez vezes que iria nevar, mas querendo provar meu ponto eu enrolei o máximo que consegui no banho. Eu não sei o que me fez agir como uma pirralha mesquinha, mas eu o fiz mesmo assim. Ethan tem uma reunião em uma das melhores faculdades do estado e isso pode definir todo o curso da carreira dele daqui por diante. Eu sei que o pai dele pode conseguir a vaga na faculdade onde ele quiser, mas sei também que Ethan quer conseguir por si mesmo, ele quer provar para o pai que consegue.Essa reunião deveria começar em quinze minutos. Com o engarrafamento só piorando por conta da neve nós nunca vamos chegar a tempo. — É isso, não vai dar tempo. — Ethan anunciou, o rosto cedendo a um desânimo desolador. Eu lembro que na época eu ainda estava em guerra com meus hormônios e talvez deve ter sido por isso que eu comecei a chorar, o fato de que eu em breve, me
AiyraSegurando uma xícara fumegante de café eu observo as crianças brincarem com Merlim, que mostra agora a barriga obediente a Ben. Yana está ao lado dele, balbuciando algo que deveria ser fofo, mas que no mínimo é engraçado.Eu vou ter que conversar com eles. Ontem depois que relaxei ao lado de Live, criei coragem e mandei ao Ethan o meu endereço. Marquei um horário razoável perto da hora do almoço. Uma agitação nervosa me obriga a respirar fundo. Se eu não os preparar direito, as chances de isso dar errado são enormes. Isobell desliza para a banqueta ao meu lado, seus olhos acompanhando a interação encantadora das crianças com uma expressão abobada que provavelmente espelha a minha. Uma percepção assustadora me atinge ao fitar os seus cabelos acobreados que caem em ondas selvagens pelo rosto delicado.Ela os ama como se fossem seus filhos. Desde que eles estavam em meu ventre ela cuidou deles e o tem feito sempre.Espero algum sentimento de posse ou ciúme me invadir, mas só sin
AiyraSe eu achava que tinha alguma possibilidade de algum deles não se habituar a Ethan eu estava completamente enganada. Em menos de uma hora eu já vi os olhos exigentes de Yana pedirem toda a atenção do pai e Ben começar a pedir colo, do mesmo jeito que ele faz comigo.Os pratos de filé de salmão com verduras que preparei já estão vazios sobre a mesa e eu fico observando a forma como o laço entre eles parece ficar mais forte a cada minuto. Não é como se não houvesse problemas no futuro ou alinhamentos que Ethan terá que fazer para tornar a convivência entre eles mais normal, mas para um primeiro encontro, eu diria que é um sucesso.Perco-me na conversa que se desenrola entre eles e começo a retirar os pratos. Distraída, eu deixo que os três tenham o seu momento a sós, levando o meu tempo para organizar a cozinha bagunçada pelo meu preparo do almoço.Retiro da geladeira a torta que comprei por delivery na cafeteria de Live e caminho para a bancada, me sentindo um pouco leve. Não é c
AiyraO percurso até onde Heiko vai estar começa a ficar longo e olho pela janela do carro, percebendo como estamos nos afastando do centro, afastando muito.Depois de mais de uma hora no carro eu olho para Kiler, a curiosidade me vencendo.— É muito mais longe que isso, Kiler?Ele desvia o olhar da estrada por só alguns segundos e depois volta a dirigir, uma mão no volante e a outra repousando em sua própria coxa.— O que vamos fazer lá requer um espaço tranquilo para trabalho e em Nova Iorque temos muitos ouvidos e olhos atentos para isso. — Kiler me responde, algo sombrio pesando em sua expressão.Um pensamento arredio perpassa em minha cabeça.— Quando você diz que Heiko vai interrogar, no que isso implica exatamente? — volto a perguntar, minha voz hesitante.Kiler aperta um pouco mais o volante e não me olha ao responder:— Acho que Heiko sempre te deixou a margem do que realmente fazemos, Aiyra. — Ele balança a cabeça — Imagine o seguinte: se nós perguntarmos ao cara uma coisa e